Bolsa de Iniciativas PRR

 

INTEGRATE - Information System for an Efficient Agriculture Water Management (ID: 189 )
Coordenador: IPB - Instituto Politécnico de Beja
Iniciativa emblemática: 8. Agricultura 4.0
Data de Aprovação: 2022-03-09 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III: Alentejo Litoral
 
Identificação do problema ou oportunidade

Num quadro de uma disponibilidade hídrica futura mais incerta entende-se que o regadio irá assumir um papel ainda mais importante no aumento da resiliência dos sistemas de produção agrícola, dado que promove a regularização da disponibilidade do recurso água para as culturas aumentado a produtividade e o desenvolvimento da economia regional e permitindo a fixação das populações nas regiões do interior do país. Em Portugal reconhece-se que a generalidade das explora­ções agrícolas dependem da água para a agri­cultura, no entanto, apesar do regadio ocupar uma pequena parte da superfície agrícola utilizável é ainda assim o principal responsável pela produção agrícola nacional. A modernização do regadio impõe um desafio no âmbito da gestão dos aproveitamentos hidroagrícolas, havendo a crescente preocupação de desenvolver ferramentas de apoio à decisão que consigam responder em tempo real às diferentes necessidades das entidades gestoras.

Os gestores dos aproveitamentos hidroagrícolas (AH) encontram inúmeras dificuldades no âmbito da tomada de decisão e gestão operacional das albufeiras, essencialmente no que diz respeito ao acesso automatizado a informação agregada em tempo real das variáveis que melhor caracterizam o aproveitamento. Nomeadamente os níveis de água, volumes armazenados e as afluências à albufeira, parâmetros físico-químicos como pH, condutividade, temperatura, zona eufótica e nutrientes (do ciclo do azoto e do fósforo) presentes na água assim como as principais grandezas meteorológicas condicionantes do estado da massa de água são aspetos importantes a monitorizar.

As práticas agrícolas por parte dos regantes encontram-se condicionadas pela disponibilidade e qualidade do recurso água, por um lado, mas também por requisitos ambientais, económicos e sociais que promovam o aumento da sustentabilidade. Estes compromissos que assumem especial importância e são traduzidos nas exigências da Diretiva Quadro da Água (DQA), relativamente à proteção das massas de água contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola é um dos principais. Também dos vários objetivos estabelecidos para 2050, no âmbito da nova estratégia “Farm to Fork” do “European Green Deal” da comissão europeia, preveem-se reduzir as perdas de nutrientes em pelo menos 50%, minimizando-se desta forma os custos dos fatores de produção ao nível da parcela e tornando o modelo agrícola ambientalmente mais sustentável. 

Neste contexto julga-se particularmente importante desenvolver sistemas que possibilitem o aumento da resiliência dos AH face ao impacte esperado das alterações climáticas, principalmente os relativos às secas e ondas de calor, por condicionarem diretamente a disponibilidade do recurso hídrico, a evapotranspiração das culturas e consequentemente os aspetos relacionados com a qualidade das massas de água (parâmetros físico-químicos e macronutrientes). A consulta em tempo real de informação que possibilite práticas ambientalmente mais sustentáveis e eficientes ao nível da gestão da água nas albufeiras e na parcela agrícola, permitiria gerir eficazmente os volumes disponíveis e simultaneamente a redução do uso de fertilizantes nas explorações.

Entende-se assim que os gestores e os regantes associados aos AH possam ser capacitados no sentido de uma maior utilização de ferramentas que lhes possibilite uma gestão integrada e preditiva quer das origens de água quer das parcelas agrícolas, que os regantes possam assim melhorar a produtividade agrícola, a qualidade dos produtos alimentares e a sanidade dos solos, através da elaboração de planos de fertirrigação mais eficientes, que atendam às reais necessidades nutritivas das culturas assim como a uma melhor utilização dos fatores de produção nomeadamente dos fertilizantes.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Pretende-se com a presente proposta de projeto a implementação de um sistema tecnológico que permita a monitorização em tempo real e desenvolvimento de modelos de previsão, através da utilização de uma rede de sensores locais e remotos, das principais grandezas hidrometeorológicas, de qualidade da água e de fertilidade. A rede de sensores será desenvolvida no IPBeja e instalada nas albufeiras e nas parcelas agrícolas. Este sistema irá comunicar com uma base de dados onde a informação é armazenada e disponibilizada de forma integrada e estruturada numa plataforma digital de acesso em dois níveis distintos, o gestor do AH e o regante/agricultor, possibilitando uma melhor tomada de decisão relativamente à gestão operacional e exploração das albufeiras, assim como, o acesso em tempo-real pelo agricultor a informação essencial para a sua cultura, nomeadamente no que à fertilização diz respeito.

Com a implementação de sistemas de ajustamento de previsão meteorológica local baseado na regionalização (downscaling) dos modelos de previsão numérica do tempo, recorrendo às observações locais e remotas em conjunto com técnicas estatísticas e de inteligência artificial, será possível antever com mais fiabilidade o estado das albufeiras, permitindo conhecer em particular os cenários que induzem a situações de escassez hídrica como os que derivam da ocorrência de ondas de calor, de fenómenos persistentes indutores de seca hidrológica ou de situações de crescimento acelerado de atividade algal Algal Blooms. Com o crescente número de satélites disponibilizados sobretudo pelas agências espaciais Europeia (ESA) (ex. programa Copernicus) e Norte Americana (NASA) (ex. missão ECOSTRESS) surge uma oportunidade única na forma como se estudam e monitorizam os recursos. Deste modo, e de forma a capitalizar o volume exponencial de dados (Big Data) obtidos por diferentes tipos de satélites, o projeto prevê a utilização da tecnologia de deteção remota como ferramenta para auxiliar na monitorização da origem de água, nomeadamente dos principais parâmetros de qualidade de água contribuindo para o alerta precoce de “Algal Blooms” nas massas de água, sendo que nas parcelas agrícolas, permitir-se-á a determinação de parâmetros relacionados com a sanidade das culturas e apoio ao mapeamento da fertilidade dos solos. Pretende-se assim capacitar o agricultor para uma melhor gestão cultural e utilização sustentável de fertilizantes, contribuindo desta forma para atingir os objetivos Europeus delineados para 2050.

Outro dos objetivos é o de que esta plataforma a ser desenvolvida possa ser utilizada na gestão que a Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) tem prevista no âmbito das funções que lhe estão adstritas, ficando a mesma alojada num local de fácil acesso por todos os intervenientes relevantes do sector agrícola.

 

Esta é uma iniciativa totalmente inovadora face ao estado-da-arte no nosso País, já que introduz um novo modelo de gestão simbiótico das disponibilidades hídricas, uso de fertilizantes e explorações agrícolas, promovendo sinergias entre fornecedores de água para rega e regantes.

 

A iniciativa complementa ainda o conhecimento existente, fazendo uso de tecnologia de ponta para a produção de informação fulcral à atividade de um conjunto vasto de partes interessadas.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

As principais atividades ou linhas de ação ir-se-ão desenvolver em dois casos de estudo localizados nas NUTSIII do Alentejo Litoral e do Algarve, nomeadamente a Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS) e a Organização de Produtores de Citrinos Frusoal – Frutas do Sotavento Algarve, Lda. no Sotavento Algarvio. A coordenação do projeto encontra-se atribuída ao Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), sendo que para além dos anteriores parceiros, contam-se as seguintes entidades: Instituto de Ciências da Terra da Universidade de Évora (ICT); CERIS – Civil Engineering Research and Innovation for Sustainability (CERIS-IST) do Instituto Superior Técnico; Federação Nacional de Regantes de Portugal (FENAREG); Centro nacional de competências do regadio (COTR); Polos de inovação da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPAL), nomeadamente, os de Moura e Serpa; Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e por várias PMEs representativas dos tipos de culturas predominantes nas duas regiões, nomeadamente, Conqueiros Invest, Lda, Paulo Calheiros, AlenSado Cooperativa Agrícoa do Sado C.R.L, Frusoal - Frutas Sotavento Algarve, Lda., Sabor Selvagem, Unipessoal, Lda., Citriaroeira - Produção Citrícola, Lda., Sociedade Agrícola Marco & Brejo, S.A., entre outras.

Outro dos parceiros do projeto é a empresa internacional Robesol sedeada nos Países Baixos especialista em sistemas de controlo e medição no âmbito dos recursos hídricos.

A presente proposta encontra-se relacionada com as seguintes áreas de trabalho e de acordo com a seguinte distribuição de tarefas:

1 – Caracterização do funcionamento dos aproveitamentos hidroagrícolas (AH) em estudo

Coordenação: CERIS-IST| Parceiros: ICT, ARBCAS, FRUSOAL, FENAREG, IPBeja e DGADR

Duração Prevista: 15 meses

                         Sistematização e caracterização geral das albufeiras de regularização associadas aos AH adotados como casos de estudo;

                         Caracterização climática, tendências e cenários previstos pelos mais recentes modelos climáticos regionais para as zonas onde se inserem os AH;

                         Análise dos montantes de água colocados em jogo e dos seus padrões temporais, dos consumos a partir de cada AH, quer em condições médias, quer em condições sob restrição devido a escassez hídrica;

                         Análise do historial da exploração dos AH, com ênfase para as regras de exploração aplicadas e para as garantias praticadas, tendo em vista identificar, quer a adequabilidade de tais regras/garantias, quer as situações passadas determinantes de mau desempenho ou mesmo de colapso;

                         Definição e Caracterização da Arquitetura Geral do Sistema.

 

2 – Implementação de uma rede de telemetria utilizando sensores “in-situ” (subsistema de aquisição e transmissão de dados):

Coordenação: IPBeja e ICT | Parceiros: ARBCAS, FRUSOAL, COTR e FENAREG

Duração Prevista: 39 meses

                         Definição e descrição geral da arquitetura do sistema de recolha, transmissão, receção e validação dos dados atribuindo funções a cada subsistema e definindo os respetivos inputs e outputs;

                         Instalação de uma rede distribuída de sensores hidrometeorológicos e de qualidade da água (parâmetros físico-químicos “in-situ” e macronutrientes), autossuficiente em termos de energia, constituída por vários subsistemas de nó remotos que comunicam com sistemas agregadores no sentido de recolha e envio para a cloud dos dados de monitorização. Criação de modelo de aquisição de dados em contínuo que recorre a um sistema de comunicações categorizado em três níveis diferentes: a disponibilidade da informação processada pelo subsistema ao nível da Internet em geral; a transmissão da informação agregada entre o subsistema e os sistemas agregadores com um débito de dados médio e a comunicação de dados entre os sistemas remotos, com baixo consumo energético, e os sistemas agregadores, com baixo débito de dados;

                         A calibração e validação da rede de sensores será desenvolvida com recurso a ensaios laboratoriais (parâmetros físico-químicos) nos períodos de amostragem que venham a ser definidos;

 

3 – Armazenamento e Processamento de informação hidrometeorológica e de qualidade de água (subsistema de armazenamento de dados):

Coordenação: IPBeja e ICT | Parceiros: CERIS-IST, DGADR e DRAPAL

Duração Prevista: 27 meses

 

                         Construção de uma Base de Dados Dinâmica (BDD) que armazene as séries temporais relativas às variáveis de estado das massas de água e dos solos das parcelas agrícolas em estudo;

                         Implementação de algoritmos de ajustamento local da previsão meteorológica por forma a melhorar a previsão da evolução das principais variáveis condicionantes do estado das massas de água (ex. temperatura do ar e da água, precipitação, humidade do ar, radiação solar, vento e evaporação);

                         Desenvolvimento de modelos hidrológicos quer para preenchimento dos registos das variáveis hidrometeorológicas da BDD assim como para estimar os escoamentos afluentes às albufeiras com base na anterior previsão meteorológica;

                         Aplicação de modelos baseados em detecção remota por satélite para monitorização da qualidade da água e de parâmetros de fertilidade do solo. Os modelos serão calibrados e validados por ensaios laboratoriais. 

                         Desenvolvimento de modelos e de critérios de avaliação do desempenho das albufeiras de regularização dos AHs (incluindo priorização e garantias em diferentes cenários de disponibilidade hídrica), atendendo aos diferentes usos consumptivos em jogo: no essencial a rega e o consumo humano. Implementação para diferentes cenários e regras de operação que tenham em conta alterações às disponibilidades e ao consumo induzidas por fenómenos meteorológicos extremos (ex: ondas de calor e secas);

                         Análise dos anteriores modelos e desenvolvimento de um sistema de tomada de decisão por forma a concluir sobre a evolução dinâmica e em tempo real da qualidade e da quantidade de água nos sistemas AHs e, assim, propor orientações quanto à gestão de tais sistemas e à consequente alocação do recurso e gestão de nutrientes;

 

 4 – Criação de Plataforma agregadora de informação e integração com sistemas existentes:

Coordenação: IPBeja | Parceiros: DGADR, FENAREG, COTR, DRAPAL

Duração Prevista: 27 meses

 

                         Desenvolvimento de uma plataforma digital integrando todos os anteriores módulos, contendo um sistema de back-end que forneça serviços de gestão de dados que permitam disponibilizar informação de suporte à tomada de decisão por parte dos gestores dos AH, assim como das explorações agrícolas parceiras.

                         Desenvolvimento de sistema de front-end multinível (acesso a gestor de albufeira e regantes diferenciado) baseado em padrões de usabilidade.

                         Integração com sistema de informação a ser desenvolvido no âmbito do projeto PARE (Plataforma de Avisos de Rega) da DGADR com vista a complementar as funções da plataforma;

                         Integração com plataformas SIG (Sistemas de Informação Geográfica) existentes nos casos de estudo.

 

5 – Capacitação e Disseminação. Produção de Manuais, Validação dos Sistemas e Ações de Demonstração:

Coordenação: COTR e IPBeja | Parceiros: todos os membros

Duração Prevista: 21 meses

 

                         Estabelecimento de um exercício de benchmarking para identificar e avaliar as boas práticas dos regantes no âmbito da Agricultura 4.0 tendo como objetivo a promoção e sensibilização dos regantes no uso de tecnologia.

                         Elaboração de manuais técnicos com orientações para a gestão operacional do sistema de telemetria;

                         Validação da plataforma de informação com recursos a métricas de performance no acesso e usabilidade. Plataforma a ser integrada na DGADR;

                         Capacitação dos regantes na elaboração dos planos de fertirrigação no âmbito das suas explorações agrícolas.

                         Elaboração de manuais com orientações e procedimentos relativamente à expansibilidade da rede de telemetria, sistema de gestão e processamento da informação.

                         Disseminação dos resultados obtidos alargada a toda a comunidade ligada ao regadio, por forma a permitir a partilha de conhecimento e demonstração da tecnologia desenvolvida;

 
Interlocutor: João Filipe Santos   Email interlocutor: joaof.santos@ipbeja.pt   Email entidade: geral@ipbeja.pt