|
Extensão da vida útil de frutos vermelhos pela utilização de revestimentos edíveis obtidos a partir de cladódios da figueira da Índia (ID: 329 )
Coordenador: Universidade de Évora
Iniciativa emblemática: 9. Promoção dos produtos agroalimentares portugueses
Data de Aprovação: 2022-09-07 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Alentejo NUTS III:
Identificação do problema ou oportunidade
As políticas que promovam a utilização eficiente dos recursos naturais,
considerando a proteção do ambiente, a criação de novos produtos, novas
oportunidades de negócio e mais empregos, respeitando os princípios da economia
circular e da bioeconomia são uma realidade na Europa (CE, 2020). Neste
contexto, os intervenientes na cadeia alimentar pretendem prolongar o prazo de
validade dos alimentos com recurso a conservantes naturais, não poluentes,
contribuindo para a diminuição do desperdício e perdas de alimentos. No relatório da UNEP (2021), é estimado que 17% da produção alimentar
global total é desperdiçada no final da cadeia de distribuição, cerca de 931 milhões de tonelada,
em 2019. Por outro lado, é urgente reduzir a quantidade de plástico
usado na distribuição de alimentos (Bano et al., 2020). A maioria dos plásticos produzidos a partir
do petróleo, originam resíduos não biodegradáveis, criando problemas ambientais
graves. Em 2019, as embalagens de plástico geraram cerca de 54% do total de
resíduos antropogénicos (Rodrigues et al., 2019). Por outro lado, o consumidor está mais atento à dieta alimentar,
procurando produtos inovadores, naturais, saudáveis e convenientes mas também se preocupa com a sustentabilidade da cadeia
alimentar e com o ambiente. Nos últimos anos tem-se assistido a um acréscimo
importante do consumo de frutos vermelhos. As exportações em 2020, de
amora, mirtilo e framboesa apresentam crescimento, quer em valor quer em
quantidade, atingindo 247 milhões de euros (+5,5%) e (+2%), relativamente a 2019, revelando uma
resiliência notável em tempos críticos. Os consumidores reconhecem estes frutos como excelente fonte de antioxidantes, de vitaminas
do complexo B (niacina), de betacaroteno (precursor da vitamina A), de vitamina
C e de minerais (K, Fe, Mn). A acentuada perecibilidade destes frutos dificulta
o aumento da quota de mercado nacional, bem como a sua exportação, e contribui para o desperdício. A qualidade
pós-colheita e a extensão do período de vida útil assumem um papel
preponderante na fileira. Com
todas as motivações apontadas, devem ser procuradas formulações de biopolímeros
que possam ser usados como revestimentos edíveis, ou seja suspensões ou
emulsões que aplicados diretamente sobre os alimentos e que após secagem formem
um filme transparente, inodoro, insipido com propriedades barreira ao O2, ao
CO2 e ao vapor de água. A solução para estes desafios simultâneos implica modelos inovadores, nos
quais subprodutos da indústria agroalimentar possam ser valorizados, neste caso
para obter revestimentos comestíveis, para assegurar o aumento da vida útil dos
pequenos frutos e a redução no uso de plásticos. Em Portugal assistiu-se, na ultima década, a um interesse crescente pela cultura da figueira da índia, contudo
as dificuldades de comercialização dos frutos levaram ao abandono de algumas
dessas áreas. Esta cultura tem um grande potencial de adaptação a climas
semiáridos, situações de grave stresse hídrico, interessante no atual cenário
de alterações climáticas e escassez de água. Tem sido salientada a sua eficácia
no sequestro de carbono, apontando-se a título de exemplo valores que atingem 30 toneladas
de CO2/ano/ha, seja 20 t de matéria seca/ano/ha, em condições próximas às de
zonas áridas, (Inglese et al. 2017)
A cultura
de Opuntia Ficus índica Mill produz grandes quantidades de cladódios,
muitos deles podados anualmente e subaproveitados.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Com conhecimento dos desafios
presentes, aos quais urge responder, tem que se desafiar o status quo da
produção agrícola e da cadeia de distribuição de alimentos, alterar as
abordagens tradicionais, reconhecer as potencialidades de produtos até agora
desvalorizados e pensar de forma diferente visando uma execução célere que
permita um futuro sustentável. O objetivo deste projeto é a valorização de
pequenos frutos com interesse regional, através do aumento da vida útil pela
utilização de revestimentos edíveis formulados a partir de cladódios de
figueira da Índia.
Existem numerosas publicações
sobre Opuntia Ficus índica Mill (Gago et al., 2014; Miguel et al., 2018;
Aruwa et al., 2019; García et al. 2020; Oniszczuk et al. 2020 ) e algumas
visando mais especificamente os cladódios (Santos, 2017; Missaoui et al. 2020)
e mesmo o desenvolvimento de revestimentos comestíveis (Allegra et al., 2016,
2017). É sabido que os cladódios podem ser utilizados para extração de
mucilagem e obtenção de revestimentos edíveis (Gago et al., 2020; Pascoe-Ortiz et
al., 2019), contudo uma formulação exequível não se encontra disponível.
O grupo participante tem
experiência anterior com este material, tendo alcançado resultados preliminares
bastante auspiciosos.
A investigação laboratorial deve
ser intensificada para que possam resultar novos produtos e processos
aplicáveis no imediato e, consequentemente, mudanças efetivas na
sustentabilidade e na resiliência das empresas envolvidas.
Assim, como objetivo tangível em laboratório, iremos desenvolver uma fórmula
simples e barata para ser utilizada como revestimento comestível, que permita
prolongar a vida útil de pequenos frutos.
Pretende-se transformar este
subproduto (cladódios) numa fonte de rendimento para os produtores de figueira
da Índia, aumentando a sustentabilidade desta cultura na região e o inerente
sequestro de carbono pela manutenção das áreas ocupadas com esta cultura.
Como resultados, esperamos
contribuir com um revestimento natural comestível para aplicar em frutos vermelhos,
podendo esta aplicação ser imediatamente implementadas pelas empresas produtoras
de mirtilo, framboesa e morango no Alentejo, sendo a sua divulgação e fomento
vinculadas pelas associações de produtores envolvidas neste projeto.
O principal objetivo deste
projeto é aumentar a vida útil dos pequenos frutos através da aplicação de um
revestimento comestível que promova a qualidade e o aumento da vida útil e que
garanta a segurança dos produtos frescos.
São considerados os seguintes
objetivos específicos:
1) Otimizar a extração de compostos
poliméricos (mucilagem) e a sua aplicação na formulação de revestimento
comestível e verificar as propriedades mecânicas e funcionais de vários
biopolímeros obtidos e das várias formulações.
2) Avaliar a eficácia da sua
utilização, na garantia da segurança e no aumento da vida útil, em
pequenos frutos produzidos em empresas da região Alentejo.
3) Verificação final da aceitação
dos produtos alimentares com uso destes revestimentos mediante avaliação
sensorial, decisiva para a escolha dos melhores revestimentos.
4) Registo de patente com processo
de obtenção de revestimento edível (e se possível filme edível).
5) Transferir resultados de
investigação após registo de patente, através da participação em congressos,
publicação de artigos científicos e de divulgação.
Esperamos que os resultados alcançados permitam, num
futuro próximo, projetos mais ambiciosos com Opuntia ficus indica.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
O projeto será liderado pela Universidade de Évora (UÉ)
As tarefas a realizar de acordo com os objetivos serão as seguintes:
Objetivo 1. OBTENÇÃO DE BIOPOLIMEROS - UÉ
Tarefa 1.1: Pesquisa bibliográfica sobre as fontes e métodos de obtenção
dos biopolímeros que são objeto deste projeto. UÉ
Tarefa 1.2: Otimização das condições de extração e caracterização
físico-química dos biopolímeros obtidos. A extração será efetuada sob
diferentes condições, otimizando a utilização de diferentes solventes,
condições de pH e temperatura, precipitação e centrifugação, de acordo com a
literatura disponível.
Tarefa 1.3: Caracterização de biomoléculas por metodologias
espectrofotométricas e cromatográficas. Avaliação in vitro da sua
atividade antioxidante e antimicrobiana.
Objectivo 2. OBTENÇÃO DE FORMULAÇÕES A TESTAR – UÉ
Tarefa 2.1: Formulação de revestimentos a partir de biopolímeros e
biomoléculas, e caracterização das propriedades físicas e químicas na forma de
solução. Esta caracterização será feita através da análise dos
parâmetros: densidade, tensão superficial, comportamento reológico, absorção de
luz e transparência das soluções.UÉ
Tarefa 2.2: Estudo das características dos filmes comestíveis formados após secagem da
solução preparada separadamente do alimento. Determinação da espessura, solubilidade em água, permeabilidade
ao vapor de água, espectroscopia de infravermelhos da transformação de Fourier
(FTIR).
Objectivo 3. APLICAÇÃO EM FRUTOS - UÉ; PepeAromas; Southern Berry
Tarefa 3.1: Seleção de matrizes alimentares nas quais podem ser aplicadas
as películas e revestimentos biodegradáveis obtidos nas tarefas do Objectivo 2,
Estudo da forma de aplicação e secagem.
Tarefa 3.2: Avaliação da qualidade e segurança dos alimentos em que os
biopolímeros são utilizados. Para este efeito, serão efetuados testes
físico-químicos e estudos de vida útil de acordo com a matriz em estudo:
textura, cor, pH, composição nutricional, análise microbiológica.
Tarefa 3.3: Análise sensorial de alimentos testados para escolha final de
filmes e revestimentos (ISO 6658(E) (2005).
Objectivo 4. DIVULGAÇÃO E PATENTE - APROFIP; CCRES; UÉ
Tarefa 4.1. Registo da patente. UÉ
Tarefa 4.2. Workshops de demonstração
Tarefa 4.1: A Transferência dos resultados da investigação através
da participação em conferências, publicação de artigos científicos e de
divulgação.
Universidade de Évora
Sendo a região do Alentejo uma região que cobre uma grande área do
território nacional, pouco povoada, com características muito específicas e, ao
mesmo tempo, muito diversas, particularmente ao nível da produção, a presente
proposta opta por focar esta região. Estão incluídas as áreas geográficas do
Alentejo Norte, Central, Baixo e Litoral.
Associação de Produtores de Figo da Índia Portugueses. APROFIP
Pepe Aromas (http://www.pepearomas.com) produtor local que fornece cladódios e participará
nos ensaios de vida útil.
Centro de Competência para os Recursos Silvestres (CCRES) divulgará os resultados.
|
|
|