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Biodiversidade: uma aliada na recuperação da capacidade produtiva do montado (ID: 180 )
Coordenador: FCUL - Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-07 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III: Baixo Alentejo
Identificação do problema ou oportunidade
A intensificação da agricultura, muito
em particular a de regime monocultural, tem sido associada a um declínio na prestação
de serviços de ecossistema, em particular de regulação e culturais, sobretudo
devido à perda de diversidade de habitats e espécies. A par desta constatação, há
evidências científicas crescentes de que uma paisagem mais biodiversa e
resiliente melhora a prestação de serviços produzidos pelos ecossistemas,
beneficiando os agricultores. Conciliar a produção agrícola competitiva com a
conservação da biodiversidade assume-se assim como uma prioridade, procurando dar
resposta a um dos objetivos da Agenda 2030 de Investigação e Inovação e
Sustentabilidade da Agricultura, Alimentação e Agroindústria que pretende uma
agricultura mais resiliente, que proteja o ambiente, assegure a
sustentabilidade dos recursos água, solo e biodiversidade e contribua para a
transição climática, focada nas cinco Metas da Terra Futura. No contexto português, parte da região
agrícola do Alentejo, encontra-se num processo de rápida intensificação, sendo
hoje cada vez mais dominada pelas monoculturas intensivas e
superintensivas de olival e amendoal, que suscitam cada vez mais
interrogações sobre a sustentabilidade a longo prazo de um território com uma
tradição de agrossistemas extensivos e multifuncionais (montados de sobro e
azinho). Embora os modos de produção extensivos e intensivos continuem a
coexistir na região, a transição de um modelo de longa duração de agricultura
extensiva para um modo de agricultura predominantemente intensivo, tem sido extremamente
rápida, tornando urgente abordagens ao nível da paisagem, que considerem a
heterogeneidade do sistema (ecológica e economicamente diverso) e a necessidade
de uma “gestão de precisão” assente não apenas na capacidade produtiva imediata
do sistema a nível local, mas também na diversidade de habitats e espécies, e
dos serviços por estas prestados, bem como em formas de valorar economicamente as
práticas de conservação da biodiversidade. O montado (um
sistema agro-silvo-pastoril) é reconhecido como sendo de alto valor ambiental
devido ao seu papel no sequestro de carbono, na proteção dos solos e na
manutenção de níveis elevados de biodiversidade, tudo isto em condições
extremas de escassez de água e baixa fertilidade do solo, em terras que caso contrário
teriam uma capacidade produtiva muito reduzida. No entanto, este sistema
encontra-se em declínio. Apesar do seu valor
para a sociedade, quase todo o montado é propriedade privada. Utilizado
extensivamente no passado, combinando a atividade pecuária e de produção de
culturas sob a cobertura das árvores, atualmente, e face aos mercados globais e
cadeias alimentares, os proprietários de terras enfrentam graves problemas de
redução da rentabilidade e optam pela especialização, intensificando o seu sistema
de produção. Este sistema de produção que ocupa 38% da superfície territorial
do Continente português, mas apenas contribui com 7% da riqueza gerada (Reis et
al 2014), é o sistema de produção dominante no Alentejo . Acresce que este
sistema se distribui por territórios de baixa densidade (30 km2) onde a
população se encontra envelhecida. Assim, a
sustentabilidade a longo prazo do montado, elemento identitário do nosso território,
está em causa pois o sistema está sob diversas pressões: i) baixa rentabilidade
do sistema; iii) excesso de mortalidade de sobreiro e azinheira associada à
falta de regeneração; iii) culturas alternativas economicamente mais rentáveis;
v) compactação do solo e erosão; v) diminuição da diversidade e abundância das
pastagens; etc. Todas estas pressões interagem com as alterações climáticas já
presentes no território como se observa pelo aumento dramático da aridez no
Alentejo aumentando o risco de declínio deste sistema de produção
multifuncional.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
A resposta a este desafio obriga
necessariamente a uma convergência multidisciplinar e multi-sectorial com
envolvimento ativo de produtores florestais e agrícolas, e suas organizações, e
da comunidade científica, a par da colaboração com polos de inovação, centros
de competências e organizações não governamentais de proteção da natureza e do
património cultural. Promover práticas de gestão que
recuperem a capacidade produtiva do montado, considerando o contexto local
(gestão de precisão), e promovendo uma agricultura de conservação (Área
Temática LA 6.1), o desenvolvimento e valorização da biodiversidade e dos
serviços ecológicos a ela associados (Área Temática LA 6.3), e a promoção dos
recursos endógenos (e.g., sobreiro, porco alentejano e raças autóctones de ovinos
e bovinos) (Área Temática LA 6.5), a par da resiliência dos agrossistemas às
alterações globais, por outras palavras promovendo um território sustentável, é
o objetivo desta candidatura. São objetivos específicos desta
proposta: i) produzir mapas que identifiquem e caracterizem a diversidade de tipos
de sistemas de produção ‘montado’ na região do Alentejo; ii) avaliar o efeito
das diferentes práticas de gestão na capacidade produtiva dos montados, nos
níveis de biodiversidade e no fornecimento de múltiplos serviços de ecossistemas (regulação,
provisão e culturais) e respetivos compromissos; iii) promover os recursos
endógenos como instrumento para manter a identidade do território e melhorar a
resiliência às alterações globais; iv) proceder à comunicação e transferência
do conhecimento; e v) capacitar os espaços rurais alentejanos para a sustentabilidade
a longo prazo.
Esta proposta envolve 2
parceiros técnicos: A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com
especialistas em avaliações de biodiversidade e de serviços de ecossistema, bem
como de adaptação às alterações globais, o Instituto Superior de Agronomia,
também da Universidade de Lisboa, com especialistas em economia do ambiente e
dos recursos naturais. O consórcio envolve ainda a Associação de Criadores
do Porco Alentejano (ACPA), o Centro de Competências do Porco Alentejano e do Montado (CCPorcoAM) e
o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Polo de Inovação da
Fonte Boa). Para concretizar este projeto contamos ainda com mais de uma dezena
de PMEs espalhadas por todas as NUTIII de áreas desfavorecidas. O objetivo desta proposta visa assim aumentar a
competitividade e a resiliência da economia associada ao montado com base em investigação
e inovação, diversificação e especialização da estrutura produtiva.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
WP1 (FCUL) – Coordenação. A coordenação do projeto
atuará na interface entre o financiador e os parceiros: i) assegurando a execução
das WPs pelos parceiros, ii) recolhendo, revendo e verificando a consistência
dos relatórios, iii) fazendo a administração da contribuição financeira, e iv)
organizando e moderando as reuniões de projeto. WP2 (ISA, FCUL) – Caracterização e Mapeamento dos Sistemas
de Produção. Identificação, caraterização e mapeamento de sistemas de produção
em montado, e modelação dos drivers biofísicos e socioeconómicos de cada
sistema (área temática LA6.1) com base: i) no levantamento de informação
(características edafo-climáticas, práticas de gestão, vulnerabilidades, e
análise dos promotores de alteração), ii) na análise de agrupamento e iii) definição
de indicadores. Esta WP contará com diversas fontes de informação secundária, a
que acresce o conhecimento dos especialistas em sistemas produtivos do INIAV, da
ACPA e
do CCPorcoAM. WP3 (FCUL, ISA, PMEs) – Mapeamento e valoração dos
Serviços de Ecossistemas. Desenvolvimento de indicadores e sua quantificação,
mapeamento e valoração dos serviços dos ecossistemas (em casos de estudo – tipos
de sistemas de produção - que ilustrem diferentes condições edafo-climáticas e
níveis de degradação biofísica e de capacidade produtiva (área temática LA6.3),
considerando múltiplos serviços dos ecossistemas (provisão, regulação e culturais)
e os compromissos entre eles (trade-offs), para as práticas de gestão
mais relevantes. WP4 (ACPA, CCPorcoAM, PMEs, FCUL, ISA) – Promoção da
Resiliência. Utilização de recursos
endógenos como instrumento para melhorar a resiliência do sistema às alterações
globais (e.g., árvores mais adaptadas às alterações climáticas, promoção de
raças autóctones – porco alentejano e outras, promoção de aromáticas na produção
de mel, resiliência aos fogos florestais, aumento do sequestro de carbono, e resistência
a pragas – Área Temática LA6.5). TASK 4.1. Comparação no espaço (explorações que representem tipos
de sistemas de produção diferentes no mesmo contexto edafo-climático). TASK 4.2. Comparação no tempo (implementação
de práticas que são monitorizadas ao longo do projeto em explorações piloto). WP5 (ISA, FCUL) – Recomendações e Extrapolação.
Recomendações de base científica para apoio aos sistemas produtivos adaptado ao
contexto da exploração agrícola (tipo de sistema de produção) e ‘upscaling’
como contributo para as políticas (estratégias de valorização dos serviços). Avaliação
dos benefícios para a sociedade da aplicação das medidas em larga escala,
utilizando os tipos de sistemas de produção como base de agregação.
WP6 (ACPA, CCPorcoAM,
FCUL, ISA) – Comunicação e transferência do conhecimento. Comunicação e
transferência do conhecimento, através da disseminação de resultados junto dos
grupos-alvo selecionados, integração em grupos de discussão com relevância a
nível nacional e/ou regional e participação em sessões de transmissão de
conhecimento entre pares.
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