Bolsa de Iniciativas PRR

 

«Promover a resiliência e a sustentabilidade da viticultura do centro e sul de Portugal» (Sustevid) (ID: 172 )
Coordenador: Viveiros PLANSEL, Lda
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Alentejo NUTS III: Alentejo Central
 
Identificação do problema ou oportunidade

Enquadramento do Problema:

A cultura da vinha constitui um importante fator de sustentabilidade, tanto para as populações que dela dependem economicamente, como para o equilíbrio dos ecossistemas onde a mesma se desenvolve.

- Nas regiões mais meridionais do país (sul e centro), a manutenção da cultura da vinha enfrenta sérios riscos devido às alterações climáticas (um aumento da temperatura e ocorrência mais acentuada de fenómenos meteorológicos extremos).

- Não obstante algumas regiões vitícolas como o Alentejo, terem já implementado planos de sustentabilidade, e existem inclusive empresas certificadas em modo de produção sustentável, estes de nada servirão se não houver vinhas para os aplicar.

- Acresce que o consumidor atual é cada vez mais exigente e mais informado, procura produtos de qualidade e exige técnicas de produção ambientalmente sustentáveis.

- A atividade vitícola recorre já hoje às mais avançadas tecnologias de produção, maximizando a utilização de fatores como a água e a energia, pelo que, escassa será a contribuição das técnicas culturais para a mitigação do problema.

- A verificar-se desaparecimento da cultura, ficará seriamente comprometida a sustentabilidade dos territórios onde atualmente a mesma se desenvolve.

- As regiões mais setentrionais, podem equacionar como solução para este problema a utilização de recursos genéticos que atualmente fazem parte do encepamento em regiões meridionais (centro e sul de Portugal), não se encontram nenhum centro genético de castas (Vitis vinifera) que produzam vinhos de qualidade mais meridionais.

Oportunidades de mitigação:

Pelo atrás exposto e tendo em conta que as castas e clones atualmente utilizados foram selecionados nos anos 80 e 90, tendo como base o aumento da produtividade e a garantia de qualidade sanitária, em situação de sequeiro, importa hoje rever os critérios de seleção de modo a conseguir castas e clones melhor adaptados a um novo paradigma, centrado numa produção de qualidade, adaptada às melhores técnicas culturais (p. ex. autorização da rega) e a um clima em mudança.

- É preciso explorar a variabilidade inter/intravarietal selecionado as castas e dentro destas os clones que melhor correspondem a estas novas características de interesse,

- Este trabalho deve incidir quer nas castas de referência de cada região quer nas castas consideradas atualmente secundárias (menos utilizadas e/ou exploradas de eventual interesse futuro).

-Nestas últimas a seleção de clones não existe e o conhecimento das suas capacidades produtivas e qualitativas é muito limitado, sendo previsível encontrarem-se genótipos melhor adaptados às alterações de clima em curso.

- As castas secundárias podem ainda constituir um ativo de interesse para nichos específicos de mercado, destinados à produção de tipos de vinho diferenciado, a ser explorados por pequenas empresas familiares, frequentemente a base da sustentabilidade de muitos territórios vitícolas.

- Mas para além de encontrar forma de sobreviver às alterações climáticas, a viticultura das regiões meridionais, tem também que tornar-se ecologicamente mais sustentável, assegurando a sustentabilidade ambiental dos territórios onde se desenvolve.

- Para isso é necessário dar uma oportunidade à criação de nova variabilidade com recurso ao melhoramento genético, que permita aproveitar do conhecimento científico existente, possibilitando a obtenção de novas castas melhor adaptadas a uma viticultura de qualidade, apresentando resistência natural a doenças da vinha como o míldio e o oídio, casos onde loci de resistência já estão identificados.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A. Objetivos:

  1. Valorizar o polo genético autóctone de referência, através da seleção de fenótipos melhor adaptados a uma produção focada na qualidade, na adaptação às novas técnicas culturais e mais tolerante a stress abiótico;
  2. Identificação, estudo e valorização de castas secundárias, destinadas à obtenção de vinhos diferenciados, para nichos específicos de mercado e também mais resilientes à problemática das alterações climáticas;
  3. Assegurar uma viticultura ecologicamente mais sustentável através da redução dos inputes de agroquímicos, pela obtenção de novas castas resistentes a fungos como o míldio e o oídio, dando um contributo significativo para apoiar os sistemas de exploração, em modo de produção biológico.

 

B. Linhas de ação e metodologias propostas:

Linha de ação 1: Melhoramento através de seleção clonal em castas de referência

Procura de variabilidade genética/epigenética dentro do conjunto das castas de referência regionais, de modo a selecionar indivíduos com características associadas à qualidade, adaptação à mecanização e maior tolerância a stress abióticos.

Exemplo, de algumas castas e de características procuradas:

  • Aragonês T (AG): seleção de fenótipos com características mais adaptadas à produção de vinho de qualidade;
  • Alicante Bouschet T (AB): seleção de fenótipos menos produtivos e menos sensíveis a temperaturas elevadas (escaldão);
  • Trincadeira T (TR): seleção de fenótipos com cacho menos compacto e película do bago mais espessa, de modo a conseguir uma melhor adaptação da casta aos sistemas de produção com rega da vinha;
  • Fernão Pires B (FB): seleção de fenótipos com porte ereto mais favorável à mecanização.

Os fenótipos selecionados serão instalados e analisadas em diferentes condições edafo-climáticas (zonas vitícolas C3b e C1), através da instalação de campos de adaptação regional. Far-se-á a sua fenotipagem e avaliação das características agronómicas e enológicas. Os dados obtidos servirão futuramente para admissão à certificação dos melhores clones.

Linha de ação 2: Valorização das castas secundárias

- Estudo do comportamento cultural (fenotipagem, avaliação da fertilidade, produtividade e vigor) e enológico (microvinificação, caracterização do perfil fenólico e volátil, análise sensorial)

- Limpeza sanitária através da cultura in vitro de castas contaminadas por vírus, pressupondo recorrer à termoterapia de indivíduos que manifestem interesse no comportamento cultural previamente referido.

- Produção de material de propagação para instalação de vinhas pé mãe de garfos.

Linha de ação 3: Obtenção de novas castas resistentes

- Dá-se continuidade ao trabalho de melhoramento sexuado já realizado, recorrendo a cruzamentos controlados, iniciados em 2000 com o projeto AGRO 2.4 “Introdução de castas de Vitis vinífera resistentes ao oídio em Portugal” e continuado em 2018 com PDR 784 “Programa de conservação e melhoramento genético da videira”,

- Nestes projetos utilizaram-se castas com resistência mono e muti-locus para o míldio e para o oídio, cujo pólen foi utilizado para realizar cruzamentos controlados com castas Portuguesas de referência.

- Continuar-se-á o trabalho de cruzamentos de modo a obter a maior variabilidade genética possível,

- Avaliar-se-á com recurso a técnicas de biologia molecular a introdução nos novos genótipos dos loci de resistência dos progenitores,

- Avaliar-se-á o interesse agronómico e enológico das novas obtenções já conseguidas.

Linha de ação 4: Divulgação pelo setor profissional

- Criação de um portal de uma área de informação técnica sobre o trabalho desenvolvido no projeto numa plataforma adequada para a finalidade, que posam servir de base a uma tomada de decisão consciente e publicar os resultados do projecto para conhecimeneto do setor profissional. Organizar Workshops, simpósios e elaborar artigos e publica-los em revistas nacionais para informar o sector profissional. 

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

A) Viveiro PLANSEL Lda; proponente

  1. Elaboração do projeto. Gestão administrativa, financeira, relatórios.
  2. Definição de caraterísticas de seleção e avaliação.
  3. Manutenção campos conservação (do PDR 784).
  4. Castração, fecundação, recolha de sementes, germinação, engordamento e enxertia na ação de introgressão de loci de resistência em castas de referência.
  5. Avaliação sensorial de bagos.
  6. Completar campos de conservação.
  7. Retanchar junto com ATEVA campos de adaptação regional (AG e AB).
  8. Disponibilizar plantas para diferentes campos de experimentação regionais.
  9. Determinação de material infetado ao saneamento por micropropagação.
  10. Regenerar e enxertar plantas apos saneamento.
  11. Recolher dados de avaliação, descrição morfológica, comportamento cultural e enológico das plantações Montemor.
  12. Iniciar admissão à certificação AG e AB.
  13. Atividade de divulgação: organização de 2 workshops com viticultores e multiplicadores de opinião, um simpósio. Também a divulgação numa plantaforma digital adequda e direcinada para o setor profissional. 

 

B) ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo)

  1. Apoio estratégico no projeto I&D.
  2. Acompanhar Instalação campos de conservação na DRAPAL.
  3. Disponibilizar o local de encontro do grupo.
  4. Apoio na definição de carateres de interesse.
  5. Recolha de dados das castas AG e AB, no Alentejo (junto com bolseiro).
  6. Estudo cultural e genético face aos desafios climáticos de castas secundárias do Alentejo
  7. Organização de um workshop dirigido a fileira regional.
  8. Distribuição de resultados obtidos.
  9. Instalar campos de adaptação regional de castas novas resistentes com DRAPAL.

 

C) Universidade de Évora

  1. Apoio na elaboração do projeto.
  2. Limpeza sanitária de vírus por cultura de meristemas e termoterapia, em genótipos de interesse infetados, nas castas de referência e secundárias.
  3. Caracterização molecular: Confirmação da paternidade e identificação dos loci resistência transferidos por cruzamento.
  4. Apoio na elaboração de microvinificações.
  5. Análise dos perfis fenólicos e voláteis de uva e vinho, por técnicas cromatográficas.

 

D) Viticert (Associação Nacional de Viveiristas Viticolas Produtores de Material Certificado) 

  1. Disponibilizar condições controlo de vírus: GFLV(Grapevine fanleaf nepovirus), ArMV(Arabis mosaic nepovirus), GLRa 1 e 3(Grapevine leafroll disease), GVA(kober stem grooving), GVB (corky-barl). 
  2. Apoio a plantação regional.
  3. Apoio na definição dos critérios de seleção.
  4. Apoio na recolha dados AG e AB.
  5. Colaboração no workshop regional.

 

E) INIAV - Dois Portos.

  1. Apoio na elaboração do projeto e nos relatórios.
  2. Descrição ampelográfica das novas castas resistentes de interesse para propagação.
  3. Supervisão da plantação na Casa Santos Lima.
  4. Apoio na definição dos carateres de prospeção e avaliação.
  5. Verificação varietal das castas nas plantações nos dois lugares (AG e AB).
  6. Recolha de dados nas plantações Santos Lima (ampelográficos, e medidas técnicas).
  7. Apoio na seleção de redução.
  8. Recolha uvas na fase de maturação AG, AB, castas minoritárias.
  9. Avaliação do mosto de castas novas.
  10. Determinação curva de maturação AG e AB (acidez, álcool, etc).
  11. Elaboração de microvinificação ).
  12. Análise fenólica e volátil.
  13. Organizar prova organolética.
  14. Participar em organização do workshop.
  15. Disponibilizar material de castas minoritárias existente (coleção nacional).

 

F) DRAPAL

  1. Disponibilizar tereno para a instalação de campos de conservação e multiplicação.

 

G) Centro de Competência na Luta Contra a Desertificação (CCDesert)

  1. Estudo transversal do impacto das castas na viticultura, avaliação na diferenciação do vinho, e mais valias socioeconómicas na atração de investimento e luta contra a desertificação para cada região. 
  2. Relatório sobre a evolução da zona vitícola (zonagem) face ao futuro dos recursos hídrico e níveis de desertificação.
  3. Coordenação das ações de divulgação e comunicação do projeto.  

H) Casa Santos Lima, empresa vitícola no Oeste

  1. Disponibilizar até 2,8 ha de terreno.
  2. Autorizar aos parceiros acesso à plantação (Viticert e INIAV).
  3. Vinificação 250 litros de candidatos (AG e AB).
  4. Apoio na estratégia da criação de um Centro de Competência Vitivinícola.

J) Empresas Vitícolas Alentejo (4)

  1. Disponibilizar plantações experimentais ou de adaptação regional.
  2. Disponibiliza uvas para objetivos de vinificação experimental.

 
Interlocutor: Jorge Bohm; David Tavares   Email interlocutor: david.tavares@plansel.com   Email entidade: viveiros@plansel.com