Bolsa de Iniciativas PRR

 

Pecuária Baixo Carbono (ID: 143 )
Coordenador: IPP/ESAE - Instituto Politécnico de Portalegre / Escola Superior Agrária de Elvas
Iniciativa emblemática: 3. Mitigação das alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-13 Duração da iniciativa: 2024-12-31
NUTS II: Alentejo NUTS III: Alto Alentejo
 
Identificação do problema ou oportunidade

A produção pecuária está no centro das atenções no que diz respeito aos impactos produzidos pelos gases com efeito de estufa (GEE) nas alterações climáticas. A mitigação dos GEE é uma prioridade e recentemente, no âmbito da COP 26, a União Europeia, os Estados Unidos e outros países, representando no seu conjunto mais de 70% da economia mundial, subscreveram um pacto coletivo de redução das emissões de metano em pelo menos 30% em 2030 (relativamente aos níveis de 2020), no intuito de obter um efeito mais rápido de contenção do aumento da temperatura global, já que o metano tem um efeito de aquecimento mais significativo do que o dióxido de carbono, embora permaneça menos tempo na atmosfera. Estima-se que, das emissões de metano com origem antropogénica (cerca de 60% das emissões totais), aproximadamente 30% têm origem na pecuária (concretamente, nos estrumes produzidos e na fermentação entérica, particularmente nos ruminantes). Face a este desafio, a pecuária terá um papel importante a desempenhar, reduzindo as emissões por meio do uso eficiente de recursos, produção de energia de baixo carbono e sequestro de carbono no solo. 
Em Portugal, a produção pecuária representa cerca de 38% do valor total da produção agrícola. Na região do Alentejo concentra-se 48% do efetivo bovino e 63% do efetivo ovino e caprino nacional, sendo nesta região que se encontra mais de 65% da área de pastagens em Portugal. Compreende-se, portanto, que a pressão do cumprimento das metas estabelecidas internacionalmente face à emergência climática, e da própria opinião pública relativamente à produção pecuária, podem ter um efeito potencialmente devastador sobre o país e a região em particular, já que se trata de um território de baixa densidade populacional, envelhecido e com poucas alternativas em termos de atividades económicas. A dinamização de práticas que permitam contribuir para os objetivos ambientais sem, no entanto, destruir o tecido produtivo, deve tornar-se uma prioridade. É importante realizar uma avaliação idónea e cientificamente validada dos impactos das explorações pecuárias, quantificando os GEE produzidos e promovendo a sua redução. Simultaneamente, importa valorizar e divulgar os benefícios que a atividade pecuária bem conduzida pode trazer para a prossecução das metas globais, designadamente, através do balanço positivo no sequestro de carbono aportado pelas áreas mantidas em regimes de silvo-pastorícia, quando comparado com outras culturas agrícolas ou mesmo outras atividades económicas, e do contributo das áreas de pecuária extensiva para a manutenção da biodiversidade. É ainda fundamental promover o consumo da produção local e a economia circular dos fatores de produção, sensibilizando os consumidores para os benefícios ambientais, económicos e sociais das suas opções de consumo. Finalmente, os produtores pecuários que privilegiem as melhores práticas e cuja atividade contribua de forma líquida para as metas a cumprir deverão ser reconhecidos e, idealmente, remunerados por esse contributo.
Ainda no que respeita à mitigação das alterações climáticas, é fundamental o aumento do sequestro de carbono, em particular, no solo. Só um balanço neutro ou, se possível, positivo de carbono no seio de uma exploração ou de uma região pode contribuir efetivamente para a mitigação das alterações climáticas. Se, por um lado o sistema de produção pecuária mais intensivo tem sérias limitações para atingir um balanço zero de carbono, a pecuária extensiva, típica da peneplanície alentejana, tem um balanço de carbono positivo, ou seja, sequestra mais carbono do que o que liberta para a atmosfera. 
Este aumento do sequestro de carbono obtido na pecuária extensiva provem das pastagens biodiversas utlizadas e do sistema de maneio com baixo encabeçamento e uma utilização quase exclusiva de recursos endógenos. No que respeita à pecuária mais intensiva, a sua performance no que respeita à emissão de gases com efeito de estufa pode ser melhorada, em parte, pela incorporação dos estrumes produzidos no solo, quer em natureza, quer após o processo de compostagem. Estes resíduos orgânicos, cuja valorização se apresenta essencial para a consolidação das boas práticas ambientais na atividade agrícola, permitem um aumento da matéria orgânica do solo, uma melhoria do estado nutritivo das culturas e, segundo estudos recentes, uma diminuição na transitabilidade no solo de nutrientes e fitofármacos, com as evidentes mais valias ambientais associadas. Estes estrumes, dada a sua riqueza em nutrientes e uma razão C/N geralmente baixa (dependendo da alimentação dos animais), têm ainda um enorme potencial para serem combustados com outros resíduos orgânicos emergentes em Portugal, mais pobres em nutrientes e com uma razão C/N substancialmente mais elevada, como são os bagaços de azeitona (produção esperada em 2021 de 650.00 Mg) ou os bagaços da produção vinícola. É nossa convicção que a compostagem conjunta destas matérias pode apresentar mais valias evidentes para o sequestro de carbono no solo, dado ser um produto de degradação mais lenta, contribuindo decisivamente para um maior equilíbrio na produção pecuária do Sul de Portugal e para a resolução de problemas ambientais que, cada vez mais, se tornam altamente preocupantes.
Este Consórcio propõe-se realizar a avaliação das emissões de dióxido de carbono equivalente (CO2e) de uma amostra significativa de explorações pecuárias de acordo com o modelo proposto para a certificação “Pecuária Baixo Carbono”, quantificando o peso relativo dos diferentes aspetos avaliados, comparando o contributo de diferentes práticas para a redução de emissões e propondo um modelo que permita a valorização do sequestro líquido de carbono e a sua integração no setor, com o objetivo de validação do contributo da atividade como um todo para atingir as metas definidas em Portugal para cumprimento dos compromissos subscritos.
 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa tem como finalidade a quantificação das emissões de CO2e num conjunto alargado de explorações pecuárias. A metodologia descrita na norma PBC baseia-se por um lado na metodologia descrita pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e pelo The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) para a quantificação das emissões associadas à atividade agropecuária (CRF 3), assim como na metodologia definida pelo ICNF no âmbito do Inventário Florestal Nacional (IFN6) para o cálculo do sequestro de carbono das espécies florestais. Estas metodologias são as utilizadas para a certificação “Pecuária Baixo Carbono”, criada por um dos parceiros do consórcio. 
Os objetivos são:
A. Obter um conjunto de dados representativo das explorações pecuárias em diferentes contextos de sistema de produção, identificando as condições e práticas com maior impacto nas emissões e sequestro de CO2e.
B. Avaliar o impacto de alguns indicadores específicos nas emissões e sequestro de CO2e:
B1. Efeito da incorporação de matéria orgânica (estrumes) em áreas forrageiras de fraca produtividade, em alternativa à fertilização química;
B2. Efeito da aplicação de matéria orgânica (estrume fresco, estrume compostado e compostado de estrume e outros resíduos orgânicos abundantes na região) no sequestro de carbono no solo.
B3. Efeito do aumento de teor de matéria orgânica do solo sobre alguns parâmetros importantes em termos ambientais – transitabilidade de nutrientes (azoto-nitratos e fósforo) e fitofármacos. 
B4. Efeito do aumento da área de coberto arbóreo nas explorações sobre o seu balanço de emissões e sequestro de CO2e;
B5. Efeito do aumento da eficiência reprodutiva e das boas práticas de maneio sanitário sobre a sustentabilidade da exploração e dimensionamento do efetivo reprodutor;
B6. Efeito da manutenção de pastagens biodiversas, com diferentes esquemas de fertilização – orgânico/química, sobre o teor de matéria orgânica e o sequestro de carbono no solo;
C. Propor um modelo de remuneração/compensação dentro do setor pecuário, que possa ter inicialmente aplicação regional, mas posteriormente ser aplicado em contexto nacional ou internacional, e que preveja que as explorações com maior balanço positivo de sequestro de carbono possam obter desse facto valor acrescentado, designadamente através da compensação das emissões emitidas por explorações do setor com balanço negativo. O objetivo seria a obtenção de áreas de pecuária neutra em carbono, estimulando a adoção das melhores práticas pelos produtores.
Pretende-se conduzir avaliações de explorações em contexto real, em diferentes contextos de produção, para desenvolver um modelo de previsão do dimensionamento ideal do efetivo animal em função das condições da exploração, tendo em vista a maximização do sequestro de carbono. Paralelamente, serão conduzidos ensaios de campo para avaliação dos objetivos B1, B2, B3 e B6. Com base nos resultados obtidos, irá desenvolver-se e propor-se o modelo de remuneração/compensação referido no objetivo C.
Ao longo dos 4 anos de projeto, serão também promovidas iniciativas de informação, demonstração e formação no âmbito das boas práticas na produção Pecuária Baixo Carbono. O consórcio envolve entidades que irão desenvolver os ensaios, avaliar os dados e desenvolver os modelos pretendidos, entidades com competências nas áreas tecnológicas envolvidas nas avaliações a promover, a empresa certificadora detentora do registo da certificação Pecuária Baixo Carbono e produtores pecuários em cujas explorações serão conduzidas as avaliações e testados os modelos a desenvolver.
 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

O conjunto de parceiros associados a esta iniciativa e as suas áreas de trabalho nesta iniciativa são os seguintes:

Instituto Politécnico de Portalegre – Promotor

Área de trabalho principal: Avaliações da eficiência reprodutiva e do maneio sanitário das explorações no âmbito do objetivo B5. Tratamento e análise dos dados obtidas nas explorações pecuárias no âmbito dos objetivos A e B. Desenvolvimento do modelo a propor no âmbito do objetivo C. Organização de ações de divulgação dos resultados do projeto.

 

Agricert – Certificação de Produtos Alimentares Lda.

Área de trabalho principal: Recolha de dados das explorações agrícolas, no âmbito do objetivo A. Visitas de campo que permitam a avaliação das explorações agropecuárias e quantificação das emissões/sequestro de carbono ao longo de quatro anos. Compilação da informação e colaboração no desenvolvimento do modelo a propor no âmbito do objetivo C. Contribuição para a divulgação dos resultados.

 

INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Polo de Elvas)

Área de trabalho principal: Acolhimento e acompanhamento do ensaio a desenvolver no âmbito dos objetivos B1, B2 e B3. Apoio técnico nas avaliações a desenvolver no âmbito do objetivo B6.

 

InovTechAgro – Centro Nacional de Competências para a Inovação Tecnológica do Setor Agroflorestal

Área de trabalho principal: Organização de ações de formação e demostração das tecnologias disponíveis no âmbito dos objetivos B1, B2 e B3.

 

APORMOR - Associação de Produtores do Mundo Rural da Região de Montemor-o-Novo

Área de trabalho principal: Contactos junto de produtores para divulgação do projeto e organização de ações de divulgação.

 

Agroinsider Lda.

Área de trabalho principal: Contributo para o cálculo da remuneração dos agricultores cujas explorações são sequestradoras de carbono. Contributo para constituição de uma bolsa de créditos de carbono a partir de explorações agro-silvo-pastoris do montado (sobro e azinho) nos mercados voluntários. Disponibilização de ferramentas digitais para avaliação do coberto arbóreo e colaboração no desenvolvimento do objetivo B4.

 

Empresas do Grupo Monte do Pasto

Área de trabalho principal: Unidades de produção em análise

·        Monte do Pasto, Lda.

·        Casa Agrícola Monte do Pasto II, S.A.

·        Sociedade Agro-Pecuária da Papoila Lda.

·        Herdade do Chouriço - Sociedade Agro-Pecuária Lda.

·        Sociedade Agro-Pecuária do Girassol, Lda.

·        Sociedade Agro-Pecuária do Junquilho, Lda.

 

José Miguel Neves Gueifão Carrilho (jovem agricultor)

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Maria Joana Velez do Peso de Moura - Cabeça de Casal da Herança

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Moura Valentim Unipessoal, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Sociedade Agro-Pecuária Palmeiro da Silva, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Romão de Moura Agropecuária, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Sociedade Agro-Pecuária da Chainça da Elvirinha, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Agrimeloeiro, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

Marrãs dos Moura, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Raízes Castiças, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Aromáticas S. Pedro, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Prados e Planaltos – Unipessoal, Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 

Anta da Falagueira, Unipessoal Lda.

Área de trabalho principal: Unidade de produção em análise

 
Interlocutor: Rute Santos – Instituto Politécnico de Portalegre   Email interlocutor: rutesantos@ipportalegre.pt   Email entidade: geral@ipportalegre.pt