Uma nova rotação para reativar o setor arvense do Interior Norte de Portugal
Iniciativa a desenvolver
Relançar o setor arvense do interior norte de Portugal, substituindo a improdutiva rotação cereal – pousio por uma rotação quadrienal Cereal1 – Leguminosas – Cereal2 – Oleaginosas, com base no principio da intensificação sustentável
Parceiros
Prioridade Temática
Melhoria da gestão dos sistemas agroflorestrais
Domínios
NUTS I
Continente
Identificação do problema ou oportunidade
Portugal tem um autoaprovisionamento de trigo inferior a 10%, praticamente não produz óleos alimentares, com exceção de azeite (e tem compromissos muito ambiciosos a cumprir no âmbito das políticas dos biocombustíveis) e importa grande parte das proteaginosas que consome. A crise dos cereais, e de outras produções arvenses de sequeiro, em particular no interior norte do país deve-se, em grande medida, a limitações ecológicas naturais. Contudo, estas não justificam integralmente o colapso do setor. Técnicas culturais incorretas têm a sua cota parte de responsabilidade. Nas últimas décadas, a cerealicultura regional incorporou algumas técnicas de agronomia modernas, como o uso de máquinas, fertilizantes e pesticidas, mas não se assistiu a qualquer mudança no sistema cultural. Parte do problema reside na rotação cereal-pousio de baixa produtividade e que, paradoxalmente, tem sido apoiada pelas medidas agroambientais. O pousio é uma prática ancestral adaptada a regiões áridas e semiáridas ao qual são atribuídas funções importantes, como a melhoria da fertilidade do solo e a economia de água. Sabe-se hoje que esta rotação não cumpre esses requisitos. A reduzida produção de biomassa e os longos períodos de solo nu, antes favorecem a erosão e originam teores baixos de matéria orgânica. Por outro lado, é uma rotação pouco produtiva, uma vez que anualmente apenas está em produção 50% da superfície cultivada. É pois urgente mudar o paradigma de intervenção nestes agro-sistemas, introduzindo o princípio da intensificação sustentável, de forma a aumentar a produtividade e a sustentabilidade do sistema de produção. É necessário aplicar os princípios básicos da agroecologia associados à rotação de culturas. A mudança deve passar por intensificar e diversificar o sistema cultural e incluir leguminosas de grão na rotação. A rotação Cereal1 – Leguminosas – Cereal2 – Oleaginosas é apresentada nesta iniciativa como uma estratégia base para a mitigação do problema do setor dos cereais.
Objetivos visados
- Estimular a retoma do setor arvense do interior norte de Portugal que se encontra semiabandonado, com a utilização de terra arável de razoável qualidade para a qual ainda não se encontrou uma alternativa. - Demonstrar os méritos de uma rotação quadrianual [Cereal1(trigo) – Leguminosas de grão (tremoceiros, lentilhas, …) – Cereal2 (cevada) – Oleaginosas (colza)] na produção de grão, redução de custos e melhoria da fertilidade do solo e das condições sanitárias das searas, seguindo o principio da intensificação sustentável. É objetivo da iniciativa a demonstração in loco (nas terras dos produtores parceiros) de que a nova rotação pode atingir rendibilidades no curso prazo muito superiores às que atinge a rotação tradicional cereal-pousio e que apresenta maior sustentabilidade, uma vez que tem maior potencial para incrementar a fertilidade do solo (designadamente pela deposição de mais resíduos das culturas e aumento de matéria orgânica do solo), e reduzir os problemas sanitários das searas. Na prática, podem reduzir-se os custos com a aplicação de fertilizantes e pesticidas e os impactes ambientais associados. Este objetivo é conseguido em campos experimentais coordenados pela Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança (ESA-IPB) e pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV). - Incluir na rotação material genético (variedades) produzido em Portugal pelo INIAV, com maior adaptabilidade e capacidade de resposta às condições agroambientais locais. Em algumas etapas do processo de melhoramento, as variedades nacionais foram submetidas a pressão de seleção semelhante à que ocorre nas condições reais de cultivo em território nacional (stresses bióticos e abióticos), possibilitando ganhos de produtividade que não se conseguem com material vegetal importado. - Contribuir para a redução das importações de bens alimentares e para a fixação de pessoas em meio rural.
Tipologia de resultados a atingir e potenciais beneficiários
Os resultados que se esperam atingir deverão aumentar a produtividade de cada uma das culturas da rotação e mais que duplicar a produtividade desta, uma vez que ocorrerá uma intensificação sustentável, dado que o pousio é retirado. Será também demonstrada a viabilidade técnica e económica do cultivo de leguminosas de grão, desde que se usem as variedades melhorados pelo INIAV, bem como da colza, que se cultiva a poucos quilómetros da fronteira de Portugal na região de Zamora. Estas culturas poderão passar a ser consideradas pelos produtores mesmo integradas em outras rotações que eles considerem mais adequadas aos objetivos da sua exploração. Trabalhos anteriores da equipa da ESA-IPB mostraram ser possível obter mais de 3000 kg de grão por hectare com a cultura da colza na região de Bragança. Serão também demonstrados os benefícios da nova rotação na fertilidade do solo e na redução dos problemas sanitários como infestantes, doenças e pragas. Esperam-se incrementos no teor de matéria orgânica do solo e aumentos da eficiência de uso de nutrientes, uma vez que a rotação proposta contempla leguminosas fixadoras de azoto e uma cultura que deixa muitos resíduos no solo (colza). Todos estes dados serão quantificados a partir da experimentação em condições reais de cultivo e com operadores profissionais (os agricultores) e vertidos para um manual de apoio à reconversão do sistema cerealífero do Norte de Portugal. Uma nova forma de integrar as culturas e diversificar as espécies utilizadas, em concordância com as políticas comunitárias, parece-nos ser a solução que vai mitigar a problema da ocupação das terras numa perspetiva de médio/longo prazo. Os beneficiários potenciais são, em primeiro nível, os produtores. Utilizando esta nova rotação de culturas podem mais que duplicar os seus rendimentos. Usando técnicas de produção mais sustentáveis (que a rotação longa consagra) podem reduzir-se custos de produção, reduzindo a aplicação de fertilizantes e pesticidas. Os benefícios para a sociedade situam-se sobretudo a nível social e ambiental. Melhores produções e produções mais estáveis melhoram as condições de vida dos produtores, contribuindo para a fixação de pessoas em meio rural, aspeto de elevado valor social, tendo em conta que estas atividades se desenvolvem em regiões de baixa densidade demográfica. Simultaneamente há um contributo para a produção de proteína vegetal, um dos pilares de suporte da humanidade em termos alimentares e para a produção de óleos a utilizar como biocombustíveis, diminuindo a pegada ecológica, e auxiliando o país a atingir as metas de incorporação de biocombustíveis nos combustíveis convencionais. A sociedade em geral beneficia, sempre que a agricultura cause menor impacte ambiental.