Bolsa de Iniciativas PRR

 

SARSOLO – Sistemas de Agricultura Regenerativa para o incremento da matéria orgânica e sequestro de carbono no SOLO (ID: 151 )
Coordenador: Food4Sustainability - Associação para Inovação no Alimento Sustentável
Iniciativa emblemática: 3. Mitigação das alterações climáticas
Data de Aprovação: 2021-11-15 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Beira Baixa
 
Identificação do problema ou oportunidade

As alterações climáticas têm induzido eventos climáticos extremos, como o aumento da temperatura e secas prolongadas e a variação da frequência e intensidade da precipitação. Estes fenómenos têm como base ações antropogénicas, onde se destaca o setor agrícola. Estima-se que, desde a revolução industrial na agricultura, tenha havido perdas de até 75% da matéria orgânica global do solo, traduzindo-se isto num terço do total de dióxido de carbono libertado para a atmosfera. Esta prática agrícola dominante nos sistemas de produção primários, conhecida como agricultura convencional ou industrial, carateriza-se por monoculturas, produção em grande escala, alta produtividade, amplo uso da mecanização e utilização de químicos sintéticos. Apesar de ser o modelo que vai de encontro com as necessidades económicas do mercado, através da redução de custos e maximização de lucros, esta prática agrícola é tanto contribuinte quanto vítima para as alterações climáticas. Isto deve-se ao facto de contribuir com aproximadamente 30% para as emissões de GEE, que por sua vez contribuem para as alterações climáticas e para o aquecimento global e consequente impacto na sustentabilidade e resiliência dos sistemas de produção agrícola.

Se por um lado os eventos extremos associados às alterações climáticas podem destruir produções agrícolas, por outro, a agricultura industrial contribui para a diminuição da saúde dos solos e a sua consequente degradação. Este último fenómeno leva a perdas que excedem os 50 mil milhões de euros por ano e a que cerca de 25% dos solos na Europa estejam em alto ou muito alto risco de desertificação. Para além disso, 60-70% dos solos na União Europeia são considerados "não saudáveis", tornando-os ainda mais vulneráveis a eventos climáticos extremos.

O processo de degradação dos solos leva a vários problemas em diferentes serviços ecossistémicos, nomeadamente, a nível alimentar, ambiental e mesmo na instabilidade socioeconómica. Tendo em consideração que 95% da nossa comida vem direta ou indiretamente dos solos e que estes armazenam duas vezes mais carbono que a atmosfera, solos saudáveis são a chave para uma alimentação segura e nutritiva, assim como, para um planeta mais próspero para as atuais e futuras gerações. Cuidar do solo é cuidar da vida!

Desta forma, a saúde dos solos tem que ser vista como uma propriedade intrínseca que oferece suporte à sustentabilidade agrícola e à mitigação das alterações climáticas, devendo ser cuidado e considerado como um investimento a longo prazo. Um solo saudável tem a capacidade contínua de ser funcional como um ecossistema vivo vital que sustenta plantas, animais e humanos.

A resposta passa por mudar as práticas agrícolas no sentido de promover a saúde do solo, matéria orgânica e sequestro de carbono. A adoção de práticas agrícolas regenerativas leva à conservação e reabilitação dos sistemas agrícolas. Reverter a mudança climática reconstruindo a matéria orgânica e restaurando a biodiversidade, resultará na superior retenção de carbono no solo.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa foca-se na implementação de Sistemas de Agricultura Regenerativa que promovam o aumento da matéria orgânica e sequestro de carbono no SOLO (SARSOLO). Tendo em vista a regeneração do solo e o carbon farming, esta iniciativa pretende promover práticas agrícolas regenerativas de matéria orgânica, que levarão a solos mais saudáveis e férteis e consequente superior capacidade de sequestro de carbono.

Para tal, as práticas agrícolas sintrópica, biológica e biodinâmica serão implementadas e monitorizadas nas Hortas d’Idanha (Castelo Branco), exploração agrícola de 13 hectares dedicada à produção biológica de hortícolas e frutícolas e que apresenta teores de matéria orgânica muito baixos e degradação dos solos. Ao mesmo tempo, este local servirá como on-farming research, onde será comparada a performance do melhoramento da saúde do solo, aumento de matéria orgânica e incremento do sequestro de carbono, através da comparação das três práticas agrícolas a implementar no decurso do projeto. Na implementação da agricultura biológica serão usados e testados biofertilizantes de base microbiana, 100% verdes e orgânicos, que serão formulados e disponibilizados pela empresa parceira PMS - Agricultura Natural e Meio Ambiente. Simultaneamente, a parceira A4F – Algae for Future irá desenvolver e disponibilizar preparados de microalgas que visam atuar como biofertilizantes e estabilizadores de solo, resultando em menores perdas de azoto e fósforo. A utilização de biofertilizantes de diferentes fontes permitirá avaliar o impacto da utilização destas ferramentas biotecnológicas para fomentar a saúde e fertilidade dos solos, incrementar o teor da matéria orgânica e aumentar o sequestro de carbono.

Em paralelo, os sistemas de agricultura sintrópica e biodinâmica serão implementados em conjugação com pastagens semeadas biodiversas na Quinta de França, em parceria com a TerraPrima Agrícola. Estas práticas visam não só a adaptação e sustentabilidade das pastagens permanentes melhoradas no contexto das alterações climáticas, mas também o incremento do sequestro de carbono e redução das emissões de GEE de forma a contribuir para a mitigação das alterações climáticas.

A implementação do sistema agroflorestal sintrópico contará ainda com a cooperação da empresa Mendes Gonçalves como área agrícola sintrópica demonstrativa, que ajudará na implementação deste tipo de agricultura durante o desenrolar do projeto.

Para além da avaliação do sequestro de carbono, que ficará a cargo da parceira TerraPrima Ambiental, serão também monitorizadas outras componentes físico-químicas do solo assim como a qualidade biológica nas vertentes do microbioma e da fauna. Para isso, serão utilizadas as tecnologias BeCrop e Bait-Lamina Test, de forma a obter informações detalhadas sobre o estado de saúde dos solos, diagnosticar riscos de doenças e detetar deficiências nutricionais ao nível do solo. A componente do microbioma do solo será realizada em cooperação com a empresa internacional Biome Makers, que também prestará assessoria em saúde dos solos.

Tendo em conta o modelo da redução de custos e maximização de lucros associado à agricultura, será realizada uma avaliação socioeconómica pelo parceiro IPV, onde serão medidos os custos e benefícios associados às práticas agrícolas a implementar durante a realização do projeto.

A Associação de Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) e o Centro de Competências na Luta contra a Desertificação (CCDesert) serão membros integrantes do consórcio, tendo um papel fulcral em facilitar os canais de comunicação com (jovens) agricultores portugueses e empresários rurais. O objetivo principal destas duas entidades passa por articular e partilhar os resultados das práticas agrícolas implementadas e a sua adoção em outras explorações agrícolas do país. Para isso, estas entidades estarão focadas em formar, capacitar, e promover a inovação, transferência e divulgação do conhecimento através de ações de formação, workshops e visitas técnicas de campo para a sensibilização da sustentabilidade e preservação do ambiente, dinamização do espaço rural e mitigação das alterações climáticas.Este consórcio, liderado pelo Food4Sustainability CoLab, reúne uma equipa multidisciplinar com as valências necessárias para a implementação de práticas agrícolas, a sua monitorização e avaliação na vertente da melhoria da saúde do solo, no incremento do teor de matéria orgânica e na promoção do sequestro de carbono. Para além disso, o consórcio conta também com a participação de parceiros chave que terão um papel essencial na divulgação e incentivo de práticas agrícolas que promovem o aumento de matéria orgânica, sequestro de carbono e a mitigação das alterações climáticas.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

A iniciativa agrega a seguinte tipologia de parceiros: 6 PME no setor(1 ainda em fase de registo na RRN), 2 Instituição de I&D, 1 Associação Agrícola, 1 Centro de Competências (CM).

 

Food4Sustainability (CoLab) atuará como promotor do projeto, tendo como áreas principais de trabalho a implementação, monitorização e avaliação das práticas agrícolas na vertente de saúde do solo (físico-química e biológica), divulgação dos resultados e ações de promoção através de formação, workshops e visitas técnicas de campo.

Hortas D’Idanha disponibilizará a exploração agrícola e implementará de práticas agroflorestal (sintrópica), biológica e biodinâmica, colaborará na monitorização das práticas agrícolas e divulgação dos resultados.

TerraPrima Agrícola (Quinta da França) disponibilizará a exploração agrícola para implementação de práticas agroflorestal (sintrópica) e biodinâmica, colaborará na monitorização das práticas agrícolas e divulgação dos resultados.

TerraPrima Ambiental monitorizará e avaliará as práticas agrícolas na vertente de sequestro de carbono.

Sementes Vivas disponibilizará sementes biológicas a serem utilizadas nas explorações agrícolas.

PMS - Agricultura Natural e Meio Ambiente produzirá biofertilizantes de base microbiana que serão disponibilizados para utilização nas explorações agrícolas (em fase de registo na RRN).

A4F produzirá biofertilizantes e estabilizadores de solo, através do uso de microalgas, que serão disponibilizados para utilização nas explorações agrícolas.

IPV avaliará a componente socioeconómica das práticas agrícolas implementadas no decorrer do projeto.

AJAP facilitará os canais de comunicação com (jovens) agricultores portugueses e empresários rurais, através de ações de formação, workshops e visitas técnicas de campo, assim como promover a discussão, concertação e reflexão para a preservação do ambiente, dinamização do espaço rural e mitigação das alterações climáticas.

CCDesert promoverá a partilha e articulação para o desenvolvimento e sustentabilidade de práticas e ações ao combate à desertificação pela via da formação, da capacitação, da promoção da inovação e da transferência do conhecimento.

A empresa Mendes Gonçalves, S.A (entidade parceira associada do Food4sustainability Colab) cooperará como empresa demonstrativa do sistema agroflorestal sintrópico. A Biome Makers, empresa como a qual o Colab tem também relações de parceria, cooperará como PME internacional localizada fora do território nacional através da análise biológica dos solos e assessoria de saúde dos solos. Estas entidades não são parte integrante da parceria, mas contribuirão pra a disseminação das boas praticas de agricultura regenerativa, aumento da matéria orgânica e sequestro de carbono resultantes do projeto.

 
Interlocutor: Ricardo Chagas   Email interlocutor: ricardo.chagas@food4sustainability.org   Email entidade: mail@food4sustainability.org