Bolsa de Iniciativas PRR

 

SUSTER _ Sustentabilidade dos sistemas socio-ecológicos de montanha: o conhecimento dos ecossistemas e recursos endógenos na promoção de soluções de valorização lideradas localmente (ID: 258 )
Coordenador: IPVC - Instituto Politécnico de Viana do Castelo
Iniciativa emblemática: 6. Territórios sustentáveis
Data de Aprovação: 2022-03-08 Duração da iniciativa: 2022-03-02
NUTS II: Norte NUTS III: Alto Minho
 
Identificação do problema ou oportunidade

Conciliar a produção agrícola com a conservação da natureza é um dos grandes desafios societais. No contexto europeu, os sistemas agrícolas extensivos assumem um papel fundamental na manutenção da biodiversidade, já que deles dependem mais de meia centena de habitats considerados com elevado valor para a conservação (Diretiva Habitats). Em Portugal, considerado um hotspot de sistemas agrícolas de elevado valor natural, destacam-se os sistemas socio-ecológicos de montanha (SSEM) pela contribuição dos sistemas tradicionais do uso do solo (i.e.: agricultura familiar em sistema de policultura e pastoreio extensivo) na preservação do valor cultural, paisagístico e ecológico dos territórios. A relação dinâmica entre os sistemas sociais humanos e ecológicos, quer na policultura que no pastoreio extensivo, não só garante a produção de alimento, como também assegura a conservação de habitats e espécies (muitas das vezes com elevado interesse para a conservação) e ainda outros serviços de ecossistemas.

Nas serras da Reserva Transfronteiriça da Biosfera Gerês-Xurês (RBTGX), os SSEM com produção agro-pastoril extensiva tradicional ainda resistem ao abandono rural. Contudo, considerando a motivação para a declaração da RBTGX (proteção e valorização do património cultural e natural) e os vários condicionantes externos de natureza ambiental, demográfica, legal, política e até comportamental (estilo de vida) urge compatibilizar a atividade agropastoril em áreas montanhosas ecologicamente sensíveis com a conservação da natureza. Nomeadamente, interessa i) gerir o pastoreio com raças autóctones em regime semilivre, maioritariamente em áreas de baldios, para que seja uma atividade viável no contexto social, económico e ecológico e ii) promover o uso de variedades vegetais tradicionais (ex.: centeio e milho) por forma a garantir a diversidade genética adaptativa e consequentemente a manutenção de fenótipos adaptados localmente.

Até à data, o esforço nacional de I&D em sistemas extensivos que integram diferentes componentes de uso do solo tem sido maioritariamente direcionado para o sistema socio-ecológico do montado (Alentejo; área de influência mediterrânica), dando menor ênfase para os sistemas de montanha, em particular da RBTGX. A singularidade da organização da propriedade (minifúndio e baldio), as características biofísicas da região (declives acentuados, elevadas precipitações e temperaturas sub-zero no inverno), a sua importância ecológica (diversidade de habitats, ocorrência de habitats e espécies prioritárias, serviços de ecossistemas prestados) e a preponderância das atividades extensivas para a economia local tornam premente um projeto centrado na sustentabilidade dos SSEM. Assim surge o SUSTER, um projeto que multidisciplinar e participativo onde investigação (academia) e prática (atores territoriais) propõe ações inovadoras lideradas localmente com a missão de promover a sustentabilidade (ecológica, social, económica e cultural) dos territórios e comunidades de montanha e por consequência das regiões onde estes se localizam. Através do SUSTER será fundamentada a criação de processos de valorização de produtos e serviços endógenos da RBTGX, destacando a singularidade, a qualidade e as práticas comprometidas com a preservação dos ecossistemas. E em última instância, desenvolveremos um modelo de sustentabilidade territorial em áreas de montanha que se pretende replicável/transferível para outras geografias.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Em Portugal, os sistemas socio-ecológicos de montanha (SSEM) estão associados a formas tradicionais do uso do solo como a policultura e pastoreio extensivo com variedades e raças autóctones, respetivamente. Contudo, a subsistência dos SSEM já cede às várias condicionantes externas. Portanto, a necessidade de pensar e desenvolver abordagens interdisciplinares que permitam superar todos esses desafios externos e transformá-los em oportunidades socioeconómicas locais é urgente.

O consórcio transetorial que apresentamos surge como uma resposta para a sustentabilidade dos territórios de montanha e tem por missão compatibilizar a atividade agropastoril com a conservação da (agro)biodiversidade, potenciando a atratividade dos territórios rurais, tornando a produção extensiva mais rentável e competitiva, dinamizando cadeias curtas de comercialização de produtos de qualidade, e contribuindo para um sistema alimentar mais sustentável.

A proposta sustenta-se nas premissas de que a diversidade de conhecimento e atores, bem como a necessidade de contextualização eco-socio-económica são fundamentais para o desenvolvimento e sucesso de programas em sustentabilidade territorial. O projeto enquadra-se em três linhas de ação (LA) definidas na Iniciativa 6 da Agenda de Inovação para a Agricultura 2020-2030.

Na LA6.3 estudaremos o sistema pastoril extensivo de montanha. A atividade tem por objetivo desenhar e aplicar um modelo de gestão do pastoreio/habitats, em área de baldio, que sustente um futuro programa de pagamentos por resultados de conservação. Serão i) caracterizados os habitats usados para pastoreio, ii) monitorizados os animais (tecnologia de ponta), iii) avaliado o conhecimento dos produtores para iv) estabelecer um modelo de gestão de pastoreio sustentável que será v) monitorizado anualmente.

Na LA6.4 o foco será o sistema de policultura de montanha. Fundamentaremos o uso de variedades endógenas de milho e centeio, para alimentação animal e humana, criando um modelo de conservação in situ, contrariando a perda de agrobiodiversidade local e garantindo segurança alimentar. Começaremos por i) selecionar as variedades de cereais locais, ii) fazer a caracterizar nutricional e genética, iii) multiplicar as variedades que se revelarem interessantes e v) incentivar a produção em campo de agricultor.

Na LA6.5 o âmbito serão os recursos e serviços endógenos dos SSEM. A estratégia de promoção e valorização dos recursos animais e vegetais de montanha será suportada no conhecimento produzido nas atividades LA6.3 e LA6.4, e passará por i) avaliar a recetividade do consumidor à carne de bovinos produzida segundo práticas ambientalmente sustentáveis, ii) testar a inclusão de centeio local na produção de cerveja artesanal e iii) avaliar o uso de milho regional na alimentação de galinhas autóctones, para iv) incentivar a criação de circuitos curtos de comercialização no setor agroalimentar e v) promover os serviços de ecossistemas de montanha que traduzem a relação entre as comunidades e a biodiversidade.

A iniciativa baseia-se numa numa sólida rede multidisciplinar e transetorial - ciência: IPVC, INIAV e IPCA; PME: produtores/agricultores, restauração, turismo e In.Cubo; Associação: FERA, ADRIMINHO, ATAHCA, Associações de Baldios; Centro de Competência: Centro de Competência do Pastoreio Extensivo; Pólo de Inovação: Pólo de Inovação de Mirandela e Pólo de Inovação de Braga; governança: CIM Alto Minho e CIM Cávado; governança sectorial: ICNF.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

O IPVC (NUTRIR- CISAS), líder do consórcio, terá a responsabilidade de representação e coordenação do consórcio, acrescendo tarefas especificas nas atividades programadas (LA6.3, LA6.4 e LA6.5). Embora lidere o desenho e implementação do plano de ação, a definição e adequação das tarefas será um processo colaborativo e interativo com os restantes parceiros.

O INIAV (Banco Português de Germoplasma Vegetal) terá responsabilidade nos trabalhos de investigação e posterior transferência associados à LA6.4 -  conhecimento e valorização das variedades endógenas de cereais base da agricultura familiar das comunidades de montanha.

O IPCA (Laboratório de Inteligência Artificial Aplicada) fornecerá as competências e equipamento para análise visualização de bigdata associada à monitorização de animais em pastoreio livre (LA6.3).

O ICNF, entidade pública responsável pela Estratégia Nacional de Conservação da Biodiversidado e membro da comissão de cogestão do Parque Nacional da Peneda-Gerês fornecerá a cartografia de habitats e contribuirá para a elaboração e monitorização do plano de gestão do pastoreio (LA6.3).

A Atlântica e a Associação de Baldios da Serra do Gerês gerem áreas de baldio no território da RBTGX, na sua maioria destinada ao pastoreio extensivo. Nesta parceria serão tomadoras de medidas de gestão de pastoreio definidas (LA6.3).

A FERA (Federação Nacional das Associações de Raças Autóctones), em linha com os seus objetivos de participação em ações técnicas e científicas, e capacitação dos associados, facilitará o acesso a dados (LA6.3), a infraestruturas para o ensaio zootécnico dedicado ao milho local (LA6.5) e participará na transferência de conhecimento aos produtores (LA6.5).

A CIM do Alto Minho e a CIM Cávado são parceiros fundamentais para a implementação das atividades de valorização dos territórios e seus produtos em articulação com as suas políticas e instrumentos de desenvolvimento regional e local (LA6.5).

A ADRIMINHO e a ATAHCA (associações de desenvolvimento rural/local) permitirão a articulação entre os produtores e os pontos de escoamento dos seus produtos num contexto de promoção de circuitos de comercialização curtos. Serão ainda fundamentais na disseminação dos resultados e ações de capacitação nos setores envolvidos (LA6.5).

A In.Cubo (Incubadora de Iniciativas Empresariais Inovadoras) permitirá consolidar a rede entre produtores, baldios e PMEs do setor. A In.Cubo contribuirá também para a transferência de conhecimento e capacitação de agentes locais (LA6.5).

O Pólo de Inovação de Mirandela (DRAPN) participará nos trabalhos agronómicos de multiplicação de variedades vegetais locais (LA6.4) contribuindo assim para atividades de investigação que permitam a sustentabilidade das comunidades rurais.

O Centro de Competência do Pastoreio Extensivo, representada pela Associação FERA será fundamental na transferência do conhecimento obtido para outras áreas geográficas onde o SSEM são uma realidade em risco (LA6.5).

As PMEs e pessoas singulares: i) produtores do setor agro-pastoril (20), ii) restauração que trabalha com carne de bovinos (6 PMEs) iii) transformação alimentar que usa centeio (cervejeira Fermentum1 PME), e iv) animação turística que explora o património natural e cultural das áreas de montanha (2 PMEs). Enquanto os primeiros, agricultores e proprietários de animais, terão um papel fundamental na execução das tarefas nas LA6.3 e LA6.4, os outros serão responsáveis pelo implementação de medidas de valorização dos produtos e serviços endógenos (LA6.5).

 
Interlocutor: Professor Doutor Nuno Vieira e Brito   Email interlocutor: nunobrito@esa.ipvc.pt   Email entidade: geral@ipvc.pt