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Produção extensiva de ruminantes em zonas serranas: amplificadores silenciosos de doenças infeciosas emergentes transmitidas por carraças - RUMTick (ID: 323 )
Coordenador: CESPU-Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, CRL
Iniciativa emblemática: 2. Uma Só Saúde
Data de Aprovação: 2022-09-09 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Alto Minho
Identificação do problema ou oportunidade
As doenças infeciosas emergentes (DIE)
constituem uma ameaça para a segurança nacional, podendo dar origem a uma
elevada mortalidade e morbilidade, tal como se verificou na recente pandemia. Grande
parte das DIE são zoonóticas e têm origem em populações de animais selvagens e
domésticos, são transmitidas por vetores e apresentam uma crescente preocupação
relativamente à saúde pública e sanidade animal. Adicionalmente, as alterações
ecológicas facilitadas por um planeta cada vez mais globalizado, o crescimento
populacional, a urbanização e a intensificação da agricultura, reduzem as
distâncias biogeográficas entre vetores, microrganismos infeciosos, populações
animais e humanos, permitindo assim uma disseminação e transmissão sustentada
destes agentes.
Dentro das
DIE com maior impacto destacam-se as doenças transmitidas por carraças (DTC), há
muito conhecidas, mas usualmente subvalorizadas. Atualmente são tidas como
importantes ameaças na saúde pública e animal com os casos a aumentar anualmente.
O clima mediterrânico que caracteriza Portugal oferece condições ecológicas
favoráveis ao desenvolvimento de várias espécies de carraças podendo ainda
“acolher” espécies invasoras, dado que Portugal é um dos países que integra o
corredor migratório do Atlântico Oriental.
Na
produção animal, estes artrópodes estão associados a grandes perdas económicas,
quer por ação direta, quer por ação indireta. As carraças poderão ser
responsáveis pela transmissão de agentes zoonóticos (por mordedura da carraça ou por contacto com fluídos de animais infetados) e transmissoras de bactérias
resistentes a antibióticos (RAM). A resistência a antibióticos é outro desafio inserido no tópico “Uma Só Saúde”, estando mais uma vez a saúde humana interligada com a saúde animal e todo o ecossistema envolvente.
Desta
forma, as ações previstas no projeto RUMTick pretendem contribuir para o
conhecimento das diferentes espécies de carraças e
agentes patogénicos transmitidos por estes ectoparasitas, que circulam entre ruminantes criados em regime extensivo serrano, fornecendo ferramentas para
antecipar e mitigar as consequências adversas das DTC não só nestes animais mas
também noutros que partilham ecossistemas e em ultima instância, em humanos. O estudo do microbioma das
carraças, permitirá caracterizar a comunidade de bactérias presentes, assim
como os genes de resistência a antibióticos associados, de forma a avaliar os
potenciais riscos para a saúde humana e indústria veterinária.
Para a
implementação de medidas de mitigação é necessário que existam disponíveis meios e
informação o mais detalhada possível que auxiliem os médicos veterinários na
tomada de decisões assim na formação aos produtores, de forma implementarem
medidas de proteção dos animais.
A
disseminação da informação neste tópico será fundamental na prevenção e
controlo das doenças infeciosas emergentes transmitidas por carraças.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Os ruminantes criados em regime
extensivo em zona serrana, circulam e contactam com outros animais domésticos
e selvagens, partilhando os mesmos vetores e agentes transmitidos por estes. Muitas das doenças transmitidas por vetores têm sido a
causa de diversos problemas associados, e com grande impacto na sociedade, tais
como: a) surgimento de doenças debilitantes nos animais e humanos; b) fome
devido à morte em massa dos animais de produção; c) alta mortalidade de animais
de estimação; d) ou mesmo um efeito significativo na vida selvagem com impacto
na biodiversidade. Muitos destes agentes patogénicos transmitidos por vetores
são zoonóticos e os seus reservatórios naturais são animais domésticos e
selvagens.
O aumento
evidente da temperatura ambiental, tem vindo a permitir um aumento da população
de carraças, assim como a sua expansão geográfica. Estes artrópodes deixaram de
ser considerados sazonais e passaram a estar ativos durante todo
o ano.
Uma única
carraça pode estar infetada com vários microrganismos patogénicos (bactérias,
vírus e protozoários), simultaneamente. A disponibilidade de hospedeiros reservatórios no ecossistema envolvente determina a carga de vetores.
A localização
geográfica das várias espécies de carraças assim como dos agentes patogénicos
transmitidos por estas, permitirá entender o desafio crescente na saúde pública
e sanidade animal que estes artrópodes representam. A georreferenciação e as
ferramentas de diagnóstico molecular são particularmente importantes para a
implementação de medidas no controlo das DIE. O conhecimento destes dados
permitirá explicar várias tendências epidemiológicas, permitindo planear
estratégias de controlo na disseminação destes agentes.
As
resistências antimicrobianas representam atualmente outro desafio, ameaçando
seriamente muitos dos avanços médicos que se têm conseguido até hoje. As
carraças são ectoparasitas estritamente hematófagos, amplamente distribuídas por
uma grande diversidade de hospedeiros o que sugere que o microbioma destes
artrópodes possam incluir RAM e genes de
resistência aos antibióticos (ARG) contribuindo assim para a sua transmissão
aos humanos aquando da mordedura da carraça ou via carne contaminada de animais
parasitados por carraças. Uma visão abrangente da diversidade e abundância de RAM
em carraças indicará o possível papel destes artrópodes como transmissores
destas bactérias a hospedeiros vertebrados e respetivas implicações na saúde
humana e animal.
Vários
projetos europeus foram identificados com alguns tópicos realizados referentes
às DTC: EDENext (FP7-Health-2010), CALLISTO (FP7-KBBE-2013), VBORNET (ECDC) e
POSTICK (FP7-Marie Curie), todos eles num contexto de saúde pública e sobretudo
com grande interesse na formação. Apesar de existirem algumas publicações no contexto das DTC, em território nacional, os estudos são dirigidos a determinadas
localizações geográficas e para temas de trabalho específicos, tornando esta
informação fragmentada.
O projeto RUMTick pretende, com a
ajuda de vários trabalhadores com profissões de risco, tais como, médicos e
enfermeiros veterinários, engenheiros zootécnicos, tratadores de animais, entre
outros, que contactam diretamente com estes animais, acrescentem informação no
que diz respeito:
· Previsão e alerta precoce de doenças
zoonóticas emergentes por evidência serológica;
· Estudo faunístico das espécies de carraças
colhidas em ruminantes criados em sistema extensivo em zona serranas das 5
regiões NUTS II, Portugal
· Estudo de microbioma
· Mapeamento de dados e vigilância de DTC
· Implementação de métodos moleculares de
diagnóstico fiáveis e padronizados para determinar a prevalência de DTC
· Implementação de plataforma na
WEB disponibilizando a médicos veterinários e produtores toda a informação
importante na tomada de decisões.
· Formação a produtores no reconhecimento da
importância destes artrópodes na saúde pública e animal e, implementação de
métodos de controlo.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
A conceção e realização do projeto RUMTick
envolve 9 entidades, coordenadas pela CESPU.
A intervenção da parceria no
desenvolvimento das atividades está distribuída de acordo com as suas
competências e experiência de atuação, ainda que todos possam ter intervenção
positiva no desenvolvimento das diferentes ações.
1. Plataforma
web: vai ser criada uma plataforma web pelo departamento de marketing da CESPU,
onde será registada toda a informação relativamente aos animais em estudo. A
partir desta plataforma ocorrerá a comunicação de todos os resultados que se
forem publicando tendo como alvo, publico em geral e científico.
Liderada:
CESPU. Parceiros: ARAP, FERA, PMEs
2. Seleção de
associações/PMEs e criação de grupos de trabalho para a colheita das amostras
em cada uma das explorações de ruminantes nas NUTs III selecionadas
Liderada: IPVC (NUTRIR). Parceiros:
FERA, ARAP e Centro de Competências de Pastoreio Extensivo (Liga para a Proteção da Natureza, LPN, entidade que representa do CCPE).
3. Estudo
faunístico das espécies de carraças
Liderada: CESPU e ICBAS
4.
Análise serológica e molecular
Liderada: CESPU, ICBAS
6. Georreferenciação
Liderada: NUTRIR e Campus Terra em
Lugo, Universidade de Santiago de Compostela ( em cooperação transnacional)
7.
Organização de workshops e seminários para
formação e divulgação de resultados
Liderada: CESPU, NUTRIR, Campus Terra em Lugo, U. Santiago
Compostela
A estreita colaboração e o contributo de todos os parceiros, permitirá
concretizar todos os objetivos específicos da ação através da experiência
acumulada em cada uma das áreas de trabalho descritas e suportando a
concretização dos objetivos propostos.
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