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WiseVitis - Gestão inteligente, Integrada e Sustentável de ameaças fitossanitárias na vinha (ID: 194 )
Coordenador: ADVID - Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense
Iniciativa emblemática: 8. Agricultura 4.0
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Douro
Identificação do problema ou oportunidade
A deteção precoce de doenças, nomeadamente do míldio (Plasmopara vitícola) e do oídio (Erysiphe necator), constitui um desafio
prioritário para a viticultura, já que as alterações climáticas têm agravado a
frequência da sua ocorrência. Estas doenças fúngicas com incidência em todo o
território nacional, são responsáveis por perdas de produção e qualidade consideráveis
e estão associadas a elevados custos para o seu combate. Atualmente, o diagnóstico destas doenças baseia-se na
observação visual, in situ, e quando
os sintomas estão já instalados na videira, reduzindo a oportunidade da decisão. Por outro lado, a atuação para o seu combate baseia-se
predominantemente na luta química com aplicação de produtos de contacto
(carácter preventivo) e/ou penetrantes ou sistémicos (carácter curativo),
consoante as condições de risco de desenvolvimento dos fungos. Todavia, o
aparecimento de resistências promovidas pela rápida evolução destes fungos, têm
diminuído a eficiência destes métodos, arrastando o viticultor para uma
perniciosa espiral de agressividade dos tratamentos. Também, a aplicação de
produtos químicos é dispendiosa e representa um risco para a saúde humana, para
a ecologia e para o ambiente. A atual posição da União Europeia, apresentada no Pacto
Ecológico Europeu, tem como objetivo reduzir a utilização de produtos
fitofarmacêuticos em 50% até 2030, exigindo da parte do sector vitícola o
delineamento de estratégias de combate para a redução do uso de agroquímicos
para o controle das doenças da videira, através de abordagens integradas e
ambientalmente sustentáveis.
Atualmente, as metodologias usadas para a deteção de
doenças fúngicas na vinha recorrem à captura de imagens espectrais de folhas de
videira provenientes de sensores montados em satélites ou drones e estações
meteorológicas. Estes sensores, podem ser conectados com equipamentos que
transmitem dados, posteriormente tratados através de diferentes algoritmos de
processamento de imagem permitindo assim diferenciar o estado sanitário das
videiras. Esta abordagem baseia-se no princípio de que a infeção dos tecidos da
videira (ex. folha) provoca alterações das suas propriedades óticas
relativamente a tecidos saudáveis, as quais podem ser detetadas através de
sensores adequados. Outros procedimentos usados integram dados meteorológicos,
previsão do estado fenológico da videira, medição da concentração de esporos e
inóculo necessários para que a infeção ocorra. A utilização de técnicas de
inteligência artificial também tem sido fundamental na análise dos dados
provenientes destes equipamentos. Todas as metodologias referidas geram uma
quantidade enorme de dados que, acumulados ao longo dos vários anos, permitem
antecipar o aparecimento dessas doenças tornando o sistema cada vez mais
robusto e com menor possibilidade de erro ajudando os viticultores no apoio à
tomada de decisão relativamente a inúmeras ações para a vinha, incluindo a
deteção de doenças da videira. Todavia, o desafio persiste e reside na deteção precoce dessas doenças exigindo
uma constante monitorização da vinha, na determinação de um diagnóstico fidedigno com a integração de dados provenientes das diferentes
plataformas e por último, na atuação resultante
da associação efetiva entre a capacidade de diagnóstico, a tomada de decisão
pelo produtor, e a atuação rápida e eficaz através de tratamentos alternativos.
Neste contexto, este projeto definiu como plano de ação uma abordagem
integrada inteligente e autónoma que envolve a aplicação de tratamentos
alternativos aos fitofármacos convencionais, de forma espacialmente
diferenciada, em articulação com a avaliação precoce do risco de ataques de
doenças fúngicas, através da monitorização da vinha, recorrendo a ferramentas
de suporte à tomada de decisão e desenvolvimento de plataformas autónomas de
leitura. Pretende-se assim substituir a atual abordagem preventiva de aplicação
periódica de fitofármacos, por uma abordagem racional de aplicação de
tratamentos com mínimo impacto, somente quando e onde
necessário, e na quantidade mínima imprescindível.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Pretende-se aliar o conhecimento de
uma equipa multidisciplinar para desenvolver uma ação integrada, inteligente
e autónoma de prevenção e combate a doenças na videira (oídio e míldio),
utilizando tratamentos alternativos e soluções de deteção com sistemas de visão
computacional montados em diferentes plataformas, machine learning e IA
integrados num sistema de alertas. Neste contexto, as entidades parceiras
pretendem desenvolver, não só as soluções alternativas de tratamentos de
combate às doenças, como também os recursos tecnológicos e digitais que
permitam determinar a maior probabilidade para o aparecimento dessas doenças
e/ou a confirmação da sua presença na vinha de modo a realizar tratamentos
diferenciados e precisos.
Neste projeto, serão avaliados três
tratamentos inovadores e ambientalmente sustentáveis. O tratamento com partículas
de óxido e hidróxido de cobre, revestidas por um biopolímero, permite
reduzir significativamente as perdas por lixiviação do cobre aplicado na vinha
diminuindo os impactos ambientais e aumentando a eficácia da aplicação de cobre
no controlo da infeção por P. vitícola. A aplicação de água ozonada,
será outro tratamento usado no combate a estas doenças devido à elevada
capacidade oxidante do ozono e à sua decomposição espontânea em oxigénio sem
formar resíduos perigosos. O ozono e os seus produtos de decomposição requerem
tempos de contato curtos para inativar uma gama alargada de microrganismos,
reagindo com os seus constituintes celulares, nomeadamente esporos. No terceiro
tratamento serão aplicados compostos fenólicos e compostos orgânicos
voláteis (VOCs) em diferentes concentrações nas folhas de videira. Os VOCs
apresentam vantagens a nível: fitossanitário – resposta rápida e com boa
difusão na folhagem, e a sua persistência e libertação gradual podem ser
controladas; económico - atividade em concentrações muito baixas e de custo
médio; e ambiental - não deixam resíduos nas folhas e podem ser aplicados com
atomizadores.
Um sistema de alerta de risco (deteção precoce
da doença), será aplicado para a avaliação da eficiência dos diferentes
tratamentos na abordagem integrada em desenvolvimento (alerta-tratamento). Este
sistema é constituído por diferentes componentes: os dados recolhidos nas
estações meteorológicas são enviados para a cloud por IoT, e as leituras
efetuadas com um sensor de campo são carregadas numa plataforma e usadas para
prever a probabilidade de desenvolvimento de doenças na vinha. A verificação in
situ é realizada por um sensor que recolhe imagens multiespectrais de
folhas, fornecendo dados quantitativos relativos ao estado sanitário da
videira.
Outro objetivo, passa pela monitorização inteligente da vinha através do
uso de imagens de satélite e mapeamento com sensores multiespectrais e térmicos
instalados em drones para a recolha de inputs que serão analisados
através duma plataforma inteligente. Será feito um cruzamento entre dados
obtidos no solo, no que diz respeito à análise de risco, com mapeamentos
aéreos, de forma a encontrar relações causais uteis para a análise
espácio-temporal de risco de míldio e oídio. O mapeamento do risco destas
doenças poderá ser utilizado no suporte à pulverização de precisão (ex. VRT)
permitindo uma aplicação diferencial dos tratamentos fitossanitários. A atuação
baseada no mapeamento do risco é um instrumento relevante para a gestão
racional dos tratamentos fitossanitários e, ao definir um ordenamento das zonas
prioritárias de atuação, permite um planeamento mais eficaz dos recursos da
exploração (ex. maquinaria).
Adicionalmente, pretende-se explorar a
utilização dos diferentes sensores multiespectrais acoplados a uma plataforma
robótica, de forma a realizar leituras na vinha de uma forma autónoma, permitindo abranger uma maior área de vinha, análises de
risco, e emissão de alertas, totalmente remota.
Ao longo dos ensaios, será avaliada, não só a
eficácia dos tratamentos in situ e da abordagem desenvolvida, mas também
o impacto da mesma na biodiversidade das explorações, comparativamente à
utilização de práticas convencionais.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
ADVID / CoLAB Vines & Wines: Coordenação do projeto;
avaliação da eficiência da abordagem integrada, com recurso a tratamentos
alternativos; comparação de impactos na biodiversidade e saúde do solo entre os
tratamentos alternativos e os convencionais; formação e capacitação tecnológica
das PMEs. Universidade de Aveiro (UA): Desenvolvimento e
disponibilização de tratamentos alternativos: partículas de Cu/biopolímero, compostos
fenólicos, e VOCs; definição da estratégia de aplicação dos diferentes
tratamentos; análise comparativa da eficácia dos tratamentos in situ; promoção de ações de
demonstração, disseminação e divulgação do projeto. XpectralTek: Desenvolvimento e disponibilização de
ferramentas de suporte à decisão para monitorização das vinhas e avaliação de
risco de ataques de Míldio e Oídio na videira; desenvolvimento de uma
plataforma de emissão de alertas e suporte à decisão ao viticultor com base nos
dados obtidos pelas diferentes plataformas e dispositivos; exploração da
utilização de sensores multiespectrais para a deteção precoce das doenças e
avaliação dos tratamentos alternativos. Spin.Works: Monitorização Inteligente das vinhas, com
recurso a dados obtidos através de deteção remota (satélite e drone) para:
avaliação do estado geral da vinha e impactos dos tratamentos; desenvolvimento
de métodos de monitorização espacial de risco; desenvolvimento de uma abordagem
VRT (mapas de prescrição) como suporte à gestão racional dos tratamentos;
desenvolvimento e integração em plataforma de monitorização agrícola. INESC TEC: Exploração da utilização de sensores
UV-Vis-SWNIR, e acoplamento de sensores a plataforma robótica de forma a
realizar leituras na vinha de uma forma autónoma para a deteção precoce das
doenças e avaliação dos tratamentos alternativos. CATAA: Entidade representante do Centro de Competências da
Apicultura e Biodiversidade (CCAB), participará na avaliação do impacto dos
tratamentos alternativos e convencionais no microbioma do solo das explorações. DRAP-C: Recebe um campo de ensaio
da abordagem integrada com tratamentos alternativos aplicados mediante alertas
no Polo de Inovação de Nelas, ficando responsável pela gestão do mesmo, e
participando os ensaios instalados no Dão. IPV: Instalação e acompanhamento
dos ensaios no Polo de Inovação de Nelas e dos campos de ensaio no Dão; avaliação da eficácia dos diferentes tratamentos e do seu
impacto na biodiversidade nestes campos de ensaio. Adega Luís Pato: Suporte à
instalação de ensaios e aplicação de tratamentos no âmbito dos delineamentos
experimentais; acompanhamento técnico na vinha para recolha de dados in situ (observação visual da
presença/ausência das doenças) para validação dos dados obtidos através das
outras plataformas e/ou dispositivos (Bairrada). Alves de Sousa: Instalação, manutenção e colaboração no
acompanhamento de campo experimental (Douro). Quinta dos Roques, O Abrigo da Passarela, Sociedade
Agrícola do Casal de Tonda, Lda e João Francisco
Abreu da Cunha (Jovem Agricultor): Instalação, manutenção e colaboração
no acompanhamento de campos experimentais (Dão), um por parceiro. Casa de Cello: Instalação, manutenção e colaboração no
acompanhamento de campo experimental (Vinhos Verdes).
A UA
fornecerá os tratamentos à base de partículas de Cu/biopolímero, compostos
fenólicos, e VOCs para os diferentes ensaios e fará a avaliação da sua eficácia
in-situ. A observação dos resultados
nos campos de ensaio localizados no Douro e nos Vinhos Verdes, assim como o
acompanhamento dos mesmos, serão da responsabilidade da ADVID / CoLAB Vines
& Wines, e os campos de ensaio localizados no Dão e na Bairrada serão
acompanhados pelo IPV. Será instalado e desenvolvido um sistema de alerta de
risco num campo de ensaio em cada uma das regiões. Voos de drone serão levados
a cabo sazonalmente nos campos de ensaio localizados nas diferentes regiões, de
acordo com os factores de risco meteorológicos observados. Uma plataforma
robótica autónoma, será desenvolvida e testada num dos campos experimentais.
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