Bolsa de Iniciativas PRR

 

ElectroSta_Tec (ID: 254 )
Coordenador: Hubel Verde, Engenharia Agronómica S.A.
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-07 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Algarve NUTS III: Algarve
 
Identificação do problema ou oportunidade

Em Portugal, as culturas perenes de maior expressão são o olival e a vinha, culturas estas muito exigentes em tratamentos fitossanitários para manutenção da sanidade das culturas. Por sua vez, a área de amendoal é maior na zona Norte mas tem vindo a aumentar exponencialmente o seu cultivo intensivo nas regiões da beiras e Alentejo. Já a pera-abacate, foi introduzida nos últimos anos na zona do Algarve. Muito do aumento de área verificado em todas as culturas está relacionado com as oportunidades geradas pelo sistema de regadio instalado em Portugal, disponibilidade de terra e pelo valor económico que estas culturas têm no mercado e cuja procura tem aumentado.

Se os investimentos recentes têm contribuído positivamente para a competitividade nacional nos mercados externos, para a criação de novos empregos e fixação de população têm, por outro lado, alavancado alguma preocupação sobre o impacto das práticas agrícolas no ambiente e no ser humano (pelo recurso a pesticidas para controle de pragas e doenças) e, do ponto de vista agronómico, têm surgido desafios constantes no que concerne à adaptabilidade dos mais recentes sistemas de produção intensiva às condições edafo-climáticas existentes. Assim, é importante equilibrar as novas oportunidades com as condicionantes existentes, tendo consciente a preocupação comum que o setor agrícola deve ser sustentável do ponto de vista económico e ambiental.

A polinização é uma momento chave na produção de muitas culturas agrícolas e pode ser definida como a libertação de pólen das anteras para o estigma, por vetores bióticos ou abióticos, envolvendo a remoção do pólen das anteras, seu transporte e sua deposição numa flor recetiva. Cerca de 70 % das culturas agrícolas requerem polinização sendo que, muitas vezes, esta está condicionada pelo desaparecimento de polinizadores naturais devido aos pesticidas, mudança climática, patógenos, espécies invasivas, entre outros. Diversas práticas culturais podem ser realizadas em prol do aumento dos polinizadores naturais como p.e. sementeiras espécies nectaríferas em faixas, nas margens e/ou nas entrelinhas das culturas e, naturalmente, a redução do uso de pesticidas que afetam negativamente a presença destes. No entanto, muitas vezes a polinização está condicionada pelo facto de se importarem culturas estrangeiras para áreas onde o seu polinizador natural não está presente, pelas condições inadequadas durante a floração (chuva, vento, frio, inclinação do terreno…) e pela ausência de pólen adequado (discrepância entre macho e fêmea, pólen incompatível ou não viável…). A cultura da amendoeira e da pera-abacate padecem de alguns dos problemas de polinização referenciados, nomeadamente pela adaptabilidade das variedades ao clima local e pela pressão biótica sobre os polinizadores naturais (p.e. pressão da vespa asiática sobre a abelha melífera). Em Portugal, apenas no setor do kiwi se têm verificado a prática da polinização artificial para aumentar o vingamento e, consequentemente, a produção da cultura. No entanto, esta aplicação é feita com os pulverizadores convencionais e não com nenhum equipamento mais específico. Já no caso das fruteiras – macieira – existe o recurso à utilização de hormonas de síntese para tentar colmatar algumas deficiências de produção provenientes da má polinização.

Assim, a polinização artificial é uma ferramenta que permite realizar a polinização e colmatar algum dos problemas mencionados. É um método mecânico pelo qual se transporta o pólen ou da planta de uma flor para outra. No entanto, esta prática está também ela limitada por diversos fatores, nomeadamente, pela qualidade do pólen e sua conservação, pelas condições meteorológicas e pelo método de aplicação utilizado. Assim, é de crucial importância a qualidade do pólen e esta assegura-se desde a forma como o pólen é recolhido, a secagem a que é sujeito (controle temperatura, tipo embalagem) e a forma como é congelado (uso de crio conservantes, controle temperatura). Adicionalmente, a constituição da matriz em que o pólen é transportado para a calda é de suma importância para o desenvolvimento do tubo polínico e sucesso da polinização.

A redução do uso de pesticidas pode ser conseguida se forem evitadas perdas desnecessárias, nomeadamente por deriva aquando a aplicação do produto fitofarmacêutico e, por conseguinte, o método de aplicação deve ser o mais eficaz possível.

Em relação ao método de aplicação, realizado com os pulverizadores convencionais, seja de produtos fitofarmacêuticos ou pólen, estes têm geralmente baixa eficiência devido às perdas, seja por deriva, contaminação ao solo ou evaporação. Muitas vezes, também o tamanho das gotas é altamente variável: as excessivamente grandes perdem-se por escoamento e gotejamento e as muito pequenas perdem-se por deriva e volatilização, sendo que a distribuição à superfície das plantas é também heterogénea.

Assim, propõe-se a utilização de um método inovador para aplicação de pólen baseado na pulverização electroestática que se baseia no desenvolvimento de um campo eletromagnético entre a calda e a planta criando um efeito de atração entre elas. É introduzida uma corrente de ar que provoca a formação de gotas de tamanho específico e uniforme e é induzida uma carga oposta à da superfície da cultura e esta força de atração é superior à gravidade e inércia o que permite a adesão e retenção das gotas na superfície da cultura. Ao mesmo tempo, existe uma repulsão entre gotas que contribui para uma distribuição uniforme na folha. A pulverização electroestática permite uma maior deposição e retenção 4X superior à pulverização convencional, o efeito de atração criado reduz a perdas por deriva, escoamento ou gotejamento, a distribuição é uniforme em toda a superfície, com um tamanho de gota uniforme e adequado e existe maior eficiência de absorção (gotas menores). A pulverização electroestática aumenta a eficiência de aplicação o que permite uma economia do produto e de calda e menor contaminação ambiental. Para além disso, a utilização desta tecnologia pode ser aplicada não só para a polinização artificial, mas também para a aplicação dos tratamentos fitossanitários nestas e outras culturas. Neste sentido, este projeto pretende de igual modo tomar partido desta tecnologia para a aplicação de caldas fitofarmacêuticas em amendoal e olival.  Tendo em conta que um dos grandes objetivos do Pacto Verde da União Europeia são a redução em 30% dos fertilizantes e em 50% do uso de pesticidas no ano de 2030, o aumento da eficiência do uso dos fatores de produção impõe-se como prioritária para o alcance desse objetivo e, a pulverização electroestática posiciona-se como método disruptivo nesse sentido.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa irá debruçar-se sobre a melhoria de eficácia dos tratamentos foliares através do recurso da tecnologia electroestática instalada nos pulverizadores.  A utilização desta tecnologia permite que os tratamentos fitofarmacêuticos sejam mais eficazes e com menor impacto ambiental sobre o solo, água e fauna. Paralelamente, esta tecnologia associada aos tratamentos de polinização artificial também visa diretamente o aumento do potencial produtivo das cultura. A presente iniciativa tem como:

·         Objetivo principal: Utilização da tecnologia de pulverização electroestática para aumentar a produtividade das culturas perenes.

o   Objetivo específico 1: aumento da rentabilidade do olival pelo aumento da eficácia dos tratamentos fitossanitários.

o   Objetivo específico 2: aumento da rentabilidade do amendoal e abacateiro por via da introdução da polinização artificial

Esta iniciativa prevê a criação de sinergias entre o tecido empresarial e o sistema tecnológico em Portugal, com interligação a tecnologia estrangeira, e contribui para a criação de melhores condições para o aumento do rendimento dos produtores, tornando a atividade agrícola mais rentável, atrativa e competitiva. Ao mesmo tempo assegura uma agricultura mais resiliente e adaptada às alterações climáticas, práticas de proteção integrada e agroecológicas que permitem a redução do uso e do risco de inputs de síntese em paralelo com práticas de preservação ambiental.  


Numa primeira fase, irão ser adquiridos os pulverizadores electroestáticos pela Hubel Verde e estabelecidos os acordos de fornecimento do pólen com a empresa detentora da tecnologia. Será capacitado pessoal técnico para a aplicação dos produtos fitossanitários e de pólen com a tecnologia electroestática. Numa segunda fase, será implementado o delineamento experimental e datas de operação nas explorações agrícolas. Pelo menos, um total de 6 estudos de caso serão efetuados: uma exploração de abacateiro no distrito do Algarve; duas explorações de olival (Alentejo e Bragança), três exploração de amendoal no Distrito de Castelo Branco, Distrito de Bragança e Distrito Beja. Estão previstos 3 tratamentos no ensaio sobre polinização artificial: Controlo – sem polinização artificial/T1 – com polinização artificial tecnologia convencional/T3 – polinização artificial com tecnologia electroestática. No caso do estudo para redução do uso de fitofarmacêuticos haverá duas modalidades: Controlo – tratado com pulverizador convencional; T1 – tratado com pulverizador electroestático. Pretende-se acompanhar o estudo ao longo de 3 anos (2023,2024,2025). Desde logo, aquando aplicação foliar será feita avaliação da uniformidade da distribuição da calda, registados os volumes usados e quantidade de substância ativa utilizada. A produtividade da cultura será avaliada com pesagem individual da colheita nos diferentes tratamentos. Análises ao microbioma do solo, qualidade da água e registro da biodiversidade da megafauna (nomeadamente polinizadores naturais) contribuirão para analisar o impacto ambiental dos tratamentos
 
 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Hubel Verde SA – empresa de produtos e serviços de engenharia agronómica, sediada em Olhão e com cobertura técnico-comercial em todo o território nacional, é mediadora da introdução da tecnologia estrangeira de polinização artificial e tratamentos com pulverizadores electroestáticos em Portugal.

JBI Group – empresa agrícola, sediada no Algarve, produtora de frutos vermelhos, tropicais e subtropicais que conta com 300ha de abacateiros, 25ha de frutos vermelhos, 2 de manga e 1 de pitaia. Estará ativamente ligado às aplicações de polinização artificial nos seus abacateiros.

Duck River company - empresa agrícola nacional de produção de amêndoa, atualmente tem instalados 460ha na região de Ferreira do Alentejo e Idanha-a-Nova.  Estará ativamente ligado às aplicações de polinização artificial no seu amendoal e tratamentos fitossanitários.

VeraCruz - empresa agrícola nacional de produção de amêndoa, atualmente tem instalad na Beira Baixa com atualmente 1300ha.  Estará ativamente ligado às aplicações de polinização artificial no seu amendoal e tratamentos fitossanitários.

Acerto Genial - empresa agrícola nacional de produção de amêndoa, atualmente tem instalada em Mogadouro com atualmente 200 ha.  Estará ativamente ligado às aplicações de polinização artificial no seu amendoal e tratamentos fitossanitários.

Soc. Agrícola Lagoa da Ordem – empresa agrícola produtora de olival em Aljustrel, com interesse como usuário final da tecnologia electroestática para redução do uso de produtos fitofarmacêuticos.

Sá Morais e Castro - empresa agrícola produtora de olival e amendoal em Bragança/Mirandela, com interesse como usuário final da tecnologia electroestática para redução do uso de produtos fitofarmacêuticos.

CNCFS – Centro Nacional de Competência para os Frutos Secos – entidade integradora da tecnologia estudada para produtores nacionais de frutos secos.

APPITAD – entidade integradora da tecnologia estudada para grupo produtor de olival e amendoal da região de Trás os Montes que participará no acompanhamento dos ensaios e na sua disseminação.

AJAP – participará no acompanhamento dos ensaios e na sua disseminação junto aos Jovens Agricultores Nacionais.

SmartFarm Colab – laboratório colaborativo para a inovação digital na agricultura, participará no teste e validação da tecnologia através do delineamento experimental e no acompanhamento dos ensaios, análise dados elaboração relatório e disseminação dos resultados.

Universidade de Évora – ENESI – participará com grupo trabalho de fisiologia vegetal e mecanização agrícola, no delineamento experimental e acompanhamento das aplicações e desenvolvimento das culturas.

 
Interlocutor: Margarida Mota   Email interlocutor: margarida.mota@hubel.pt   Email entidade: verde@hubel.pt