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InovEnforcado: Modelo de sustentabilidade e de última geração da “vinha de enforcado”: conservação, valorização e promoção dos serviços do ecossistema (ID: 237 )
Coordenador: UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-07 Duração da iniciativa: 2025-08-31
NUTS II: Norte NUTS III: Tâmega e Sousa
Identificação do problema ou oportunidade
Originária do período romano, a cultura da
“vinha de enforcado” (VE) foi-se perdendo ao longo dos últimos anos, reduzindo
a estética agroflorestal que a mesma promove e fragilizando a identidade do
território.
Nas últimas décadas, os programas de apoio
à reconversão/ reestruturação da vinha, têm vindo a acelerar a dinâmica de
intervenção e mudança na paisagem vitícola da Região dos Vinhos Verdes, tendo-se
verificado o abandono dos sistemas tradicionais ou mesmo a sua destruição, devido
essencialmente à exigência de mão-de-obra das operações culturais e à rentabilidade
associada.
A recém-criada Paisagem Protegida Local do
Sousa Superior (PPLSS) e diversas entidades locais têm-se unido no sentido de
conservar e valorizar o capital natural e social deste sistema agroflorestal
ancestral subjacente ao modo de condução da vinha.
Como oportunidade de diferenciação este
sistema agroflorestal caracteriza-se por diversos serviços do ecossistema,
nomeadamente:
1) Ao nível do aprovisionamento ecológico,
são utilizadas árvores tutoras nativas, lódãos bastardos (Celtis australis)
e carvalhos-alvarinhos (Quercus robur) que, além de suportarem a cultura
da vinha, permitem a coexistência de outras produções, como sejam o milho, os
produtos hortícolas ou a atividade pastorícia, diversificando as fontes de
receita do produtor e promovendo uma maior resiliência do sistema agrícola.
2) No âmbito cultural, os resquícios que
persistem em Lousada e nos concelhos vizinhos são um importante património
natural que testemunha a paisagem característica da região
Norte-Atlântica, representando uma oportunidade lúdica, pedagógica e científica
para o estudo das tradições rurais associadas à VE. As operações
culturais, como a poda e a vindima, continuam a representar um momento cultural
de impacto, contribuindo para a sustentabilidade do território.
3) Na regulação climática e da manutenção
ecológica, dada a importância dos sistemas agroflorestais no sequestro do
carbono, na prevenção da erosão dos solos, na proteção da biodiversidade, na
promoção da atividade biológica e reciclagem de nutrientes no solo. As árvores
tutoras muitas vezes contornam linhas de água, contribuindo para a estabilização das margens e mitigação do efeito de
cheias extremas, para além de reterem agroquímicos usados na agricultura
reduzindo o seu impacto ambiental. Por outro lado, as árvores tutoras, sendo
espécies particularmente resistentes à talhadia de cabeça, sofrem agressivas
podas bianuais com o objetivo de reduzir o ensombramento das videiras e
culturas associadas. Esta gestão gera cavidades e deformações que formam micro
habitats de grande importância para avifauna,
quirópteros, répteis e invertebrados. Seja para abrigo ou descanso, este
uso das árvores de suporte, aliado à sua distribuição espacial, permite um
corredor verde longitudinal entre áreas agrícolas e áreas florestais ou as
massas de água, no caso particular o rio Sousa. O efeito barreira destas estruturas baixa a taxa de evaporação,
protege as culturas da ação do vento e geadas, e minimiza a dispersão de
sementes e agentes patogênicos.
Este
sistema de condução tradicional pode ter um impacto relevante na resiliência e
adaptação da cultura da vinha às alterações climáticas pela existência de
castas antigas altamente adaptadas que representam um valioso património
genético a preservar.
O projeto congrega esforços para a gestão
e sustentabilidade da VE de última geração, abrangendo os pilares da produção e
da inovação tecnológica alicerçado nos serviços de ecossistema que promove e representa
uma oportunidade para o desenvolvimento de serviços e produtos inovadores e
diferenciadores.
Os parceiros técnicos e
empresários implementarão um Modelo de Sustentabilidade da Vinha de
Enforcado, num projeto-piloto para demonstração e partilha de conhecimento nas
boas práticas e nas soluções técnicas e digitais inovadoras, necessárias à
melhoria do desempenho do setor e à salvaguarda deste ativo agrícola.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Produzir melhor e de forma sustentável são
preocupações centrais do setor da vitivinicultura, que tem vindo a fazer um
caminho de inovação no sentido da melhoria da qualidade dos vinhos portugueses.
Estas novas tendências no setor da vinha e do vinho, associadas ao desenvolvimento
do enoturismo, têm aumentado o interesse do mercado em vinhos singulares, de
maior valor acrescentado, produzidos em sistemas particulares de produção,
normalmente associados à proteção do ambiente, da biodiversidade, ao património
cultural, entre outros.
A “vinha de enforcado” (VE), ou uveira, é
um sistema de condução ancestral e tradicional da vinha, típico da paisagem do
Noroeste de Portugal, que consiste nas videiras entrelaçadas em árvores a
delimitar as propriedades e os campos agrícolas. A VE possibilita a formação de
sistemas agroflorestais em que espécies arbóreas de grande porte servem de
suporte para as videiras. Parte da produção de vinho na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, provém
destas videiras que são uma imagem de marca da região.
Este sistema de condução surgiu como uma
forma de rentabilizar os terrenos agrícolas, retirando-lhes o maior rendimento
possível, pois a cultura em altura da vinha poupava área agrícola muito
necessária para as culturas do milho, hortícolas ou culturas forrageiras.
Atualmente a VE ganha especial importância
pelo seu valor identitário de uma paisagem rural de tradições seculares mas
está em risco de ser abandonada face ao crescimento urbano, às mudanças nas
práticas agrícolas e às próprias políticas associadas às novas plantações. É,
assim, relevante a preocupação das populações locais em manter e valorizar este
património agrícola e cultural.
Nesse sentido, uma equipa multidisciplinar com vasta
experiência em investigação na área da viticultura e enologia, na promoção dos
serviços do ecossistema na produção agrícola, na redução do uso de agroquímicos
e no uso das novas tecnologias, aliam-se a empresas e entidades locais para
aumentar a resiliência e sustentabilidade deste sistema de condução da vinha,
assim como de outros sistemas semelhantes de condução da vinha em altura. A conservação e valorização do capital natural e social
associado à VE, tornando-a mais eficiente do ponto de vista técnico e económico,
representa uma oportunidade para o desenvolvimento de vinhos e serviços
inovadores e diferenciadores.
Assim, pretende-se a estruturação da “vinha
de enforcado” de última geração, contrariando com suporte científico e técnico,
o crescente abandono da cultura, resultante da baixa produtividade e alto
investimento humano em operações culturais.
Será estabelecido um campo de experimentação e demonstração em Lousada, na
área da Paisagem Protegida Local do Sousa Superior, para a transferência de
conhecimentos e tecnologia para a adoção das melhores práticas que valorizem e
promovam a singularidade deste sistema de condução da vinha. As atividades a
desenvolver têm como objetivos específicos: assegurar a sustentabilidade
económica da VE; caracterizar e valorizar a biodiversidade associada a este
sistema agroflorestal; divulgar os métodos biotécnicos e biológicos para a
proteção da cultura contra pragas e doenças e melhoria da qualidade do solo; desenvolver
produtos vitivinícolas de qualidade e diferenciadores (vinhos e aguardentes
singulares) atendendo ao modo de produção e justificação ambiental do mesmo; promover
a valorização dos subprodutos contribuindo para a economia circular e criação
de negócios inovadores; atrair jovens agricultores e novos empresários para a
conservação deste sistema produtivo e dos serviços do ecossistema a ele
associados; sensibilizar os cidadãos em geral e promover o enoturismo e os
valores imateriais associados à VE, fazendo a sua interligação com os serviços
turísticos e da visitação sustentável do território.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
O
consórcio, liderado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), é
formado por 14 entidades que reúnem as competências e meios técnicos
necessários para executar as atividades propostas. O Plano de Ação consiste em
6 atividades, com um caráter marcadamente experimental e de desenvolvimento, a
executar ao longo de 36 meses. Cada atividade tem uma entidade líder,
estando divididas em 2 sub-tarefas, igualmente com um responsável. Cada um dos
responsáveis das atividades e sub-tarefas estarão representados no conselho
técnico-científico que, juntamente com o líder do projeto, asseguram o
desenvolvimento do projeto segundo o plano definido.
Para
além do meio académico (UTAD e UMinho) o consórcio envolve o INIAV-Polo de
inovação de Dois Portos, a DRAPN, o Município de Lousada (ML), um Centro de
Competências (InovTechAgro), uma associação de desenvolvimento rural (ADER-SOUSA),
empresas prestadoras de serviços (Adega Coop. de Lousada e Rurisocietate) e
empresas vitivinícolas (Aveleda; Arrochela &
Camizão; Quinta dos Ingleses e Alentém & Cardosas), algumas das quais
possuem VE e outras pretendem investir nestas infraestruturas, contribuindo
para a sua preservação.
As competências
complementares do consórcio asseguram o alinhamento das atividades a realizar com
4 objetivos da Iniciativa 6. Territórios Sustentáveis, nomeadamente os
objetivos 6.1-Sistemas
de produção mais sustentáveis; 6.2-Práticas agrícolas: práticas de proteção integrada e
agroecológicas que permitam a redução do uso e do risco de inputs de síntese; 6.3-
Serviços de ecossistema e 6.4-Pequena agricultura e agricultura familiar.
Os técnicos do
InovTechAgro, DRAPN, do ML, INIAV e UMinho serão responsáveis pela
caracterização e georreferenciação, identificação das castas, análise
sócio-económica dos proprietários e avaliação sanitária das vinhas; os
investigadores da UTAD e da UMinho serão responsáveis pelas atividades
relacionadas com os estudos da biodiversidade, promoção dos serviços dos
ecossistemas, o controlo biológico de pragas e doenças, a melhoria da qualidade
e fertilidade do solo e a redução ou eliminação do uso de agroquímicos. Estes
parceiros, em articulação com a Rurisocietate, o INIAV, a DRAPN e os técnicos do ML serão
responsáveis pela avaliação e valorização dos serviços do ecossistema da VE num
contexto natural, social, económico e cultural. Em articulação com o
InovTechAgro serão também responsáveis pela otimização das práticas culturais e
mecanização. A Rurisocietate, em articulação com os parceiros académicos, o
INIAV, a DRAPN, o InovTechAgro e o ML, será responsável pelo modelo de
sustentabilidade que agregue as melhores práticas do ponto de vista técnico e
defina um sistema de compensação dentro da Paisagem Protegida Local do Sousa
Superior, para os investimentos na conservação e manutenção da VE. Investigadores
do INIAV e da UTAD serão responsáveis pela obtenção e caracterização de vinhos
e derivados vínicos diferenciadores, bem como pela valorização de sub-produtos
da vinificação, em colaboração com a Adega Cooperativa de Lousada. O plano de
comunicação para a transferência do conhecimento e sensibilização do público em
geral e a interação com outros projetos de desenvolvimento locais será da
responsabilidade principal da ADER-SOUSA em articulação com o ML, sendo a
divulgação dos resultados científicos em revistas da especialidade, seminários
e congressos da responsabilidade dos investigadores das diversas entidades. O
campo experimental será instalado na empresa Alentém e Cardosas e as restantes empresas
participarão nas atividades de investigação, nas atividades de divulgação e no
aumento da área dedicada à VE. Uma empresa da Galiza, com experiência em
projetos semelhantes de conservação de sistemas tradicionais de condução de
vinha, a Bodegas Martín Códax, participará ativamente na partilha de experiências
e conhecimento técnico, estando previstas visitas técnicas em ambos os
países. Nota: o InovTechAgro é representado juridicamente pelo Instituto Politécnico de Portalegre
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