Bolsa de Iniciativas PRR

 

Valorização de recursos genéticos tradicionais, novas culturas e gestão de água de rega em contexto de alterações climáticas (ID: 123 )
Coordenador: DRAPALG - Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve
Iniciativa emblemática: 4. Adaptação às alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-14 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Algarve NUTS III: Algarve
 
Identificação do problema ou oportunidade

Num cenário em que as alterações climáticas se tornam cada vez mais evidentes e é necessário tomar medidas para mitigar os seus efeitos, a utilização de recursos genéticos endógenos e espécies pouco exigentes em rega, juntamente com o uso racional da água, ganham renovado interesse e centralidade.

Os recursos hídricos do Algarve são insuficientes para beneficiar toda a área agrícola da região. A escassez de recursos pode causar conflitos com outros usos, nomeadamente domésticos e os ligados ao setor do turismo. Projeta-se que estes conflitos sejam exacerbados com as alterações climáticas, esperando-se que o clima se torne progressivamente mais seco e com distribuição da pluviosidade cada vez mais irregular. Esta realidade provoca simultaneamente um aumento nas necessidades de água para rega e uma diminuição da oferta.

O estudo de práticas culturais vocacionadas para maximizar a capacidade produtiva com diminuição das dotações de rega, poderá potenciar a rentabilidade das culturas e torná-las viáveis, mesmo num cenário de escassez de água, em que este recurso representará, necessariamente, maiores encargos em termos de custos de produção.

Os aspetos produtivos, económicos e ambientais, das espécies tradicionais do Algarve cultivadas em sistemas mistos, em consociação com espécies anuais, constitui uma referência ancestral de adaptação de um modo de cultivo às condições edafoclimáticas da região. No entanto, com as alterações climáticas cada vez mais evidentes, até este sistema deixou de ter viabilidade a nível económico e produtivo. Porém, com a introdução de algumas alterações a nível de maneio cultural, as espécies do sequeiro tradicional podem ser uma solução para condições em que é possível a rega, mas pode haver restrições ao seu uso, em termos quantitativos.

As variedades tradicionais, muitas delas particularmente adaptadas a situações de stress hídrico, têm vindo a deixar de ser cultivadas e, em muitos casos, estão em risco de desaparecer. Nas coleções de variedades instaladas nos Polos de Inovação de Tavira e Faro é possível encontrar bastante variabilidade intraespecífica, que pode ser avaliada e explorada face ao défice hídrico. A valorização deste património é fundamental para que volte a ser utilizado na produção agrícola e, pelo seu caráter diferenciador, se torne rentável e atrativo para os vários intervenientes no setor, de viveiristas a agricultores. Estes materiais são ainda um elo importante para a confeção de produtos tradicionais da dieta mediterrânia, muitas vezes criadores de sinergias que acabam por potenciar a diversificação da economia e fixar as populações em zonas de baixa densidade. A disponibilização deste material através da constituição de campos de pés mãe pode dar resposta esta problemática.

Por outro lado, a redução da quantidade de água usada em culturas como os citrinos ou os abacateiros, quer por utilização de instrumentação para monotorização da necessidade de rega, quer pela aplicação de práticas culturais mais conservativas, pode significar uma poupança muito significativa deste recurso na região, tendo em conta a área ocupada por estas culturas e as dotações de rega aplicadas atualmente.

A introdução de novas culturas pouco exigentes em água, como é o caso da pitaia, representam contributo adicional para a racionalização da utilização dos recursos hídricos nos sistemas agrícolas da região.

A iniciativa integra a aplicação dos princípios gerais da agricultura regenerativa, como incorporações de matéria orgânica, utilização de consociações e estratificação da vegetação, com o intuito de reduzir o consumo de água, aumentar a fertilidade do solo e garantir maior sustentabilidade ao ecossistema agrícola.

Por fim, salientar que a iniciativa inscreve medidas inteiramente alinhadas tanto com o Plano Regional de Eficiência do Algarve, aprovado em 2020, como com o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve, de 2019, configurando um veículo privilegiado para a sua concretização.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa tem como desígnio melhorar a utilização dos recursos hídricos e irá ser desenvolvida com base em duas estratégias principais, por um lado o recurso a espécies e variedades mais adaptadas a um cenário de escassez de água e por outro a melhoria das práticas culturais, com utilização de técnicas de redução do consumo de água, nomeadamente a rega de precisão, a rega deficitária e gestão da cobertura de solo.

Os campos de ensaio e demostração serão implementados nos Polos de Inovação de Tavira e Faro, bem como em parcelas de agricultores na região do Algarve. Conta-se com uma rede de parceiros que permitirão operacionalizar todas as tarefas previstas e recolher dados para quantificação e monotorização dos ensaios, com apoio de tecnologias de instrumentação e deteção remota.

Propõe-se a realização de ensaios de rega, de forma a baixar os consumos de água, em espécies representativas da agricultura algarvia, como é o caso dos citrinos ou frutos secos, culturas com longa tradição na região, e também em culturas emergentes, como os abacates ou pitaia, que têm vindo a ganhar cada vez mais relevância. Neste âmbito, serão estudadas as modalidades de rega de precisão, a rega deficitária e cobertura de solo (“mulch”, natural e sintético). Pretende-se igualmente, de forma complementar, efetuar ensaios com espécies de baixas necessidades hídricas, para utilização em espaços verdes da região.

A integração de variedades tradicionais no sistema produtivo, representa uma forma de tornar a agricultura mais resiliente numa situação de escassez de água, ao mesmo tempo que se promove a preservação do património genético. Neste sentido serão constituídos campos de pés mães, tendo como base de seleção as coleções de germoplasma regional existentes no Polo de Inovação de Tavira e de Faro, com especial enfoque nas alfarrobeiras, figueiras, amendoeiras, pereiras e citrinos. Esta tarefa permitirá disponibilizar o material vegetal aos agricultores, com intervenção dos viveiristas na multiplicação dessas variedades.

O chamado pomar tradicional de sequeiro do Algarve encontra-se em recessão, no entanto, num cenário de alterações climáticas pode ser uma boa alternativa, pois, pela sua natureza e espécies que o integram, responde de forma positiva ao requisito do uso racional da água. Por outro lado, este modo de exploração agrícola garante diversidade florística, com uso da consociação, e a preservação da paisagem rural caraterística da região. Com este propósito, será implementado um campo de demonstração/experimentação no Polo de Inovação de Tavira, composto por alfarrobeiras, figueiras, amendoeiras e oliveiras, em modo de produção biológico e regime de sequeiro ajudado, isto é, introdução de rega nos primeiros anos após a plantação. Será também testada a introdução, neste ecossistema agrícola, de algumas espécies, principalmente leguminosas, como é o caso do feijão cutelinho, que para além dos baixos consumos de água, contribuem para melhorar a fertilidade do solo e aumentar a rentabilidade das explorações.

A iniciativa inclui também uma vertente de divulgação, com realização de ações de sensibilização e informação, dirigidas a agricultores e outros agentes económicos do setor, de forma a consciencializá-los para a adoção das técnicas e modos de produção preconizados no estudo. Para levar a cabo este trabalho serão utilizados tanto meios digitais como ações presenciais. Está também prevista a produção de audiovisuais, material gráfico explicativo, produção de textos e manuais técnicos específicos. 

De salientar que os dados recolhidos serão usados para quantificar, monitorizar e modelar os benefícios da implementação das técnicas e modos de produção descritos, à situação concreta e condições específicas do Algarve, o que os torna extremamente valiosos para a definição das práticas e políticas a adotar na região durante os próximos anos.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Os parceiros da iniciativa contribuirão com a realização das seguintes atividades:

 

Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAPALG)- Promotor

-Disponibilização de terrenos e infraestruturas nos Polos de Inovação de Tavira e Faro;

-Delineamento experimental dos ensaios;

-Instalação dos campos de ensaio/demonstração;

-Manutenção dos campos de ensaio/demonstração;

-Recolha de dados e monotorização dos ensaios;

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

Universidade do Algarve

-Delineamento experimental dos ensaios;

-Instrumentação para recolha de dados;

-Monotorização, análise e tratamento de dados;

-Saneamento de variedades de citrinos e de outras espécies.

 

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

-Delineamento experimental dos ensaios;

-Monotorização, análise e tratamento de dados;

-Modelação de cenários a partir dos dados recolhidos.

 

Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) – Pólo de Inovação de Alcobaça

-Recolha de dados e monotorização dos ensaios;

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção.

 

Agência Portuguesa de Ambiente (APA)

-Monotorização, análise e tratamento de dados;

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL)

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

Centro de Competências da Dieta Mediterrânica/ DRAPALG

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN)

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção.

 

Associação Interprofissional para o Desenvolvimento da Produção e Valorização da Alfarroba (AIDA)

-Disponibilização de parcelas de terreno de produtores para realização de ensaios.

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção.

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

Agrupamento de Produtores de Alfarroba e Amêndoa, CRL. (AGRUPA)

-Disponibilização de parcelas de terreno de produtores para realização de ensaios.

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção.

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

AlgarOrange- Associação de Operadores de Citrinos do Algarve

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção;

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa;

-Valorização das cultivares tradicionais de citrinos através da IGP “Citrinos do Algarve”.

 

Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve, C. R. L. (CACIAL)

-Disponibilização de parcelas de terreno de produtores para realização de ensaios;

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção;

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

In loco Associação- Intervenção, Formação e Estudos para o Desenvolvimento Local

-Promoção do uso das cultivares tradicionais pelos pequenos e médios agricultores;

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

Fulgur IT, Lda

-Instrumentação para recolha de dados;

-Apoio técnico para manutenção de equipamento.

 

Agritask

-Monotorização, análise e tratamento de dados;

 

Nutribean, Lda

-Acompanhamento técnico na a utilização do feijão cutelinho;

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção;

-Promoção de ações para divulgação da iniciativa.

 

Viveiros Mil Plantas

-Multiplicação de material vegetal;

-Apoio na transferência de tecnologia para a produção.

 

Viveiros Monterosa

-Multiplicação de material vegetal;


-Apoio na transferência de tecnologia para a produção.

 
Interlocutor: António José Cruz Marreiros   Email interlocutor: marreiro@drapalgarve.gov.pt   Email entidade: gabdirector@drapalgarve.gov.pt