Bolsa de Iniciativas PRR

 

Digitalização do regadio: no caminho da eficiência (Regadio 4.0) (ID: 188 )
Coordenador: IPS - Instituto Politécnico de Setúbal
Iniciativa emblemática: 8. Agricultura 4.0
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Alentejo NUTS III: Alentejo Litoral
 
Identificação do problema ou oportunidade
O desenvolvimento do sector agrícola é essencial para a segurança alimentar de Portugal, representando cerca de 4% do PIB nacional. Num clima mediterrânico com verões quentes e secos, o ciclo hidrológico é insuficiente para equilibrar as disponibilidades e as necessidades de água. Como tal o regadio é essencial para garantir a competitividade e a sustentabilidade dos agroecossistemas; sobretudo no território “semiárido”, com expressiva expansão no Alentejo e Algarve. Segundo o INE (2021), cerca de 630.500 hectares são área irrigável, sendo 90% efetivamente regada. Os agricultores têm optado progressivamente por métodos sob pressão face a vantagens de automatização, economia de mão-de-obra e de maior eficiência na utilização da água. Contudo, continuam a observar-se situações de risco na gestão dos recursos naturais, cujas soluções com base na tecnologia digital permitirão reduzir, adequando a rega ao sistema solo-planta-atmosfera na parcela agrícola e ao sistema de abastecimento de água. Em muitas regiões do país o agricultor tem acesso a água para rega através de infraestruturas hidráulicas públicas designadas por aproveitamentos hidroagrícolas (AH). A grande maioria destes AH foram construídos e colocados em exploração, desde 1930, foram concebidos para o transporte e distribuição por gravidade, enquanto os mais recentes, construídos desde 2000, fizeram uma transição para o transporte e distribuição sob pressão. Nos AH mais antigos a entrega de água aos regantes e outros beneficiários é efetuada a pedido, regra geral, por telefone, à entidade gestora (EG) do AH. Este sistema tradicional carece nitidamente de melhoramento para um mais inovador com recurso a tecnologias de Agricultura 4.0. A qualidade do serviço prestado aos regantes (i.e., captação, transporte e distribuição de água) beneficiará com este salto tecnológico para a Agricultura 4.0, digitalizando-se a infraestrutura física e os respetivos processos de modo a ter o digital twin (DT) do AH. Um DT é uma representação digital de um ativo físico, processo ou sistema, e que está sincronizado em tempo real, com fontes múltiplas, incluindo sensores, para medir continuamente o seu estado atual. É esta solução que se pretende desenvolver, sendo necessária a recolha e o tratamento de uma larga variedade de dados e informação, desde cadastro, medições de grandezas hidráulicas através de sensores, ações, operação e manutenção, entre outros. Os AH apresentam diferentes maturidades de digitalização, estando ainda muito aquém do expectável. A McKinsey (2015) refere que o sector agrícola é o que tem pior índice de digitalização de entre os sectores analisados. A eficiência da gestão da informação das EG necessita de dar o salto tecnológico uma vez que muitos dos dados são, ainda, recolhidos manualmente, em formato papel e, muitas das vezes, nem são ainda possíveis recolher de todo. O regante como beneficiário final, também, deve ter acesso a dados e informações (e.g. solo, caudais) que se encontram, normalmente, na posse da EG ou de entidades terceiras (e.g., COTR, DGADR), através de uma interface de comunicação, onde de forma integrada o regante consulta informação necessária para o apoio à decisão na gestão da rega e, também, para que possa aplicar as suas tecnologias e ferramentas de agricultura de precisão de uma forma mais eficaz. Para além disso, esta interface será, também, o ponto de comunicação do regante para a EG, na qual o regante, no início de uma campanha de rega, dá indicação sobre quais as culturas e áreas que pretende cultivar. Estes dados aliados a dados históricos e a outros dados recolhidos em tempo real possibilitarão, com apoio de técnicas de inteligência artificial, um planeamento mais eficiente da campanha de rega. Adicionalmente, permitirá o reporte de forma automatizada à Autoridade Nacional do Regadio. Esta iniciativa inovadora em Portugal integra vários desafios, incluindo ao nível de I&D, e abre espaço para a introdução de tecnologias, baseadas no conhecimento e em dados para uma maior eficiência e resiliência do recurso água, em especial, em regiões de forte escassez hídrica. 
 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
O objetivo principal deste projeto é a transição digital do regadio, vital para a modernização tecnológica da agricultura em Portugal. Esta transição será efetuada através da digitalização das infraestruturas físicas existentes no terreno, de modo a reproduzir de forma fiel o seu gémeo digital (digital twin), que associado uma rede de sensores de monitorização eficiente, usando tecnologia IoT, permitirá recolher e agregar dados sobre o regadio, em tempo real, para regantes e entidades gestoras do regadio sobre a água captada, transportada e distribuída na rega.  Para tal, será desenvolvida também a interface digital que permite a comunicação, de forma eficaz, entre gestor da água e regante e vice-versa, de modo a disponibilizar informação, em tempo útil, para aumentar a qualidade do serviço prestado para uma agricultura de precisão, nomeadamente, na eficiência do recurso água. Esta interface servirá também para o regante dar indicação sobre quais as culturas e áreas que pretende cultivar permitindo à EG planear antecipadamente a campanha de rega e prever os consumos de água com base em dados históricos e meteorológicos. Adicionalmente, nesta interface, o regante indicará em tempo real, ao longo da campanha, as condições de desenvolvimento cultural nas áreas das parcelas. Estes dados permitirão ser enquadrados em informação e estatística que, com o apoio de metodologias de “benchmarking” e de inteligência artificial, possibilitarão um planeamento e uma condução mais eficiente das campanhas de rega, baseada no conhecimento. Os regantes desempenham um papel crucial neste projeto dado sendo os beneficiários de um serviço de melhor qualidade, mais eficiente e resiliente. Este projeto terá como casos-piloto os AH da Associação de Beneficiários do Mira (ABM) e da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), selecionados por se localizarem na região do Alentejo Litoral, onde a escassez hídrica se tem agravado e, por isso, é premente o aumento da eficiência e da resiliência do regadio. A metodologia desenvolvida neste projeto, através destes casos-piloto, permitirá uniformizar procedimentos para ser, posteriormente, generalizada aos restantes aproveitamentos nacionais e internacionais. 
O consórcio, coordenado pelo Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), é constituído, para além das duas associações referidas (i.e., ABM e ARBCAS), pela Federação Nacional de Regantes (FENAREG) pelo centro nacional de competências do regadio (COTR), pelos polos de inovação do INIAV, nomeadamente, os de Alvalade do Sado e Oeiras, pela empresa tecnológica ESRI Portugal, pela Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e por várias PMEs representativas dos vários tipos de agricultura existentes nestes perímetros de rega, nomeadamente, Sousa Prado & Filhos Agropecuária Lda., Sociedade Agrícola da Bogalheira Lda., Frestia (Portugal) e  Branco de Cal Lda..
 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Para dar cumprimento ao principal objetivo foi delineado um plano de ação com a seguinte metodologia:

1. Levantamento e caracterização dos dados, informação e sistemas informáticos. Participam nesta atividade a ABM, a ARBCAS e a ESRI, sendo coordenada pelo IPS.

  • Recolha de dados necessários à digitalização da infraestrutura física e dos respetivos processos.  
  • Após a recolha dos dados e informações procede-se à análise de requisitos em que se estudam as necessidades das EGs para a definição completa e correta do sistema digital.
  • Simultaneamente procede-se à modelação de dados que é uma fase importante na construção do sistema digital, dado que se irá criar as estruturas de dados que darão suporte aos processos das EGs.

2. Sensorização do sistema físico (redes). Participam nesta atividade o IPS e a ESRI, sendo coordenada pela ABM e a ARBCAS.

  • Uma vez que as EGs já possuem sistemas de medição com telemetria é necessário proceder ao seu levantamento e caracterização de modo a avaliar a sua adequabilidade para o sistema digital.  
  • Prevê-se que para a implementação do sistema digital deverá ser necessário instalar novos pontos de medição, com sensores IoT, sendo necessário identificá-los e analisá-los in loco. 
  • Após a identificação dos pontos de medição deve-se proceder à definição da especificação dos sensores e proceder à sua instalação no sistema físico. 
  •  É comum existirem erros e falhas de medição e, como tal, é necessário estudar e implementar técnicas para processamento de dados em tempo real, para garantir a qualidade dos dados.

3. Digitalização do sistema físico (redes). Participam nesta atividade a ABM, a ARBCAS e a IPS, sendo coordenada pela ESRI.

  • A digitalização do sistema físico relativo à rede primária e secundária do AH terá lugar após a atividade do levantamento e caracterização dos dados, informação e sistemas informáticos.   
  • O gémeo digital permite ter novas funcionalidades, como por exemplo, a previsão das necessidades de água, recorrendo a técnicas avançadas de inteligência artificial (IA). Como tal, serão estudadas e implementadas técnicas de IA de acordo com as necessidades identificadas nas atividades anteriores com as EGs.

4. Digitalização da rede terciária (sistema solo-planta-atmosfera). Participam nesta atividade o IPS, a DGADR e as PMEs, sendo coordenada pelo COTR e INIAV.

  • A digitalização do sistema físico relativo à rede terciária é fundamental para o regante obter dados e informações acerca do seu sistema solo-planta-atmosfera, essencial para utilizar tecnologias e ferramentas de agricultura de precisão de uma forma mais eficaz.  

5. Desenvolvimento da interface de comunicação entre a entidade gestora e o regante. Participam nesta atividade a ABM, a ARBCAS, a FENAREG, o COTR, o INIAV, a DGADR e as PMEs, sendo coordenada pelo IPS e ESRI.

  • A interface de comunicação fará a integração dos processos de informação digital das atividades 3 e 4, que irá dar informação no apoio à decisão da entidade gestora e do regante.  

6. Estabelecimento de um exercício de benchmarking para identificar e avaliar as práticas dos regantes e promover a seleção das melhores opções. Participam nesta atividade o IPS e as PMEs, sendo coordenada pelo COTR e INIAV.

  • Para avaliar a qualidade da gestão da rega serão definidas métricas para medir o uso sustentável do recurso água, ao nível da parcela.  

7. Capacitação e disseminação. Participam nesta atividade todos os membros do consórcio, sendo coordenada pela FENAREG e pelo COTR.

  •  A capacitação dos gestores e dos regantes dos AH é fundamental para uma adequada transição digital para a Agricultura 4.0, e aumentar a literacia digital, neste sentido serão definidas ações de capacitação técnicas para as EG (e.g., gestão da informação) e regantes (e.g., melhoria da eficiência de aplicação). 
  • No final do projeto será realizado um fórum alargado a toda a comunidade ligada ao regadio para demonstração do sistema desenvolvido e difusão dos resultados obtidos. 
 
Interlocutor: Nelson Carriço   Email interlocutor: nelson.carrico@estbarreiro.ips.pt   Email entidade: uaiide@ips.pt