IPC/ESAC - Instituto Politécnico de Coimbra - Escola Superior Agrária de Coimbra
Designação da parceria
Fogo e Invasoras
Iniciativa a desenvolver
Desenvolvimento de boas práticas de uso do fogo, em áreas invadidas por vegetação exótica.
Parceiros
Prioridade Temática
Melhoria da gestão dos sistemas agroflorestrais
Domínios
NUTS I
Continente
Identificação do problema ou oportunidade
O fogo controlado é uma técnica de gestão da vegetação, internacionalmente reconhecida pelas suas vantagens económicas e ecológicas. É utilizada por exemplo na gestão de habitats, na gestão silvopastoril e na gestão de combustíveis. Em Portugal, para além do costume milenar de queimar mato para fins silvopastoris, a utilização técnica do fogo tem sido feita sobretudo na gestão de combustíveis, em acções destinadas à prevenção de incêndios. No entanto, o uso inadvertido do fogo apresenta riscos em áreas com plantas de espécies invasoras, por poder facilitar a expansão destas espécies. O fogo actua sobre os bancos de sementes, estimulando a deiscência ou a germinação, permitindo o recrutamento de novas plântulas. Como exemplos mais expressivos temos a háquea-picante (Hakea sericea Schrad.) e a mimosa (Acacia dealbata Link.), cuja expansão em Portugal está muito associada ao actual regime de fogo. No entanto, o fogo controlado pode ser uma oportunidade, em vez de um problema, se for planeado para o controlo da vegetação invasora. Para isso é necessário aplicar o fogo de acordo com prescrições precisas e regular o espaçamento entre queimas. Tal, só é possível se existir um conhecimento detalhado sobre a relação entre as características do fogo e o seu efeito nas espécies invasoras. O uso do fogo para o controlo de vegetação invasora faz-se noutros países, mas em Portugal não existe ainda conhecimento suficiente a este respeito. A presente Iniciativa pretende contribuir para alterar esta situação, através da criação e transferência de conhecimento sobre as relações entre o fogo e as duas espécies (háquea e mimosa) referidas acima, dada a sua importância no nosso país. Pretende-se assim resolver o problema associado ao uso inadvertido do fogo em áreas colonizadas por estas espécies, e explorar a oportunidade que o uso do fogo representa para o seu controlo. O tema enquadra-se nos Domínios 2.2, 2.3 e 2.4, e 2.1 pelo efeito das alterações climáticas na expansão das invasoras.
Objetivos visados
A presente proposta para a constituição de um Grupo Operacional em Fogo e Invasoras, pretende aumentar o conhecimento sobre as relações entre as características do fogo e os efeitos causados em duas importantes espécies de plantas invasoras (háquea-picante e mimosa), de modo a atingir vários objectivos complementares: a) fornecer informação para uma utilização ecologicamente fundamentada do fogo, de modo a reduzir significativamente o seu uso inadvertido em áreas onde há plantas destas espécies; b) desenvolver técnicas de fogo controlado, com vista à sua utilização como ferramenta alternativa para o controlo destas duas espécies; c) controlar os efeitos colaterais do uso do fogo, quer no banco de sementes das espécies nativas, quer ao nível da erosão do solo; d) prever o risco de invasão em função da ocorrência de diferentes tipos de fogo, incluindo os incêndios de verão; e) criar novos modelos de combustível associados às formações vegetais dominadas por háquea e mimosa, permitindo um maior rigor na simulação do comportamento do fogo e na produção de cartografia de risco; f) avaliar o efeito causado pela invasão por estas duas espécies, no risco de incêndio das áreas invadidas; g) criar bases para o estudo do uso do fogo noutras espécies invasoras, nomeadamente outras espécies do género Acacia.
Tipologia de resultados a atingir e potenciais beneficiários
O produto físico do trabalho do Grupo Operacional em Fogo e Invasoras será o manual de boas práticas, estruturado para um uso prático em operações de queima. A primeira parte terá normas de boas práticas destinadas a orientar o uso do fogo em áreas invadidas. A segunda parte será um guia de campo com tabelas para o estabelecimento de prescrições de queima. Estas tabelas permitirão calcular a janela meteorológica a utilizar para a obtenção de um determinado efeito (sobre as sementes e/ou sobre as plantas) tendo em conta as características dos combustíveis. Todo o trabalho de investigação aplicada irá também resultar numa série de outros benefícios associados quer à prevenção e mitigação de processos de invasão, quer à prevenção de incêndios florestais. Os resultados previstos a atingir e potenciais beneficiários serão os seguintes: a) Redução dos riscos de invasão em áreas onde é necessário utilizar fogo controlado como técnica de gestão de combustíveis para a prevenção de incêndios. Actualmente uma das principais aplicações do fogo controlado é a manutenção de faixas da Rede Primária de gestão combustíveis. Trata-se de infra-estruturas enquadradas legalmente (Resolução do Conselho de Ministros nº 5/2006 e DL 124/2006, alterado pelo DL 17/2009), para a defesa da floresta contra incêndios e cuja manutenção dificilmente pode dispensar o uso do fogo, dadas as elevadas superfícies abrangidas (largura mínima de 125 m). Os potenciais beneficiários são as entidades responsáveis pela manutenção da Rede Primária, nomeadamente as associações de proprietários, Zonas de Intervenção Florestal e o ICNF. b) Possibilidade de dispor de uma alternativa técnica para o controlo de vegetação invasora. O uso tecnicamente fundamentado do fogo poderá contribuir para diminuir o problema de invasão por háquea e mimosa em áreas onde a utilização de outras técnicas não é económica ou ecologicamente viável. O fogo poderá complementar outras técnicas, como por exemplo a silvopastorícia. Tendo em conta que a forma mais comum de controlo de invasoras consiste na aplicação de produtos fitotóxicos, o uso do fogo poderá contribuir para diminuir os custos económicos e ambientais destas operações. Os principais beneficiários serão os proprietários e as empresas prestadoras de serviços florestais. Um outro tipo de beneficiários serão as entidades formadoras na área do fogo controlado, incluindo empresas e entidades públicas como a ESAC. c) Possibilidade de prever o risco de invasão em áreas queimadas. A realização das queimas experimentais permitirá a criação de conhecimento até agora inexistente, sobre a relação entre o comportamento do fogo e a resposta regenerativa das espécies exóticas. Esse conhecimento permitirá antecipar o risco de invasão após o fogo, e incorporar esse risco no plano de recuperação de áreas queimadas. Os principais beneficiários, serão os Gabinetes Técnicos Municipais (GTF) e as entidades gestoras de áreas florestais (associações, ZIF’s, ICNF). d) Produção de modelos de combustível para as formações de háquea e mimosa, permitindo a simulação do comportamento de fogo nestas formações. Este conhecimento permitirá melhorar o rigor na produção da cartografia de risco de incêndio, a qual deverá tomar cada vez mais em conta a crescente área invadida por espécies exóticas. A cartografia de risco de incêndio faz parte dos Planos Municipais de DFCI, normalmente produzidos pelos GTF, que beneficiarão com este resultado.