Bolsa de Iniciativas PRR

 

Caraterização e seleção genómica em raças autóctones para a Adaptação e mitigação das alterações climáticas (ID: 116 )
Coordenador: Conquista Sagaz, Lda
Iniciativa emblemática: 4. Adaptação às alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-16 Duração da iniciativa: 2024-12-31
NUTS II: Centro NUTS III: Viseu Dão Lafões
 
Identificação do problema ou oportunidade

O sector agrícola é uma das principais fontes de emissão de gases com efeito de estufa (principalmente metano), responsável por cerca de 20% do total das emissões globais.

É sabido que a produção nacional de ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos) é deficitária relativamente ao seu consumo, o que tem provocado desequilíbrios na balança comercial, pelo que não faz sentido diminuir ainda mais a produção nacional. Desta forma, mais do que propor a diminuição dos efetivos nacionais de ruminantes e outras espécies emissoras de gases com efeito estufa, é necessária uma política focada nas boas práticas alimentares, promotoras da saúde, no incentivo ao aumento do consumo das dietas mediterrânica e atlântica, que preveem o consumo moderado de produtos animais e seus derivados.

As raças autóctones, ao proporcionar produtos de qualidade, seguros e de alto valor económico, podem também ser a base para o aumento da rentabilidade das explorações agrícolas, preservando o ambiente e a paisagem, uma vez que estão assentes em sistemas de produção extensivos. O pastoreio extensivo é um sistema de produção com balanço positivo no sequestro do carbono, mas poderá ser ainda mais benéfico se houver uma seleção de animais com maior eficiência digestiva e adaptados às condições edafo-climáticas dos territórios desertificados do interior rural.

Contudo, muitas das raças autóctones encontram-se quase extintas ou em decréscimo populacional, exigindo medidas para inverter esta tendência e para preservar o património genético ainda existente. As raças locais, dentro de condicionalismos ambientais específicos, encontram-se normalmente melhor adaptadas aos mesmos, e são as únicas capazes de tirar partido de recursos alimentares escassos e irregulares, estabelecendo-se um equilíbrio entre o ambiente e as raças locais, que se ajusta aos princípios inerentes ao desenvolvimento sustentável.

Existe, assim, um potencial uso destas raças, nomeadamente como reserva genética de resistência a doenças, resposta às alterações climáticas ou usos alternativos futuros.

Estudos genéticos recentes em gado revelaram que, embora a maior parte da variação na produção de metano (CH4) seja devida a fatores não genéticos (ou seja, alimentação, manuseamento e outros fatores ambientais), a componente genética (ou seja, variância genética) na produção de CH4 também existe e é bastante relevante. No entanto, as informações sobre a extensão do controle genético sobre a produção de CH4 e a arquitetura genética da característica são escassas.

Até o momento, não há relatórios disponíveis sobre análises de associação de todo o genoma com base em medições diretas da produção diária de CH4. Portanto, o grande desafio será a associação do genóma para desvendar as regiões genómicas que controlam a produção de metano.

Desta forma, pretende-se garantir a futura moldagem do material genético aos condicionalismos ambientais, da diversidade como elemento indispensável para fazer face a um futuro incerto, das características únicas das raças locais (indispensáveis nos sistemas de agricultura sustentável, já que estão bem adaptadas a condições adversas), da associação que têm à cultura local e aos produtos tradicionais, entre outros.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

O gás metano é considerado o segundo maior contribuinte para o aquecimento da Terra e estima-se que 70% das emissões desse gás provenham de atividades humanas, entre as quais a pecuária. O principal gás de efeito estufa gerado na pecuária é o metano entérico (CH4), produzido na digestão dos ruminantes e eliminado por eructação (arroto). (Agência FARESP)

Em Portugal, o património genético autóctone contido em raças animais, representa uma herança histórica e cultural que é importante preservar. As estratégias de conservação destas raças autóctones (conservação in situ e ex situ) visam principalmente a minimização do risco de extinção de determinada raça, contudo não respondem a todas as necessidades.

A justificação para a conservação destas raças assenta, desta forma, em questões de natureza biológica, cultural, ambiental e económica.

No que respeita a preocupações ambientais (aquecimento global), Portugal assumiu o compromisso de, no ano 2050, atingir a neutralidade carbónica da economia nacional. Desta forma, um dos caminhos para atingir esta neutralidade carbónica é o melhoramento genético dos animais e dos alimentos consumidos, pelo que se torna imperativo um melhor conhecimento das espécies e raças que apresentem potencial genético com maior capacidade de adaptabilidade, sendo capazes de sobreviver, produzir e reproduzir-se em condições adversas de clima, bem como evidenciem melhores características de eficiência alimentar. 

Desta forma, pretende-se com este projeto efetuar uma caracterização genómica de raças autóctones para seleção de animais com caraterísticas mais desejáveis em termos de digestibilidade (que favorece a diminuição das emissões de metano) e com melhor adaptabilidade às mudanças climáticas que se preveem, de forma a aumentar a sua reprodução e contribuir dessa forma para uma produção sustentável.

Por outro lado, pretende-se também um sistema de informação para ligar os dados disponíveis sobre o germoplasma e a informação genómica dos animais, permitindo reproduzir/criar raças adequadas às novas restrições ambientais e exigências dos consumidores, bem como será uma forma garantida de identificação da espécie, tal como um atestado de origem com base na análise genética.

Os avanços nas técnicas de genética molecular, com o desenvolvimento de marcadores, permitirão ganhos genéticos significativos, sobretudo em características de alto custo e de difícil quantificação, como é o caso das características da eficiência de conversão alimentar (digestibilidade). Também se procura com este projeto criar um banco de dados de características de qualidade de eficiência alimentar (digestibilidade), bem como utilizar uma base de dados de características de importância económica que, normalmente, são contempladas em programas de melhoramento genético, como as características de crescimento e reprodutivas, para o desenvolvimento de métodos e software visando seleção genómica. Para alcançar este objetivo serão desenvolvidos os seguintes tópicos no projeto. 

  •  Análise genética da eficiência alimentar e suas associações com outras características de importância económica
  • Estudo das características da eficiência alimentar
  • Desenvolvimento e implementação de algoritmos para simulação de informações moleculares e avaliação genética
  • Seleção genómica para características de eficiência alimentar em raças autóctones

Por último, pretende-se aumentar a capacidade do Centro de Colheita de Sémen gerido pela FERA, para abarcar outras espécies de raças autóctones, como por exemplo, os caprinos, criando um banco de germoplasma para o estabelecimento de parcerias com produtores, para que estes possam melhorar a diversidade genética de seus animais, sempre numa perspetiva de melhoria de eficiência alimentar, contribuindo não apenas para a redução da emissão de gases de efeito de estufas, mas também para a melhoria das raças nacionais. 

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Este projeto conta com uma parceria de 4 entidades, a saber:

  •  Empresa PME - Conquista Sagaz, Lda (Beneficiários Final)
  • Associação: FERA – Federação Nacional das Associações de Raças Autóctones
  • Universidade: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD
  • Centro Competências: Entidade gestora do Centro de Competências da Ciprinicultura (CCC) - INIAV - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.
  • Empresa - SCORTARGET

Cada uma destas entidades tem um papel bem definido face às necessidades do projeto e às diversas competências de cada um, a saber:

  • Conquista Sagaz - Análise genómica das raças autóctones e preservação do material genético
  • FERA – Recolha de amostras e de informação relativa aos animais para estudo
  • UTAD - Análise dos resultados do estudo do genoma
  • INIAV (CCC) - Programas de melhoramento genético de espécies de animais estratégicas.
  • SCORTARGET – tratamento informático de dados, implementação de plataforma de seleção e biblioteca genética online

 
Interlocutor: Paulo Nuno dos Santos Ferreira   Email interlocutor: conq.sagaz@gmail.com   Email entidade: conq.sagaz@gmail.com