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Adap4Nuts - Estratégias de adaptação para a sustentabilidade da produção de frutos secos num contexto de escassez de água (ID: 104 )
Coordenador: CNCFS- Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos
Iniciativa emblemática: 4. Adaptação às alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-12 Duração da iniciativa: 2026-03-31
NUTS II: Norte NUTS III: Terras de Trás-os-Montes
Identificação do problema ou oportunidade
A
produção mundial de frutos secos exibiu
um incremento de 65% na última década, esperando-se a manutenção desta
tendência para os próximos anos, motivada pelo crescente consumo nos países
desenvolvidos e emergentes (Bento et al.
2016; International Nut and Dried Fruit Council - INC, 2021). Em 2019 a
produção mundial de frutos secos rondava as 12.486.104 toneladas e Portugal
representava apenas 0,97 %
dessa produção, ou seja, 121.965 toneladas
(FAO, 2021).
Em Portugal, o setor dos
frutos secos (amendoeira, aveleira, castanheiro, pistácio e nogueira) está em
franco crescimento, principalmente pelo seu interesse económico e valor
nutricional. Em 2020 a área de produção de frutos secos atingiu os 124 489
hectares (INE 2021; FAO, 2021), apresentando uma taxa de crescimento superior a
50% entre 2014 e 2020.
A produção destes frutos
secos (principalmente, a amendoeira, o castanheiro e a nogueira) é, em algumas
regiões do país, a principal fonte de rendimento das populações rurais,
assegurando, para além de um valor económico e social muito relevantes, outras
componentes fundamentais tais como a paisagem, a biodiversidade, a multifuncionalidade,
a sustentabilidade ambiental, a economia e o emprego. Assiste-se,
ainda, a uma mudança de hábitos de consumo, perda da sua característica
sazonal, bem como o assumir de uma posição de destaque por parte de regiões que
tradicionalmente não eram produtoras de frutos secos, investindo em pomares com
elevada densidade de plantação e no recurso a novas variedades e
porta-enxertos, à introdução do regadio e de novas tecnologias. Um exemplo
desta alteração é o Alentejo, que tem investido no setor da amêndoa e noz, com
um aumento significativo das áreas e produções nos últimos anos (por exemplo, no
caso da amêndoa, a região do Alentejo contribuiu com cerca de 42% da produção
nacional em 2020 (INE, 2021). Ao contrário do Alentejo, onde o número de
empresas produtoras é mais reduzido, embora com uma grande área de produção regada,
uma parte significativa dos pomares de frutos secos da região Norte são pomares
tradicionais, de pequenas dimensões, cultivados maioritariamente em regime de
sequeiro e que, apesar de produzirem frutos secos de grande qualidade, têm
produtividades relativamente baixas, apesar dos menores problemas fitossanitários.
Apesar de a generalidade das
espécies produtoras de frutos secos apresentarem alguma tolerância à seca, não
há dúvida de que a rega é um fator crítico para o aumento e regularidade
interanual da produção e da qualidade. No caso concreto da amendoeira, a água
tem um impacto direto na produção e na qualidade dos frutos, nomeadamente ao
nível do rendimento e tamanho da amêndoa, sendo esta uma das fruteiras cuja
produtividade mais aumenta em função da água disponibilizada (Goldhamer &
Fereres, 2017). Contudo, para a sustentabilidade futura da amendoeira e da
produção dos frutos secos em geral, nas regiões mediterrânicas, os produtores
terão que lidar com a escassez de água e com a necessidade de implementar
tecnologias de rega mais eficientes, aliadas a práticas de gestão da rega
adequadas ao contexto climático destas regiões.
De facto, o clima das regiões
mediterrânicas no sul da Europa é caracterizado pela escassez e irregularidade
da precipitação, em que os meses de maior secura coincidem com o período de
maiores necessidades hídricas das culturas. De acordo com os estudos mais
recentes sobre alterações climáticas, impactos e vulnerabilidades na Europa
(EEA, 2017), nas regiões mediterrânicas são esperadas reduções significativas
da precipitação, aumento da evapotranspiração, por via do aumento da
temperatura e uma maior probabilidade de ocorrência de eventos extremos como
ondas de calor, entre outros. Em face destes cenários de previsão de ocorrência
de secas severas, associados a eventos extremos, urge desenvolver e implementar
estratégias que incrementem o uso eficiente da água (produtividade da água) tendo
em vista uma gestão mais eficiente e sustentável do regadio. Neste contexto, a
rega deficitária, ou seja, rega inferior às necessidades máximas da cultura, apresenta-se
como uma das medidas de adaptação mais promissoras para fazer face à situação atual
e futura de elevada escassez de água. É uma prática que já vem sendo implementada
em várias culturas frutícolas nas regiões do sul da Europa, onde a
disponibilidade de água é escassa para satisfazer as necessidades plenas de
rega das culturas. Para além de reduzir o impacto ambiental da atividade
agrícola, a rega deficitária contribui ainda para diminuir o custo de energia
que representa dois terços do custo total do regadio em Portugal, ao mesmo
tempo contribuindo para a redução da pegada carbónica associada ao funcionamento
dos sistemas de rega. Todavia, a adequada implementação de estratégias de rega
deficitária deve ser acompanhada da monitorização do estado hídrico da planta e
ajustada às características do pomar e da espécie e/ou variedade, em particular
à sua resposta em função do estado fenológico e da intensidade do stresse
hídrico aplicado. Para este efeito, a obtenção de indicadores do estado hídrico
e fisiológico das plantas é indispensável para o sucesso desta prática.
Como complemento às estratégias
de rega mais deficitárias, em que o stresse hídrico é mais severo, verifica-se
que a aplicação de produtos com propriedades antitranspirantes (ex. caulino) ou bioestimulantes (ex. silício),
pode ser benéfica na redução do impacto negativo dos stresses hídrico e
térmico no metabolismo das plantas como já foi observado em estudos realizados
em videira e a oliveira.
Algumas práticas culturais,
como é o caso da rega, da fertilização, da manutenção do solo, da poda, etc.,
além do impacto na produção e na qualidade dos frutos, apresentam também um
impacto direto na sanidade da cultura. A rega e a fertilização, ao promoverem o
desenvolvimento de copas grandes e densas, sobretudo em situações de rega
abundante, criam condições adequadas ao desenvolvimento de algumas doenças
provocadas por fungos, como é o caso da moniliose, antracnose, mancha ocre e
crivado da amendoeira; bacteriose e antracnose da nogueira e doença da tinta no
castanheiro. Algumas pragas de insetos, em particular os picadores-sugadores como a monosteira, os afídios e
a cigarrinha verde, na amendoeira, podem também ser fomentadas pelo crescimento
excessivo da copa. Por fim, no castanheiro a rega no final do verão poderá ter
um impacto positivo, ao proporcionar crescimento de ramos (novos gomos) numa
altura em que não existe vespa-das-galhas-do-castanheiro para os atacar,
podendo assegurar alguma produção mesmo em situações de ataque severo. Por outro lado, alguns produtos antitranspirantes, como o caulino e
bioestimulantes como o silício, apresentam efeito benéfico na proteção contra
pragas da oliveira (Pascual et al.,
2010) e vinha (Alvarez, 2020) e, que importa avaliar no caso das pragas
associadas às espécies produtoras de frutos secos. A implementação de práticas de rega deficitária visando a
maximização da eficiência do uso da água, pode igualmente contribuir para
minimizar os problemas fitossanitários das culturas e assegurar assim uma
melhor gestão das pragas e doenças.
Aliado ao facto da produção de frutos secos exigir inputs
consideravelmente mais baixos comparativamente a outras fruteiras, dado os seus mecanismos de adaptação ambiental a stresses bióticos e
abióticos e a sua resiliência (Campa et
al., 2020; Cabo, 2020), apresentam frutos menos perecíveis, de fácil
conservação e transporte e com uma qualidade nutricional que constituem fontes
importantes de nutrientes. Destacam-se os lípidos, nomeadamente os ácidos
gordos insaturados, as proteínas, fibras, minerais, vitaminas e compostos
fenólicos. A associação do consumo destes frutos aos benefícios para a saúde é
conhecida mundialmente desde a proteção contra doenças cardiovasculares,
doenças degenerativas e existindo mesmo evidências na redução de alguns tipos
de cancro. O reconhecimento destas propriedades são uma das razões importantes
que explicam o aumento do consumo que se tem registado na última década com o
consequente aumento de áreas e produções.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Com esta iniciativa pretende-se: - Avaliar o efeito da utilização de diferentes
estratégias de rega deficitária e da aplicação de produtos antitranspirantes e
bioestimulantes, em culturas de frutos secos (amendoeira, nogueira e
castanheiro), nas regiões Norte e Alentejo no comportamento fisiológico,
produtivo, sanitário e na qualidade dos frutos.
- Avaliar o comportamento de diferentes cultivares de
amendoeira e de nogueira, bem como de diferentes porta-enxertos de castanheiro,
sujeitas a diferentes estratégias de rega deficitária, o que permitirá não só
dar informação sobre as reais necessidades hídricas das culturas para cada região
e modelo de produção, como identificar as cultivares e porta-enxertos mais
adaptados a condições de escassez de água. No fim deste projeto será possível a obtenção de indicadores do estado
hídrico das plantas e a sua relação com a produtividade da água, a qualidade
dos frutos e a sanidade das culturas. Os indicadores servirão de base para
apoia à tomada de decisão em regadio, particularmente na gestão de gestão do
nível de stress sob rega deficitária em diferentes cultivares e espécies.Em relação à metodologia utilizada, tendo em conta que as regiões de Trás-os-Montes e Alto
Douro e o Alentejo são as principais áreas de produção nacional de frutos
secos, os ensaios de experimentação/demonstração serão conduzidos em pomares
selecionados nestas duas regiões, utilizando diferentes cultivares de
amendoeira e de nogueira, e diferentes porta-enxertos no caso do castanheiro.
Nos campos experimentais serão conduzidos ensaios com três estratégias de rega:
Rega plena (100% da Evapotranspiração da cultura (ETc)); Rega deficitária
Sustentada (70 % da ETc durante todo o ciclo vegetativo); Rega deficitária
controlada aplicada desde o fim do crescimento do fruto até à colheita (100% da
ETc até terminar o crescimento do fruto e posterior redução para 35% da ETc). A
aplicação dos produtos antitranspirantes e bioestimulantes será feita em
combinação com as estratégias de rega deficitária.
Tarefas a desenvolver: Tarefa 1: Monitorização dos
parâmetros climáticos, caracterização dos solos das diversas unidades
experimentais, acompanhamento dos estados fenológicos das culturas alvo e determinação
das necessidades hídricas ao longo do ciclo cultural. Tarefa 2: Avaliação do
efeito das três estratégias de rega, complementadas com a aplicação de produtos
antitranspirantes e bioestimulantes no caso das modalidades de rega
deficitária, sobre o comportamento fisiológico e agronómico. Tarefa 3. Monitorização do
estado hídrico do solo e das plantas (teor de água no solo; potencial hídrico
do ramo), de parâmetros fisiológicos (condutância estomática, fluorescência da
clorofila a, temperatura foliar) e de parâmetros agronómicos (área foliar, vigor, entre outros) e estabelecimento
de relações com o rendimento e a produtividade da água. Tarefa 4: Avaliação da influência
das diferentes estratégias de rega na resposta ao nível da sanidade das culturas
(Amendoeira: moniliose, antracnose, mancha ocre, crivado; monosteira,
afídios, cigarrinha verde, etc.; Nogueira: bacteriose, antracnose; Castanheiro:
tinta, vespa-das-galhas-do-castanheiro) e estabelecimento de relações com os
indicadores do estado hídrico e fisiológicos. Tarefa 5: Desenvolvimento
de indicadores de stress hídrico e térmico para a gestão da rega deficitária, com
base nas tarefas anteriores de monitorização à superfície (planta e solo) e de
monitorização remota através de câmaras multiespectrais, acopladas a drones,
para a obtenção de parâmetros de vegetação e de stress. Tarefa 6: Efeito das
diferentes estratégias de rega e a aplicação de produtos antitranspirantes e
bioestimulantes na composição nutricional e nutracêutica dos frutos e nas suas
características organoléticas. Estabelecimento de relações com os indicadores
de stress hídrico e térmico. Tarefa 7:
Demonstração/divulgação Tarefa 8: Gestão e
coordenação Resultados esperados Indicadores de stress hídrico e
térmico da planta para uma gestão da rega deficitária, em zonas com recursos
hídricos limitados, tendo em vista uma maior eficiência no uso da água e,
consequentemente, a sustentabilidade da produção de frutos secos e a obtenção
de produtos hidrosustentáveis, através do aumento da produtividade da água de
rega. Informação para apoio à seleção
do material vegetal a utilizar nos pomares, através do maior conhecimento do
potencial de adaptação das espécies/cultivares estudadas a condições de stress hídrico
e térmico. Identificação dos itinerários
técnicos mais sustentáveis sob os diferentes cenários de mudança climática,
baseado nos resultados do estudo da interação de medidas de adaptação, como a
rega deficitária, com as outras práticas culturais.
Manual boas práticas para a
gestão da rega em espécies produtoras de frutos secos.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
Consórcio
No âmbito desta temática foram escolhidas algumas das
sub-fileiras dos frutos secos com maior relevância na produção, com potencial
efeito mobilizador para replicar os (bons) resultados esperados, noutras
sub-fileiras como a avelã e o pistácio.
O consórcio associado a
esta iniciativa “Adap4Nuts -
Estratégias de adaptação para a sustentabilidade da produção de frutos secos
num contexto de escassez de água” é atualmente constituído
por catorze (14) parceiros, todos membros da Rede Rural Nacional:
Cinco (5) Pequenas e médias
empresas (PME):
Francisco
Rocha Pires Lda. - Mirandela;
GRL,
LDA - Bragança;
João
Machado Teté - Beja;
Torre das Figueiras -Sociedade Agrícola - Monforte;
Trevo - Floresta,
Agricultura e Ambiente, Lda – Beja.
Seis (6) entidades de I&D:
Direção
Regional de Agricultura e Pescas do Norte (Polo de inovação: revitalização das
zonas rurais)
Instituto Nacional de
Investigação Agrária e Veterinária, I.P. (INIAV,I.P.);
Instituto Politécnico de Beja (IPBeja);
Instituto Politécnico de Bragança (IPB);
Laboratório
Colaborativo Montanhas de Investigação - Associação (MORE)
Universidade de Trás-os-Montes e Alo Douto (UTAD).
Duas
(2) Confederações/Federações/Associações
do Setor:
Associação dos Produtores em Proteção Integrada de
Trás-os-Montes e Alto Douro (APITAD);
Cooperativa Souto os Cavaleiros CRL. (CSC).
Um (1) Centro Nacional de
Competências:
Centro Nacional de Competências
dos Frutos Secos.
Está ainda prevista a participação de
mais 16 “pequenas e médias empresas” a contatar depois da aprovação da
iniciativa. Serão
selecionadas novas empresas, na região de Trás-os-Montes, Alto Alentejo e Baixo
Alentejo, que usam práticas de rega convencionais, com o objetivo de fornecer
dados comparativos (agronómicos e de qualidade dos frutos), com os dos campos
experimentais a instalar no âmbito do projeto.
Participação e responsabilidade
dos parceiros na Iniciativa:
As cinco
empresas indicadas e a Cooperativa Souto os Cavaleiros, cedem os pomares de
amendoeira, castanheiro e nogueira nas diferentes regiões onde vão decorrer os
ensaios, apoiam as modificações necessárias nos sistemas de rega, para
responder aos tratamentos previstos, efetuam os tratamentos com os produtos
antitranspirantes e bioestimulantes e colaboram em algumas tarefas como adiante
indicado:
Tarefa 1: Monitorização dos parâmetros climáticos, caracterização
dos solos das diversas unidades experimentais...
Parceiros envolvidos: IPB e CNCFS -
amendoeira, castanheiro e nogueira - Trás-os-Montes; IPBeja - amendoeira em
intensivo e nogueira - Baixo Alentejo; INIAV - amendoeira em superintensivo -
Alto Alentejo. Apoiam ainda a atividade as empresas Francisco Rocha Pires Lda.; GRL, LDA; João Teté; Trevo, Torre
das Figueiras, CSC e DRAPN.
Tarefa 2: Avaliação do efeito das três estratégias de rega,
complementadas com a aplicação de produtos antitranspirantes e
bioestimulantes...
Parceiros envolvidos: IPB e CNCFS -
amendoeira, castanheiro e nogueira - Trás-os-Montes; IPBeja - amendoeira em
intensivo e nogueira - Baixo Alentejo; INIAV - amendoeira em superintensivo -
Alto Alentejo. Apoiam ainda a atividade as empresas Francisco Rocha Pires Lda.; GRL, LDA; João Teté; Trevo, Torre
das Figueiras e CSC.
Tarefa 3. Monitorização do estado hídrico do solo e das plantas...
Parceiros envolvidos: IPB, UTAD e MORE
- amendoeira, castanheiro e nogueira - Trás-os-Montes; IPBeja - amendoeira em
intensivo e nogueira - Baixo Alentejo; INIAV - amendoeira em superintensivo -
Alto Alentejo.
Tarefa 4: Avaliação da influência das diferentes estratégias de
rega na resposta ao nível da sanidade das culturas...
Parceiros envolvidos: IPB, APITAD, CSC
e CNCFS - amendoeira, castanheiro e nogueira - Trás-os-Montes; IPBeja -
amendoeira em intensivo e nogueira - Baixo Alentejo; INIAV - amendoeira em superintensivo
- Alto Alentejo;
Tarefa 5: Desenvolvimento de indicadores de stress hídrico e
térmico para a gestão da rega deficitária...
Parceiros envolvidos: IPB, IPBeja e
UTAD - amendoeira, castanheiro e nogueira nas três regiões.
Tarefa 6: Efeito das diferentes estratégias de rega e a aplicação
de produtos antitranspirantes e bioestimulantes na composição nutricional e
nutracêutica...
Parceiros envolvidos: IPB -
castanheiro; UTAD - amendoeira nas três regiões e nogueira nas duas regiões.
Tarefa 7: Demonstração/divulgação
Parceiros envolvidos: todos os
parceiros.
Tarefa 8: Gestão e Coordenação
Parceiros envolvidos: CNCFS
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