Bolsa de Iniciativas PRR

 

INOVCIRCOLIVE - Inovação e Circularidade no Setor Oleícola (ID: 328 )
Coordenador: Universidade de Évora
Iniciativa emblemática: 5. Agricultura circular
Data de Aprovação: 2022-10-06 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III:  
 
Identificação do problema ou oportunidade

Portugal é hoje o 6º maior produtor mundial de azeite, tendo atingindo uma produção recorde de mais de 215 mil toneladas na última campanha 2021/2022. O olival é a cultura que ocupa mais área em Portugal, e o Alentejo é a região que mais produz azeite em Portugal, com 80% da produção nacional.

Em média, apenas 21% do peso da azeitona corresponde a azeite e os restantes 79% consistem em água, casca, polpa e caroço, gerando-se no processo de extração de azeite elevadas quantidades de resíduos e subprodutos, ambos, doravante numa terminologia de economia circular, designados como excedentes. Os excedentes representam assim uma quantidade quatro vezes superior á do produto de interesse (azeite). Destes excedentes e uma vez que a quase totalidade do azeite produzido no Alentejo provem de lagares a operar com sistemas de extração a duas fases, o bagaço (húmido) de azeitona é o excedente que mais preocupa os lagares de azeite. Este excedente é normalmente processado nas unidades de secagem, as quais por si próprias, dado o modo como operam, registam algumas barreiras e constrangimentos ao seu atual funcionamento. Este fato, aliado à relativamente diminuída capacidade laboração destas unidades (a produção de bagaço de azeitona atingiu na campanha 2021/22 as 900 mil toneladas, enquanto as atuais unidades de receção e secagem apresentam uma capacidade de resposta de somente 600 mil toneladas), causa importantes constrangimentos na operação nos lagares, por falta de escoamento deste excedente.

Esta questão foi amplamente debatida no Seminário” Bagaço de Azeitona. Que Oportunidades?” recentemente organizado pela CCDR Alentejo, no qual participaram todos os agentes (económicos, do sistema científico e tecnológico, da administração pública e associações de produtores, entre outros), cobrindo a produção (olival), transformação (lagares), tratamento de bagaço e distribuição, que integram o setor oleícola.  Deste seminário resultou a opinião unânime de que urge encontrar soluções para enfrentar este problema.

A adoção de práticas de Economia Circular baseadas em ações de: mitigação de produção de resíduos e consequentemente de poluição; de promoção de circularidade de produtos e de materiais e de regeneração da natureza, constitui uma excelente oportunidade de criar soluções inovadoras para dar uma nova vida aos vários excedentes gerados no setor oleícola numa visão de que nada se perde tudo se transforma de acordo com o princípio do “fecho de ciclo”: olival-azeite-excedentes-valorização-solo-olival-…

Esta iniciativa promove soluções inovadoras, apoiadas em estudos com elevado rigor científico, de valorização integrada dos excedentes da produção de azeite (bagaço de azeitona, restos de podas e folhas do olival, águas residuais e caroço de azeitona). Estas soluções irão reduzir a pressão da atividade extrativa na utilização dos recursos naturais; reduzir os custos de tratamento e/ou valorização; desenvolver produtos, processos e serviços inovadores de valor acrescentado. Potenciamos assim uma bioeconomia circular para o sector oleícola associando-lhe novos modelos de negócio e abrindo excelentes perspetivas para a aplicação de práticas de simbiose industrial, uma vez que as soluções apresentadas preveem a utilização de excedentes de outros setores, bem com a utilização de produtos geradas pelas diversas soluções, no amendoal, fruticultura, horticultura e floresta.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa agora proposta visa a abordagem holística de valorização de excedentes gerados no setor oleícola na perspetiva de que resíduos são recursos. Esta abordagem passa pela redução da pressão da atividade agrícola na utilização dos recursos naturais; redução dos custos de eliminação, transformando resíduos e subprodutos em benefícios e, pelo desenvolver novos produtos, processos e serviços inovadores, de maior valor acrescentado. A iniciativa priorizará atividades ligadas à valorização agrícola mas também introduz um caracter inovador com a valorização orgânica, e introdução de uma forte componente de investigação, alicerçada em rigor científico, sempre desenvolvidas numa perspetiva que beneficie o produtor, no sentido de não gerar despesa, de fácil aplicabilidade, respeito pela proteção ambiental e estrito cumprimento da legislação em vigor. Atividades:

1) Valorização Agrícola

Produção e aplicação de composto proveniente de bagaço húmido de azeitona mistura em diferentes proporções com outros excedentes, essencialmente material vegetal gerados no olival e também no amendoal, noutros pomares e em floresta. Serão desenvolvidos estudos para a determinação da melhor composição de composto a aplicar em cada tipo de cultura e também no que se refere a:

-Avaliação de aplicação de bagaço húmido diretamente no solo

-Adequabilidade dos semirreboques para aplicação de bagaço húmido no solo

-Construção de pilha(s) compostagem com diversas composições

-Análise da composição florística depois da aplicação dos excedentes

-Análise de potencial efeito herbicida

-Teor de carbono orgânico no solo e atividade enzimática

-Emissão de GEE com ou sem aplicação de composto

-Transitabilidade de macronutrientes e análise de lixiviação

-Níveis e aspetos qualitativos da produção

-Monitorização do efeito da aplicação ao solo do olival (e outras culturas) da aplicação de composto, bagaço húmido e águas de lavagem

-Recolha de amostras de azeitonas, raminhos jovens e folhas do conjunto para avaliar a influência da aplicação dos diversos excedentes ao olival, na presença e evolução de microrganismos benéficos e fitopatogénicos. 

2) Valorização Orgânica
 Desenvolvimento de processos extrativos com metodologias e solventes de baixo impacto ambiental, orientados para scale-up industrial e baixo custo de instalação, permitindo a obtenção de frações concentradas de compostos fenólicos. A toxicidade do bagaço de azeitona é atribuída à presença de compostos fenólicos. Cerca de 45% do teor total da fração fenólica existente no fruto são passiveis de valorização para o desenvolvimento de soluções nutritivas para utilização agrícola, biocidas para controlo de pragas e infestantes, bem como obtenção de concentrados fenólicos com elevado potencial antioxidante para a industrial agroalimentar. A extração dos compostos fenólicos facilitará a cinética/eficiência de obtenção de fertilizantes orgânicos, e a sua aplicação. Efetuar-se-ão também análises à qualidade dos azeites resultantes. Tarefas:

- Extração de composto fenólicos a partir do bagaço húmido

- Formulação de biocidas

- Avaliação do efeito das práticas de valorização na qualidade do azeite.

3) Comunicação, divulgação e exploração de resultados

- Elaboração de relatório de impacto regional

- Manual de identificação de barreiras à implementação de modelos de negócio mais circulares

- Ações de divulgação periódicas tendo por base o Plano de Comunicação

- Ações de capacitação em implementação prática de Economia Circular.


 
 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

Esta parceria, de momento, envolve 9 parceiros: 4 entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, mais 1 entidade do ENESIS, 1 Centro de Competências, 1 Associação do setor e 2 PMEs.

A parceria que será coordenada pela Universidade de Évora, assente em níveis de governança estratégica e operacional sendo o controlo e gestão financeira efetuados de modo transversal.

Áreas de trabalho e função/responsabilidade de cada parceiro:

- UEVORA: Coordenação Geral e Gestão. Estará envolvida nas tarefas quer de valorização agrícola (em colaboração com: o INIAV, o IPP, o IPB e o INOVTECHAGRO) quer de valorização orgânica (com o CEBAL) dos excedentes do sector oleícola.  nomeadamente: na valorização do bagaço de azeitona quer húmido quer após sofrer processos de compostagem, na formulação de biocidas e sua aplicação no olival e noutras culturas e na avaliação da qualidade do azeite produzido com recurso a produtos resultantes destas formas de valorização.

- CEBAL: desenvolvimento de processos extrativos para o bagaço húmido de azeitona, para obtenção de produtos de valor acrescentado para aplicação na agricultura e indústria alimentar, com a UÉvora e restantes consortes. A formulação de um biocida orientado para as principais pragas do olival será também desenvolvida, com a caraterização da fração fenólica dos azeites produzidos, com os fertilizantes gerados no âmbito do projeto.

- INIAV, terá uma participação fundamental nas atividades relacionadas com a valorização agrícola nomeadamente no que se refere a colheita de amostras e análise prévia das matérias-primas a utilizar na compostagem; formulação da mistura a utilizar na compostagem, construção das pilhas e monitorização dos parâmetros relevantes. Albergará ações de demonstração no seu Polo de Inovação (Estação de Melhoramento de Plantas de Elvas),

-  o InovTechAgro representado nesta iniciativa pelo Instituto Politécnico de Portalegre,   desenvolve as suas atividades em estreita colaboração com o IPP , alargada também ao Polo de Inovação do INIAV, com seleção de bagaço de azeitona a integrar nos processos de compostagem, análise florística medição na atividade biológica no solo, medição de gases de efeito estufa após aplicação do composto. Monitorização dos indicadores de produção e qualidade da azeitona.

- I.P.B. participará na avaliação da possibilidade de aplicação de bagaço húmido diretamente no solo; construção de pilha(s) de compostagem e formulação de misturas adequadas a cada cultura e tipo de s olo.

- CEPAAL identificará potenciais parceiros que possam albergar atividades de demonstração dos estudos decorrentes da iniciativa e efetuará o acompanhamento dos mesmos.

- PACT efetuará o levantamento de dados num contexto de diagnóstico e monitorização da informação/conhecimento existente na região relativamente à adoção de práticas de Economia Circular no setor Oleícola.

 - OLIVAIS DO SUL disponibilizará as unidades de valorização já instaladas nas suas propriedades para ações de demonstração. Participará na colheita de amostras de matérias-primas e de composto, de amostras de solo e de material vegetal pré e pós aplicação de composto.

 - TORRE DAS FIGUEIRAS: Disponibilização de campos agrícolas para aplicação dos diversos tipos de composto. Albergará pilhas de compostagem e participará na colheita de amostras de solo e de material vegetal.

Todos os parceiros estarão envolvidos nas atividades de disseminação e de divulgação de resultados.

 
Interlocutor: Vasco Fitas Cruz   Email interlocutor: vfc@uevora.pt   Email entidade: investigar@scc.uevora.pt