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SERENA - Raça SERpentina, o futuro está nos gENEs (ID: 207 )
Coordenador: Agro.Metrica, Lda.
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-07 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III: Alentejo Central
Identificação do problema ou oportunidade
Portugal, devido à sua posição geográfica, é um dos países
em que se preveem fortes impactos sobres os sistemas de produção de ruminantes
devidos às mudanças climáticas em curso: aumentos nos níveis atmosféricos de
dióxido de carbono, temperaturas mais altas, mudanças na quantidade,
sazonalidade e distribuição da precipitação e aumentos em eventos climáticos
extremos. Estas mudanças climáticas afetam os sistemas pecuários devido aos
seus impactos diretos na fisiologia (produção e reprodução), no comportamento,
na saúde e no bem-estar animal e indiretamente na disponibilidade, composição e
qualidade dos alimentos. A redução da precipitação e o alargamento da estação
seca no sul e centro interior do território, leva à diminuição da produção e da
qualidade das forragens e das pastagens e a alterações do tipo de vegetação
dominante, com aumento das espécies arbustivas em relação às herbáceas
associados ao aumento dos níveis de CO2. Neste contexto, criadores até agora
exclusivamente de bovinos poderão vir a substituí-los nas suas explorações,
parcial ou totalmente, por pequenos ruminantes, mais adaptados ao pastoreio em
zonas marginais. Os caprinos são geralmente menos suscetíveis ao stress térmico
do que outros ruminantes domésticos, apresentando características únicas, como
a capacidade de conservação de água, maior taxa de sudação e taxa respiratória
e menor produção de calor basal, o que se reflete na sua distribuição pelas
regiões mais quentes e secas da Terra, nas quais se encontram aproximadamente
50% da população mundial de ovinos e caprino. No entanto, a exposição contínua
dos animais ao stress térmico leva a perdas reprodutivas e de produção de leite
e carne que podem ser explicadas, em parte, pelo menor consumo de alimento, mas
também são influenciadas por alterações metabólicas e endócrinas reguladas
geneticamente. Avanços na área da biologia molecular e da bioinformática
permitiram nos anos recentes fazer a sequenciação dos genomas e dos
transcriptomas de raças ovinas e caprinas distribuídas por todo o mundo, muitas
delas selecionadas, natural ou artificialmente, ao longo de milénios em
ambientes extremos de temperatura e de altitude. A comparação dos genomas destes
animais vem lançar luz sobre as vias moleculares que estão subjacentes aos
processos adaptativos que lhes permitem viver e produzir leite, carne e fibras
em tais ambientes e bem assim identificar marcadores valiosos na luta contra as
alterações climáticas e na promoção da sustentabilidade dos territórios onde
são criados. Além disso, os produtos provenientes da exploração caprina
apresentam comprovadamente benefícios para a saúde humana por serem
considerados de mais fácil digestão por serem menos gordos. Este baixo teor de
gordura deve-se principalmente às características próprias da espécie, uma vez
que os caprinos canalizam as suas reservas lipídicas para a “gordura
abdominal”, ficando a carne com pouco teor em gordura. O leite de cabra tem
também um teor em gordura inferior ao leite de ovelha e vaca, dando origem a
queijos menos gordos ricos em ácidos gordos poliinsaturados e outros compostos
bioativos. Assim, a produção de caprinos contribui também para uma
população mais saudável, através da promoção de um sistema alimentar mais
sustentável e saudável, uma agricultura mais resiliente, que protege o
ambiente, assegura a sustentabilidade dos recursos água, solo e biodiversidade
e que pode contribuir para a transição climática, permitindo estimular o desenvolvimento
de uma atividade, suportado pela incorporação de conhecimento e tecnologia.
Este projeto propõe-se encontrar e promover
ferramentas de cariz genético que proporcionem melhor adaptação dos animais às alterações
climáticas adversas previstas nestas zonas marginais, se possível incrementado
as características produtivas dos animais por forma a manter o povoamento das
zonas marginais e a sustentabilidade do território e da caprinicultura
extensiva, contribuindo, assim, para uma paisagem mais biodiversa e para uma agricultura
mais resiliente, que promova a gestão eficiente de recursos naturais.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Esta iniciativa tem como objetivo valorizar os recursos
genéticos existentes, nomeadamente os caprinos de raça serpentina,
potencializando as características intrínsecas evidenciadas pela resiliência
destes animais às situações climáticas extremas, típicas do seu solar de
origem. Aspiramos encontrar características genéticas que revelem animais com
maior eficiência alimentar (menos dependentes da utilização de fatores de
produção externos ao sistema silvopastoril) e resistência/resiliência a doenças
e infeções parasitárias (menos dependentes de medicamentos e desparasitantes
sintéticos). Através da introdução desta informação genética, pretende-se
encontrar os animais que possam ser produtivos num sistema silvopastoril mais
adaptado às alterações climáticas, que promovam a biodiversidade dos
territórios através do controlo biológico de matos, criando oportunidade para o
desenvolvimento de espécies herbáceas e que resulte num território mais ocupado
e eficiente tornando a esta atividade
agrícola mais rentável, competitiva e atrativa, principalmente para os jovens
produtores.
Para tal, propomo-nos a detetar, na raça Serpentina, a nível
genético, loci que afetam
características economicamente importantes como a resiliência a situações de
stress térmico, eficiência alimentar, a produção e qualidade do leite, o
tamanho da ninhada, a resistência a parasitas gastrointestinais, etc.,
procurando identificar diferenças genéticas (polimorfismos de uma única base,
SNPs) entre indivíduos.
Através do estudo do genoma é possível encontrar indivíduos
portadores dos alelos mais favoráveis em genes candidatos que possam ser
selecionados para tornarem a raça mais resiliente aos desafios climáticos que
já estão a enfrentar e às suas consequências em termos de disponibilidade de
alimento, água e ocorrência de doenças.
O stress alimentar levou à seleção adaptativa de genes que
regulam o metabolismo dos nutrientes em geral, e especificamente o metabolismo
dos carbo-hidratos, das proteínas e dos lípidos, genes que regulam o
comportamento alimentar nos animais adultos e o desenvolvimento do trato
digestivo que evoluíram com a necessidade de adaptação a dietas mais
fibrosas/lenhosas, ricas em compostos antinutritivos (taninos e compostos
fenólicos) e com adaptações físicas da vegetação contra os animais, como sejam
os espinhos; genes relacionados com a regulação osmótica do organismo, bem como
ao desenvolvimento e função renal, genes que levaram ao desenvolvimento de
adaptações ao nível da resposta celular; gene que influenciam carateres
reprodutivos como sejam o tamanho da ninhada, produção, qualidade e aptidão
tecnológica do leite genes que
interferem na plasticidade da sua resposta imunitária, mas também de genes
específicos envolvidos na resposta de defesa contra os nematodes
gastrointestinais e as infeções e ainda outros genes, associados à infeção
parasitária e à imunossupressão, bem como com à resistência a doenças. Assim,
pretende-se fazer uma caracterização genética da raça caprina Serpentina, no
sentido de identificar, os marcadores que estejam associados ao sucesso
produtivo/reprodutivo que possam contribuir para a sua expansão num território
climaticamente difícil. Integrados em sistema silvopastoris, os caprinos, são
capazes de utilizar recursos alimentares que não são aproveitados por outras
espécies, ao mesmo tempo que controlam matos, abrindo espaço para a introdução
de outras espécies (aumento da biodiversidade) e por via da redução da matéria
combustível, reduzem a incidência de incêndios e contribuem para a manutenção
da paisagem, fornecendo assim preciosos serviços ao ecossistema. Assim, além da
caraterização genética da raça, far-se-á a monitorização de parâmetros
produtivos, reprodutivos e sanitários dos rebanhos bem como da qualidade dos
produtos e da evolução das espécies arbustivas e da biodiversidade nas
explorações parceiras da iniciativa.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
1. Coordenação
do projeto – Será da responsabilidade da Agro.metrica Lda. a realização de
reuniões de planeamento e acompanhamento das diferentes atividades a realizar
por cada parceiro, coordenação dos parceiros na organização de ações de
demonstração e divulgação.
2. Caracterização
genómica – A análise do genoma através do uso de painéis comerciais que
permitem genotipar milhares de polimorfismos de uma única base (SNPs), terá
dois objetivos: caracterizar da diversidade genética da raça Serpentina e fazer
estudos de associação genómica para encontrar marcadores associados com
características economicamente importantes como a resiliência a situações de
stress térmico, a eficiência alimentar e a resistência a parasitas
gastrointestinais. Os marcadores identificados serão integrados em programas de
seleção genética e/ou genómica da raça. O delineamento experimentar, análises e
tratamento bioinformático dos dados – será da responsabilidade do INIAV. A
recolha de amostras de material biológico para extração de ADN e os registos
fenotípicos serão da responsabilidade da Agro.metrica, Lda. e da APCRS em
ligação com os criadores;
3. Caracterização
fenotípica – A monitorização da resiliência e da produtividade dos animais em
resposta ao sistema de produção/condições edafo-climáticas, será feita através
da avaliação de parâmetros: a) fisiológicos (medição da evolução do peso vivo,
condição corporal, temperatura corporal nos animais adultos); b) metabólicos (glucose,
ácidos gordos não esterificados, albumina, creatina e ureia) e hormonais
(cortisol e proteínas de choque térmico); c) alimentares (registo da utilização
de suplementos alimentares e alimentos adquiridos fora das explorações); d) higio-sanitários (parâmetros hematológicos e
níveis parasitários nas fezes, com aferência da necessidade de uso de
desparasitantes de síntese e registo das intervenções); e) produtivos (peso ao
nascimento e ao desmame, leite ordenhado, teor de gordura e proteína do leite,
longevidade produtiva, etc.) e reprodutivos (taxa de fertilidade, fecundidade e
prolificidade, intervalo entre partos), incluindo o histórico da exploração e
dos animais. A recolha de amostras nas explorações (sangue, leite, fezes,
etc.), ficará a cargo da APCRS e Agro.metrica,Lda, nas explorações dos
criadores, e a análise dos mesmos, por conta do INIAV e UE;
4. Tipificação
dos povoamentos e quantificação da evolução da matéria arbustiva disponível ao
longo do ano – A monitorização destas atividades em quatro explorações (5
ha/exploração) ficará a cargo da APCRS, UE e Criadores;
5. Integração
dos marcadores genéticos encontrados, após associação dos resultados genómicos
e fenotípicos, no programa de melhoramento da raça Serpentina será decidida e
implementada em estreita colaboração entre o INIAV e a APCRS;
6. Criação de
manuais de boas práticas para a exploração da raça Serpentina em sistemas
agro-silvo-pastoris com foco:
1) na adequação da alimentação e do uso de antiparasitários
de síntese às necessidades dos animais em fases específicas do ciclo produtivo
- INIAV;
2) na adequação do sistema de pastoreio à preservação da
biodiversidade dos sistemas silvopastoris –INIAV e APCRS;
7. Desenvolvimento
pela APCRS de uma secção de informação, demonstração e divulgação do projeto em
página web da raça (www.Cabraserpentina.pt e www.Caprinet.pt);
8. Divulgação
dos resultados em dias abertos nas explorações modelo, em congressos ou outros
eventos de divulgação nacionais e nas páginas dos parceiros (6 eventos) será
partilhada por todos os parceiros: APCRS, INIAV, UE, CCCaprinicultura (município
de Vila Nova de Poiares), ADPM (APCRS) e Agrometrica,Lda..
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