Bolsa de Iniciativas PRR

 

VALUR - Valorização Multisectorial da Fileira da Urtiga (ID: 244 )
Coordenador: Universidade da Beira Interior
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-07 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Beiras e Serra da Estrela
 
Identificação do problema ou oportunidade

O setor agrícola português tem feito um esforço de modernização extraordinário nos anos recentes. Pode destacar-se o grande investimento que se tem feito em fileiras consagradas como o olival, o amendoal, mas também no setor herbáceo, como o tomate industrial e a produção de hortícolas em estufa. Estes setores evoluíram, contudo, em situações em que se dispõe de estruturas fundiárias de latifúndio, onde se beneficia de uma economia de escala introduzida pela mecanização integral das operações (por exemplo, olival e amendoal no Alentejo), ou em sistemas de agricultura altamente intensivos no uso de capital (por exemplo, agricultura protegida da zona de Odemira).

Nos anos recentes assistiu-se também ao aparecimento de produtores que apostam em novas culturas, algumas delas já com alguma expressão económica e que se transformaram em verdadeiras fileiras. Pode usar-se como exemplo o setor das plantas aromáticas e medicinais, mirtilo, figo-da-índia, pistácio entre tantos outros. Estes setores têm características marcadamente diferentes dos primeiros. Tendem a ser feitos por jovens com formação superior, que por vezes tiveram uma infância e adolescência pouco ligada ao meio rural, mas que decidiram apostar na agricultura. Normalmente instalam-se com pouca terra e dispõem de capital limitado. Por estas razões tendem a apostar em culturas de elevado valor de mercado para gerar receitas que lhes permita um modo de vida a partir das áreas reduzidas que exploram. Estes produtores têm, contudo, enfrentado diversas dificuldades devido à reduzida ou nula informação agronómica que se encontra disponível quando iniciam os seus projetos e por, frequentemente, optarem por espécies exóticas, difíceis de cultivar, o que pode resultar em insucesso (algumas tentativas chegaram à comunicação social, mas foram malsucedidas, como frutos goji, açafrão, …).

As urtigas, designadamente as espécies Urtica dioica L. e U. urens L., são nativas da região mediterrânica, e vistas pelos agricultores como infestantes resilientes e difíceis de controlar. Esta informação é suficiente para demonstrar a sua adaptação às condições agro-ecológicas que podem ser encontradas no território nacional. A opção pelo cultivo de espécies nativas reduz riscos de problemas inesperados, como por vezes acontece quando se opta por espécies exóticas. As urtigas começam hoje a ser cultivadas um pouco por todo o mundo, dado o seu potencial de utilização como fibra natural e em diversas outras indústrias como a alimentar e a farmacêutica. Portugal pode estar na linha da frente na produção e transformação desta nova cultura.

Assim, acreditando que as urtigas se podem constituir como uma fileira relevante em Portugal, dada a adaptação ecológica das espécies às condições de território nacional, é necessário criar os protocolos agronómicos que permitam estabelecer itinerários técnicos para o cultivo, de forma a que se criem condições para que produtores potenciais forneçam matéria-prima com a qualidade e nas quantidades necessárias aos utilizadores finais. É necessário também estabelecer todos os protocolos de avaliação da qualidade dos produtos de urtiga (para fibra, produtos alimentares, cosmética, farmacêutica, alimentação animal, entre outros).

Transformar uma planta espontânea numa cultura pode não ser simples. Exige o estabelecimento prévio de protocolos de multiplicação e de cultivo, estudando as principais variáveis agro-ecológicas a que a planta responde, como a disponibilidade de nutrientes no solo e água. Para se estabelecer uma indústria é necessário conhecer a planta

nas suas múltiplas utilizações potenciais. Esta iniciativa visa assim gerar a informação base para ser poder criar uma nova fileira de raiz, desde a produção ao utilizador final, onde novos produtores e novas indústrias se possam instalar com maior segurança na instalação dos seus negócios.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa está organizada em 5 tarefas, de forma a que possa gerar informação para se constituir uma verdadeira fileira, designadamente os protocolos agronómicos para o cultivo, para aplicação indústria têxtil/moda, alimentar, agropecuária e farmacêutica.

Na linha 1, estabelecimento de protocolos de cultivo para a fileira da urtiga, pretende-se desenvolver experimentação agronómica que permita estabelecer itinerários técnicos para o cultivo de duas principais espécies de urtigas espontâneas em Portugal (U. dioica e U. urens). Será estudado/a: i) estabelecimento dos procedimentos de propagação das urtigas, através de semente e/ou métodos vegetativos, e para a obtenção de propágulos para potenciais produtores; ii) enquadramento ecológico das urtigas, tentando estabelecer as condições mais favoráveis ao seu cultivo; iii) resposta da planta à fertilização azotada, estabelecendo intervalos de suficiência e um sistema de recomendação de fertilização; iv) fertilização orgânica, para a opção de produção de urtiga biológica; v) otimização do uso da água baseado no principio da rega deficitária; vi) otimização das datas de corte tendo em conta os diversos usos; vii) otimização de processos de cultivo em estufa, para alargar o período de mercado de tecidos frescos.

A linha 2, desenvolvimento de aplicações para a indústria têxtil, pretende desenvolver e otimizar a tecnologia de extração da fibra de urtiga para aproveitamento da indústria têxtil e do vestuário. Pretende-se também criar o protocolo de produção de estruturas têxteis com base em fibra de urtiga e/ou misturas com fibra de urtiga, definindo o circuito tecnológico otimizado para a produção de fios em sistema de fibra curta e longa. Serão ainda estabelecidos protocolos de tingimento, com base em processos tintoriais contínuos e descontínuos, partindo de biomordentes e de corantes (polifenóis/flavonoides), obtidos com subprodutos da fibra de urtiga e/ou desperdícios orgânicos proveniente do processo extrativo.

Na linha 3, desenvolvimento de aplicações para a indústria alimentar, pretende-se abordar a valorização de toda a planta e, tendo por base estudos fundamentais já publicados, será feita uma avaliação precisa de extratos ricos em compostos bioativos, com grande potencial nutricional e antimicrobiano para aplicação na indústria alimentar nacional. Tendo um particular foco na otimização destas extrações, será também avaliada a viabilidade da comercialização de corantes alimentares e têxteis, quer na forma direta, quer após encapsulação. Serão feitos vários ensaios de estabilidade abordando as várias vertentes.

Na linha 4, Desenvolvimento de aplicações para a indústria agropecuária, será avaliado o efeito bioherbicida dos extractos, sobre sementes de plantas infestantes e parasitas. Serão realizados ensaios laboratoriais e estufa para estabelecer as concentrações inibitórias e estimulantes da germinação e desenvolvimento de plantas infestantes e parasitas assim como da estabilidade das formulações em situação de semi-campo. Os subprodutos resultantes das linhas serão compostados e caraterizados. Na área pecuária os compostos bioativos serão explorados para aplicação na alimentação animal, incluindo a caracterização química e nutricional, e a avaliação das atividades antioxidante, antimicrobiana com impacto na produção animal e antimetanogênica.

A linha 5, desenvolvimento de aplicações para a indústria farmacêutica, aplicará resultados da linha 3 para, utilizando técnicas de microencapsulação, manter as propriedades dos compostos bioativos. Proceder-se-á ao desenvolvimento de uma formulação para creme cicatrizante à base de urtiga para aplicação tópica, do qual serão avaliadas propriedades físico-químicas, realizados ensaios organoléticos, estabilidade, espalhamento e contaminação microbiológica. Serão ainda realizados ensaios de toxicidade e avaliação de propriedades biológicas, submetendo-se o protótipo a aceitação em painel de voluntários, e inquérito de satisfação em grupo controlo.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

UBI-DCTT, coordenador da iniciativa e líder das linhas de investigação 2 e 5, abordando o desenvolvimento de estruturas têxteis e produção de protótipos de vestuário, bem como o desenvolvimento de um produto farmacêutico.

O IPB lidera a linha 1, estabelece itinerários técnicos da produção, desde a propagação aos procedimentos sobre as datas de corte que permitam otimizar a produção de biomassa e a sua qualidade para os diferentes usos. Em parceria com o IPCB vão ser criados os delineamentos experimentais e protocolos de cultivo. O IPB e IPCB vão efetuar medições para avaliar a performance das plantas nos produtores. Realizam a atividade laboratorial sobre as amostras de solos e análise química elementar sobre amostras de tecidos vegetais para estabelecer os protocolos de fertilização da cultura. O IPB integra o grupo que estuda a viabilidade económica da fileira. O IPCB participa na Tarefa 5, caraterização dos compostos bioativos e desenvolvimento de formulação tópica e na Tarefa 3, caracterização de extratos ricos em compostos bioativos.

A AJAP, responsável pelas ações de comunicação e disseminação. Colaborara na linha 1, no apoio aos trabalhos de campo e na avaliação do mercado potencial para os produtos decorrentes do cultivo de duas espécies de urtiga.

O CCRES/ADPM, irá acompanhar a execução da linha 1, contribuindo para a elaboração do itinerário técnico e económico, avaliando o potencial de replicação. Responsável pela avaliação do mercado e pela compilação dos dados resultantes das diversas linhas de acão do projeto para o Manual de Replicação da Cultura da Urtiga.

O CEBAL participa na linha 2, na extração das fibras em escala laboratorial. Na linha 3, na extração com ultrassons e sua otimização, acoplando-o ao processo de separação por tecnologia de membranas e na produção e caraterização dos oligossacáridos do material remanescente da planta. Na linha 4 caraterizará a biomassa para a sua aplicação no setor pecuário e avaliará a biomassa e os compostos bioativos, para estirpes bacterianas com impacto na produção animal e antimetanogênica. Na linha 5 participará na avaliação de propriedades antioxidantes e atividade antimicrobiana.

O LAQV-REQUIMTE participa nas linhas 2, 3 e 5, na caraterização fitoquímica e nutricional das duas espécies de urtiga em diferentes estados de maturidade. Os dados serão utilizados nas linhas 2 e 5. Contribuirá na avaliação do potencial de aplicação para a área alimentar através de ensaios de digestão dos extratos de urtiga, e a avaliação da sua toxicidade. Na linha 5 efetuará ensaios de avaliação das propriedades biológicas e citotóxicas.

O LAQV-NOVA.iD.FCT da Universidade NOVA de Lisboa participará na linha 2 para o desenvolvimento de aplicações para a indústria têxtil. Várias formulações de tingimento irão ser testadas e caracterizadas através de uma metodologia multianalitica.

O INIAV, I.P., responsável na elaboração dos itinerários económicos e avaliação económica da fileira (linha 1). Na linha 3 e 5, determinará a estabilidade dos corantes e/ou compostos funcionais, presentes nos extratos de urtigas e desenvolverá métodos de encapsulamento, que permitam manter as suas propriedades para aplicação na indústria. Na linha 4, avaliará o efeito bioherbicida dos extratos sobre sementes de plantas

infestantes e parasitas, determinará concentrações inibitórias e a estabilidade das formulações.

Erva Brava, Mafalda Costa, Pedro Morgado, Sociedade Agrícola Vale do Tua e Urticarea, colaboram na colheita inicial de sementes, propágulos e plantas espontâneas, na implementação e manutenção de campos experimentais. Participam na colheita e pré-tratamentos das amostras de solos e plantas, na disponibilização de dados para o itinerário técnico e económico e na divulgação de resultados.

Blossom Essence, empresa da área dos produtos cosméticos e farmacêuticos à base de óleos essenciais, participará no desenvolvimento da formulação tópica contribuindo com o seu know-how, colaborando ainda na tarefa 6 de aceitação do produto desenvolvido.

Fitecom, empresa vertical têxtil, vai colaborar na produção de estruturas tecidas.

 
Interlocutor: Nuno José Ramos Belino   Email interlocutor: belino@ubi.pt   Email entidade: ppserrao@ubi.pt