Bolsa de Iniciativas PRR

 

Cogumelos do “Prado ao Prato”: Do Tratamento de Doenças do Metabolismo a Dieta Saudável Sustentável a partir da Valorização de Recursos Agro-florestais (ID: 263 )
Coordenador: Universidade de Coimbra
Iniciativa emblemática: 1. Alimentação sustentável
Data de Aprovação: 2022-04-04 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Região de Coimbra
 
Identificação do problema ou oportunidade
A iniciativa Cogumelos do “Prado ao Prato” pretende contribuir para a expansão do cultivo sustentável de cogumelos (CSC), Pleurotus ostreatus (PO) e Hericeum erinaceus (HE), como alimento saudável sustentável e acessível a partir da valorização de recursos agro-florestais. Para tal, incorporará e conjugará competência e experiência científicas e técnicas no domínio da micologia, biomedicina, comunicação, produção de cogumelos, agricultura e floresta.
No decorrer do projeto, serão testadas e desenvolvidas formulações de resíduos agrícolas e florestais (RAF) à base de palha de arroz seca, resíduos de outras atividades agroalimentares da região e biomassa florestal, que potenciem o crescimento e frutificação de cogumelos. Perspetiva-se a identificação de fatores de crescimento e frutificação críticos e a avaliação de índices de eficiência biológica e das propriedades nutricionais e funcionais, com base nas formulações RAF testadas. Os resultados permitirão o estabelecimento de protocolos padronizados das melhores formulações de RAF para os melhores produtos (micélio e cogumelos). 
A monitorização das melhorias quantitativas e qualitativas de produção, será acompanhada pela análise das soluções atualmente existentes (benchmarking) e por uma avaliação económica das melhores formulações testadas, de forma a confirmar (o expectável) aumento de rendimento dos produtores de cogumelos. Perspetiva-se, ainda, que esta análise económica possibilite a definição do valor dos RAF, de forma a quantificar corretamente os valores a remunerar aos produtores agrícolas e florestais, pelo fornecimento dos RAF.
A informação obtida neste projeto será usada na transferência de conhecimento técnico (e científico) para o cultivo sustentável de cogumelos a partir da valorização dos RAF, a agentes do sector, por exemplo, produtores (de cogumelos, agrícolas e florestais), técnicos, jovens agricultores e agricultoras. Perspetiva-se que a capacitação técnica (e científica) para o CSC, através da sensibilização dos benefícios do consumo de cogumelos de elevado valor nutricional e funcional para a saúde humana e impacto num sistema alimentar mais sustentável, fará aumentar a atratividade e competitividade desta atividade.
De forma a promover a inclusão e integração dos agentes do sector nas regiões, serão promovidas ações de cariz técnico (cursos, seminários, workshops), que serão adaptadas a públicos-alvo específicos e em função da atividade agrícola, silvícola, comercialização ou agro-indústria que desenvolvem.
Serão ainda promovidas ações de sensibilização e de cariz informativo e educativo junto dos consumidores e da população em geral (incluindo os mais jovens), sobre os benefícios do consumo regular de cogumelos para uma dieta nutricionalmente equilibrada e funcional e o enorme potencial de integração dos cogumelos na DM.
Através desta iniciativa, dadas as características do produto, nomeadamente a perecibilidade dos cogumelos frescos, será promovido o consumo dos produtos nacionais, de produção local e comercializados através de circuitos curtos. A operacionalização deste projeto e a concretização dos seus objetivos contribuirá, ainda, para a educação da sociedade tendo em vista uma alimentação mais saudável e mais sustentável e, através do seu exemplo, para o combate ao desperdício alimentar e à promoção da circularidade de produtos pela (re)utilização de subprodutos de outras fileiras e criação/aumento de valor dos mesmos.
 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Cogumelos do “Prado ao Prato” visa a produção de cogumelos de elevado valor (de base biológica nutricional e funcional) a partir da valorização de recursos agrícolas e florestais (RAF), com o objetivo de promover uma dieta saudável e sustentável, melhorar a circularidade e a sustentabilidade dos sistemas de produção agro-florestal e reduzir o seu impacto ambiental. Isso inclui avaliar as propriedades bioativas em cogumelos (micélio e substratos esgotados) cultivados a partir de formulações de RAF específicas, bem como definir os protocolos padronizados para o cultivo sustentável de cogumelos (CSC) com propriedades nutricionais e funcionais superiores. E inclui sensibilizar Cogumelos do “Prado ao Prato” enquanto base de uma Dieta Mediterrânica (DM), mais saudável e sustentável, junto dos agentes do sector, consumidores e população em geral (incluindo os mais jovens).

CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE PARTIDA

TERRITÓRIO
Em Portugal -e no mundo-, os subprodutos e resíduos da produção agro-florestal são integrados em cadeias de valor curtas com pouca valorização, ou não são valorizados. Na Região Centro, por exemplo, 1) a palha de arroz produzida no Baixo Mondego (pouco nutritiva para alimentação animal) é queimada no local, sem grande ganho para os produtores ou para os ciclos naturais e constitui uma fonte de emissão de gases com efeito de estufa (GEE); 2) a biomassa florestal resultante da exploração florestal é habitualmente incinerada (o que inclui a prevenção de incêndio), com emissões GEE e prejuízo para a qualidade do ar e ambiental.
No Baixo Mondego os arrozais ocupavam, em 2020 e de acordo com dados do Instituo Nacional de Estatística (INE), uma área de 6 461 ha, constituindo um potencial de 40 000 toneladas de palha seca. A incorporação de palha de arroz em formulações de RAF e uma eficiência biológica (EB) de 30% no cultivo de cogumelos, contribuirá para melhorar as propriedades nutricionais e funcionais e duplicar a produção e venda de Pleurotus ostreatus (PO, 3 euros), para ~55 000 000,00€. Por outro lado, a Região Centro tem cerca de 638 562 há de floresta, o que poderá traduzir-se num potencial de 850 000 toneladas de biomassa. Um cenário de EB de 30% e 85 000 toneladas de biomassa (1/10 da biomassa disponível), corresponde a uma produção de cerca de 25 500 toneladas de PO, o que representa um volume de negócios de ~75,000 000,00 euros.

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
O consumo habitual de cogumelos tem impacto positivo na prevalência de obesidade, diabetes, doença do fígado gordo não alcoólico, entre outras doenças metabólicas e neurodegenerativas (https://doi.org/10.1111/eci.13667). A crescente evidência dos benefícios dos cogumelos para a saúde humana tem contribuído para o aumento do consumo, que quase quintuplicou em duas décadas (passou de 1,0 kg em 1997 para 4,7 kg per capita em 2013; https://doi.org/10.1002/9781119149446.ch2). Apesar de presentes na dieta da bacia do Mediterrâneo desde a antiguidade, falta integrar os cogumelos como componente essencial da DM.
Os cogumelos Pleurotus ostreatus (PO) e Hericeum erinaceus (HE) são ambos comestíveis e medicinais, reconhecidos como recicladores naturais. Cerca de 19% da produção mundial de cogumelos foi atribuída ao PO, já entre as espécies cultivadas em franco crescimento destaca-se o HE (https://doi.org/10.1002/9781119149446.ch2). No entanto, faltam os protocolos padronizados com propriedades nutricionais e funcionais e as especificações para o seu cultivo sustentável.
 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
Cogumelos do “Prado ao Prato” reúne uma equipa nacional, com cooperação internacional, no domínio da micologia, biomedicina, comunicação, produção de cogumelos, gestão e produção agro-florestal. O Plano de Ação a desenvolver inclui a realização de atividades (A), durante um período máximo de 36 meses (M1-M36), que reflete as sinergias entre a entidade coordenadora (UC) e os sete parceiros: Fungiperfect, Growing details, Floresta Jovem, PINHAL MAIOR –Associação de Desenvolvimento do Pinhal Interior Sul, Associação de Produtores Florestais – Organização Florestal Atlantis (OFA), Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), Instituto Molecular de Toxicologia e Farmacologia (HMGU, Alemanha), e cujas responsabilidades serão atribuídas em função das competências e experiências científicas e técnicas:
A1 (M1-M30): Investigação industrial para o cultivo sustentável de cogumelos Pleurotus ostreatus (PO) e Hericeum erinaceus (HE) a partir desenvolvimento das formulações de resíduos agrícolas e florestais (RAF) específicas (Responsabilidade: UC, Fungiperfect, OFA)
A2 (M1-M24): Análise dos custos dos substratos utilizados atualmente - Benchmarking (Responsabilidade: UC, Fungiperfect, OFA)
A3 (M1-M33): Avaliação das propriedades nutricionais e funcionais de PO e HE (em micélio, cogumelos e substratos) padronizados para o cultivo sustentável de cogumelos (Responsabilidade: UC)
A4 (M1-M36): Identificação das áreas alvo para recolha de RAF de acordo com a sua constituição (espécies) e da tipologia de uso do solo; serão considerados testes com palha de arroz biológico (Responsabilidade: OFA, DRAPC, Fungiperfect e PINHAL MAIOR)
A5 (M3-M36): Análise dos melhores métodos de recolha, processamento e transporte de RAF (Responsabilidade: OFA, Fungiperfect, Nova floresta e PINHAL MAIOR)
A6 (M3-M36): Avaliação económica dos custos de recolha RAF (Responsabilidade: OFA, Nova floresta e Fungiperfect)
A7 (M6-M36): Especificações, requisitos e protocolos padronizados para o cultivo sustentável de cogumelos de elevado valor nutricional e funcional, a partir das formulações de RAF selecionadas (Responsabilidade: UC, Growingdetails, Fungiperfect, OFA)
A8 (M6-M36): Transferência de conhecimento e capacitação técnica para o cultivo sustentável de cogumelos enquanto alimento saudável, sustentável e acessível (o que inclui os cogumelos como constituintes da DM), junto de agentes do sector, nomeadamente jovens agricultores e agricultoras, produtores e técnicos agrícolas (Responsabilidade: DRAPC, em articulação com todos parceiros); produtores de cogumelos (Responsabilidade: Fungiperfect, Growingdetails e UC, em articulação com todos parceiros); produtores e técnicos florestais (Responsabilidade: OFA e PINHAL MAIOR).
A9 (M6-M36): Sensibilização para o consumo de cogumelos enquanto alimento saudável, sustentável e acessível, incluindo o combate ao desperdício alimentar, junto de consumidores e população em geral com foco nos mais jovens (Responsabilidade: UC, em articulação com todos parceiros)
A10 (M6-M36): Comunicação e  disseminação dos resultados (Responsabilidade: Todos os parceiros)
A11 (M1-M36): Gestão do Projeto. A proposta terá um plano de proteção de propriedade intelectual. (Responsabilidade: UC, em articulação com todos parceiros).
 
Interlocutor: Anabela Marisa Azul   Email interlocutor: amjrazul@ci.uc.pt   Email entidade: dapi@uc.pt