Bolsa de Iniciativas PRR

 

Harmonização da monitorização de zoonoses, doenças da via alimentar e RAM em populações cinegéticas e mitigação do risco no contexto Uma Só Saúde (ID: 305 )
Coordenador: UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Iniciativa emblemática: 2. Uma Só Saúde
Data de Aprovação: 2022-09-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Beira Baixa
 
Identificação do problema ou oportunidade

Estima-se que 60% dos agentes patogénicos humanos emergentes são zoonóticos e, destes, mais de 70% têm origem na fauna selvagem, na qual se inclui a caça. De facto, o contexto epidemiológico em torno da atividade cinegética, nomeadamente a gestão das populações (alimentação, densidades…), a preparação das peças de caça (evisceração, refrigeração) e o consumo da carne, pode expor os animais, o Homem e o ambiente a potenciais riscos sanitários. A UTAD tem pautado a sua investigação no incremento do conhecimento sobre estas matérias. No entanto, apesar da relevância deste facto, em Portugal, a informação relativa à prevalência das doenças em caça continua a ser escassa, fragmentada, não harmonizada com escassa visibilidade pública. Estas limitações condicionam a adequada vigilância sanitária das populações cinegéticas, configurando-se um problema para a eventual tomada de decisões por parte dos organismos da Administração Pública, gestores de caça, entre outros.

A UTAD, tem sido pioneira em investigação científica e na formação em avaliação sanitária de caça tendo permitido capacitar até á presente data cerca de 400 examinadores de caça. Estes intervenientes diretos no exame das peças de caça, são vetores fundamentais que poderiam integrar uma rede dinâmica de partilha de dados e de amostras fomentando a harmonização da monitorização do estado de saúde das populações cinegéticas. Neste sentido, torna-se portante oportuno:

- Incrementar o conhecimento relativo à prevalência e epidemiologia de zoonoses, doenças da via alimentar e RAM, promovendo a recolha de informação no decorrer da avaliação sanitária de espécies cinegéticas.

- Harmonizar um procedimento de monitorização de sanidade cinegética com a dinamização de uma rede de examinadores de caça dotando-os de capacitação técnico-científica e de ferramentas digitais (mobile APP), interativas (live vídeo e chat) e resilientes (desenho de processos e recolha de informação orientada para o ambiente da caça, simples, transparente e dotada de mecanismos de automação do processo tais como Computer Vision para processamento e identificação automática da situação in loco ), promovendo assim:

•             A inclusão dos diferentes agentes envolvidos em todo o processo;

•             A harmonização de metodologias de monitorização de doenças;

•       A disponibilização de dados sobre esta atividade numa lógica democrática e transparente de forma simples, intuitiva e em tempo real;

•      A disseminação de conhecimento científico e de saúde pública numa lógica evolutiva, agregadora e capaz de ao longo do tempo proporcionar mais e melhor conhecimento derivado dos mecanismos de Machine Learning e AI associados;

- Promover uma ciência cidadã envolvendo os examinadores de caça (maioritariamente caçadores) e outros intervenientes no setor nas atividades de investigação científica, para as quais contribuem ativamente com o seu esforço intelectual, com o seu conhecimento, ou com as suas ferramentas e recursos

- A gestão integrada do conhecimento e divulgação pública – observatório de sanidade cinegética - que poderá ser utilizada para promover a educação para uma só saúde, e como fonte de informação para a tomada de decisão pela Administração Pública, gestores de caça, entre outros, na adoção de medidas para reduzir a incidência de zoonoses e ameaças emergentes. Neste âmbito, a iniciativa conta com a colaboração dos parceiros informais desta candidatura, nomeadamente com as duas Autoridades Competentes que tutelam estas matérias (ICNF e DGAV), com as principais organizações do setor da caça (Associação Nacional de Proprietários Rurais, Confederação nacional de Caçadores Portugueses, Federação Portuguesa de Caça, Clube Português de Monteiros, Associação do Corço Português) e com a sociedade científica, sediada na UTAD, sobre vigilância de fauna selvagem, a WAVES Portugal (Wild Animals Vigilance Euromediterranean Society).

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

O exame inicial das peças de caça constitui a primeira avaliação sanitária após o acto cinegético e encontra-se definido no Regulamento CE N.º 853/2004. Este exame inicial, que pode ser realizado por pessoas capacitadas para o efeito, permite:

- A avaliação in loco da peça caçada e reconhecimento de lesões compatíveis com doenças que justifiquem a recolha de amostras para posterior análise e diagnóstico de caso;

- A implementação de procedimentos corretos de manipulação das carcaças e adoção de boas práticas durante todo o processo, favorecendo a proteção dos manipuladores e a segurança sanitária da carne de caça face a potenciais ameaças sanitárias;

- A adoção de medidas eficazes na eliminação de subprodutos, evitando a contaminação indesejada do meio ambiente e a disseminação das doenças.

Assim, neste sentido, o exame inicial de caça constitui uma ferramenta valiosa na monitorização, controlo e mitigação do risco de potenciais ameaças sanitárias numa perspetiva “Uma Só Saúde”.

Pelo exposto, os objetivos principais a alcançar com este projeto são:

- Incrementar o conhecimento sobre a prevalência, a epidemiologia e os fatores de risco associados às zoonoses, às doenças da via alimentar e às Resistência a Antimicrobianos (ARM) em caça, para alicerçar medidas efetivas e sustentadas para a redução da incidência de doenças animais com impacto na saúde e bem-estar da população humana e no ambiente.

- Criação de uma rede dinâmica constituída por examinadores de caça e outros intervenientes no processo e dotá-los de capacitação técnica para harmonizar abordagens metodológicas, procedimentos operacionais e indicadores na monitorização de zoonoses, doenças da via alimentar e RAM em caça, promovendo adicionalmente a educação para uma só saúde.

- Criação de uma APP para mobile a desenvolver para Android, dotada de mecanismos e automatismos de suporte para a avaliação remota de indicadores de saúde animal. A utilização desta APP por parte dos examinadores de caça e outros intervenientes no processo (rede dinâmica) constituirá uma peça fundamental de suporte ao exame inicial e na operacionalização do processo de harmonização da monitorização sanitária das populações cinegéticas. Adicionalmente, a gestão da informação resultante da utilização desta aplicação permitirá alimentar uma das componentes deste projeto, nomeadamente o observatório de sanidade cinegética estimulando o incremento de uma ciência cidadã e a difusão do conhecimento. Esta tarefa permitirá o desenvolvimento e inovação, centrados prioritariamente em abordagens mais próximas das necessidades dos intervenientes do setor (experimental e inovação), incluindo atividades de transferência de tecnologia e de demonstração, com vista à sua introdução no mercado através de plataforma a desenvolver que permita gerir todo este processo.

- Criação de uma plataforma dinâmica e pública (geoportal) - observatório de sanidade cinegética, site na internet - que poderá ser utilizada para melhorar a resposta dos organismos da Administração Pública, gestores de caça, entre outros ao impacto de potenciais zoonoses e outras ameaças sanitárias na redução da incidência de doenças animais com impacto na saúde e bem-estar da população humana e no ambiente. Esta plataforma, singular a nível nacional, pretende configurar-se uma ferramenta altamente especializada e orientada para a valorização e difusão de conhecimento técnico-científico no âmbito da sanidade cinegética, promovendo adicionalmente a educação para uma só saúde.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

No âmbito da presente candidatura é formalizado uma parceria entre várias entidades, as quais serão responsáveis pelo desenvolvimento de determinadas atividades: 

- UTAD (Entidade coordenadora do consórcio). Recolha de amostras e de informação epidemiológica georreferenciada. Avaliação laboratorial. Organização e participação nas atividades formativas de capacitação técnica a desenvolver. Criação do observatório (Goeportal) “Sanidade Cinegética”. Desenvolvimento, actualização e testagem da APP. Desenvolvimento de modelos de análise de risco e de cartografia dinâmica associada ao risco. Transferência de conhecimento e dinamização de sinergias com o sector da Medicina Humana, no contexto “Uma só saúde”. Valorização e difusão do conhecimento no setor da caça.

- PME: IMERA Desenho de aplicação, suporte à definição e desenho de funcionalidades e processos de suporte da aplicação a criar, definição da arquitetura tecnológica de suporte, desenvolvimento, testagem e disponibilização pública da APP. Suporte à definição de KPI’s a monitorizar, alarmística e notificações a implementar e analytics e reporting a disponibilizar. Colaboração na elaboração do Observatório Cinegético

 

- PME: RIJOFRAP, Lda.– Organização de ações de caça para recolha de amostras na NUT centro e Alentejo. Difusão do conhecimento.

- Associação do sector: Associação Florestal de Trás-os-Montes - Apoio técnico-científico na planificação do estudo experimental e avaliação de resultados face à experiência profissional na área cinegética. Organização de ações de caça para recolha de amostras na NUT Norte. Difusão do conhecimento.

- INIAV / Pólo de Inovação de Oeiras Laboratório – Diagnóstico no âmbito das atividades do laboratório de referência animal sediado neste Pólo.

- Centro de Competências para o Estudo, Gestão e Sustentabilidade das Espécies Cinegéticas e Biodiversidade (CCEGSECB) que designa o INIAV como entidade gestora que assume a representação da parceria na candidatura em apreço - Comunicação e dinamização de sinergias no setor cinegético e intersectoriais. Criação de base de dados de informação de utilidade para o projeto e rede e de divulgação. Comunicação e divulgação junto da população em geral, públicos-alvo e institucional do projeto.

 Cooperação transnacional – cooperação com entidades internacionais localizadas fora do território nacional:

- Ingulados, Cáceres, Espanha

- WAVES Internacional (Wild Animals Vigilance Euromediterranean Society), Nápoles, Itália

- Fundación Artemisan, Ciudad Real, Espanha

- Instituto de Investigación en Recursos Cinegéticos (I.R.E.C), Ciudad Real, Espanha

 
Interlocutor: Maria Madalena Vieira-Pinto   Email interlocutor: mmvpinto@utad.pt   Email entidade: gpfe@utad.pt