Bolsa de Iniciativas PRR

 

Campo Branco AgroEcoLab - Agroecossistemas da pseudo-estepe do Campo Branco como laboratório de práticas sustentáveis (ID: 216 )
Coordenador: IPB - Instituto Politécnico de Beja
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III: Baixo Alentejo
 
Identificação do problema ou oportunidade

O impulso para a utilização eficiente dos recursos através da transição para uma economia limpa e circular é um dos objetivos do pacto ecológico europeu (PEE) (European Green Deal) que traduz um novo paradigma para o setor agrícola e tem como um dos seus pilares (i) os sistemas alimentares sustentáveis que promovam a preservação e recuperação dos ecossistemas e da biodiversidade, através da estratégia “Biodiversidade para 2030” e a (ii) conceção de um sistema alimentar justo, saudável e amigo do ambiente, através da estratégia “Do prado ao prato” (Comissão Europeia, 2019). A nova Política Agrícola Comum (PAC), com início em 2023, é entendida como uma ferramenta fundamental para implementar as estratégias “Do prado ao Prato” e “Biodiversidade”, apresentando objetivos que estão alinhados com estas estratégias, como a gestão eficiente do solo ou o incremento dos serviços de ecossistemas (SE).

A prossecução destes objetivos passa por adotar medidas para proteção do solo e para redução da perda de biodiversidade nas terras agrícolas, como a implementação de sistemas de produção mais sustentáveis, a agroecologia, práticas agrícolas melhor ajustadas e a valorização de paisagens agrícolas de elevado valor natural.

A pseudo-estepe do “Campo Branco” é uma região eminentemente agropecuária onde predominam os sistemas de culturas arvenses (cereais praganosos) de sequeiro extensivo e a pecuária extensiva, assentes em pequena agricultura e agricultura familiar. Encontra-se situado numa região desfavorecida, de baixa densidade populacional, com elevado risco de despovoamento.

A região foi identificada em 1992 pelo Programa Biótopo Corine e classificada como Zona de Proteção Especial (ZPE) de Castro Verde (Rede NATURA 2000) em 1999. Ocupa uma área total de 85 345 ha, cerca de 60 000 ha de pseudo-estepe e abrange território de seis municípios (Aljustrel, Almodôvar, Beja, Castro Verde, Mértola e Ourique).

Com o objetivo de restaurar, valorizar e proteger a biodiversidade da Rede Natura 2000 e apoiar os agricultores que, numa lógica de gestão ativa, assumam compromissos agroambientais em zonas inseridas na Rede Natura 2000 com valores naturais específicos, foi criada em 1995 uma Medida Agroambiental da Política Agrícola Comum, designada atualmente «Apoio Zonal» Agroambiental de Castro Verde. Mais recentemente, em 2017, a UNESCO reconheceu o concelho de Castro Verde, situado em pleno “Campo Branco”, como Reserva da Biosfera, a única a sul do rio Tejo. 

O «Apoio Zonal» que promove a rotação Cereal-Pousio, associada à produção animal extensiva, necessita de ajustamentos face à nova PAC, aos mercados emergentes e de proximidade ao contexto de alterações climáticas que condicionam fortemente a agricultura da região.

Pela sua dimensão, qualidade e estado de conservação favorável dos valores naturais/endógenos que encerra, o sistema de produção do «Campo Branco» é dinâmico, assentando numa relação de “cumplicidade” entre a atividade agropecuária extensiva de baixa intensidade e as componentes ecológicas e sociais do meio. Assim, este sistema de produção de elevado valor natural e cultural (High-natural-value (HNV) farming; European Comission, 2021), apresenta baixa pegada ambiental e características agro-ecológicas que suportam elevados níveis de biodiversidade, nomeadamente habitats e espécies (flora e fauna), com um notável grau de endemismos ibéricos e até lusitanos, além de várias espécies ameaçadas.

Desta forma, a pseudo-estepe cerealífera do “Campo Branco” oferece um conjunto de valores de natureza material e imaterial, nomeadamente, os serviços do ecossistema (SE) que proporcionam benefícios sociais (emprego, bem-estar das populações, etc.), económicos (venda de produtos locais e artesanato, turismo de natureza, etc.) e ambientais (qualidade da água, repositório de património genético, etc.). A integração destes benefícios é determinante para a economia local e do bem-estar humano, assim como para garantir o equilíbrio dos próprios agroecossistemas.

Adicionalmente, a zona do Campo Branco insere-se numa área geográfica com propensão para a ocorrência de incêndios rurais de dimensão considerável, pelo que a manutenção e incremento de uma agricultura mais resiliente nestes territórios é fulcral ao combate a este fenómeno.

A título de exemplo, em 2020, entre os 308 concelhos portugueses, Castro Verde registou a 5.ª maior área ardida num só ano: cerca de 2.388 hectares (números provisórios do INE); Em 2019, Ourique registou a 15.ª maior área ardida do País, Mértola a 25.ª e Aljustrel a 44.ª; Já em 2018, Almodôvar foi o 3.º concelho do País com maior área ardida; Finalmente, em 2013, Beja registou a 34.ª maior área ardida a nível nacional.

Mais, este fenómeno tem vindo a agravar-se ao longo da última década, como relevam os dados estatísticos disponíveis.

Estes dados denotam bem a importância de introduzir medidas de adaptação às alterações climáticas que minimizem a ocorrência de incêndios rurais e incrementem a sustentabilidade dos territórios agroflorestais. O Projeto contribui decisivamente para este desígnio, fomentando a fixação da atividade agrícola em territórios de grande vulnerabilidade ao risco de incêndio.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Perante as características particulares desta vasta região e o seu desenvolvimento enquanto paisagem rural de exceção, pode constituir um laboratório de sustentabilidade agropecuária para monitorizar, desenvolver e promover o sistema produtivo de alto valor natural enquadrado com os desafios colocados pelo PEE e pela nova PAC. Para tal, pretende-se realizar: (i) a avaliação de sistemas de produção mais sustentáveis, agricultura de conservação e agroecologia; (ii) estudar práticas agrícolas que possam reduzir o uso de inputs de síntese não comprometendo a viabilidade económica das explorações, particularmente a pequena agricultura e a agricultura familiar, e que possam potenciar os serviços de ecossistemas; (iii) a caracterização e quantificação dos serviços dos agroecossistemas do território do Campo Branco; (iv) o ensaio de espécies e variedades de cereais praganosos, de forrageiras e pratenses, melhor adaptadas aos condicionalismos edafoclimáticos.

Desta forma, em continuidade com os estudos que têm vindo a ser desenvolvidos pelo IPBeja, em cooperação com a Associação de Agricultores do Campo Branco, pretende-se contribuir para aumentar a sustentabilidade e resiliência destes sistemas de produção agropecuários.

Para além das pastagens e das culturas forrageiras, fundamentais para a pecuária extensiva, assume particular destaque o cultivo dos cereais que, embora com produtividades reduzidas, são essenciais para os sistemas agropecuários da região e dão origem a produtos de qualidade reconhecida pela fileira agroalimentar e pelos consumidores. São exemplos os trigos com baixo teor de pesticidas, a aveia nutracêutica, e o triticale e o centeio para novos produtos da panificação. Importa também ter em conta a valorização e promoção dos recursos endógenos da região, como o mel, as plantas aromáticas e medicinais, enquanto processo inovador no desenvolvimento, criar riqueza e fomentar a competitividade das regiões rurais.

Por outro lado, e integrada na promoção da competitividade e da valorização dos sistemas de produção agropecuários extensivos, pretende-se identificar e quantificar Estruturas de Foco Ecológico (EFA - Ecological Focus Areas) e o impacto destas estruturas nos serviços de ecossistemas e na biodiversidade. É ainda objetivo desta iniciativa implementar e tornar disponível a produtores e tutela uma “ferramenta Web”, adaptada para Portugal, baseada na EFA Calculator (EFA - Ecological Focus Areas; http://sitem.herts.ac.uk/aeru/efa/) que inclui um conjunto de indicadores de serviços dos ecossistemas, os indicadores QUESSA (Quantification of Ecological Services for Sustainable Agriculture). Esta área temática vem dar sequência a estudos anteriores realizados por alguns dos membros desta parceria e contribuir para a definição e clarificação de medidas de política, nomeadamente, as que visem práticas agrícolas benéficas para o clima e para o ambiente.

Esta iniciativa pretende criar um laboratório vivo de agroecologia na região do «Campo Branco», com informação relevante para outros territórios com tipologias semelhantes, bem como responder a vários dos objetivos específicos da nova PAC, nomeadamente: contribuir para a adaptação às alterações climáticas e para a atenuação dos seus efeitos, bem como para a energia sustentável; promover o desenvolvimento sustentável e uma gestão eficiente de recursos naturais, como a água, os solos e o ar; contribuir para a proteção da biodiversidade, melhorar os serviços ligados aos ecossistemas e preservar os habitats e as paisagens.

Esta é, pois, uma iniciativa que aporta uma clara mais-valia e que vem complementar o conhecimento existente e outras iniciativas inovadoras a nível nacional - algumas delas que vêm sendo desenvolvidas pelo IP Beja e pelos seus parceiros -, bem como iniciativas a nível europeu, como a EFA calculator ou os indicadores QUESSA.

Para a sua implementação, constitui-se uma parceria com a seguinte composição:

1. Instituto Politécnico de Beja (IPBeja)

2. Instituto Nacional e Investigação Agrária e Veterinária (INIAV – Polo Elvas)

3. Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB)

4. Centro Nacional de Competências dos Cereais Praganosos, Oleaginosas e Proteaginosas (CEREALTECH) - Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC)

5. Centro de Competências do Pastoreio Extensivo (CCPE) – Cooperativa do Agrícola do Guadiana (CAG)

6. Liga para a Proteção da Natureza (LPN)

7. CONSULAI

8. Polo de inovação da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPAL) de Moura

9. Polo de inovação da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPAL) de Serpa

10. PME – Romano Colaço Unipessoal Lda. (RRN 2618) – Castro Verde

11. PME – Pereira Palha Agricultura Lda. (RRN 2020) - Benavente

12. PME – Sociedade Agrícola Vargas Madeira, Lda (RRN 981) - Mértola


O Projeto incorporará também uma vertente de cooperação transnacional, nomeadamente, através da participação da empresa "Desarrollos Agrotecnológicos Integrados S.L." sediada em Córdoba - que já participou em projetos anteriores do IPBeja -, que colaborará no desenvolvimento de uma metodologia sobre o stock de carbono (pegada carbónica), dada a sua vasta experiência nesta temática.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Esta iniciativa envolve 9 parceiros técnicos e 3 PME’s. O IPBeja e o INIAV – pólo de Elvas, com especialistas em sistemas de produção, cereais praganosos, proteaginosas, pastagens e forragens, solos, ecofisiologia, fitopatologia, mecanização, melhoramento de plantas e avaliação da qualidade dos alimentos (grãos, palhas e forragens). A Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB) dispõe de um vasto número de associados, que presta apoio e aconselhamento aos produtores e que também está vocacionada para a disseminação do conhecimento. A Consulai como especialistas em identificação de estruturas de foco ecológico e avaliação de serviços de ecossistemas. A LPN como apoio à compatibilização das atividades agrícolas com a preservação da natureza e estudo da biodiversidade, recursos endógenos e do património cultural. Os Polos de Inovação da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPAL) de Moura e Serpa como entidades com competências ao nível da investigação aplicada, desenvolvimento experimental e demonstração, que fomentam a conservação e valorização dos recursos genéticos nacionais destinados à alimentação.

São ainda parceiros o Centro Nacional de Competências dos Cereais Praganosos, Oleaginosas e Proteaginosas (CEREALTECH) coordenado pela Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), entidade dinamizadora de inovação no setor, com associados disseminados por diversas regiões e privilegiada para a difusão e divulgação do conhecimento, e o Centro de Competências do Pastoreio Extensivo (CCPE) coordenado pela Cooperativa Agrícola do Guadiana (CAG), organização que, para além do apoio decisivo aos agricultores numa região desfavorecida e de grande valor ambiental, contribuirá com a inovação e os conhecimentos decorrentes do CCPE. Entre as várias PME’s encontram-se as situadas na região alvo e noutras regiões, com diversas tipologias, nas quais se pretendem obter indicadores de sustentabilidade e de risco ambiental, bem como incorporar tecnologia desenvolvida nos ensaios de campo (“scale up”). Integra também a parceria uma PME (Pereira Palha Agricultura Lda, com sede em Benavente) já avaliada no âmbito do projeto BPA.Eco – “Boas práticas agrícolas que promovam os serviços dos ecossistemas”, no que respeita à identificação dos Serviços de Ecossistemas e à introdução de estruturas de foco ecológico. 


Atividades a desenvolver:

1- Caracterização das parcelas/explorações, dos modos de produção e respetivas práticas culturais. Participação: IPBeja, INIAV, AACB, LPN, Consulai, PME’s, ANPOC, CAG.

2- Instalação e acompanhamento dos ensaios de campo para avaliação de espécies, variedades e técnicas culturais. Inclui monitorização das características físico-químicas, biológicas e bioquímicas do solo das parcelas de ensaio. Os ensaios a realizar são:

a) Ensaios de variedades: avaliação agronómica e do valor industrial de variedades de trigo, triticale, aveia e centeio;

b) Ensaios de gestão de infestantes e fertilizantes: gestão sustentável de infestantes e de (bio)fertilizantes em trigo, triticale, aveia e centeio;

c) Ensaios de sistemas de produção: avaliação agronómica e ambiental de sistemas de conservação do solo em rotações de cereais praganosos, proteaginosas e forragens, com base no rendimento e nos impactos na fertilidade do solo e no risco de erosão do solo;

d) Ensaios de consociações forrageiras: avaliação agronómica das espécies e variedades e valor nutritivo do produto;

e) Ensaios de pousios e pastagens: - avaliação produtiva, composição florística e nutritiva em diferentes parcelas.

Participação: IPBeja, INIAV, AACB, PME’s; 

3- Obtenção dos indicadores de sustentabilidade e de risco ambiental (pegada hídrica, índices de biodiversidade, parâmetros bioquímicos do solo, potencial erosivo, riscos de salinização, indicadores QUESSA: estética da paisagem, stock de carbono, controlo de pragas, polinização, erosão do solo, biodiversidade). Participação: IPBeja, INIAV, LPN, Consulai, CAG, PME’s

4- Identificação de estruturas de foco ecológico; identificação dos SE e respetiva quantificação nas áreas das PME’s parceiras. Participação: Consulai, LPN, 

5 - Benchmarking e previsão de cenários. Participação: IPBeja, Consulai, LPN

6 - Divulgação das ações do projeto, disseminação dos resultados. Participação: todos os parceiros, com destaque para o IPBeja, AACB, ANPOC e CAG .


 
Interlocutor: Manuel Patanita   Email interlocutor: mpatanita@ipbeja.pt   Email entidade: geral@ipbeja.pt