|
EcoHorti: Promoção da sustentabilidade e resiliência de agroecossistemas de produção hortícola do Norte (ID: 228 )
Coordenador: UMinho - Universidade do Minho
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Área Metropolitana do Porto
Identificação do problema ou oportunidade
Os sistemas de produção hortícola da Região de
Entre Douro e Minho assentam sobretudo em explorações convencionais de base
familiar, em meio rural disperso com grande proximidade geográfica a vários centros
urbanos. Esta proximidade poderá ser explorada para o abastecimento das cidades
com alimentos locais, frescos e nutritivos, contribuindo para a promoção da
saudável dieta tradicional, e prevenindo a desertificação alimentar urbana. No
entanto, os agroecossistemas da Região encontram-se degradados devido ao continuado
e elevado impacto antropogénico e a uma política de ordenamento pouco cuidada, não
tendo capacidade para resistir aos fortes desafios gerados pelas instabilidade e
alterações climáticas, e pelos ataques cada mais frequentes e severos de pragas
e doenças. A aplicação intensiva de pesticidas de síntese e de fertilizantes
minerais contribuíram para a toxificação e salinização do solo e da água, que
tornou parte do Litoral Norte numa zona ambientalmente vulnerável, onde é de
particular relevo a elevada presença de nitratos. A reduzida biodiversidade
cultural devida à crescente uniformização e homogeneidade das culturas,
acentuou a degradação destes agroecossistemas. Além disso, observou-se a substituição
de espécies e cultivares regionais por cultivares modernas, mais apelativas
pela sua produtividade, mas que exigem a aplicação regular de fatores de
produção externos e, de acordo com vários estudos, perderam, pela sua seleção e
melhoramento, a capacidade para responder ao stress climático e a pragas e
doenças, bem como a capacidade de interagir e estabelecer mutualismos com
organismos benéficos.
As práticas e estratégias dos sistemas de produção
agrícola têm, pelo exposto, contribuído muito para a perda da biodiversidade
associada aos agroecossistemas, que no entanto é necessária para realizar
serviços como a remineralização de nutrientes, a destoxificação da água, a polinização,
e a regulação natural da incidência de pragas e doenças. Esta perda, por sua
vez, exige a crescente intervenção humana para providenciar esses serviços, levando
a um ciclo crescente de degradação.
Os agroecossistemas de produção hortícola geram
uma elevada quantidade de resíduos orgânicos, que incluem restos culturais,
restolhos, plantas das quais se colheram os frutos, etc., que muitas vezes não
são corretamente reaproveitados e incorporados no sistema. O solo sofre então
uma forte exportação de nutrientes pela produção hortícola, mas também de
carbono, em grande parte sequestrado nos tecidos vegetais, em moléculas
complexas como a lenhina ou a celulose. A consequente perda de matéria
orgânica, evidente em muitos solos agrícolas, impede a sua capacidade de
retenção de água e nutrientes e a manutenção da biodiversidade funcional,
afetando ainda de forma evidente, o sequestro de carbono que, de outra forma,
contribuiria para atingir a neutralidade carbónica da produção.
É urgente a transformação agroecológica para que a
produção agrícola se torne sustentável e resiliente face a muitas ameaças. No
entanto, observa-se uma grande escassez de ferramentas adequadas à horticultura
e às condicionantes edafoclimáticas e culturais da Região, sendo urgente
reverter essa escassez. Deverá ser desenvolvida uma estreita colaboração entre
as atividades de investigação aplicada, de demonstração e de transferência do
conhecimento no tecido empresarial e de formação e capacitação técnica dos
produtores. Esta última é particularmente importante dado o padrão demográfico
da Região, caracterizado por uma
atividade agrícola de pequena dimensão ou familiar. Às ameaças elencadas, soma-se
o baixo nível dos rendimentos auferidos através da produção hortícola, em boa
parte devidos à reduzida dimensão das explorações. Torna-se, portanto, previsível
e quase inevitável a curto e médio prazo a inviabilidade económica e o abandono
da atividade agrícola na Região. A reversão desta tendência mediante o aumento
da atratividade para as faixas de população mais jovens passa por aumentar a
intensidade tecnológica da produção e o rendimento associado.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Esta proposta visa a promoção de I,D&I
dedicada à transição agroecológica, desenvolvida em estreita colaboração entre
o sistema académico, científico e tecnológico e o tecido empresarial.
Destina-se a criar ferramentas e soluções de base científica para aumentar a
sustentabilidade e resiliência natural dos agroecossistemas associados à
horticultura, tradicional no Norte do País, e ambiciona contribuir para uma
mudança do atual paradigma produtivo, de modo a que se torne mais consentâneo
com uma perspetiva ecológica de longo prazo. Assim sendo, o trabalho a
desenvolver no âmbito desta proposta permitirá aproximar a Região de Entre
Douro e Minho (REDM) das metas da EU para o Pacto Ecológico Europeu, contribuindo
vincadamente para que o sector hortícola da Região adote práticas resilientes, sustentáveis
no longo prazo, que não só protejam os recursos naturais, mas ainda promovam a
biodiversidade e os serviços de ecossistema (objetivo iv). Pretende-se que
a Região possa servir de prova de conceito, de exemplo de boas práticas para outras
regiões horto-frutícolas do País.
A transição para modos de produção sustentados na
agroecologia é indispensável para permitir manter níveis de produção aceitáveis
e estáveis face aos desafios impostos pelo clima, e pelas pragas e doenças, contribuindo
para manter e/ou melhorar a rentabilidade e atratividade da atividade agrícola
(objetivo iii). Apenas desse modo é possível contrariar as tendências
aceleradas de envelhecimento e desertificação humana que se observam nos
territórios rurais (objetivo ii).
Os produtos destes agroecossistemas tornar-se-ão
mais saudáveis e nutritivos, indo ao encontro das tendências mais recentes de
mercado alimentar, e a proximidade da Região ao meio urbano permitirá maior
facilidade de escoamento desta produção “verde”. Além disso, a divulgação deste
tipo de oferta junto do consumidor da Região (objetivo i), irá por seu lado
contribuir para ampliar a procura de produtos obtidos com preocupações ecológicas
e de sustentabilidade.
A atividade de I,D&I nesta proposta incidirá
na gestão eficiente da água, do solo e da biodiversidade, através de uma
abordagem integrada e holística de ecologia funcional dos agroecossistemas, e
de valorização dos seus serviços e dos recursos endógenos dos territórios
nacionais, que consolide a utilização sustentável dos recursos naturais como
garante do futuro. O trabalho organiza-se de acordo com:
WP1. Avaliação da
qualidade agroecológica dos agroecossistemas da REDM.
WP2. Estratégias
para aumentar a resiliência das culturas hortícolas da REDM a pragas e doenças
e às alterações climáticas.
WP3. Novas e
melhoradas metodologias para redução dos desperdícios orgânicos e concomitante
substituição da fertilização mineral da produção hortícola da REDM.
Serão conduzidos ensaios em campo, que apoiarão a
demonstração das práticas e estratégias a desenvolver e implementar e que
incluirão:
-
a integração
de barreiras e infraestruturas ecológicas e de uma gestão cultural com
aumentada biodiversidade funcional capaz de promover a qualidade do solo e da
água;
-
a recuperação
de espécies e cultivares regionais tradicionais mais bem adaptadas às condições
locais e alterações climáticas;
-
a gestão
adequada da fitossanidade, sobretudo preventiva, fazendo uso de interações
biológicas de mutualistas e antagonistas, reduzindo a necessidade de aplicação
de pesticidas de síntese, mas também curativa, fazendo uso de técnicas
inovadoras de utilização de organismos antagonistas;
-
uma mais
ampla e eficiente compostagem para aumentar a fertilidade do solo sem recurso a
fertilizantes minerais e com correspondente sequestro de carbono, contribuindo
para a neutralidade carbónica da produção.
A par da I,D&I e da demonstração, esta
iniciativa irá potenciar a capacitação técnica dos produtores e a disseminação
e transferência de conhecimento no tecido empresarial (WP4), que se revela de
crucial importância no alterar de paradigma de produção associado à transição
agroecológica.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
O consórcio
é composto por uma equipa multidisciplinar dedicada a criar soluções para a
transição agroecológica da produção de hortícolas, demonstrar a sua adequação
para a sustentabilidade e resiliência dos agroecossistemas, promover a
disseminação e transferência de conhecimento no tecido empresarial, e capacitar
tecnicamente os produtores. Isto permitirá consolidar a interação entre o
sistema académico, científico e tecnológico e o tecido empresarial da Região,
um objetivo geral do PRR, e ainda o alinhamento com os objetivos estratégicos
i) a iv) da Agenda e Investigação e Inovação e Sustentabilidade da Agricultura,
Alimentação e agroindústria. Em estreita
colaboração, os investigadores do Centro de Biologia Molecular e Ambiental -
CBMA da Universidade do Minho, Centro de Investigação Produção Agroalimentar Sustentável
- GREENUPORTO e Rede de Química e Tecnologia - REQUIMTE da Universidade do
Porto, ESAPL - Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, Instituto Politécnico
de Viana do Castelo, IPV - Instituto Politécnico de Viseu (também em
representação do CECAFA – Centro de Competências para a Agricultura Familiar e
Agroecologia) e a DRAPN - Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte,
serão responsáveis pela investigação aplicada deste projeto, que será
complementada com ensaios de vaso em condições controladas, mas sobretudo
desenvolvida em ensaios de campo, com o apoio dos produtores do Consórcio.
Estes investigadores serão responsáveis por: i) criar e implementar uma métrica de avaliação da
sustentabilidade e resiliência dos agroecossistemas (CBMA, ESAPL, GREENUPORTO,
IPV); ii) monitorizar e desenhar estratégias para promover a qualidade do solo
e da água (CBMA, GREENUPORTO); iii) selecionar espécies e cultivares regionais
adequadas às condicionantes edafoclimáticas, pragas e doenças da região (CBMA, DRAPN,
ESAPL, GREENUPORTO, REQUIMTE,); iv) indicar alterações de fundo do desenho e
gestão cultural para a promoção da biodiversidade funcional (CBMA, ESAPL,
GREENUPORTO, REQUIMTE); v) vocacionar a aplicação de organismos capazes de
melhorar o estado nutricional das plantas, promovendo o seu crescimento, e
antagonizando pragas e doenças (CBMA, REQUIMTE); melhorar a eficiência e
amplificar o uso da compostagem (CBMA, DRAPN, ESAPL, GREENUPORTO, REQUIMTE),
valorizando subprodutos da agricultura, e promovendo a fertilização
orgânica (CBMA, DRAPN, ESAPL,
GREENUPORTO, REQUIMTE); quantificar as melhorias de desempenho e
nutrição cultural, enriquecimento de matéria orgânica e sequestro de carbono do
solo (CBMA, ESAPL, GREENUPORTO,
REQUIMTE). As empresas
de produção agrícola do consórcio conduzirão ensaios e procederão à
implementação das estratégias definidas, com acompanhamento técnico de Davide
Sousa, realizando a demonstração das estratégias em agricultura biológica
(Biodiversus, Ingrediente Positivo), mas também em sistemas geridos no modo de
proteção integrada, demonstrando a capacidade de transição para a agroecologia,
mesmo em zonas desfavorecidas (Fernando Pereira, Hortinor), e incluindo jovens
agricultores (Ingrediente Positivo, Jerusa Lopes, Xpand).
Através do seu Polo de Inovação de Vairão, a
DRAPN irá ainda participar na demonstração e capacitação técnica, reunindo
durante o projeto as condições de implementar um ‘farol agroecológico’, que
apoiará a transferência de conhecimento produtor a produtor. A disseminação e
transferência de conhecimento no tecido empresarial e envolvendo os vários
atores do setor ficará a cargo do CECAFA, Colab F4S - Laboratório Colaborativo
Food 4 Sustainability, da DRAPN, e da associação comercial hortícola Horpozim.
Estas entidades irão ainda conduzir atividades de capacitação técnica dos
produtores
|
|
|