Bolsa de Iniciativas PRR

 

ConsuMED – Promover a adesão à Dieta Mediterrânica através da ativação de circuitos curtos adaptados à produção e ao consumo no Alentejo (ID: 276 )
Coordenador: Universidade de Évora
Iniciativa emblemática: 1. Alimentação sustentável
Data de Aprovação: 2022-04-04 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Alentejo NUTS III:  
 
Identificação do problema ou oportunidade

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas apontam a necessidade de garantir o acesso a alimentos seguros e nutritivos para todos (ODS 2) e a mudança para padrões de produção e consumo sustentáveis (ODS 12). É essencial combater a escassez de alimentos e garantir o acesso a alimentos em quantidade e qualidade, capazes de suprir as necessidades nutricionais e de bem-estar. 

No atual contexto de alterações climáticas, os alimentos devem chegar aos consumidores através de sistemas justos que assegurem os 3 pilares da sustentabilidade – ambiental, económica e social – alinhando com os princípios da estratégia “Farm to Fork” da Comissão Europeia (2020). 

Em Portugal, a Dieta Mediterrânica (DM) apresenta-se como o regime alimentar que melhor cumpre estes requisitos. Reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial, é considerada pela FAO uma dieta saudável e sustentável. Com uma base essencialmente vegetal, a DM é marcada pelo consumo sazonal de produtos de origem local, confecionados de forma simples, características que vão de encontro às bases da Dieta Planetária, proposta pelo grupo de peritos da EAT-Lancet (2019). 

Apesar de Portugal ser considerado culturalmente um país de DM, dados da DGS (2020) mostram que apenas 26% dos portugueses têm elevada adesão a este padrão alimentar. Dados recentes, resultantes de investigação desenvolvida pela UÉ para a população adulta do Norte Alentejano, revelam valores ainda mais baixos. As hortícolas e leguminosas são os grupos de alimentos em que há maior dificuldade em atingir as recomendações, com cerca de 80-90% dos adultos ativos, desta região, a não o conseguirem. O relatório da DGS refere que os consumidores apontam a baixa palatabilidade destes alimentos e o desconhecimento sobre as formas de os confecionar como causas para o baixo consumo. 

Mas a origem desses alimentos não é indiferente. Os sistemas alimentares locais apresentam modos de produção e distribuição ambientalmente mais sustentáveis e são social e economicamente mais justos. Os Circuitos Curtos Agroalimentares (CCA), baseados na transação de produtos locais diretamente entre consumidor e produtor, têm a vantagem de reduzir o impacto ambiental no transporte, armazenamento, transformação e embalagem. São, também, motores essenciais de promoção da economia local e dos produtos endógenos, permitindo o reconhecimento social dos produtores e da sua atividade. Para que os CCA se desenvolvam, e sejam uma opção real para o consumidor, têm que ser traçados planos que permitam aumentar a atratividade da atividade agrícola junto de jovens produtores, o que só acontecerá com ações que ajudem as empresas a inovar e a tornarem-se mais rentáveis e competitivas. A iniciativa ConsuMED desenvolverá investigação que permitirá: i) caracterizar, de forma aprofundada consumidores e produtores; ii) inovar a nível dos produtos; iii) avaliar os melhores modelos de negócio; iv) promover a educação para o consumo. 

A necessidade de promover o consumo de alimentos de base vegetal e a saúde de forma ambientalmente sustentável, é uma oportunidade para o (re)descobrir de produtos, novas utilizações e formas de transformação, promovendo a biodiversidade e consequentemente a DM, através de CCA. Para isso, será fundamental conhecer as preferências e as necessidades dos consumidores, assim como os principais desafios e oportunidades dos produtores, de modo a desenhar ações eficazes que aproximem estes dois atores.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A baixa adesão à DM no Alentejo, conjuntamente com o elevado número de doentes crónicos (obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares) e as características da região (ameaças à sustentabilidade pelo aumento de área de agricultura intensiva, escassez periódica de água, necessidade de regeneração dos solos, desertificação e saída de jovens para os centros urbanos), justificam um projeto focado na mesma. Mais ainda, tendo em conta a diversidade do território, especialmente no que à produção diz respeito. O objetivo do presente trabalho é: identificar e validar mecanismos de inovação que permitam aumentar o nível de adesão à DM, através da ativação de circuitos curtos agroalimentares, adaptados ao potencial da região, e co-construir estratégias e soluções eficazes para aumentar a oferta e promover uma maior adesão por parte dos consumidores. 

Para promover alterações efetivas nos comportamentos é necessário conhecer aprofundadamente o que os motiva. A primeira Tarefa (T1) deste projeto consistirá em avaliar o consumidor face aos hábitos e conhecimentos alimentares, indo para além da tradicional avaliação de hábitos alimentares com base em grupos nutricionais, detalhando em termos de espécies vegetais e variedades conhecidas, consumidas e seus modos de confeção, assim como o desperdício. Serão, também, avaliadas as principais dificuldades para um consumo mais diversificado de alimentos e os fatores/oportunidades para a mudança (ex. preferências sensoriais, fatores socioeconómicos, psicológicos, literacia, etc.), em grupos-alvo de diferentes fachas etárias (crianças, jovens e adultos). 

A T2 destinar-se-á a avaliar o produtor, continuando o trabalho de reconhecimento e caracterização das micro, pequenas e médias empresas da região, iniciado em projetos anteriores da UÉ (SALSA, Km0, ...), e das entidades parceiras, focando o perfil do produtor e o tipo de práticas mais, ou menos, sustentáveis (ex. modo de produção biológica, integrada, ...). Nesta tarefa será feita uma avaliação das principais dificuldades que os produtores enfrentam para chegar ao mercado. Serão comparadas as diferentes regiões do Alentejo. 

Na T3, de forma a promover os produtos vegetais endógenos, com potencial de produção e rendimento para o produtor, garantindo a segurança, a qualidade e a atratividade para o consumidor, serão realizados estudos para: 1) identificar e caracterizar os tipos de produtos mais produzidos e como se distribui essa produção, por épocas do ano e por regiões;  2) desenvolver novos produtos e/ou novas utilizações e formas de transformação para produtos considerados pouco apelativos para o consumidor, fomentado a retro inovação e combatendo o desperdício alimentar.  

Um dos problemas atuais é a ausência de modelos de negócio para estes produtores, realidade que será trabalhada na T4, tendo por base os resultados obtidos nas tarefas anteriores. A T5 será destinada a ações de disseminação de 2 tipos: 1) ações que visam comunicar os resultados do projeto; 2) ações que visam fomentar a educação para o consumo, destinadas a crianças/escolas, estudantes universitários e público em geral. O impacto dessas ações será monitorizado, no sentido de testar a sua eficácia (e/ou necessidades de ajustes) e potencial de replicação no futuro. A grande inovação, desta iniciativa, assenta num conhecimento aprofundado que permita colocar os diversos atores do sistema em diálogo.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Sendo a região do Alentejo uma região que cobre uma grande área do território nacional, pouco povoada, com características muito específicas e, ao mesmo tempo, muito diversas, particularmente ao nível da produção, o presente opta por focar esta região. Estão incluídas as áreas geográficas do Alentejo Norte, Central, Baixo e Litoral.

O projeto será liderado pela Universidade de Évora (UÉ), a qual detém, desde 2013, a Cátedra UNESCO em Património Imaterial e Saber-Fazer Tradicional da Universidade de Évora, cujo contributo para as T3 e T5 é essencial. Contará ainda com as duas outras instituições de Ensino Superior do Alentejo (Instituto Politécnico de Beja - IPBeja e Instituto Politécnico de Portalegre - IPP). Terá ainda a participação do Grupo de Ação Local Associação Terras Dentro, da Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL), da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), da empresa Terrius, da empresa MARE S.A., da Associação Confraria Gastronómica do Alentejo e da Associação de Produtores de Figo da Índia Portugueses.

Para além destas, duas instituições de Ensino Superior não pertencentes à região Alentejo (Escola Superior de Tecnologias da Saúde, do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL) e Universidade Católica Portuguesa (UCP), participam nesta candidatura, dadas as suas competências específicas, quer na realização de estudos de comportamento do consumidor alimentar em ações específicas de promoção/educação aplicada a grupos particulares. No caso do IPL, as competências em Ciências da Nutrição são fundamentais para o as ações ligadas ao desenvolvimento de competências culinárias, previstas na T5. A Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPAL), apoia a presente candidatura, sendo parceiro informal.

Participação de cada entidade nas diferentes tarefas (T):

T1 – Caracterização do consumidor e avaliação das principais barreiras e oportunidades para aumentar a adesão à DM através da aquisição de produtos em CCA – UÉ, IPP, IPBeja, UCP

T2 – Caracterização dos produtores de CCA e avaliação das principais barreiras e oportunidades na produção e comercialização dos produtos de origem vegetal. – UÉ,Terras Dentro, IPP, IPBeja, Associação de Produtores de Figo da India Portugueses, MARE S.A. (A DRAPAL apoiará a realização desta tarefa, através do conhecimento dos produtores da região Alentejo.

T3 – Caracterização dos produtos originários de CCA e desenvolvimento de novos produtos/novas utilizações – UÉ, Terrius, Confraria Gastronómica do Alentejo, IPB

T4 – Avaliação e Desenvolvimento de modelos de negócio para CCA -

T5 – Ações de Comunicação e Disseminação – UÉ, IPBeja, IPP, IPL, Associação de Produtores de Figo da Índia Portugueses, Terras Dentro, CCDRA, ADRAL, Terrius, MARE S.A.

Nota – A MARE S.A., encontra-se a aguardar a confirmação do registo como membro na Rede Rural Nacional, tendo o mesmo sido já submetido.

 
Interlocutor: Elsa Lamy   Email interlocutor: ecsl@uevora.pt   Email entidade: investigar@scc.uevora.pt