|
Tecnologias emergentes ao serviço de uma viticultura e olivicultura sustentáveis num contexto de alterações climáticas (ID: 107 )
Coordenador: UMinho - Universidade do Minho
Iniciativa emblemática: 4. Adaptação às alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-12 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Cávado
Identificação do problema ou oportunidade
Em
concreto, na presente proposta propomos o desenvolvimento de tecnologias amigas
do ambiente que contribuam para o aumento da resiliência dos ecossistemas
agrícolas, em particular ao stresse biótico e abiótico em videira e oliveira,
baseadas na aplicação, em situações de campo, de UVs, bem como de vibrações
sonoras e ultrassons. Prevemos ainda a utilização de sensores de metabolitos e ultrassons
inteligentes capazes de detetar precocemente sintomas de stresse biótico e abiótico,
o que permitirá um uso mais racional da quantidade de agroquímicos e de água. Estudos recentes sobre o efeito da
radiação UV em videira têm recorrido à aplicação de lâmpadas de UV-A e/ou UV-B
em folhas ou bagos e ao estudo do seu efeito na expressão de genes e na
produção de metabolitos específicos. Uma vez que muitos compostos produzidos
são antioxidantes potentes ou hormonas, antecipamos um efeito benéfico da
aplicação de UVs na estimulação das defesas da videira e da oliveira e na sua
resiliência acrescida contra o ataque por fungos (causadores, por exemplo, do
oídio e do míldio na videira e da gafa e do olho de pavão na oliveira) e stresse
hídrico. Antevemos também um efeito negativo direto das radiações UV na proliferação
dos fungos (com base em aplicações noturnas) apoiado por estudos recentes. Por
outro lado, foi demonstrado que a aplicação de ultrassons (40,5 kHz; 100 dB
durante 2 semanas-) em tomate e arroz reduziu a incidência de infeções pelos
fungos Fusarium oxysporum e Magnaporthe oryzae, respetivamente, e
que os estímulos conduziram à sobre-expressão de genes envolvidos na via de
síntese de ácido salicílico, o que abre excelentes perspectivas para que o seu uso
combinado com UVs possa exercer efeitos sinergísticos contra doenças da vinha e
do olival. Adicionalmente, pretendemos otimizar
as potencialidades desta tecnologia recorrendo a sensores inteligentes de
ultrassons existentes no mercado que permitam monitorizar o estado hídrico das
plantas ou do solo, bem como a textura do solo e a sua riqueza em matéria
orgânica, com vista a uma gestão mais equilibrada dos recursos hídricos.
O projeto será desenvolvido com
plantas envasadas e em condições de campo, em vinhas e olivais dos parceiros do
consórcio, como será detalhado em sede de candidatura. Em sede de candidatura
serão também definidos os protocolos de adequação e de testagem, incluindo comprimentos
de onda dos UVs, frequências e intensidades das vibrações sonoras e ultrassons,
duração dos tratamentos, efeitos sinergísticos, momentos de aplicação dos
tratamentos de acordo com o estado fenológico das plantas, entre outras
variáveis. Serão ainda validados os efeitos da aplicação dos UVs/vibrações sonoras/ultrassons,
recorrendo a estudos de ecofisiologia (e.g. taxa fotossintética, transpiração
foliar, vigor e produtividade), a estudos analíticos (doseamento de metabolitos
dos frutos) e abordagens high throughput
(metabolómica, transcriptómica e metagenómica) que permitirão caracterizar a
qualidade dos frutos, do vinho e do azeite. A tecnologia dos ultrassons para monitorizar
parâmetros físico-químicos do solo será validada recorrendo a equipamentos e
técnicas convencionais (e.g. data loggers,
avaliação da capacidade de campo e doseamento da matéria orgânica). De igual
forma, a tecnologia dos sensores de metabolitos e ultrassons para a monitorização
do stresse hídrico e biótico das plantas, será validada por métodos
ecofisiológicos, como os acima referidos.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Atualmente
a agricultura enfrenta desafios enormes num cenário global de pressão ambiental
e económica crescentes. Com efeito, as alterações climáticas têm comprometido
severamente a produtividade das plantas (e causado perdas económicas
significativas), pela ocorrência de fenómenos climatéricos extremos, como a secura
ou ondas de calor, e pelo aumento da incidência de pragas e de doenças. Por sua
vez, os agrossistemas de cultura intensiva, normalmente associados à
monocultura e à utilização de uma grande quantidade de fertilizantes e
corretores do solo, bem como inseticidas, herbicidas e outros agrotóxicos, têm
comprometido o equilíbrio do meio ambiente e a saúde dos consumidores. Neste
contexto, para alimentar uma população mundial em crescimento exponencial (10,000
M de pessoas até 2050), torna-se imperativo implementar um novo paradigma que
vise uma produção agrícola sustentável, compatível com uma redução substancial dos
níveis de agroquímicos, com a utilização racional da água e dos solos e com o
restauro dos ecossistemas. As
plantas são continuamente desafiadas por um amplo espectro de fatores
ambientais e estímulos, como radiações, temperaturas extremas, secura, vento,
vibrações, doenças e pragas. No contexto de um processo de evolutivo de milhões
de anos, as plantas “aprenderam” a reconhecer esses estímulos e a desencadear
um processo de resposta específico. A luz visível é uma fonte de energia para as plantas (fotossíntese)
e de informação (ritmos circadianos, fototropismo, etc), mas a radiação UV -
que representa 5% da radiação solar-, é também um fator ambiental que, reconhecidamente,
regula diversas respostas adaptativas. Com efeito, a radiação UV-B aumenta a
tolerância de Arabidopsis à infeção pelo fungo Botrytis cinerea, envolvendo a produção de metabolitos especializados,
como antocianinas e alcalóides, bem como ácido salicílico e ácido jasmónico,
hormonas relacionadas como processo de defesa. Por seu turno, as vibrações sonoras, incluindo
ultrassons, desencadeiam também mecanismos de resposta que conduzem ao aumento
da tolerância das plantas a diversos factores de stresse biótico e abiótico. O
sinal acústico melhor conhecido que desencadeia processos de defesa nas plantas
é o produzido por insetos. A aplicação de
vibrações sonoras até 4 kHz desencadeia respostas específicas de defesa em
plantas, como a síntese de sinalizadores envolvidos na resistência sistémica
adquirida. Por outro lado, as plantas também emitem sinais sonoros quando
sujeitas a situações de stresse. Por exemplo, o fenómeno de cavitação (formação
de bolhas de ar na coluna ascendente de água dos vasos condutores, em condições
de stresse hídrico) produz ultrassons. Este fenómeno possibilita a otimização
de métodos não invasivos de medição em tempo real do estado hídrico das plantas
e a implementação de práticas agrícolas que evitem o desperdício de água. As
plantas mais fragilizadas pelo stresse hídrico são as mais vulneráveis ao
ataque por doenças ou pragas, devido ao aumento da temperatura das folhas e ao
seu amarelecimento e à emissão dos ultrassons que são percecionados pelos
insectos.
Outros estudos têm mostrado que é possível utilizar a
tecnologia dos ultrassons para medir o conteúdo em água do solo (em frequências
de aproximadamente 40 kHz), bem como a textura de solo (partículas coloidais) e
o conteúdo em matéria orgânica.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
O presente consórcio - empresas do
sector vitivinícola e olivícola nacionais e internacionais, a DRAPN,
associações de produtores, laboratórios colaborativos, entidades prestadoras de
serviços e informações, centros de competências e polos de inovação, em
estreita colaboração com o meio académico -, visa a capacitação técnica e a
transferência de conhecimento para o sector vitícola e olivícola. As competências complementares do consórcio permitirão
contribuir com soluções técnicas perfeitamente alinhadas com os 4 objetivos
operacionais da iniciativa 4 (adaptação às alterações climáticas) do eixo II.1
(Combate às alterações climáticas), em particular com os objetivos 3 e 4 (“aumentar
a resiliência dos ecossistemas agrícolas, espécies e habitats aos efeitos das
alterações climáticas” e “aumentar o conhecimento sobre a atividade agrícola,
os impactos potenciais e cumulativos, a capacidade de resposta implementar
medidas de adaptação.”)
Investigadores
do CMEMS (UMinho), INESC-MN e Centro de Química (UTAD) serão responsáveis pela
calibração e adaptação/customização de sensores e atuadores Ultra-Sónicos e UV
e pelo desenvolvimento de sistemas de controlo. Os investigadores do CBMA (UMinho),
do BioISI (UTAD), do ISA e da FCUL desenvolverão estudos de ecofisiologia em
plantas envasadas e em condições de campo em resposta aos tratamentos, bem como
estudos de biologia molecular, incluindo estudos de transcriptómica do
metabolismo secundário e de metabolómica dos frutos (BioISI, FCUL), e de
metagenómica (CBMA e FCUL) para avaliar o impacto dos tratamentos no microbioma
da planta e do solo. A tecnologia de sensorização por ultrassons das
propriedades do solo será validada por investigadores do Centro de Ciências da
Terra (UMinho) em articulação com o LRB. O efeito dos UVs/ultrassons sobre a
fenologia/floração será avaliado no ISA. Investigadores do CEB (UMinho) e do
Centro de Química Fina (UCP) serão responsáveis pelas análises físico-químicas e
sensoriais das amostras de vinhos e azeites recolhidas nas várias fases do
projeto. Os laboratórios colaborativos InnovPlantProtect, SFCOLAB e Colab Vinha
e Vinhos (ADVID) serão responsáveis pela valorização social e económica do
conhecimento gerado, potenciando o reforço das sinergias de inovação
tecnológica entre as equipas, em articulação com o Centro de Competências
InovTechAgro/IPPortalegre. A DRAPN contribuirá com dois Polos de Inovação, nas Quintas
de Valongo, dedicada à revitalização das zonas rurais (oliveira) e de Santa
Bárbara, dedicada à cadeia de valor da vinha e do vinho (videira) e ficará
responsável pela manutenção dos campos experimentais. As associações de
produtores ADVID, AVIPE APPITAD e CVRTM terão um papel chave na disseminação e transferência
do conhecimento e da tecnologia para os produtores. As PMEs Casa de Santo Amaro
(olivicultura), Domingos Alves de Sousa, Soalheiro, Sogevinus e Real Companhia
Velha (viticultura) serão responsáveis operacionais pela implementação do plano
de ação em estreita colaboração com as unidades de I&D e Instituições de
interface do sistema académico, científico e tecnológico, contribuindo para a
sua consolidação. A empresa Vibeiras (grupo Mota-Engil) incorporará as
tecnologias UV e Ultrassons na sua oferta, ficando responsável pela exploração
comercial e análise de resultados das soluções. Como será mencionado em sede de
candidatura, serão envolvidas ativamente no consórcio empresas francesas associadas
com o Institut Français de la Vigne et du
Vin.
|
|
|