Bolsa de Iniciativas PRR

 

SoiLife1st - Adaptação de sistemas produtivos em contexto de alterações climáticas. (ID: 112 )
Coordenador: IPS/ESAS - Instituto Politécnico de Santarém - Escola Superior Agrária de Santarém
Iniciativa emblemática: 4. Adaptação às alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-15 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III: Lezíria do Tejo
 
Identificação do problema ou oportunidade

A baixa resiliência das parcelas agrícolas com um histórico de produção suportada em elevado consumo de recursos e de fatores de produção é responsável pela crescente ineficácia das soluções disponíveis e pela ocorrência de novos problemas. Nas duas ultimas décadas, assiste-se a um aumento de soluções e técnicas altamente especializadas e verifica-se uma capacitação crescente dos operadores (produtores/agricultores/empresários), mas também se comprova um aumento preocupante da necessidade de intervir para regular situações extremas, como pragas e doenças emergentes. Na horticultura, este cenário é particularmente alarmante, pois os ciclos culturais são curtos e a tendência para especialização dos sistemas produtivos com baixa diversidade cultural continua a predominar, o que aumenta os riscos devido à vulnerabilidade a fatores bióticos e abióticos.

Os chefes de exploração reforçam o rendimento por aumento de produtividade e por força dos mercados, onde os circuitos ainda não incorporam a valoração ambiental. Este caminho conduz a um agravamento dos problemas expostos e, por isso, impõe-se a urgência de conduzir os modelos produtivos com práticas mais adaptados a situações limite. Referimo-nos à preservação e melhoria do potencial produtivo dos solos e fomento da biodiversidade, condição necessária a uma maior resiliência dos ecossistemas e à capacitação dos agentes no sentido de uma maior resposta com técnicas e medidas de adaptação.

A resolução do problema foca-se na alteração das opções culturais, intervenções fitotécnicas com especial nos solos, minimização dos consumos energéticos e aumento da qualidade dos alimentos produzidos, numa abordagem global, holística, baseada em soluções que residem no próprio sistema. As designadas “nature-based solutions” ou soluções de elevado valor natural integram, neste momento, praticas agrícolas amplamente testadas e validadas em diferentes condições ecológicas e sistemas agrícolas pelo mundo. Também em Portugal, e, em particular nos sistemas agrícolas intensivos do Vale do Tejo os estudos desenvolvidos têm motivado a adoção de soluções que devolvem ao sistema mecanismos de auto-regulação. Estas boas práticas são conferentes de resiliência, principalmente através do fomento da biodiversidade, em particular relacionada com o solo e são desejáveis validar e transpor para outras realidades fitotécnicas, onde os problemas fitossanitários e de desequilíbrio são motivo de enorme preocupação. Está provado que os processos com menores níveis de inputs energéticos, suportados nos serviços dos ecossistemas são altamente dependentes da presença de elevados níveis de biodiversidade. É com a manutenção da biodiversidade que se garante o aprovisionamento dos nutrientes, que se fomentam as relações tróficas e se potencia a proteção das culturas e outros fenómenos de elevado valor natural como o cumprimento do ciclo da água.  

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A proposta de iniciativa que aqui se descreve tem um foco maior: devolver capacidade produtiva aos solos, garantir mais e melhor água disponível e aumentar a resiliência dos ecossistemas. O plano de ação definido permite contribuir para o aumento da biodiversidade e fomentar os serviços que esta presta na melhoria da saúde dos solos, no uso mais eficiente da água e na proteção das culturas. São amplamente conhecidos os efeitos desta abordagem agroecológica na melhoria e adaptação aos cenários de episódios extremos que já se verificam e se prevê virem a aumentar em frequência e intensidade, principalmente em realidades altamente intervencionados, como a horticultura, pelas suas caraterísticas intensivas e ciclos curtos de produção.

Experiências, neste contexto, já se iniciaram em Portugal. A utilização de culturas de cobertura em sistemas agrícolas para processamento industrial tem resultados positivos no enriquecimento do solo, em número e diversidade de artrópodes, fomento de micorrizas, aumento de bactérias benéficas e nemátodos antagonistas que reduzem o desenvolvimento de agentes causadores de doenças. Estes trabalhos já desenvolvidos e em desenvolvimento em campos de horticultura intensiva do Ribatejo podem e devem ser testados em outros contextos, pelo que se propõe o alargamento destas práticas a outras condições culturais e áreas geográficas como são a realidade agrícola do Oeste e do Sudoeste alentejano.

A proposta que se propõe tem como objetivo introduzir elementos de alteração nos atuais sistemas produtivos muito intensivos, que consiste em testar a introdução de culturas de cobertura, pelo uso de variedades selecionadas melhor adaptadas, simples ou em misturas de sementes inoculadas com agentes benéficos, em períodos do sistema cultural anual, compatíveis com o rendimento e objetivos económicos do produtor. Propõe-se testar os “novos” itinerários técnicos e a fórmula que potencie os efeitos benéficos nos vários binómios em causa com especial relevo para o solo, conservação e fomento das funções que desempenha. Este plano de ação está em linha com a preservação e melhoria do potencial produtivo dos solos e maior disponibilidade de água, aumento da resiliência dos sistemas e alteração das práticas a introduzir nos itinerários técnicos. Acresce referir a forte coesão com a necessidade de aumentar o valor da produção alimentar, a desejável adesão à dieta mediterrânica e a promoção de modelos produtivos assentes nos princípios da agricultura biológica e produção integrada. Pretende-se desenvolver e utilizar os melhores indicadores para comunicar aos decisores as melhores práticas, num contexto de adaptação às alterações climáticas.

O consórcio é constituído por parceiros que garantem os produtos a testar (sementes para culturas de cobertura), mais adequados às caraterísticas dos campos piloto (a integrar como parceiros da iniciativa) (1), por entidades que avaliam os efeitos e disponibilizam os resultados (2) e por entidades que fazem a ligação aos restantes elementos do tecido produtivo (3), de modo a alargar o conhecimento e a demonstrar as técnicas/soluções. Os elementos-chave, produtores parceiros, deverão ser em número relevante em cada uma das regiões alvo: Ribatejo, Oeste e Sudoeste alentejano.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Os parceiros integrados nesta iniciativa e as suas áreas de trabalho são os seguintes:

Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS/IPSANTAREM) – Coordenador da parceria

Área de trabalho principal: Definição dos novos itinerários técnicos, aspetos fitotécnicos a alterar e avaliação dos efeitos dos produtos/técnicas de produção a introduzir quer ao nível da biota solo quer ao nível da produtividade e da resistência das culturas principais.

Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV)

Área de trabalho principal: Avaliação dos efeitos na biota do solo na sequência da alteração dos itinerários técnicos.

Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional-Centro de Competências (COTHN-CC)

Área de trabalho principal: Definição dos novos itinerários, aspetos fitotécnicos a alterar, divulgação dos resultados e ações de capacitação e de demonstração junto da produção

Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO)

Área de trabalho principal: Tarefas de interlocutor com a produção na região, mediador e responsável por divulgação dos resultados e ações de demonstração junto da produção

FERTIPRADO

Área de trabalho principal: responsável pelo desenvolvimento do produto, formulação e avaliação do mercado

Sociedade Agrícola S. João de Brito

Área de trabalho principal: Facultar campo de produção onde serão testados os produtos usados para as culturas de cobertura e os meios físicos e materiais necessários à sua execução.

Arminda Aurora D. H. Luz

Área de trabalho principal: Facultar campo de produção onde serão testados os produtos usados para as culturas de cobertura e os meios físicos e materiais necessários à sua execução.

Rumiagro

Área de trabalho principal: Facultar campo de produção onde serão testados os produtos usados para as culturas de cobertura e os meios físicos e materiais necessários à sua execução.




Para a manutenção da competitividade e aumento da resiliência do setor hortícola, no contexto de alterações climáticas (aumento das temperaturas, alteração do regime pluviométrico entre outros episódios extremos), torna-se imperativa a inovação e diversificação no setor. A proposta da iniciativa SoiLife1st incide na implementação e adoção, pelas PME, de um conjunto de práticas e soluções técnicas orientadas para o aumento do teor de matéria orgânica nos solos e melhor drenagem para a gestão mais eficiente da água e melhoria da fertilidade dos solos. Das medidas a adotar destaca-se a introdução de: 
espécies/variedades mais adaptadas (menores necessidades hídricas, mais tolerantes às variações de temperaturas, ciclos curtos);
práticas melhoradoras adaptadas às sucessões culturais como p.e. consociações utilizadas em culturas de cobertura ou de espécies em estreme;
micorrizas que contribuem para a melhoria da produção vegetal, maior tolerância a situações de stress biótico e abiótico;
organismos benéficos para controlo de riscos bióticos.
Considerando o exposto, apresenta-se, de forma simplificada, as atividades do plano de ação e o envolvimento dos parceiros com afetação de tarefas (Tn) e responsabilidade na sua execução.

T1. Coordenação e gestão (ESAS); 
T1.1. reuniões de acompanhamento individualizadas com os parceiros (ESAS/parceiro); 
T1.2. reuniões de planeamento & balanço (todos)

T2. Caraterização dos sistemas hortícolas específicos de cada uma das 3 regiões alvo; 
T2.1 identificação das fragilidades dos itinerários técnicos relativas à gestão dos recursos e das oportunidades de inclusão/adoção de técnicas/práticas melhoradoras objetivamente direcionadas (espécies mais adaptadas, misturas de espécies, consociações, culturas intercalares e/ou cobertura, sucessões culturais, organismos benéficos), tendo em consideração as especificidades dos sistemas e regiões alvo (todos os parceiros, em especial as PME); 
T2.2 seleção e adoção das práticas disponíveis para cada trinómio região/cultura/problema (AIHO, COTHN-CC, Fertiprado e todas as PME de produção da parceria); 
T2.2.1 desenvolvimento e produção sementes/consociações adaptadas aos itinerários técnicos (Fertiprado)
T2.3 avaliação e monitorização dos parâmetros físicos e biológicos do solo e da água visando uma gestão sustentável dos recursos (ESAS, INIAV e COTHN);
 
T3. Escolha dos melhores indicadores para avaliação e comunicação das práticas e técnicas implementadas. Os indicadores terão como foco a comunicação com todos os stakeholders envolvidos nos processos produtivos (os mercados, os decisores técnicos e políticos e os produtores); 
T3.1 indicadores de biodiversidade, de resiliência das culturas agrícolas, da estrutura e da saúde do solo, do uso eficiente da água (todos os parceiros);  

T4. Capacitação e Demonstração; 
T4.1 organização e divulgação das ações de capacitação de curta duração (COTHN-CC, AIHO);
T4.1.1 fórum de discussão (todos os parceiros);
T4.2 dias abertos (COTHN-CC, AIHO PME parceiras);
T4.2.1 networking (todos os parceiros);
T4.3 realização e suporte técnico de brochuras/ fichas com as medidas a adotar (ESAS, INIAV, COTHN-CC, AIHO, FERTIPRADO e PME de produção incluídas na parceria); 
T4.4 workshop final com apresentação alargada de resultados (todos) 

 
Interlocutor: Maria do Céu Godinho   Email interlocutor: maria.godinho@esa.ipsantarem.pt   Email entidade: cd@esa.ipsantarem.pt