Missões de exploração espacial tripuladas com vários anos estão agora no horizonte e observamos que ao longo da história humana, a alimentação e a nutrição têm sido determinantes fundamentais no sucesso ou fracasso das missões de exploração. Fornecer quantidades adequadas de comida para a tripulação é uma tarefa importante, e a Estação Espacial Internacional e a NASA têm contribuído para o conhecimento e identificação dos maiores desafios associados à nutrição e alimentação dos astronautas. há evidências que os alimentos têm um sabor diferente no espaço, em comparação com a Terra. As áreas-chave na ingestão de alimentos são os efeitos no tempo de vida alimentar, alterações fisiológicas, ruído, qualidade do ar e água, perceção do sabor dos alimentos, e a ligação entre o sabor dos alimentos e a sua ingestão. Ainda, a capacidade limitada de água, armazenamento, tempo de tripulação e capacidade de preparação de alimentos (ex.: adicionar água, calor) restringem a tripulação na escolha de alimentos, de serviço único, na sua forma natural, preservados por desidratação, contrariando a termostabilização ou irradiação.

Assim, a alimentação espacial assume apenas a dimensão nutritiva sem foco no caráter sensorial, sendo as maiores preocupações a digestão dos alimentos, o peso, a conservação, e assumindo uma política de desperdício zero. Destes fatores surge a necessidade de melhoria da comida espacial, na forma como é preparada e consumida, na melhoria do sabor dos alimentos através de condimentos apropriados ao ambiente de consumo no espaço, e do aspeto visual dos alimentos e da embalagem.  A possibilidade de preparação/confeção dos alimentos através da impressão 3D pode tornar as refeições mais apelativas e equilibradas, para além da produção no espaço de alimentos frescos, com potencial de potenciar a experiência gastronómica, e até sendo possível adaptar a gastronomia portuguesa, reconhecida pela sua diversidade, qualidade e valor nutritivo associado à dieta mediterrânica, para que possa ser consumida em ambiente espacial.

Neste contexto, o Food4Space tem como objetivos: i)identificar e compreender os desafios da alimentação no espaço; ii)explorar as potencialidades e desenvolver novos produtos alimentares inovadores, com base nos recursos endógenos e produtos alimentares característicos da dieta mediterrânica para a alimentação no espaço; iii)desenvolver bioembalagens que permitam assegurar o transporte e consumo seguro de alimentos no espaço e simultaneamente contribuindo para a política de desperdício zero; iv)identificar potencial de utilização da inovação no desenvolvimento tecnológico para criação de novos produtos exportáveis e de elevado valor acrescentado específicos para a alimentação no espaço no desenvolvimento de ofertas e experiências em ambiente terrestre ligadas ao espaço; v)desenvolver ações de fortalecimento do ecossistema (bio, social e económico) agroindustrial através de ações de investigação e inovação orientadas para a criação de valor, fixação de comunidades e atratividade do território com impacto positivo no desenvolvimento da agricultura e no turismo, pela atração gastronómica associada.

Esta oportunidade de inovação permite que as empresas agroalimentares portuguesas se preparem para o futuro, transformando os seus produtos e processos produtivos para o desenvolvimento de alimentos adequados ao espaço ultrapassando as limitações atuais e contribuindo para o bem-estar dos astronautas, e futuramente turistas espaciais. As condições de produção e de transformação destes alimentos deverá sempre garantir as condições de sustentabilidade ambiental, que por um lado se associam aos recursos e produtos alimentares endógenos, bem como a práticas de produção, de embalagem e de gestão de resíduos, que promovam a saúde, no âmbito da dieta mediterrânica, a produção de bioembalagens determinantes para a política sustentável de desperdício zero, e proporcionar o aparecimento de novos negócios em territórios de baixa densidade, tal como preconizado na Agenda Terra Futura 20-30

 

O Food4Space apresenta-se como uma nova abordagem ao desafio da alimentação no espaço, e gestão do agroecossistema dos territórios do interior que, atuando de forma integrada com base nas tendências de mercado consumidor, vai criar um conjunto de produtos assentes em conhecimento e tecnologia (impressão 3D e biomateriais) para a inovação dos setores agrícola e agroalimentar ligados a produtos endógenos e tradicionais, os quais serão transferidos aos agentes económicos destes setores sobretudo através de capacitação técnica. Os impactos esperados do projeto traduzem-se em: A-Desenvolver produtos alimentares baseados em recursos endógenos adaptados ao consumo no espaço B-Desenvolver bioembalagens biodegradáveis compatíveis com a alimentação espacial C-Testar a tecnologia de impressão 3D na transformação de produtos e confeção alimentar no espaço D-Valorizar, via diversificação económica, os territórios e baixa densidade através da inovação alimentar preparando as PMEs para o futuro. O Food4Space pretende, pois, desenvolver as seguintes atividades:

A.1–Inovação alimentar

A.1.1. Desenvolvimento e adaptação de produtos alimentares endógenos na região para consumo no espaço;

A.1.2. Desenvolvimento de bioembalagens que assegurem o transporte, segurança e sustentabilidade na alimentação espacial.

A.2–Confeção alimentar

A.2.1. Desenvolvimento e adaptação de produtos alimentares para serem "impressos" no espaço através de tecnologia 3D de modo a se obter uma diferenciação alimentar e de degustação, facilitando o consumo de produtos frescos e/ou semi-frescos; A.2.2. Promoção de técnicas de confeção (sabores) e contextos (virtuais) alimentares que proporcionem mais sensações e emoções na degustação gastronómica.

A.3–Novos negócios

A.3.1. Promoção do desenvolvimento de novos negócios com base na inovação dos alimentos para o espaço; A.3.2. Desenvolvimento da cadeia de valor de comercialização e exportação dos produtos alimentares inovadores.

A.4–Promoção dos produtos agroalimentares inovadores

A.4.1. Estratégias de comunicação para os produtos alimentares inovadores; A.4.2. Demonstrações e ações de divulgação dos produtos alimentares inovadores

A conceção e realização do projeto Food4Space envolve 6 entidades, coordenadas pelo Instituto Politécnico da Guarda (IPG), que desenvolvem atividades de investigação, consultadoria e apoio técnico na área agroalimentar e centrada na valorização de recursos naturais e/ou que são empresas deste setor, cujo contributo de cada parceiro proporcionará uma colaboração efetiva e produtiva. O Centro de Competências da Apicultura e Biodiversidade-CCAB/CATAA, a par com o IPG, têm um papel preponderante no desenvolvimento da A1 através da sua I&D na área alimentar e de bioembalagens, respetivamente. O Inovcluster, nesta atividade associará ao processo parceiros empresariais que trabalhem a charcutaria e fruta e que a par com a GreenFlavours, incorporem o desenvolvimento para criação de novos produtos exportáveis e de elevado valor acrescentado. O IPG coordenará a A2 e A3, na sua ligação à sua Escola de Hotelaria e experiência na promoção do empreendedorismo de vocação empresarial, e trabalhará em proximidade com o Inovcluster e os parceiros empresariais (agroalimentares e tecnológicos) nesta área. Nesta atividade a Beeverycreative, pela sua experiência e desenvolvimento tecnológico tem um papel fundamental na testagem de impressão 3D de alimentos, nomeadamente em ambientes de gravidade invertida. Na A3, o IPG com o Inovcluster promoverão o desenvolvimento de novos negócios com base na inovação desenvolvida, apoiando as empresas (existentes e novas) nos processos de desenvolvimento de novos produtos, colocando-os no mercado nacional e internacional. O Inovcluster, pelo seu potencial de disseminação no tecido empresarial liderará a A4, desenvolvendo a comunicação e a promoção da inovação desenvolvida e as ações de demonstração e divulgação, em que todos os parceiros participarão nas atividades de disseminação.