Bolsa de Iniciativas PRR

 

Desenvolvimento de circuitos curtos de comercialização de produtos alimentares do sector da agricultura familiar apoiados em tecnologia digital (ID: 229 )
Coordenador: Instituto Politécnico do Porto
Iniciativa emblemática: 8. Agricultura 4.0
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Área Metropolitana do Porto
 
Identificação do problema ou oportunidade
O processo de globalização e industrialização da agricultura e da alimentação humana tem vindo a marginalizar os agricultores familiares, sector fundamental para a manutenção da sustentabilidade dos territórios e sociedades rurais. Em Portugal, muitos destes territórios entraram em desvitalização e abandono, sobretudo nas regiões do interior; os agricultores familiares, sem dimensão económica ou capacidade para competir com a agricultura industrial, abandonaram ou reduziram ao mínimo a sua atividade. Vastas áreas do território, outrora ocupadas por agricultura, foram convertidas em zonas de produção florestal, em sistema de monocultura, com espécies de crescimento rápido e muito vulneráveis aos riscos ambientais. Ainda assim, alguns agricultores familiares, ganhando escala, foram convertidos em “operários de indústrias de transformação” e em “consumidores de fatores de produção”, sobretudo agroquímicos, sobrevivendo a custo. Com a industrialização da produção e a concentração da distribuição alimentar, os preços pagos aos produtores pelos produtos alimentares sofreram reduções consideráveis, o que tornou muito difícil a sobrevivência das explorações familiares.  Definimos agricultura familiar com um critério clássico para o seu enquadramento: a origem do trabalho utilizado nas explorações agrícolas. Pode considerar-se que no sector da agricultura familiar, mais de 50% da mão de obra utilizada nas explorações é assegurada por elementos da família. Estas explorações apresentam uma dimensão económica relativamente reduzida e os seus proprietários são, muitas vezes, pluriativos e dependem dos apoios do sector, de sistemas locais tradicionais de entreajuda e de transferências dos sistemas de segurança social. A agricultura familiar é uma atividade que apresenta alguma “invisibilidade” e que, muitas vezes, é desconsiderada pelas políticas que enquadram o sector, nomeadamente os apoios de origem comunitária.  Um dos aspetos cruciais da sustentabilidade dos sistemas de produção familiar é o acesso ao mercado. Nas últimas décadas, o retalho alimentar sofreu grandes mudanças, sobretudo com a abertura dos mercados por efeito da entrada de Portugal na (então) Comunidade Europeia e com a entrada em cena das grandes empresas de distribuição; isto levou ao encerramento do pequeno retalho; este processo iniciou-se na década de 80 do século passado nas zonas mais urbanas e no litoral; mais tarde chegou às zonas rurais do Interior. Mais recentemente a grande distribuição iniciou processos de comercialização de produtos locais, seja através da organização de grupos de produtores, seja pela absorção de pequenas produções de proximidade. Estas iniciativas são seguramente interessantes e surgem como resposta a uma mudança nos consumidores que valoriza a produção nacional/local, mas, mais recentemente, visa sobretudo, minimizar o risco de rupturas no abastecimento e cenários de prateleiras vazias. Mas não se espera que a lógica industrial da distribuição valorize a produção local de pequena escala no longo curso, pelo que é absolutamente necessário colocar em prática estratégias alternativas. Neste contexto, a possibilidade de desenvolvimento de estratégias de circuitos curtos abre a possibilidade para o escoamento da produção familiar de forma competitiva, garantindo preços justos para os agricultores e consumidores, através de um processo de racionalização da distribuição que envolverá, necessariamente, a eliminação de intermediários em excesso. Contudo, para que os agricultores familiares possam ser bem sucedidos nas novas lógicas de mercado, urge encontrar estratégias para aumentar a sua literacia digital, de forma a que possam beneficiar das novas tecnologias de organização da produção e do escoamento. Num cenário de valorização da agricultura local de pequena escala, todos beneficiam - produtores, consumidores e o próprio ambiente, uma vez que ao comprar local e sazonal, reduz-se a  pegada ecológica, contribuindo para a mitigação das alterações climáticas e para o aumento da soberania alimentar das populações. Esta lógica enquadra-se na nova estratégia do “Prado ao prato” que está no centro do novo European Green Deal. E, como entende a União Europeia, “novas tecnologias e descobertas científicas, combinadas com o aumento da consciência pública e da procura por alimentos sustentáveis, irão beneficiar todas as partes interessadas”.
 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Este projecto visa desenvolver um sistema digital (equipamentos, plataforma Web e APPs) que permitirá agregar a produção e encurtar os circuitos de comercialização de agricultores familiares, organizando a distribuição, transporte e entrega. Trata-se de um sistema que recria, virtualmente, os antigos mercados de rua e mercearias de esquina. Importa para isso construir comunidades de produtores e de consumidores e identificar formas de viabilização de uma logística que aproxime estes dois grupos de forma eficiente e viável. Este sistema incluirá técnicas de inteligência artificial e tecnologia da IoT e terá as seguintes características:

  • B2C - Market Creator: onde os agricultores familiares se inscrevem com o objectivo de vender os seus produtos beneficiando assim do factor de escala providenciado pela cooperativa de plataforma. Um consumidor terá duas opções, ou escolhe os produtos que deseja no catálogo tendo em conta o agricultor preferido, ou escolhe os produtos disponíveis, independentemente do agricultor. No primeiro caso, caso um cliente deseje adquirir um produto cuja quantidade não possa ser disponibilizada pelo agricultor que escolheu, o sistema agrega automaticamente produtos de outros agricultores para apresentar a oferta possível. Serão, assim, usados algoritmos inteligentes para que o sistema possa conjugar as quantidades, a diversidade e o centro logístico a que estão agregados os agricultores em questão, de forma a dar resposta aos pedidos dos clientes. 

  • B2C - Community Provider: onde os agricultores com o seu perfil poderiam comunicar com a comunidade (parceiros e clientes) de uma forma bidireccional. 

  • B2B - E-procurement: onde os agricultores poderão aceder a um espaço virtual de procurement, onde os players serão eles mesmos (podem vender entre eles) ou ainda organizações interessadas em vender. Este mercado dará a possibilidade de agregação entre agricultores na compra, para  poderem beneficiar do factor de escala.

Será implementado um processo de transformação digital nas organizações e redes, que tem como objetivo mudar processos para que as organizações e agricultores familiares possam responder à nova forma de organização baseada no digital. No processo logístico estarão envolvidas as organizações de agricultores pré-existentes de forma a utilizar infraestruturas locais (armazéns, centros logísticos e de  transporte). Uma vez que são circuitos curtos, os consumidores irão receber os cabazes com produtos da sua região, podendo levantá-los nos centros logísticos se assim o preferirem. 


Este projecto não terá sucesso sem que os agricultores familiares possuam literacia digital e por isso, é também um objectivo principal do projecto o desenvolvimento de um plano de literacia digital especialmente focado nos agricultores familiares e nas ferramentas que potenciam a transformação digital das suas actividades.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Politécnico do Porto - Centro de Estudos Organizacionais e Sociais do Politécnico do Porto (CEOS.PP)

  • Gestão do projecto

  • Enquadramento legal das actividades realizadas na plataforma 

  • Definição do modelo de negócio, desenvolvimento da marca.

  • Gestão da contratação para desenvolvimento do sistema tecnológico (Criação do caderno de encargos, Instalação das infra-estruturas tecnológicas; Instalação de tecnologia; Desenvolvimento de aplicações informáticas)

  • Criação do roteiro para a transformação digital

  • Concepção do sistema de informação (modelo global e concepção da plataforma tecnológica)

  • Estudo das necessidades de formação específicas dos agricultores familiares no âmbito da literacia digital

  • Construção de conteúdos em literacia informática dirigida para agricultores familiares

  • Definição e organização das actividades de logística


Universidade do Minho (Centro Algoritmi)

  • Criação do roteiro para a transformação digital

  • Concepção do sistema de informação (modelo global e concepção da plataforma tecnológica)

  • Estudo das necessidades de formação específicas dos agricultores familiares no âmbito da literacia digital

  • Estudo das necessidades de formação específicas dos agricultores familiares no âmbito da literacia digital

  • Construção de conteúdos em literacia informática dirigida para agricultores familiares

  • Gestão do processo de adopção da tecnologia digital 


Confederação Nacional da Agricultura

  • Estudo das necessidades de formação específicas dos agricultores familiares no âmbito da literacia digital

  • Construção de conteúdos em literacia informática dirigida para agricultores familiares

  • Organização de ações de formação em literacia digital com associações de agricultores


Cascais Ambiente

  • Organização de comunidades de consumidores 


Instituto Politécnico de Coimbra / Centro de estudos em Recursos Naturais e Sociedade

  • Definição dos modelos de circuitos curtos 


Centro de Competências em Agricultura Familiar e Agroecologia (representado pela CNA)

  • Construção de conteúdos em literacia informática dirigida para agricultores familiares


In Loco

  • Organização de comunidades de consumidores 

  • Definição de modelos de circuitos curtos e capacitação dos seus intervenientes

  • Articulação do projeto com a rede europeia de apoio à agricultura de proximidade (projeto COREnet)

 
Interlocutor: Mariana Curado Malta   Email interlocutor: mariana@iscap.ipp.pt   Email entidade: sec-p@sc.ipp.pt