A crise ambiental global é um dos principais problemas que a sociedade atual enfrenta. Devido às alterações climáticas observa-se em Portugal uma maior frequência de incêndios florestais de grande intensidade, causando grande impacto quer em infraestruturas, bens e pessoas, quer nos recursos ecológicos.

Além disso, a desertificação humana das zonas rurais, associada às fortes condicionantes biofísicas dos terrenos levam a uma menor limpeza dos espaços rurais, acentuando o risco de incêndio e dando oportunidade à proliferação de espécies invasoras. 

Uma das possíveis formas de gestão destas áreas é com recurso à silvo-pastorícia com raças caprinas autóctones, nomeadamente através de regime extensivo.

Os regimes intensivos de produção animal são cada vez mais comuns, o que se traduz noutros impactos no ecossistema, e que por sua vez obrigam a ações diretas com medidas apertadas de forma a minimizar riscos ambientais. No caso da produção animal em regime extensivo a alimentação é realizada consoante a flora existente (pastagem natural) o que, em alguns casos, não é suficientemente nutritiva para que o animal consiga corresponder com o seu máximo potencial produtivo  (produção de carne e leite). Assim, é essencial fazer uma adequada avaliação dos recursos e das necessidades nutritivas de cada raça de forma a garantir uma compensação à disponibilidade nutritiva da flora local e respetiva dieta diária, com recurso à sementeira de pastagens e em fases fisiológicas mais exigentes, com suplementação energética e/ou protéica. 

Dada a evidência dos mosaicos agroflorestais que se apresentam sem ordenamento e gestão, em regime de monoculturas de espécies alóctones, em zonas de minifúndio, e com aparente degradação e erosão de solos, bem como, o abandono de linhas e pontos de água, é importante a reorganização destes espaços com recurso a atividades agro-silvo-pastoris.

Com esta iniciativa pretende-se criar um sistema biodinâmico capaz solucionar os problemas em cima descritos, nomeadamente,

1. Nas áreas agrícolas abandonadas/degradadas:

1. implementar pastagens com espécies vegetais nativas, melhor adaptadas às condições locais – aumentando o sequestro de carbono com recurso a sementeira de leguminosas

2. fertilização natural dos solos e melhoria da sua estrutura 

3. promoção de microorganismos benéficos ao solo

4. aumento da retenção das águas pluviais

5. aumento do equilíbrio físico do solo

6. diminuição do risco de erosão e de lixiviação.

7. pastoreio direto – controlo das infestantes (mecânico – custos elevados; e químico – contaminação de solos e aquíferos), redução da aplicação de fertilizantes químicos.

8. recuperação e proteção das linhas de água e pontos de água (poços, furos, charcas, etc.) existentes-Gestão equacionada dos recursos hídricos.

9. implementação de cortinas de abrigo com recurso a espécies autóctones, resilientes ao fogo, e capazes de criar barreiras físicas para melhor controlo de pragas e doenças.

2. Nas áreas florestais:

1. gestão da vegetação espontânea promovendo minimização do risco de incêndio e a renovação dos estratos herbáceos, arbustivo e arbóreo (emergência de rebentação jovem - fator importante para o pastoreio)

2. recuperação e proteção das linhas de água e pontos de água (poços, furos, charcas) existentes- Gestão equacionada dos recursos hídricos

3. recuperação de solos degradados, outrora sujeitos a intervenções pouco favoráveis aos fatores biofísicos do solo, sobretudo as que incidem nas monoculturas de espécies alóctones com mobilizações de solo profundas e inversão de horizontes. 

4. implementação de pastagens no sub-coberto das áreas florestais, promovendo uma maior retenção das águas pluviais, renovação dos sistemas orgânicos do solo, controlo de matos e espécies invasoras, nomeadamente as acácias sp..

5. pastoreio direto – controlo das infestantes (mecânico – custos elevados; e químico – contaminação de solos e aquíferos), redução da aplicação de fertilizantes químicos.

6. intervenções silvícolas com o objetivo de aumentar a gestão e o ordenamento dos territórios, maximizando a produção florestal, e tendo em consideração os valores ecológicos sujeitos a conservação e proteção.

3. Nos Recursos genéticos:

1. aprofundamento dos conhecimentos relativos às relações bióticas entre os animais a pastoreio, e a vegetação local existente.

2. constituição de zonas de produção forrageira e pratense promovendo uma compensação nutricional ao rebanho, compensando desta forma alguma falta nutritiva existente na flora local.

3. avaliação das pastagens e sua adequação aos valores nutricionais na alimentação animal, por forma a avaliar os parâmetros produtivos e reprodutivos das raças autóctones.

4. avaliação do potencial nutracêutico (nutritivo, anti-helmintico e anti-oxidante) da flora natural selecionada na dieta dos caprinos em pastoreio de percurso e adequar a suplementação garantindo a sustentabilidade do regime de exploração extensivo.

5. avaliação da resposta hematológica e metabólica dos animais em regime extensivo de pastoreio face ao nível de eliminação de estrongilideos gastrointestinais.

6. maximização da produção de gado caprino com raças autóctones, criando um sistema de produção baseado no equilíbrio entre os custos e a produtividade, respeitando as regras do bem-estar animal e do equilíbrio do ecossistema.

Num contexto de propriedades de pequena dimensão, tornam-se evidentes os mosaicos agroflorestais que atualmente se apresentam sem ordenamento e gestão, em regime de monoculturas de espécies alóctones, com aparente degradação e erosão de solos, bem como, o abandono de linhas e pontos de água. A reorganização destes espaços, com recurso a atividades agro-silvo-pastoris, apresenta-se como uma das soluções passíveis de ser implementada e com impactos positivos nos ecossistemas a diferentes níveis. 

A Iniciativa I9-SASP visa alcançar novas estratégias de preservar e melhorar o potencial produtivo de pequenos ruminantes - caprinos, em regime de produção extensivo. Para além disso, pretende-se com esta iniciativa preservar e melhorar a capacidade produtiva dos solos, bem como a recuperação, proteção e conservação das linhas e pontos de água, minimizar situações de risco e de impacto ambiental, e contrariar as tendências do abandono agrícola e florestal em zonas de minifúndio.

A entidade líder da iniciativa, a GreenClon, Lda (GC), tem como uma das suas atividades a produção de caprinos em regime extensivo. Neste âmbito tem vindo a desenvolver um trabalho em prol da comunidade com a limpeza da vegetação espontânea, e no controlo de espécies invasoras com recurso a Cabras de Raça Serpentina. Assim, a GC será responsável pela gestão do rebanho, instalação dos ensaios de pastagens permanentes, e o acompanhamento e a avaliação das pastagens relativamente à sua adaptação às suas condições edafo-climáticas locais.

A GC irá realizar ensaios, para apoiar a Associação Portuguesa de Caprinicultores de Raça Serpentina (APCRS) a estabelecer protocolos de avaliação dos parâmetros produtivos e reprodutivos dos animais e a sua adaptabilidade às condições locais em parceria com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC). 

A DRAPC irá definir quais as espécies vegetais nativas e as variedades mais adequadas às condições edáficas locais, quer para o sub-coberto em zonas arborizadas, quer para zonas de produção forrageira e pratenses. Esta entidade em conjunto com o Instituto Nacional de Investigação Agrícola e Veterinária (INIAV) irá definir os regimes alimentares adequados para os animais, dependendo do estado fisiológico (cobrição, gestação, aleitamento e manutenção.)

O INIAV irá proceder à avaliação do potencial nutracêutico (nutritivo, anti-helmintico e anti-oxidante) da flora natural selecionada na dieta das cabras em regime extensivo bem como a sua relação com os parâmetros da saúde e bem-estar animal, realizando avaliações da resposta hematológica e metabólica dos animais face ao nível de eliminação de estrongilideos gastrointestinais. Pretende-se ainda encontrar alternativas sustentáveis para a suplementação adequada à produção, das dietas selecionadas pelas cabras de acordo com os percursos de pastoreio e a fase fisiológica dos animais.

A APCRS juntamente com o Centro de Competências de Caprinicultura (CCC), o Centro de Competências para o Pastoreio Extensivo (CCPE) e a Câmara Municipal de Cantanhede (CMC) irão promover ações de capacitação e sensibilização a nível nacional dos resultados obtidos, a referir que ambos os Centros de Competência serão inseridos quando forem formalmente constituídos, ficando representados pelas entidades tutoras: Município de Vila Nova de Poiares (MVNP) e Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), respectivamente

A Associação Florestal Atlantis (OFA) juntamente com a CMC serão os representantes diretos com os proprietários das áreas de intervenção e estudo. A OFA irá acompanhar e monitorizar todos os trabalhos com vista à execução das boas práticas silvícolas, bem como apoiar a promoção das ações de capacitação e sensibilização a nível nacional dos resultados obtidos.