Bolsa de Iniciativas PRR

 

BRAVO+ - Valorização e Sustentabilidade dos Territórios da Maçã Bravo (ID: 208 )
Coordenador: DRAPC - Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Viseu Dão Lafões
 
Identificação do problema ou oportunidade

Nestes últimos anos temos vindo a assistir a uma importância crescente da produção de frutos frescos no interior Norte e Centro de Portugal. Se excluirmos os citrinos, a macieira é a espécie fruteira que ocupa maior área a nível nacional (14122ha). Mais de metade desta área, (60,4%) concentra-se nas regiões de Trás-os-Montes, onde a superfície dedicada a esta cultura aumentou significativamente entre os RA de 2009 e 2019, Beira Interior e Beira Litoral (43%, 7,9% e 9,5% respetivamente).

É nesta região que se produz a maçã Bravo, a variedade regional que conseguiu resistir à introdução das congéneres estrangeiras e que é hoje a mais conhecida em todo o país. Estima-se que a sua produção corresponda a 0,8% da produção nacional de maçãs o que equivale, em média, a 2400 toneladas por ano. A Bravo é a única variedade de maçã portuguesa que consta na lista de cotações do SIMA e o seu preço atinge sempre valores superiores à generalidade das variedades standard.

A popularidade desta maçã advém das características sui generis que apresenta. Os consumidores apreciam principalmente o seu aroma agradável e a sua polpa doce, macia e sucosa. É de realçar também que vários estudos comparativos colocaram a Bravo numa posição cimeira no que diz respeito ao seu teor em polifenóis e à atividade antioxidante. A sua baixa sensibilidade ao pedrado é também uma grande vantagem pois conseguimos controlar esta doença com um número muito inferior de tratamentos.

Face ao exposto, conclui-se que este recurso endógeno tem todas as potencialidades para poder contribuir para a revitalização e sustentabilidade dos territórios pautados pela diversificação cultural e parcelas de pequena e média dimensão.

Contudo, e apesar de todos os pontos fortes referidos, verifica-se que não tem havido aumento das áreas plantadas, como seria desejável, verificando-se até uma tendência para o abandono da cultura com os consequentes efeitos nefastos a nível económico e social para a região. Este contexto, que contribui igualmente para o progressivo despovoamento das zonas rurais, assumindo maiores proporções após as consequências devastadoras decorrentes dos incêndios de 2017.

A mais-valia de se tratar de uma variedade com Denominação de Origem Protegida – Maçã Bravo de Esmolfe DOP, tem sido pouco explorada, mas assume ser uma distinção indispensável para discriminar positivamente o produto junto dos consumidores e mercados globais. No entanto, muita da maçã Bravo que é colocada no mercado, por vezes a preços muito elevados, apresenta fraca qualidade.

Segundo opinião expressa de vários intervenientes na fileira, esta situação está relacionada com a dificuldade em contornar alguns defeitos de que a variedade enferma e dos quais se salientam principalmente: o excesso de vigor, que dificulta a condução das árvores; a forte tendência para a alternância; a queda acentuada dos frutos na fase de pré colheita, que tem induzido os produtores a uma colheita cada vez mais precoce, traduzindo-se numa perda da qualidade; a tendência para produzir frutos heterogéneos; elevada sensibilidade ao Piolho Cinzento e ao Fogo Bacteriano; a dificuldade em corrigir os desequilíbrios nutricionais que conduzem à formação de bitter pit e ao fendilhamento na zona da fossa pedúncular.

No entanto todos estes problemas são passíveis de resolução recorrendo a técnicas e práticas culturais apropriadas, pelo que urge encontrar as tecnologias de produção mais adaptadas a este produto regional tão importante. Este objetivo só poderá ser alcançado desenvolvendo um trabalho de experimentação e investigação, coordenado pela DRAP Centro, que já levou a cabo um importante processo de seleção desta variedade de que resultou a eleição dos 8 melhores clones num universo de 150, mas que envolva um conjunto alargado de entidades, incluindo os próprios produtores. Desta forma poderemos efetivamente contribuir para alcançar os objetivos definidos na Agenda de Investigação e Inovação para a Sustentabilidade da Agricultura, Alimentação e Agroindústria, principalmente ao nível da criação de melhores condições para o aumento do rendimento dos produtores, tornando a atividade agrícola mais rentável atrativa e competitiva, beneficiando a região nas vertentes socioeconómica, territorial e até ambiental.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Esta iniciativa tem como principal objetivo clarificar as orientações técnicas a seguir pelos produtores, integradas num Plano de Sustentabilidade diferenciador a aplicar aos territórios da Maçã Bravo, recorrendo a sistemas de produção e práticas agrícolas promotoras do uso sustentável dos recursos naturais, água e solo, tirando partido dos serviços do ecossistema e da biodiversidade e que se adaptem a diferentes sistemas fundiários, incluindo a pequena agricultura e a agricultura familiar. Deste modo, contribui-se para o incremento da qualidade e valorização da produção deste importante recurso endógeno vegetal. Paralelamente, também se promove a atração de novos produtores, principalmente os jovens, constituindo um fator estratégico do ponto de vista técnico e agronómico, mas essencialmente nas vertentes social e territorial.

Neste contexto, para obviar o problema do excesso de vigor, é importante avaliar o comportamento da Bravo em porta-enxertos alternativos aos que são utilizados atualmente, principalmente naqueles que são mais tolerantes às pragas e doenças a que a variedade é mais sensível, mas também em diferentes sistemas de condução.

A forte tendência para a alternância pode ser contrariada com uma monda de frutos eficaz, pelo que é importante explorar todas as opções disponíveis para esta função.

A queda dos frutos na fase de pré colheita, que é facilitada pelo reduzido tamanho do pedúnculo, é mais acentuada devido ao excesso de vingamento e à maturação escalonada. Neste aspeto, para além da monda, é necessário explorar estratégias que concentrem o período de floração e que facilitem a polinização, o que irá contribuir também para melhorar significativamente a homogeneidade e qualidade dos frutos.

Considerando que atualmente um dos constrangimentos que compromete a qualidade da produção é a falta de aferição dos parâmetros de apoio à decisão da data ótima de colheita, é determinante construir uma tabela de maturação, à semelhança do que já existe para as variedades standard.

Ao nível da fertilização, é importante desenvolver ensaios que ajudem a definir as épocas e quantidades dos vários nutrientes a aplicar, privilegiando as soluções mais sustentáveis e amigas do ambiente. Pretende-se implementar um campo de demonstração com diferentes tipos de coberto vegetal num pomar de macieiras da variedade Bravo, obedecendo aos princípios da agricultura de conservação de forma a preservar o recurso solo, evitando a erosão e a perda de fertilidade, mantendo ou aumentando a biodiversidade nos pomares, nomeadamente a flora autóctone e a microbiota do solo.

Importa ainda identificar a influência da aplicação de diferentes dotações e períodos de rega na capacidade produtiva, na qualidade e capacidade de conservação dos frutos, com vista ao uso mais eficiente da água

No que se refere aos aspetos fitossanitários, é objetivo avaliar práticas que permitam reduzir a aplicação de produtos de síntese, recorrendo aos biopesticidas e à utilização de estratégias que promovam a presença da fauna auxiliar importante no controlo de pragas, e nos serviços de polinização. Esta estratégia visa caminhar no sentido de alcançar o “resíduo zero”.

Os pomares onde se desenvolverão estas linhas de trabalho, instalados em concelhos das NUTS III Viseu Dão Lafões e Douro, constituirão unidades modelo de demonstração das práticas culturais eco sustentáveis e farão parte de um “Itinerário técnico” que será implementado na sequência da concretização desta iniciativa.
 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Os parceiros são: DRAP Centro (RRN109), DRAP Norte (RRN111), Instituto Politécnico de Viseu (IPV) (RRN142), INIAV (RRN215), COTHN (RRN357), Associação dos Fruticultores de Armamar (AFA) (RRN694), Beyra Douro Fruits (RRN2669), Sociedade Agrícola Quinta do Vilar (RRN2642), Casa Agrícola Rebelo da Silva (1718), João Ribeiro Fernandes & Filhos (RRN2743), FRUTIPAULA (RRN2734), AGRIPOMME (RRN2679), Francisco Manuel Mendonça Abreu e Lima (RRN2748) e Viveiros da Beira Alta (RRN2747), cujas responsabilidades encontram-se distribuídas em função das 8 áreas de trabalho (AT) a seguir identificadas:

AT1 – Conceção do plano de investigação e experimentação, coordenação e acompanhamento técnico-científico (DRAP Centro, INIAV e IPV com a participação de todos os parceiros)    

AT2 – Instalação de uma unidade de experimentação, no Polo de Inovação de Viseu, para avaliação do comportamento agronómico da variedade em diferentes porta-enxertos e sistemas de condução. DRAP Centro (disponibiliza o terreno e é responsável pela instalação e manutenção da unidade de experimentação, recolha e tratamento de dados) – IPV (recolha e tratamento de dados e análises laboratoriais) - INIAV (apoio na coordenação técnica) – Viveiros da Beira Alta (produção do material vegetativo)

AT3 – Implementar sistemas e práticas agrícolas mais sustentáveis nos pomares existentes no Polo de Inovação de Viseu, fomentando e valorizando a utilização de infra-estruturas ecológicas promotoras dos serviços do ecossistema. DRAP Centro (definição e implementação das atividades e recolha e tratamento de dados) – INIAV (colaboração na definição das atividades) – IPV (recolha e tratamento de dados e análises laboratoriais)  

AT4 – Instalar nos pomares de Bravo dos produtores parceiros ensaios de experimentação orientados para uma utilização sustentável dos recursos naturais com vista a dar resposta às questões relacionadas com a fertilização, a rega, a alternância da produção, a monda de frutos e polinização.  DRAP Centro e DRAP Norte (acompanhamento técnico, recolha e tratamento de dados) – AFA e Beyra Douro Fruits (acompanhamento técnico, monitorização das parcelas recolha de dados) – Sociedade Agrícola Quinta do Vilar, Casa Agrícola Rebelo da Silva, João Ribeiro Fernandes & Filhos, FrutiPaula, AGRIPOMME, Francisco Manuel Mendonça Abreu e Lima (instalação de ensaios, monitorização das parcelas e recolha de dados).

AT5 – Avaliação de parâmetros quantitativos e qualitativos, tratamento de dados e elaboração da tabela de maturação especifica da variedade Bravo. DRAP Centro, INIAV e IPV, com a colaboração da AFA e da Beyra Douro Fruits 

AT6 – Criação e dinamização de “Itinerários Técnicos” nos pomares modelo. DRAP Centro e DRAP Norte (coordenação) com participação de todos os parceiros

AT7 – Promover a elaboração e divulgação de um “Plano de Sustentabilidade BRAVO+” IPV (coordenação) com participação de todos os parceiros  

AT8 – Plano de comunicação para divulgação de resultados  COTHN (coordenação) com apoio e participação de todos os parceiros

 
Interlocutor: Vanda Batista   Email interlocutor: vanda.batista@drapc.gov.pt   Email entidade: direcao@drapc.gov.pt