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EDDIE - EnciclopéDia Digital para a gestão da BIodivErsidade Funcional e Proteção Integrada (ID: 246 )
Coordenador: Food4Sustainability - Associação para Inovação no Alimento Sustentável
Iniciativa emblemática: 8. Agricultura 4.0
Data de Aprovação: 2022-03-09 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Beira Baixa
Identificação do problema ou oportunidade
A agricultura enfrenta
atualmente uma grande pressão, uma vez que é reconhecido o papel da intensificação
da produção alimentar como motor para o desenvolvimento de impactos negativos no
ecossistema, contribuindo para mudanças ambientais (e.g., emissões de gases do efeito
de estufa, perda de biodiversidade) e efeitos negativos na saúde do consumidor
e do agricultor (Guerrero Lara et al., 2019). Ao mesmo tempo, as
agroecossistemas são afetados pelas alterações climáticas, que têm sido
aceleradas pela atividade humana. Dados do IPCC registaram um aumento de quase
1 ºC na temperatura média global no período entre 2006-2015, sendo que em
regiões extremas este aumento chegou até 3 ºC (Allen et al., 2018).
Acresce a redução do número de horas de frio, no período de inverno, a redução
da água disponível, os efeitos erosivos associados a eventos climáticos
extremos, entre outros, que comprometem a produtividade das culturas. Estas
alterações influenciam, ainda, os ciclos de vida das pragas e doenças e a sua
relação com as culturas e comprometem as soluções de proteção conhecidas e
utilizadas com mais frequência. Prever a ocorrência de
pragas e doenças que afetam a produtividade agrícola é importante para desenhar
estratégias de proteção das culturas e auxiliar os agricultores na melhoria da
produtividade e qualidade da produção. Até ao momento, apesar da imensa
informação recolhida anualmente pelos serviços de avisos agrícolas, não existem
ferramentas georreferenciadas nem modelos de previsão validados em tempo real,
que permitam conhecer a dispersão e evolução da pragas e doenças nos
territórios. Isto limita a capacidade dos agricultores desenvolverem
estratégias de proteção ajustadas às exigências e desafios que se colocam aos
sistemas agrícolas sustentáveis. Para além disso, existe
falta de conhecimento e informação sistematizada sobre meios de luta
alternativos à utilização de produtos fitofarmacêuticos de síntese,
nomeadamente no âmbito da proteção biológica, biotécnica, biopesticidas e
outras práticas agroecológicas. Providenciar acesso a esta informação permite
aos agricultores uma gestão mais eficiente dos recursos, um processo de decisão
e seleção dos meios de proteção mais adequados, bem como da avaliação da sua
eficácia e impacto na saúde e ambiente, enquanto ao mesmo tempo facilita a
informação relativa ao seu desempenho e contributo para a sustentabilidade dos
ecossistemas e territórios. As políticas
europeias, nomeadamente a Estratégia do Prado ao Prato, Estratégia para a
Biodiversidade 2030 e Política Agrícola Comum, trazem novas oportunidades para
os agricultores serem recompensados pela adoção de práticas agrícolas mais
sustentáveis. Para tal, a introdução de sistemas que facilitem a gestão da exploração
agrícola, monitorização e avaliação da sua resiliência é essencial para validar
a sustentabilidade, melhorar o rendimento, facilitar a capacitação e adoção de
práticas mais adequadas.
Referências:
Guerrero Lara, L., Pereira, L.M., Ravera, F.
and Jiménez-Aceituno, A., 2019. Flipping the Tortilla: Social-ecological
innovations and traditional ecological knowledge for more sustainable agri-food
systems in Spain. Sustainability, 11(5), p.1222.
Allen, M., Antwi-Agyei, P., Aragon-Durand, F.,
Babiker, M., Bertoldi, P., Bind, M., Brown, S., Buckeridge, M., Camilloni, I.,
Cartwright, A. and Cramer, W., 2019. Technical Summary: Global warming of 1.5°
C. An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5° C above
pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in
the context of strengthening the global response to the threat of climate
change, sustainable development, and efforts to eradicate poverty.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
A iniciativa tem como objetivo
desenvolver uma Enciclopédia Digital que apoia o agricultor e suporta o
desenvolvimento de práticas agroecológicas, ao nível da gestão da
biodiversidade e proteção das culturas em sistemas de agricultura sustentável. A
partir do desenvolvimento e capacitação em ferramentas digitais, este projeto pretende
auxiliar os agricultores, com foco em agricultores familiares, na tomada de
decisão para gestão das culturas através do acompanhamento e previsão de
ocorrência de pragas e doenças e à seleção dos meios de luta, em particular meios
de proteção alternativos (e.g., luta biológica, biotécnica). Este modelo de inovação
digital assenta em princípios de desenvolvimento sustentável e visa a
diminuição de inputs químicos, a preservação da biodiversidade e a resiliência
dos sistemas agrícolas. Neste sentido, será
construída uma base de dados geográfica das pragas e doenças das principais
culturas agrícolas ao longo dos últimos 50 anos na região Centro, com dados climáticos
e biológicos disponibilizados pela DRAP-Centro. A partir desta informação,
serão validados e ajustados a nível regional, modelos de previsão de ocorrência
das pragas e doenças mais comuns (e.g., traça, míldio, pedrado, bichado). Assim,
serão produzidos mapas de risco de ocorrência de pragas e doenças e sua relação
com culturas de interesse, além de cartas de perceção do risco de pragas e
doenças a partir de entrevistas a agricultores. Relativamente aos meios
de proteção e práticas agroecológicas, informações sobre as técnicas e produtos
disponíveis no mercado serão compatibilizadas a partir de bases de dados como a
BPDB, PPDB, BioBest e Koppert. Estas plataformas
incluem informação técnica, toxicológica, regulamentar e formas de uso e de
avaliação de eficácia. Dada a complexidade da linguagem,
falta de adaptabilidade à cultura e território nacionais e falta de
capacitação, estas bases são raramente utilizadas. Assim, torna-se crucial agregar
dados e transformá-los de forma compreensível e acessível aos agricultores. Deve
ainda identificar-se e sistematizar as práticas agroecológicas de proteção disponíveis
e definir a relação com a segurança alimentar e o ambiente, bem como os
parâmetros necessários à sua utilização e avaliação da eficácia. A recolha
desta informação será realizada através de entrevistas a agricultores e
técnicos, sendo realizada a validação em campo das práticas agroecológicas de
interesse. A utilização do sistema
EDDIE permitirá, ainda, aos técnicos proceder a autoavaliação do desempenho
ambiental e evolução da sua exploração, em termos da sua sustentabilidade e
risco para a saúde humana e ambiente. Este sistema poderá vir a ser utilizado
para a diferenciação da exploração, e alavancar a produção dos pequenos
agricultores familiares, através da melhoria do desempenho, qualidade e acesso
ao mercado. Este tipo de informação é essencial para os agricultores procederem
ao planeamento da exploração, minimizarem a aplicação de produtos
fitofarmacêuticos e selecionarem os métodos de luta são mais adequados, alinhados
com a agenda da Terra Futura. O projeto irá criar uma
plataforma de democratização do conhecimento, com linguagem simples e
acessível, destinada a agricultores familiares com as seguintes funcionalidades:
i) informação geográfica sobre a ocorrência de pragas e doenças na região
centro; ii) enciclopédia digital sobre meios de proteção e práticas agroecológicas
associadas a cada tipo de cultura; iii) impactos da adoção de diferentes
soluções sobre a saúde humana e ambiente e iv) avaliação da sustentabilidade do
sistema produtivo e caderno de campo digital. Para disseminar o uso da
plataforma, estão previstas atividades de transferência de conhecimento e
capacitação com os membros do consórcio e a conexão com a plataforma de
serviços do STF-EDIH. O principal público-alvo são os agricultores familiares, cuja
literacia e acesso a ferramentas digitais de apoio à agricultura é reduzido. Estes
serão integrados em todas as etapas do projeto de modo a assegurar os formatos
e resultados mais adequados e promover a sua adoção.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
A iniciativa
agrega a seguinte tipologia de parceiros: 1 PME do setor, 3 Instituições de
I&D, 1 Confederação, 1 Centro de Competência, 1 Polo de Inovação e 1
Direção Regional:
Food4Sustainability
(F4S) atuará como
promotor do projeto, tendo como áreas principais de trabalho a monitorização e
avaliação das práticas agrícolas na vertente de saúde do solo (físico-química e
biológica), produção e processamento de dados georreferenciados, incorporação
de bases de dados, divulgação dos resultados e ações de promoção através de formação,
workshops e visitas técnicas de campo.
Instituto Politécnico
de Viseu (IPV): definição
de metodologias, validação de modelos, entrevistas a agricultores,
experimentação de práticas, disseminação e capacitação. Esta entidade será também
a representante do Centro de Competências para a Agricultura Familiar e Agroecologia
no consórcio.
Instituto Politécnico
de Santarém (IPS): definição
de metodologias, validação de modelos, entrevistas a agricultores,
experimentação de práticas, disseminação e capacitação
DRAP Centro: recolha de
informação, validação dos modelos, disseminação. Esta entidade será também a representante do Polo de Inovação de Viseu no consórcio.
Confederação: A Confederação Nacional da Agricultura (CNA)
irá realizar entrevistas a agricultores, experimentação de práticas,
disseminação e capacitação.
PME e
Agricultores agroecológicos: a Ecoseiva irá realizar experimentação de práticas e teste
e uso de tecnologias digitais aplicadas à agricultura.
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