|
Organização da agricultura familiar para processos digitais de desenvolvimento de circuitos curtos agroalimentares (ID: 301 )
Coordenador: IPC/ESAC - Instituto Politécnico de Coimbra - Escola Superior Agrária de Coimbra
Iniciativa emblemática: 10. Excelência da organização da produção
Data de Aprovação: 2022-04-27 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III:
Identificação do problema ou oportunidade
O processo de globalização e industrialização da agricultura e da alimentação humana tem vindo a marginalizar os agricultores familiares, setor fundamental para a manutenção da sustentabilidade dos territórios e sociedades rurais. Em Portugal, muitos destes territórios entraram em desvitalização e abandono, sobretudo nas regiões do interior; os agricultores familiares, sem dimensão económica ou capacidade para competir com a agricultura industrial, abandonaram ou reduziram ao mínimo a sua atividade. Vastas áreas do território, outrora ocupadas por agricultura, foram convertidas em zonas de produção florestal, em sistema de monocultura, com espécies de crescimento rápido e muito vulneráveis aos riscos ambientais. Ainda assim, alguns agricultores familiares, ganhando escala, foram convertidos em “operários de indústrias de transformação” e em “consumidores de fatores de produção”, sobretudo agroquímicos, sobrevivendo a custo. Com a industrialização da produção e a concentração da distribuição alimentar, os preços pagos aos produtores sofreram reduções consideráveis, o que tornou muito difícil a sobrevivência das explorações familiares. Definimos agricultura familiar com um critério clássico para o seu enquadramento: a origem do trabalho utilizado nas explorações agrícolas. Pode considerar-se que no sector da agricultura familiar, mais de 50% da mão de obra utilizada nas explorações é assegurada por elementos da família. Estas explorações apresentam uma dimensão económica relativamente reduzida e os seus proprietários são, muitas vezes, pluriativos e dependem dos apoios do sector, de sistemas locais tradicionais de entreajuda e de transferências dos sistemas de segurança social. A agricultura familiar é uma atividade que apresenta alguma “invisibilidade” e que, muitas vezes, é desconsiderada pelas políticas que enquadram o sector, nomeadamente os apoios de origem comunitária. Um dos aspetos cruciais da sustentabilidade dos sistemas de produção familiar é o acesso ao mercado. Nas últimas décadas, o retalho alimentar sofreu grandes mudanças, sobretudo com a abertura dos mercados por efeito da entrada de Portugal na (então) Comunidade Europeia e com a entrada em cena das grandes empresas de distribuição; isto levou ao encerramento do pequeno retalho; este processo iniciou-se na década de 80 do século passado nas zonas mais urbanas e no litoral; mais tarde chegou às zonas rurais do Interior. Mais recentemente a grande distribuição iniciou processos de comercialização de produtos locais, seja através da organização de grupos de produtores, seja pela absorção de pequenas produções de proximidade. Estas iniciativas são seguramente interessantes e surgem como resposta a uma mudança nos consumidores que valoriza a produção nacional/local, mas, mais recentemente, visa sobretudo, minimizar o risco de rupturas no abastecimento e cenários de prateleiras vazias. Mas não se espera que a lógica industrial da distribuição valorize a produção local no longo curso, pelo que é absolutamente necessário colocar em prática estratégias alternativas. Neste contexto, a possibilidade de desenvolvimento de estratégias de circuitos curtos abre a possibilidade para o escoamento da produção familiar de forma competitiva, garantindo preços justos para os agricultores e consumidores, através de um processo de racionalização da distribuição que envolverá, necessariamente, a eliminação de intermediários em excesso. Permite também que os consumidores possam aceder à produção local e sazonal, contribuindo desta forma para a diminuição da pegada ecológica e para a mitigação das alterações climáticas. Esta lógica enquadra-se na nova estratégia do “Prado ao prato” que está no centro do novo European Green Deal. E, como entende a União Europeia, “novas tecnologias e descobertas científicas, combinadas com o aumento da consciência pública e da procura por alimentos sustentáveis, irão beneficiar todas as partes interessadas”.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Este projeto visa construir um
sistema apoiado em tecnologia digital que viabilize e otimize circuitos curtos
em grupos constituídos por agricultores familiares e consumidores, de forma que
os produtores recebam uma remuneração justa, que haja transparência no processo de comercialização e que os sistemas alimentares territoriais sejam valorizados. Trata-se de um
sistema que recria, virtualmente, os antigos mercados de rua e mercearias de
esquina. Pretende-se desenvolver um sistema digital open source que permitirá agregar a produção e encurtar os circuitos de comercialização, organizando a produção familiar, a distribuição, o transporte e a entrega (Objetivo Operacional 1) . No processo logístico, que incluirá técnicas de inteligência artificial e tecnologia da IoT, serão envolvidas as organizações de agricultores de forma a rentabilizar infraestruturas locais pré-existentes, como armazéns e centros logísticos e de transporte (Objetivo Operacional 2). O sistema desenvolvido e terá as seguintes características: · B2C - Market Creator - onde os agricultores familiares se inscrevem com o objetivo de vender os seus produtos beneficiando assim do fator de escala providenciado pela cooperativa de plataforma. Um consumidor terá 2 opções: ou escolhe os produtos que deseja no catálogo tendo em conta o agricultor preferido, ou, escolhe os produtos disponíveis, independentemente do produtor. No primeiro caso, caso um consumidor deseje adquirir um produto cuja quantidade não possa ser disponibilizada pelo agricultor que escolheu, o sistema agrega automaticamente produtos de outros agricultores para apresentar a oferta possível. Serão, assim, usados algoritmos inteligentes para que o sistema possa conjugar as quantidades, a diversidade e o centro logístico a que estão agregados os agricultores em questão, de forma a dar resposta ao pedido de cada consumidor. · B2C - Community Provider: onde os agricultores com o seu perfil comunicam
com a comunidade (parceiros e consumidores) de uma forma bidireccional. · B2B - E-procurement - onde os agricultores acedem a um espaço virtual de procurement, onde os players serão eles mesmos (podem vender entre eles) ou
ainda organizações interessadas em revender. Este mercado dará a possibilidade de agregação entre agricultores na compra, para poderem beneficiar do fator de escala. A tecnologia será tornada acessível através da criação de um “kit de implantação de comunidades de produtores-consumidores", o qual facilitará a iniciativa das organizações de produtores que queiram aderir ao sistema (L.A. 10.2 e Objetivo Operacional 2). Para garantir a sustentabilidade do sistema após o termo do projeto, será estudado o enquadramento legal mais apropriado à constituição de uma entidade (seja uma nova cooperativa ou um consórcio de organizações já existente, entre outras possibilidades) que, após terminado o projeto, se mantenha no terreno a fornecer suporte tecnológico a novas comunidades que desejem implantar-se no terreno (L.A.10.5). Esta nova entidade terá como missão o fornecimento desta tecnologia em SaaS (Software as a Service). No âmbito do projeto serão
implementados 2 projetos pilotos em regiões distintas de Portugal, abrangidas
pelos parceiros: Cascais e Faro. Os projetos piloto servirão para avaliar o
sistema desenvolvido, produzir guias para a implementação de novas iniciativas
e divulgar a metodologia junto de organizações de produtores potencialmente
interessadas em adotá-la (L.A. 10.2).
Todo este processo organizacional,
assente na transformação digital, constitui uma forma inovadora de concentração
e distribuição dos produtos da pequena agricultura familiar, particularmente
adaptado aos agrupamentos de produtores multiprodutos, capazes de fornecer ao
longo de todo o ano a diversidade de produtos que este sistema exige (L.A. 10.5 e Objetivo Operacional 1).
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
Instituto Politécnico de Coimbra - Centro de Estudos em Recursos
Naturais e Sociedade (CERNAS)
- Gestão do projeto
- Definição dos modelos de
circuitos curtos
- Conceção do manual de
implantação
- Organização e participação em
ações de disseminação
Instituto Politécnico do Porto - Centro de Estudos Organizacionais e
Sociais do Politécnico do Porto
- Enquadramento legal das atividades realizadas na
plataforma, da nova organização que fornece o SaaSe assim como o plano de
sustentabilidade do novo serviço
- Definição do modelo de negócio,
desenvolvimento da marca
- Conceção do sistema de
informação
- Definição e organização das
atividades de logística
Universidade do Minho - Centro Algoritmi
- Instalação das infraestruturas
tecnológicas
- Instalação de tecnologia;
- Desenvolvimento de aplicações
informáticas
Centro de Competências da Agricultura Familiar e Agroecologia (CeCAFA),
representada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA)
- Identificação de requisitos da
ferramenta
- Organização da logística
- Organização da comunidade de
agricultores
- Participação em ações de
disseminação
Cascais Ambiente
- Identificação de requisitos da
ferramenta
- Conceção do manual de
implantação
- Organização de comunidades de
consumidores
- Participação em ações de
disseminação
Instituto Politécnico de Bragança - CIMO
- Identificação de requisitos da
ferramenta
- Conceção do manual de
implantação
- Organização de comunidades de
consumidores
- Participação nas ações de
disseminação
In Loco
- Organização de comunidades de
consumidores
- Conceção do manual de
implantação
- Participação nas ações de
disseminação
New Organic Planet
- Participação no projeto piloto
- Participação nas ações de
disseminação
Dream Baler, Lda
- Participação na identificação
de requisitos da ferramenta
- Participação no projeto piloto
|
|
|