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Wine4cast - Previsão espácio-temporal da produtividade vitivinícola para usabilidade multi-ator: integração de sensores ótico-fotónicos remotos, inteligência artificial e cenários climáticos (ID: 211 )
Coordenador: UP - Universidade do Porto
Iniciativa emblemática: 8. Agricultura 4.0
Data de Aprovação: 2022-03-07 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Norte NUTS III: Douro
Identificação do problema ou oportunidade
O setor
vitivinícola é um ativo importante para a economia nacional com crescente
prestígio internacional. Apesar dos avanços tecnológicos do setor, a
produtividade vitivinícola (PV) continua extremamente dependente do clima o que
origina fortes oscilações interanuais na PV, com efeitos adversos quer para as
instituições de regulação, quer para os operadores do setor que têm de lidar
com os riscos desta imprevisibilidade e procurar soluções para mitigar o seu
impacto. Até porque os cenários climáticos apontam para um agravamento
dramático desta instabilidade.
A
previsão da produtividade (PP) é um instrumento útil para minimizar os riscos
causados pela variabilidade da PV. Aborda aspetos políticos, económicos,
socio-culturais, tecnológicos ambientais e legais (PESTAL), relevantes para a
gestão estratégica da empresa e do setor, como um todo, podendo atuar no
planeamento da vinha e da adega, no suporte a operações culturais, na definição
de objetivos económicos, entre outros.
Todavia,
apesar desta multidimensionalidade, as empresas não dispõem de um sistema de PP
operacional. O IVV efetua uma PP a nível regional, mas esta, para além de pouco
precisa, é divulgada próxima da vindima o que lhe retira utilidade. Um sistema
de PP para ter utilidade para os diversos atores do setor, deverá abranger
distintos níveis de análise espacial (empresa/regional) e temporal
(precocidade). Tal sistema não está ainda estabelecido nem Portugal nem noutros
países vitivinícolas.
O
conhecimento acumulado e a tecnologia para implementação deste sistema PP,
embora disponível, apresenta ainda uma TRL baixo (5-6), pelo que a sua
transferência para as empresas (TRL 8-9) não ocorreu. Assim, a integração deste
conhecimento ainda não é trivial e requer investigação em linha com os objetivos
desta candidatura: dotar o setor vitivinícola português com um sistema de PP
avançado que considere a dimensão espácio-temporal, multi-ator, e permita
destacar este setor nacional no panorama vitivinícola mundial.
A PV é
determinada pelos componentes da produtividade (CP) que de modo simplista são:
i) nº de inflorescências ou cachos por área (NC), ii) nº de flores ou bagos de
cada cacho (NB) e iii) rendimento (RT): massa de uvas/vinho. As estimativas do
NC e NBflores podem ser efetuadas desde o 1º mês após o abrolhamento até à
floração, enquanto o NBbagos apenas podem ser conhecidos após o vingamento. A
estimativa do RT só é relevante entre o pintor e a vindima.
A
fenotipagem visual dos CP (NC x NB) é ainda utilizado por viticultores para
estabelecer a sua PP, mas não é eficaz. A utilização de sensores ótico-fotónicos
proximais (SOP) com diferentes resoluções espectrais montados em plataformas
terrestres ou aéreas permitirá apoiar o viticultor com a fenotipagem digital
destes CP. Estes SOP disponibilizam o mapeamento dos CP para fazer a PP ao
nível da parcela, ou mesmo em zonas intra-parcela, numa ótica de agricultura de
precisão.
O ciclo
reprodutivo da videira desenvolve-se em dois ciclos vegetativos simultâneos em
que o desenvolvimento dos primórdios das inflorescências no interior dos gomos
hibernantes decorre na floração do 1º ciclo, cerca de 18 meses antes da
colheita. O desenvolvimento de tecnologia capaz de determinar de modo
eficiente os primórdios das inflorescências no interior dos gomos hibernantes
abre perspetivas para obter uma previsão ultra-precoce, de grande valor para os
viticultores.
A vinha
está geralmente instalada em zonas contíguas de considerável dimensão o que
perspetiva a utilização de satélites de observação da terra (SOT) e outras
técnicas como o pólen atmosférico para a PP regional. O setor vitivinícola
dispõe de acervos de dados históricos de PV de grande relevo (> 90 anos) e
que podem ser utilizados para perceber a resposta da vinha ao clima. Este
acervo de dados pode ser valorizado na PP.
Assim, o Wine4cast
tem fortes impactos, quer ao nível na endogeneização do processo produtivo das
PME’s, quer ao nível do desenvolvimento tecnológico e externalidades do setor
como um todo, preparando-o para uma resposta aos desafios PESTAL.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
O s O Wine4cast
irá utilizar dados de diversas fontes como o pólen atmosférico, deteção remota
(SOT e SOP), condições climáticas passadas/presentes (in-cast) e
cenários (for-cast) conjugadas com técnicas de inteligência artificial
na PP. O projeto utiliza tecnologia com TRL 5-6 que será alavancada até um
nível TRL8. Decorre nas regiões do Douro e Oeste onde serão instalados campos
de testes.
1. PP AO
NIVEL DA PARCELA
1.1. PP ULTRA
PRECOCE (PUP)
Análise
da fertilidade dos gomos hibernantes (FGH) na floração para formular uma PP
cerca de 18 meses antes da colheita. A PUP é efetuada ainda no repouso vegetativo,
permitindo ao viticultor adequar o nível de poda para controlar a PV de acordo
com o seu plano de negócio.
Esta PP
tem sido desenvolvida com a análise da FGH por microscopia que é um método
destrutivo, demorado e caro. No Wine4cast serão testados SOP baseados em
espectroscopia VisNir e tomografia multiespectral, multiescala com capacidade
de gerar imagens tridimensionais dos gomos (Spectom – INESCTEC). Ambos os SOP
permitem analisar o FGH in-sito não destrutivos.
A
performance destes SOP para avaliar a FGH será testada em laboratório utilizando
cortes histológicos de várias castas.
1.2. PP
INTRA-CICLO VEGETATIVO (PIC)
Análise
dos CP (NC, NB, RT) para estabelecer PP ao longo do ciclo (saída dos cachos -
vindima). Até 28 dias após a floração, as PP serão processadas considerando
apenas o NC e NB. Posteriormente, serão incluídas outras variáveis com impacto
no RT tais como clima, água no solo e indicadores de severidade das doenças. A
PIC permitirá atualizar a PUP.
Os SOP
(RGB_D, multiespectrais e térmicos) montados em plataformas terrestres,
micro-drones (<10cm) e drones com voos de baixa altitude, adquirem imagens
de videiras para quantificar os CP a utilizar na PIC. Testar a usabilidade das
diferentes plataformas; os microdrones apresentam baixo custo e permitem
aquisição de imagens próximo da canópia.
Criação
de bases de dados de imagens (sensor/plataforma) anotadas por castas e
fenologia para treino e avaliação de modelos de machine learning (ML) (ex. SSD
e YOLO) para deteção dos CP (inflorescências/cachos e flores/bagos).
Desenvolvimento de ML para rastreio para evitar contagens múltiplas de CP. Avaliação
do rigor da PIC com medições dos CP nos campos de testes.
2. PP AO
NIVEL REGIONAL
2.1. PP
INTRAANUAL (PIA)
Análise
hierárquica que inclui a determinação, na fase da floração, do potencial de PP
através da quantificação do pólen atmosférico, seguido de uma abordagem
inovadora utilizando técnicas de deteção remota (SOT eg. Sentinel) para
determinar o impacto das condições pós-floração na PV. Séries longas de dados
polínicos estão disponíveis na FCUP para serem utilizadas no projeto.
2.2. PP
DE LONGO-PRAZO COM CENÁRIOS CLIMÁTICOS (PLP)
Em cada
região, é estimada a probabilidade de ocorrência de níveis de PV (ex. elevado/baixo)
para um horizonte temporal alargado (>10 anos). A PLP é relevante para o
setor, nomeadamente, para o seu planeamento e definição de riscos relacionados
com a variabilidade da PV incluindo cenários climáticos. A PLP tem como base em
séries longas (>90 anos) de dados de PV e climáticos (InCast) e serão
utilizados para fazer previsões (forCast) a longo prazo, para diferentes
cenários climáticos disponíveis.
Serão testadas
de abordagens de ML e séries temporais para identificar as propriedades cíclicas
da PV determinadas pelo clima e probabilidade de ocorrência de diferentes
níveis de PV que se considerem relevantes para o setor.
3.
IMPLEMENTAÇÃO, CAPACITAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA PREVISÃO
Design
dos campos de teste e delineamento da amostragem para cada PP.
Capacitar
os recursos humanos das PME para a implementação, monitorização, utilização e
endogeneização das PP com módulos específicos. Transferência de tecnologia.
Definição
de indicadores e mapeamento de objetivos de desempenho, utilidade e
operabilidade dos sistemas de PP nas suas escalas espacial e temporal e (ex.
rigor, precocidade, custos).
Desenvolvimento
de uma plataforma multi-ator para aceder aos resultados das PP obtidos e sua
utilização na PME, considerando a análise PESTAL.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
Universidade do Porto (FCUP): A experiência científica em modelação preditiva da produção agrícola,
utilizando técnicas diversas como a aeropalinologia, sensores de monitorização
biofísica e técnicas de deteção remota utilizando SOT e SOP, permitem à FCUP o
acompanhamento de todas as atividades prevista no Wine4cast. No âmbito da PP a
FCUP tem mantido atividades continuadas de transferência de tecnologia com
prestigiadas instituições nacionais (e.x IVDP) e internacionais (e.g. Bureau
National Interprofessionnel du Cognac; Comité interprofessionnel du vin de
Champagne). Está apetrechada com os recursos necessários para a realização
de cortes histológicos para avaliar a FGH (PUP) e proceder às análises
polínicas atmosféricas. A FCUP irá também colaborar no processamento, análise e
modelação dos dados provenientes de sensores óticos proximais e satélites.
Fruto de anteriores projetos a FCUP dispõe de série longas (>90 anos) de
dados PV e clima que irão ser utilizados no projeto. Coordenação das atividades
de planeamento da amostragem e modelação inerentes à PP.
INESC TEC: Exploração e
utilização de SOP e tomografia (Spectom), processamento de dados e IA. Montagem
e acoplamento dos SOP na plataforma robótica e microdrones para realizar
leituras na vinha. Implementação das atividades de planeamento da
amostragem e modelação inerentes à PP. Análise de séries temporais.
INIAV (Pólo de Inovação dois Portos):
Coordenação das atividades de design, implementação e monitorização dos
testes de campo com SOT e drones. Caber-lhe-á a definição de indicadores de
desempenho e operacionalidade e utilidade das PP considerando a abordagem PESTAL.
Certificação dos resultados das PP e endogeneização PME. Coordenação da análise
PESTAL. Capacitação de RH das PMEs.
ADVID: Como
principais responsabilidades, na região do Douro: i) Definição de indicadores e
mapeamento de objetivos de desempenho, utilidade e operabilidade dos sistemas
de previsão nas suas escalas temporal e espacial (ex. rigor, precocidade,
custos), iii) coordenação do design, implementação e acompanhamento dos campos
de testes a implementar nas PMEs da região do Douro, iv) Capacitação de RH das
PMEs do Douro, v) fornecimento de dados meteo e indicadores de pressão de
doenças e vi) disseminação dos resultados do projeto com demonstrações nos
campos de teste e análise PESTAL.
COTHN: tem como
principais responsabilidades, na região do Oeste: i) Definição de indicadores e
mapeamento de objetivos de desempenho, utilidade e operabilidade das PP nas
suas escalas temporal e espacial (ex. rigor, precocidade, custos), iii)
coordenação do design, implementação e acompanhamento dos campos de testes a
implementar nas PMEs da região do Oeste, iv) Capacitação de RH das PMEs, v)
fornecimento de dados meteo e indicadores de pressão de doenças e vi)
disseminação dos resultados do projeto com demonstrações nos campos de teste e
análise PESTAL.
SPIN.Works, S.A.: Recolha de
imagens provenientes de SOT e de SOP montados em drones nas parcelas de testes
da região do Douro e Oeste. Processamento das imagens dos diferentes sensores e
produção de informação relevante geo-referenciada. Desenvolver a infraestrutura
dos sistemas de informação do projeto incluindo a produção de interfaces com o
utilizador.
DUORUM VINHOS, S.A. e PME’s do
Setor: Representam
o utilizador final das PP desenvolvidas, assumindo aqui a função de
"alpha-tester". Caber-lhe-á validar a solução desenvolvida, posicionando-se
como utilizadores de referenciação positiva para os demais agentes do setor.
Estas PME’s irão demonstrar o processo de endogeneização no seu sistema de
produção (operabilidade) e modelo de negócio (utilidade) das PP
desenvolvidas. Tarefas: i) coordenar e implementação campos de testes, ii)
acompanhamento das atividades do projeto, iii) Produzir relatórios de acompanhamento
das atividades, iv) colaborar nas atividades de disseminação. Os RH das PME’s
participam em ações formativas e testes de capacitação desenvolvidas no Wine4cast
específicas para a implementação das soluções e disseminação.
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