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RochaProtect: Nova formulação antifúngica para uma produção mais sustentável da pera Rocha do Oeste (ID: 270 )
Coordenador: INIAV - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.
Iniciativa emblemática: 1. Alimentação sustentável
Data de Aprovação: 2022-04-04 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Centro NUTS III: Oeste
Identificação do problema ou oportunidade
A pera Rocha do Oeste foi reconhecida em 2003 como Denominação de Origem Protegida, selo da União Europeia que certifica a qualidade e tradição de produtos alimentares e agrícolas. A área da produção da pera Rocha do Oeste atingiu cerca de 10 mil hectares e é hoje a campeã da fruta portuguesa no que toca às exportações. Em média, os associados da ANP (Associação Nacional dos Produtores de Pera Rocha) colhem cerca 200 toneladas de pera por ano. Contudo, a sustentabilidade da produção da pera rocha nacional é ameaçada nas últimas décadas por uma praga conhecida como doença das manchas castanhas, a estenfiliose, causada pelo fungo Stemphylium vesicarum. Em Portugal, embora já tivessem sido anteriormente observados sintomas semelhantes, a presença da doença só é confirmada em 1996. Inicialmente detetada de forma localizada a doença rapidamente se expandiu, assumindo um carácter epidémico na região do Oeste e tornando-se em muitos pomares de pera Rocha uma doença chave. A estenfiliose ataca as folhas e os frutos da fileira da pera Rocha. As manchas têm tendência para invadir toda a folha, causando a sua dessecação e queda; nos frutos, surgem nas faces mais expostas ao sol e vão alastrando a todo o fruto se as condições climatéricas forem favoráveis à proliferação da doença. Também presente no pomar na altura da floração, as infeções pelo fungo S. vesicarium podem ocorrer nas flores. E quando há condições favoráveis de temperatura e humidade, o fungo desenvolve-se, as infeções aumentam, levando, por vezes, à queda dos frutos. O fungo sobrevive a condições adversas na forma de pseudotecas que se formam nas folhas e nos frutos infetados que ficam nos solos dos pomares. Dependo das condições ambientais, os ascósporos são libertados e dispersos pelo vento e pela chuva (de fevereiro a junho), causando as infeções primárias. O papel principal dos ascósporos é o de colonizar os resíduos vegetais existentes nos solos e produzir conídios. Sempre que se verifiquem condições favoráveis, estes conídios irão infetar quer as folhas, quer os frutos. Os conídeos estão presentes nos pomares em maior quantidade no verão (julho a setembro) De realçar, que os prejuízos provocados pelo fungo não se resumem unicamente à perda de produção dos fruticultores no pomar e ao aumento dos custos de produção provocado pelo maior número de tratamentos fitossanitários, mas também, ao custo associado à maior escolha dos frutos à colheita e durante a conservação e processamento nas centrais de armazenamento. O prejuízo é ainda social devido à quebra de rendimento, redução da qualidade de vida dos produtores e diminuição do emprego nas zonas de produção. A estenfiliose tem-se mostrado uma doença de difícil combate, pois não se conhecem ainda as condições ótimas para o desenvolvimento do fungo e não existem fungicidas no mercado com ação curativa total. Apesar, da tentativa do uso de uma abordagem integrada e na grande maioria empírica, que inclui medidas preventivas com vista à redução do inóculo nos pomares, completados com a luta química esta abordagem tem-se mostrado ineficaz. Tratando-se a pera Rocha da variedade autóctone de frutas com maior importância económica nacional e, estando o seu futuro claramente comprometido pelo aumento significativo das perdas causadas pelo fungo S. vesicarium, estimadas em cerca 85 mil toneladas e 35 milhões de euros nos últimos anos, a mitigação deste fungo assume-se prioridade nacional.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
O principal objetivo de RochaProtect é o desenvolvimento uma nova formulação antifúngica, à base de compostos naturais e de moléculas antisense, capaz de controlar a proliferação do fungo S. vesicarium e assim, contribuir para a redução das perdas económico-sociais existentes na fileira da pera Rocha provocadas pela doença estenfiliose. A RochaProtect complementa o Plano de Ação para Controlo da Estenfiliose (PACE) liderado pelo grupo de trabalho do INIAV e pretende encontrar uma solução estável a médio prazo que viabilize a sustentabilidade da pera Rocha do Oeste. O plano de I&I está organizado em 7 tarefas: 1)Gestão e coordenação 2)Levantamento da distribuição e da eficiência no controlo; 3)Obtenção de compostos bioativos de subprodutos agroalimentares; 4)Desenho de oligômeros antisense; 5)Definição da formulação antifúngica e avaliação laboratorial; 6) Avaliação do efeito antifúngico em pomar; 7)Comunicação, formação e disseminação. A tarefa 1 está inteiramente dedicada à gestão e coordenação do projeto para garantir que cada etapa seja concluída dentro do prazo e do orçamento. A tarefa 2 alinhada com o PACE tem como objetivos: a) Monitorizar a predominância da doença; b) Demonstrar a eficácia de tratamentos empíricos; d) Criar uma coleção de fungos e) Demonstrar a eficácia da nova formulação. Com intuito de desenvolver um produto eficaz contra S. vericarium duas abordagens serão realizadas. Iremos procurar compostos bioativos em subprodutos agroalimentares recorrendo a técnicas de extração Amigas do Ambiente (tarefa 3). Simultaneamente, serão desenvolvidos oligômeros antisense (OAS; tarefa 4). Os OAS, são ácidos nucleicos que reconhecem o mRNA de genes alvo, que neste projeto serão usados para bloquear genes essências à proliferação do fungo. Na tarefa 5, a bioatividade dos extratos e atividade das moléculas antisense serão testadas em laboratório em peras infetadas. Acreditamos que os produtos resultantes das duas bordagens nos permitirão desenvolver uma formulação antifúngica com perfis de atividades complementares e assim mais eficiente. No final desta tarefa um produto capaz de controlar in vitro a proliferação do fungo terá sido desenvolvido. Na tarefa 6, a formulação será testada inicialmente em pomares controlados para permitir estabelecer a relação causa efeito do tratamento e posteriormente em ambiente de pomar aberto. Tendo consciência da importância de informar e formar na consciencialização dos agricultores e dos consumidores para as temáticas prementes de sustentabilidade, durante a tarefa 7 pretende-se criar veículos de comunicação direta com estes e os Stakeholders. Serão realizadas formações sobre praticas agrícolas sustentáveis, soluções circulares em hortifruticulturas e a relevância da dieta mediterrânica na valorização das cadeias curtas de consumo. Em linha com os objetivos estratégicos, pretende-se consolidar e expandir a ligação sinergética e de progresso entre o tecido empresarial da pera Rocha e o sistema científico e tecnológico em Portugal. Em particular pretende ajudar a atingir os seguintes objetivos: i) uma população mais saudável, através da promoção de um sistema da produção da pera Rocha mais sustentável; ii) a criação de condições para o aumento do rendimento dos produtores da pera Rocha, tornando esta atividade agrícola mais rentável; iii) uma produção da pera Rocha mais resiliente, que proteja o ambiente com redução do uso de fitoquímicos, e assegure a sustentabilidade dos recursos água, solo e biodiversidade.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
O RochaProtect, liderado pelo INIAV, de forma a garantir o cumprimento dos seus objetivos é constituído por parceiros com uma vasta gama de experiência em áreas complementares. O INIAV, é o Laboratório do Estado do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, que desenvolve atividades de investigação na área agrária com vasta experiência na área das hortofrutícola, e que fornece serviços laboratoriais de apoio aos agricultores e à indústria realizando análises oficiais nas áreas da Saúde Vegetal. O INIAV é constituído por vários polos, especializados em diferentes áreas de conhecimento relevantes para esta proposta, destacando-se o Polo de Inovação de Vairão (PIV), o Polo de Inovação de Alcobaça (PIA) e o Polo de Inovação de Oeiras (PIO). O PIV, localizado em Vila do Conde, é um ecossistema diferenciado na área da alimentação, com especial realce para o desenvolvimento de produtos de valor acrescentado. Agrega colaboradores com competências transversais na área da microbiologia, biologia molecular, e conceção de mímicos de ácidos nucleicos. Assim, será da responsabilidade do PIV o desenvolvimento de um produto baseado na tecnologia antisense capaz de bloquear genes essências à proliferação de S. vericarium. O PIO, localizado em Oeiras, integra a Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Sistemas Agrários e Florestais e Sanidade Vegetal e assume competências na área de Sanidade Vegetal. No PIO desenvolvem-se atividades de I&D diferenciadas na implementação e desenvolvimento de metodologias para o diagnóstico fitossanitário. Como coordenador do PACE, o PIO será a identidade responsável pela monitorização do fungo no RochaProtec. O PIA, localizado na região de Alcobaça da qual faz parte a Estação de Fruticultura Vieira Natividade, é especializado nas áreas da produção e conservação de produtos frutícolas, mantendo uma forte ligação com os agentes do setor hortofrutícola. Agrega elementos com elevada experiência no setor da aplicação e distribuição de produtos fitofarmacêuticos, instalação de pomares de alta densidade, e cabe-lhe a responsabilidade da realização da testagem dos produtos desenvolvidos em pomóideas. Sendo um dos principais objetivos do RochaProtec o desenvolvimento de um produto fitoterapêutico, junta-se ao consórcio um grupo especializado, da Universidade do Minho em técnicas de extração compostos naturais por Química Verde de subprodutos indústria agroalimentar. Sendo a objetivo basal desta proposta a criação de melhores condições para o aumento do rendimento dos produtores da pera Rocha faz parte do consórsio a Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha, 2 PMEs produtoras (JDR&Filhos e Frubaça), o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional, e o grupo de ação local-LeaderOeste. O Cola4food, sediado em nas instalações do PIV, é uma associação de I&I do setor agroalimentar português, e fará a interface entre a indústria produtora de Pera Rocha e os centros de I&D, promovendo a informação e a formação como veículo de consciencialização dos agricultores e dos consumidores para práticas sustentabilidade na fileira da pera Rocha do Oeste.
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