Bolsa de Iniciativas PRR

 

RumiRes - Vigilância epidemiológica e sensibilização para as resistências antimicrobianas e resíduos medicamentosos em pequenos ruminantes da região Centro (ID: 320 )
Coordenador: IPV - Instituto Politécnico de Viseu
Iniciativa emblemática: 2. Uma Só Saúde
Data de Aprovação: 2022-09-12 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Centro NUTS III: Viseu Dão Lafões
 
Identificação do problema ou oportunidade

Problema (P) 1- Os medicamentos são geralmente registados para múltiplas espécies, pelo que o cálculo da UAM, com base nas vendas, permite obter dados referentes à totalidade da produção pecuária, sem especificar a espécie ou região. Por outro lado, embora os produtores sejam legalmente obrigados a registar os medicamentos que usaram, esses dados não são armazenados centralmente numa base de dados e, por isso, não estão facilmente acessíveis para a vigilância da UAM. Esta proposta propõe determinar a UAM através do acesso ao registo dos medicamentos utilizados nas explorações e da consulta da Prescrição eletrónica Médico-Veterinária (OMV), o que permitirá a determinação da UAM no efetivo de pequenos ruminantes da região centro. Este parâmetro é extremamente importante, e deve ser alvo de monitorização regular, na medida em que está diretamente relacionado com o desenvolvimento de RAM. 

P2- Em pequenos ruminantes, o tratamento antimicrobiano é frequentemente implementado de forma empírica, com base na experiência prévia e raramente assenta nos resultados de uma cultura microbiológica e de testes de sensibilidade antimicrobiana. Este projeto cria a oportunidade de identificar os principais agentes bacterianos que causam doença em pequenos ruminantes e identificar o seu perfil de sensibilidade antimicrobiana, o que permitirá criar protocolos de prescrição que tenham em consideração as tendências regionais e locais em termos de sensibilidade antimicrobiana, ajudando assim os médicos veterinários na tomada das melhores decisões de prescrição. 

P3- Os sistemas oficiais de vigilância epidemiológica das RAM nacionais e Europeus não obrigam à vigilância de resistências em pequenos ruminantes, e os estudos científicos realizados em Portugal são escassos. Este projeto propõe-se estudar, pela primeira vez, o perfil de resistência de microrganismos zoonóticos e indicadores, aplicando metodologias normalizadas de teste de suscetibilidade antimicrobiana e critérios de interpretação claros e harmonizados com as entidades oficiais nacionais e internacionais. 

P4- A UAM na produção animal está associada à eliminação de resíduos de antimicrobianos através da urina e fezes, que contaminam o solo e a água, e conduzem ao desenvolvimento de bactérias resistentes e de GRA. Apesar das explorações pecuárias serem consideradas fontes importantes destes elementos de resistência, desconhece-se ainda o impacto da produção de pequenos ruminantes para o resistoma. Este projeto pretende fornecer dados sobre a presença e os níveis de GRA em explorações de pequenos ruminantes, nomeadamente no solo, pastagens e forragens utilizadas na alimentação animal. 

P5- Para além do controlo oficial dos resíduos de medicamentos nos alimentos de origem animal que é realizada de acordo com os limites máximos previstos na lei, interessa conhecer que tipo de resíduos surgem, nomeadamente antimicrobianos e antiparasitários, quais as moléculas mais prevalentes, ocorrência cumulativa de vários fármacos na mesma amostra e qual o perfil de concentrações. Para tal, este projeto propõe um perfil de análise alargado, utilizando métodos de multi-deteção e quantificação. 

P6- Desconhece-se a perceção, atitude e práticas dos produtores de pequenos ruminantes e médicos veterinários da região centro relativamente à UAM, utilização de antiparasitários e RAM. A implementação de questionários a produtores e médicos veterinários, antes e depois da implementação de intervenções educacionais, permitirá avaliar estes aspetos, bem como o efeito das ações de sensibilização implementadas no decurso do projeto. 

P7- O número de intervenções educacionais destinadas a reduzir a prescrição e UAM em produção animal, particularmente em pequenos ruminantes é reduzido e a evidência científica sobre a sua eficácia é escassa. Assim, este projeto tenciona implementar intervenções educacionais específicas dirigidas a médicos veterinários e produtores, e avaliar a sua eficácia e médio-longo prazo, através de um estudo controlado, destinado a determinar não só a aquisição de conhecimento, mas também a mudança de comportamentos relativamente à prescrição e UAM. 

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A produção de pequenos ruminantes na região centro, essencialmente em sistema extensivo, tem um impacto positivo na atividade socioeconómica local, desempenhando um papel essencial na manutenção das comunidades rurais, através da instalação/fixação de jovens agricultores; nos ecossistemas, através de um regime de produção mais sustentável e na produção de alimentos únicos e valiosos, como a carne de cordeiro e de cabrito e o queijo de ovelha e cabra, contribuindo assim para o reforço da dieta Mediterrânica.  

A produção animal moderna assenta na utilização de antimicrobianos (UAM) para prevenção e controle de doenças, de forma a reduzir a morbidade e mortalidade, e melhorar e promover o crescimento animal. No entanto, a UAM, mesmo quando realizada de forma racional, pode resultar na seleção de microrganismos resistentes. O risco de desenvolvimento de resistências a antimicrobianos (RAM) acresce, quando os antimicrobianos são utilizados de forma empírica e não responsável. 

No entanto, a procura crescente dos consumidores por produtos de origem animal produzidos respeitando o ambiente, o bem-estar animal e a saúde pública, pode constituir um incentivo à redução da UAB e funcionar como fator diferenciador e de criação de valor.  

De acordo com o Plano de Ação Global para a RAM (2015), a OMS propõe vários objetivos estratégicos para combater a ameaça das RAM na saúde humana e animal, nomeadamente, melhorar a consciencialização e compreensão da RAM através da comunicação, educação e treino eficazes, e fortalecer o conhecimento baseado na evidência, através da vigilância e investigação. 

Apesar da produção de pequenos ruminantes e indústrias associadas desempenhar um papel importante na economia da região centro, as questões relacionadas com a UAM, RAM, presença de genes de resistência a antimicrobianos (GRA) no ambiente e resíduos de agentes antimicrobianos e antiparasitários nos alimentos provenientes de pequenos ruminantes não têm merecido a atenção necessária.  

Assim, o projeto RumiRes tem como objetivos gerais implementar um sistema de vigilância epidemiológica, recolhendo indicadores (UAM, RAM, GRA, resíduos de medicamentos em alimentos de origem animal), utilizados por diferentes entidades na monitorização das RAM (L.A. 2.2), ao mesmo tempo que pretende implementar intervenções de reforço do uso responsável de antimicrobianos (L.A. 2.3) no efetivo ovino e caprino da região NUTS II Centro, no âmbito de Uma Só Saúde. Os objetivos específicos são:  

i) Estimar a UAM e a utilização de antiparasitários 

ii) Contribuir para a vigilância epidemiológica das RAM em microrganismos patogénicos implicados nas infeções bacterianas;  

iii) Contribuir para a vigilância epidemiológica das RAM em microrganismos com interesse zoonótico e indicadores;  

iv) Caracterizar GRA no ambiente (resistoma);  

v) Avaliar os resíduos de medicamentos antimicrobianos e antiparasitários em alimentos de origem animal;  

vi) Conhecer a perceção, atitude e práticas dos produtores e médicos veterinários relativamente à UAM e antiparasitários; 

vii) Promover intervenções educacionais destinadas a produtores e médicos veterinários sobre a UAM e RAM. 

Pretende-se, assim, contribuir para aumentar a conhecimento científico sobre a UAM, RAM, GRA e a presença de resíduos de antibióticos e antiparasitários em alimentos de origem animal, desenvolvendo um sistema de vigilância que ajude as autoridades oficias na tomada de decisão. Por outro lado, espera-se que a vigilância epidemiológica das RAM em animais doentes contribua para melhorar as decisões de prescrição antimicrobiana dos médicos veterinários. A implementação de intervenções educacionais específicas, dirigidas a produtores e médicos veterinários, reforçará a prescrição e utilização responsáveis de antimicrobianos e antiparasitários na produção de pequenos ruminantes, contribuindo assim para a redução da emergência de microrganismos resistentes e de genes de GRA, o que ajudará a proteger o seu uso terapêutico na pecuária, bem como na medicina humana. 

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

De forma a responder aos problemas identificados e cumprir os objetivos propostos, desenharam-se 9 áreas de trabalho, as primeiras 7 enquadradas nas L.A. 2.2 e 2.5 e as duas últimas na L.A. 2.3:  

1- Determinação da UAM e utilização de antiparasitários em pequenos animais da região centro, através da estimativa da unidade de medida mg/PCU (mg/“population correction unit”, Agência Europeia do medicamento) e outros parâmetros relevantes (Davies et al, 2017). Esta tarefa será realizada pelo IPV em colaboração com a UP e as PMEs. 

2- Recolha de amostras biológicas dos animais suspeitos de infeção bacteriana, de animais saudáveis (epidemiovigilância), amostras de leite e carne (análise de resíduos de medicamentos) e estrume/terra/pastagens e forragens (resistoma) e respetiva expedição para laboratório. Esta atividade será realizada pelo IPV e PMEs. 

3- A vigilância das RAM em microrganismos responsáveis pelas principais infeções bacterianas que afetam pequenos ruminantes, que incluirá o isolamento microbiológico e a realização de testes de sensibilidade antimicrobiana, será da responsabilidade do IPV. 

4- Vigilância de RAM em microrganismos zoonóticos e indicadores, nomeadamente Staphylococcus aureus resistente à meticilina, Salmonella, Campylobacter coli, C. jejuni, Escherichia coli comensal e E. coli resistente às cefalosporinas de 3º geração. O isolamento seletivo dos microrganismos será da responsabilidade do IPV, enquanto a sua caracterização fenotípica e genótipica ficará a cargo do laboratório nacional de referência de resistência antimicrobiana em animais e em alimentos de origem animal (INIAV). 

5- A vigilância de GRA através de real time PCR e sequenciação será responsabilidade da UP. 

6- A monitorização da presença de resíduos de antibióticos e de antiparasitários no leite e na carne de pequenos ruminantes, mapeamento do perfil de ocorrência e concentrações por cromatografia líquida acolada a espectrometria de massa (Freitas et al, 2013), será da responsabilidade do INIAV. 

7- Criação de uma aplicação para dispositivos móveis que permite fazer a recolha da localização espacial da exploração, sua identificação e caracterização e a identificação das diferentes amostras recolhidas por animal. Será também criada uma aplicação backoffice destinada aos laboratórios, que permite fazer o registo dos resultados das diferentes análises. Por último será desenvolvido um dashboard que permite a visualização e monitorização em tempo real de todos os dados inseridos nas aplicações anteriores, assim como o nível de execução destas componentes do projeto. Esta tarefa será realizada pelo INIAV. 

8- Desenho e implementação de questionários KAP (knowledge, attitude and practices) a produtores e médicos veterinários, antes e depois da realização das intervenções educacionais. Os questionários serão desenhados e implementados pelo IPV em colaboração com o IPCB e as PMEs. 

9- Sensibilização de produtores e médicos veterinários para a UAM e RAM, através da criação e distribuição de um guia para a utilização prudente de antimicrobianos e antiparasitários em clínica de pequenos ruminantes que será redigido pelo IPV em colaboração com IPB, bem como de intervenções educacionais específicas para produtores e médicos veterinários que serão implementadas pelo IPV, IPCB, Ancose e CCC. 

10- Divulgação do projeto e dos resultados da investigação. Incluirá ações de comunicação, nomeadamente a criação de um website do projeto, criação de conteúdos para as redes sociais, comunicação à imprensa e comunicação com os parceiros através de e-mail institucional a cargo do IPV. A divulgação dos resultados do projeto através de publicações técnicas nacionais e científicas em revistas internacionais indexadas e open access, contará com a participação de todos os parceiros.  

Alda Pires (UCDavis, Department of Food Science and Technology) integrará o grupo de trabalho e participará no delineamento das metodologias de trabalho, na discussão dos resultados e nas intervenções educacionais.
 
Interlocutor: Maria Pereira   Email interlocutor: mapereira@esav.ipv.pt   Email entidade: ipv@sc.ipv.pt