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Salvar a diversidade intravarietal de variedades de videira autóctones (ID: 131 )
Coordenador: PORVID - Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira
Iniciativa emblemática: 4. Adaptação às alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-13 Duração da iniciativa: 2026-02-28
NUTS II: Área Metropolitana de Lisboa NUTS III:
Identificação do problema ou oportunidade
A variedade (casta) de
videira foi na origem um clone (homogéneo), mas gerou e acumulou, ao longo de
séculos de evolução, elevada diversidade intravarietal de características
quantitativas). É esta diversidade que tem já permitido realizar seleções com
ganhos de rendimento, de qualidade e de tolerância ao calor/seca invulgarmente
elevados e que autoriza perspetivas semelhantes para outras seleções que responderão
a novos desafios futuros: de adaptação ao clima, aos objetivos dos viticultores,
aos mercados, à redução da carga de fitofármacos de síntese, entre outros.
Porém, uma ruptura drástica
do processo de acumulação de diversidade surgiu há uns 60 anos atrás, associada
a causas antropogénicas: preponderância da seleção de banda estreita (clonal),
produção industrial e comércio de plantas enxertadas, estreitamento dos
encepamentos e outras. Em consequência, a conservação da diversidade intravarietal
fora da cultura tornou-se incontornável, de urgência extrema e transversal a
todos os países da região de origem da videira. E por maioria de razões em
Portugal, por ser o país mais intensamente vitícola entre os grandes produtores
(>2,5% do território com vinha), onde o vinho reveste uma grande importância
económica, social e cultural, por dispor de um grande número de castas antigas
heterogéneas e por estar na vanguarda do conhecimento sobre a diversidade,
tendo muito mais a perder com a perda dessa diversidade.
A problemática da conservação
da diversidade intravarietal tem vindo a ser abordada pelo nosso grupo (“Rede
Nacional de Seleção” e PORVID) desde os anos 80 do século passado.
Em 2010 foi
constituído o Pólo Experimental de Conservação da Diversidade da Videira, em
herdade concessionada pelo Estado à PORVID, contendo hoje 30 000 genótipos
de 200 castas: números que exprimem o avanço, em métodos e em escala,
relativamente à conservação noutros países (França em 2º lugar, com
± 20 000 genótipos) e mostram o caminho que falta percorrer até à meta
estabelecida de 50 000. Percorrê-lo já significará
resolver uma emergência nacional pois, de contrário, a renovação rápida das
vinhas com materiais selecionados homogéneos levará à perda quase instantânea
de um bem criado em milhares de anos de evolução (a diversidade) e ao
congelamento genético e inadaptação das castas às mudanças do mundo.
O carácter estratégico da
conservação e a eficácia das metodologias desenvolvidas em Portugal foram
expressamente reconhecidas, em 2019, pela Organização Internacional da Vinha e
do Vinho (OIV) através da “Resolution OIV-VITI 564B-2019, OIV Process for the
recovery and intravarietal diversity consevation and polyclonal selection of
grapevine” para aplicação no mundo vitivinícola.
Para além da consciência
existente internamente, a autoridade desta Resolução da OIV, impõe a Portugal
uma responsabilidade redobrada de realizar a conservação e de difundir o
conhecimento pertinente criado no país para o efeito.
Tanto mais que as
mais-valias deste projeto não se restringem à sustentabilidade do sector da
vinha e do vinho. As metodologias desenvolvidas para prospeção e valorização da
diversidade são igualmente aplicáveis a outras importantes culturas, como
oliveira, macieira, pereira, figueira, amendoeira, pinheiro-manso e outras,
para as quais existem os problemas idênticos de erosão genética intravarietal.
Portanto, aliada à prospeção de vinhas antigas, haverá uma forte componente de
comunicação, envolvendo ações de divulgação e de formação, de modo a difundir
as metodologias de prospeção e de promoção da conservação da variabilidade
intravarietal, contribuindo para a sustentabilidade de sectores igualmente
importantes e que suportam a dieta e a paisagem mediterrânica. Todas estas culturas
aproveitam solos pobres, são pouco exigentes em água e favorecem a ocupação do
interior.
Trata-se de um
projeto que satisfaz todos os objetivos
operacionais da iniciativa Adaptação às Alterações Climáticas. E que consolida
a interface entre o sistema académico, científico, tecnológico e o tecido
empresarial.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
O projeto (4 anos) consiste no prosseguimento da
prospeção, colheita e conservação de 20000 plantas de todas as castas
autóctones até atingir efetivos de aproximadamente 70 plantas/casta/região que, com base em ensaios de
campo e em experiências de simulação em computador antes realizadas, revelaram
ser amostras
representativas da diversidade da casta numa região.
Por ano, o projeto terá as componentes descritas
seguidamente.
Tarefa 1. Obtenção
de dados sobre a distribuição da diversidade: dados IVV sobre castas em vinhas com mais
de 40 anos; dados aleatoriamente registados em anos pretéritos sobre vinhas
velhas, vinhas abandonadas e videiras isoladas; dados a recolher mediante
entrevistas (ordem de grandeza, 30) a técnicos e viticultores seniores, nas
regiões vitícolas, sobre núcleos de viticultura antiga e respetivas castas.
Esta tarefa
será maioritariamente realizada durante o primeiro ano do projeto.
Tarefa 2. Prospeção e marcação dos genótipos
O planeamento da prospeção será efetuado com base na
informação relativa aos genótipos atualmente já conservados pela PORVID. Isto
é, será prioritariamente realizada nas vinhas velhas que ainda não foram alvo
de prospeção anterior e baseada no conhecimento sobre o número de genótipos por
casta ainda necessário para constituir uma amostra representativa da mesma.
A representatividade das amostras exigirá prospeção
em todo o país, em aproximadamente 500 vinhas plantadas antes de 1980
(aproximadamente 5000 a 6000 plantas por ano), em povoamentos antigos como
referido na tarefa 1). Em zonas fronteiriças, a prospeção será apoiada através
da cooperação com empresas internacionais localizadas nessas regiões.
Estas tarefas serão realizada entre Março e Setembro
de cada ano do projeto.
Tarefa 3. Colheita dos genótipos
Todos os genótipos marcados serão colhidos e
sujeitos a uma série de procedimentos legais associados à propagação de
materiais vegetais. Portanto, à colheita seguir-se-á o diagnóstico de vírus
constantes da legislação de certificação, tratamento por água quente,
diagnóstico de fungos do lenho (por amostragem dos genótipos colhidos) e
conservação no frio até ao seu enraizamento. Devido a estas restrições legais,
será necessário prospetar mais de 20000 plantas.
Estas tarefas serão realizadas entre Novembro e
Abril de cada ano do projeto.
Tarefa 4. Multiplicação e conservação dos
genótipos
Os materiais em condições de serem multiplicados
(depois dos resultados obtidos na tarefa 3) serão enraizados em câmaras de
enraizamento. Depois de se obterem várias plantas de cada genótipo, estas serão
colocadas em vasos (4 plantas por genótipo) e, de forma redundante, em pé
franco em terreno arenoso (3 plantas por genótipo).
Esta conservação terá lugar no Pólo de Conservação
da Diversidade da Videira, em Pegões (PORVID). Este Pólo consta o documento
“mapa-Polos de Inovação” disponível na página da Rede Rural Nacional.
Estas tarefas serão realizadas entre Abril e
Setembro de cada ano do projeto.
Tarefa 5. Ações de divulgação
Para além da prospeção
e conservação haverá uma forte componente de comunicação envolvendo
ações de divulgação e de formação de modo a difundir as metodologias de
prospeção e de promoção da conservação da variabilidade intravarietal e de sensibilização da utilidade da
conservação da diversidade intravarietal e das boas práticas de utilização de
materiais de propagação no contexto das alterações climáticas (utilização de materiais
selecionados policlonais, ou material “variabilidade”, pouco sensíveis à
instabilidade ambiental (interação genótipoXambiente).
Ações deste tipo serão realizadas
várias por ano, por parte de vários parceiros.
O orçamento a propor será de
1 milhão de euros, 250000€ por ano. Será composto por recursos humanos
(responsáveis pela execução de prospeção, colheita, conservação e comunicação)
e por custos indiretos (associados a todos os gastos com apoio à prospeção,
colheita, diagnóstico sanitário, estruturas de enraizamento e conservação).
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira
(PORVID)
Entidade coordenadora da parceria. É uma Associação
sem fins lucrativos, de Investigação e Desenvolvimento, atualmente com 24
associados (organismos de ensino e investigação, associações de viticultores,
empresas vitivinícolas e outras instituições ligadas à valorização do vinho e
da biodiversidade), cujos objetivos são a conservação e a avaliação da
variabilidade intravarietal e seleção.
Para além de ser a entidade coordenadora,
participará na prospeção e colheita de genótipos em todas as regiões do país, e
será responsável pela guarda desses genótipos no seu Pólo de Conservação da
Diversidade da Videira, Pegões. Participará na organização de ações de
divulgação e formação.
Instituto Superior de Agronomia, Universidade de
lisboa (ISA,UL)
Contribuirá com a metodologia de prospeção
(critérios de amostragem e constituição das amostras representativas da
variabilidade de cada casta) e de conservação. Terá a seu cargo as tarefas de
diagnóstico de vírus, tratamento por água quente, diagnóstico de fungos do
lenho (por amostragem) e enraizamento dos materiais prospetados. Participará na
organização de ações de divulgação e formação.
Associação
dos Viticultores do Concelho de Palmela (AVIPE)
Faz o
acompanhamento de 4000ha de cerca de 350 agricultores.
Participará na
prospeção e colheita de genótipos nos distritos de Leiria, Lisboa, Santarém e Setúbal e na instalação da conservação no
Pólo da PORVID.
O Centro de Competências
para a Dieta Mediterrânica (CCDM) participará na
organização de ações de divulgação. A declaração com a designação da entidade
representante do CCDM nesta
candidatura (ViniPortugal) será enviada em momento próximo.
No projeto estão
presentes 10 PMEs. Os técnicos dessas empresas irão fazer prospeção e colheita
de genótipos nas suas próprias vinhas antigas, realizar entrevistas a técnicos
e viticultores seniores das regiões vitícolas onde estão localizadas as suas
empresas e irão acompanhar classificadores na prospeção em outras vinhas
selecionadas para prospeção nas suas regiões de atuação. Todas elas terão um
papel importante na divulgação do projeto. Uma breve descrição relativa às
tarefas de prospeção e colheita apresenta-se seguidamente.
- Aveleda,
S.A.. Tem 400 ha de vinha na região dos Vinhos
Verdes, 100 ha no Douro (algumas com mais de 80 anos), 20 ha na Bairrada, 25 ha
no Algarve. Apoiará a prospeção e colheita de genótipos nas regiões dos Vinhos
Verdes (quando necessário, também na região da Galiza), Douro, Bairrada e
Algarve.
- Casa Agrícola Assis Lobo,
Lda. Tem 52 ha de vinha na Península de Setúbal,
incluindo vinhas anteriores a 1980. Apoiará a prospeção nas regiões de Lisboa,
Tejo e Península de Setúbal.
- Companhia Geral de
Agricultura das Vinhas do Alto Douro S.A.. Tem 557ha de vinha na região do
Douro, sendo algumas vinhas velhas de 100 anos. Apoiará a
prospeção e colheita de genótipos nas regiões do Douro e Trás-os-Montes (quando
necessário, também na região de Arribes, Espanha).
- Fernão Pó Adega, Lda..Tem 52 ha de vinha na Península de Setúbal. Apoiará a prospeção nas
regiões de Lisboa, Tejo e Península de Setúbal.
- Herdade de Gâmbia,
Sociedade Agrícola Lda.. Tem 30 ha de vinha. Apoiará a
prospeção nas regiões de Lisboa, Tejo e Península de Setúbal.
- José Maria da Fonseca
Vinhos, S.A.. Apoiará prospeção nas regiões do Douro, Beira
Interior e Dão e a instalação da conservação no Pólo da PORVID.
- O Abrigo da Passarela, Lda. Tem 40 ha de vinha na região do Dão,
algumas anteriores a 1980. Apoiará a prospeção nas
regiões do Dão e da Beira Interior.
- Saditejo – Sociedade
Agrícola e Turismo, S.A.. Tem 295 ha de vinha, algumas com mais de 30 anos. Apoiará a prospeção nas regiões de Lisboa, Tejo e Península de Setúbal.
- Safra-Investimentos Agrícolas,
Lda.. Tem 66 ha de vinha no Alentejo, algumas velhas
com mais de 60 anos. Apoiará a prospeção na região do Alentejo.
- Soares Franco - Sociedade Agrícola, S.A.. Tem 36
ha de vinha na Península de Setúbal, as mais antigas com mais de 35 anos.
Apoiará a prospeção na Península de Setúbal e Alentejo.
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