INIAV - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.
Designação da parceria
Seleção e valorização das castas mais bem adaptadas a cenários de alterações climáticas (WineClimAdapt).
Iniciativa a desenvolver
Quantificar a adaptabilidade ecofisiológica, agronómica e enológica das castas endógenas aos cenários de alterações climáticas como ferramenta para a valorização do património vitícola e adaptação do setor vitivinícola para as próximas décadas
Parceiros
Prioridade Temática
Melhoria da gestão dos sistemas agroflorestrais
Domínios
NUTS I
Continente
Identificação do problema ou oportunidade
A produção vinícola no Sul da Europa (e em Portugal) é sem dúvida um motor económico importante desta região. Esta é também uma das regiões do mundo onde as alterações climáticas (AC) serão mais pronunciadas, encontrando-se as castas em cultura muito próximas dos seus limites climáticos, sendo a região do Alentejo um bom exemplo desta situação. Assim, é crucial tirar partido da principal ferramenta de adaptação da vitivinicultura às AC: a variabilidade genética, avaliando a adaptabilidade das castas. Este estudo é decisivo para aumentar a nossa capacidade preditiva e competitiva, de modo a antever o impacto das AC, avaliando de um modo holístico a performance de 189 castas a climas futuros. Contudo, a caracterização do comportamento fisiológico e enológico das castas sob diferentes climas não só é escassa como a que está disponível refere-se a um grupo restrito em ambientes específicos. Este GO (WineClimAdapt) pretende ultrapassar este estrangulamento usando ferramentas recentes e inovadoras sobretudo em ensaios em dois campos ampelográficos com situações climáticas extremas, de modo a obter um conhecimento profundo do comportamento ecofisiológico, fenológico, agronómico e das características do genoma que permitam quantificar a adaptabilidade das castas, a qual é crucial para aumentar a nossa capacidade para prever a performance das castas em climas futuros. Posteriormente e após seleção das castas melhor adaptadas do ponto de vista vitícola, será avaliado o potencial enológico, com ênfase nas componentes fenólica e aromática, dado que será nestes metabolitos secundários que os efeitos das alterações climáticas mais se farão sentir, bem como em marcadores da qualidade do vinho associáveis às castas. Utilizando estas metodologias, WineClimAdapt selecionará as castas mais bem adaptadas às condições climáticas previstas para as próximas décadas, garantindo a sustentabilidade futura do setor nas regiões mais afetadas, como é o caso do interior e Sul de Portugal.
Objetivos visados
"Com este GO pretende-se (1) elaborar um ranking de adaptabilidade das 189 castas em estudo e (2) quantificar o potencial agronómico e potencial enológico das castas mais bem adaptadas aos cenários futuros de alterações climáticas. Para atingir o ponto 1 é necessário: 1.1. Analisar a dinâmica fenológica de 189 variedades submetidas a condições ambientais e hídricas extremas, de modo a avaliar a influência destas variáveis no timing e duração das fenofases, identificando as castas mais adequadas às condições das próximas décadas, bem como validar modelos de desenvolvimento da cultura (Cropsyst, STICS) que permitam prever as componentes da produção (produção/ha, teor alcoólico) das castas em estudo; 1.2. Quantificar a resistência aos stresses térmico e hídrico e desenvolver uma ferramenta para a avaliação da eficiência do uso da água ao nível da planta. Esta última será aplicada a diferentes escalas temporais (dias, período de maturação e ciclo vegetativo) e permitirá avaliar a resposta das variedades a condições ambientais mais severas e a vagas de calor; 1.3. Estabelecer associações entre características metabólicas e moleculares das castas e as suas respostas às condições ambientais, de forma a identificar os marcadores de tolerância à secura e ao calor. Para atingir o ponto 2 é necessário: 2.1 Quantificar a influência da temperatura e das vagas de calor no metabolismo dos açúcares e compostos fenólicos ao longo da maturação; 2.2. Avaliar a influência da componente ambiental nos metabolitos principais (açúcar, acidez total) e secundários (composição fenólica, percursores do aroma) à vindima; 2.3. Estabelecer associações entre características metabólicas e moleculares das castas e a qualidade dos respetivos vinhos monovarietais de forma identificar os marcadores da qualidade dos vinhos associáveis à casta; 2.4. Avaliar as características enológicas e perfil sensorial dos vinhos em função da tipicidade pretendida para uma dada região. "
Tipologia de resultados a atingir e potenciais beneficiários
"Sendo a interação entre clima e castas complexa e sendo o conhecimento sobre a adaptabilidade das castas a medida de adaptação mais importante a médio e longo prazo, o contributo deste GO será produzir conhecimento sobre a estrutura global e adequabilidade das castas, conhecimento esse que atualmente é muito reduzido. Desta forma, será possível maximizar a capacidade adaptativa e reduzir a vulnerabilidade às AC identificando não só os impactos esperados mas também as oportunidades para o setor vitivinícola. Assim, os principais resultados deste GO serão: • Classificação das castas em grupos de maturação de acordo com a duração de cada fase fenológica, do ciclo vegetativo completo e qualidade potencial. • Caracterização química e molecular das castas em estudo. • Quantificação das durações térmicas de cada fase fenológica bem como da influência de outras variáveis meteorológicas e disponibilidade hídrica do solo. • Quantificação dos efeitos das alterações climáticas no comportamento fenológico das castas em estudo. • Validação de modelo de simulação de cultura, aplicado ao nível da casta, para estimar a produção e teor em açúcares nas condições previstas pelos cenários de alterações climáticas. • Utilização de modelos como ferramentas de planeamento e de identificação de novas castas adaptadas ao clima projetado para uma determinada região • Quantificação da sensibilidade das castas ao stress térmico, ao stress hídrico e à combinação do stress térmico e hídrico • Avaliação da influência da disponibilidade de água no solo, défice de pressão de vapor e temperatura na eficiência do uso da água ao nível da casta. • Estabelecimento das associações entre características metabólicas e moleculares das castas e as suas respostas às condições ambientais e à qualidade dos vinhos, o que permitirá prever a qualidade do vinho e “construir” novos vinhos, bem como apoiar a criação de novas castas ou novos clones com interesse vitícola. • Quantificação da sensibilidade/resistência varietal à temperatura e a vagas de calor durante a maturação, com enfase no metabolismo dos açúcares e compostos fenólicos (síntese/degradação). • Iniciar o desenvolvimento de uma base de dados sobre a resistência das castas a stresses abióticos e, logo, melhor adaptadas as condições climáticas futuras (comportamentos fenológicos, ecofisiológicos, agronómicos e enológicos). Assim, através do conhecimento agronómico e enológico da adaptabilidade climática das castas (sensibilidade/resiliência) e das AC projetadas para cada região, será possível determinar os impactos das AC na adequabilidade, sustentabilidade e rentabilidade das castas em cada região, fornecendo aos empresários e produtores uma vantagem competitiva, melhorando a sua capacidade de gestão a médio e longo prazo. Os parceiros (HE e RP), bem como outros produtores das regiões mais afetadas pelas AC (Alentejo, Beira Interior, Douro) passarão a dispor de uma ferramenta para planeamento, gestão, avaliação de risco, aplicável às condições previstas para as próximas décadas e também às condições e variabilidade climática que se verificam atualmente. Será assim possível uma decisão muito mais fundamentada e sustentada sobre a escolha das castas a plantar nos próximos anos. Adicionalmente, fornece-se informação aos enólogos que permitirá “pensar e desenhar” novos vinhos, no âmbito de um mercado global cada vez mais competitivo, contribuindo assim para o reforço do setor vitivinícola na economia portuguesa. "