|
BioFago - Novas estratégias no controlo do fogo bacteriano (ID: 342 )
Coordenador: UMinho - Universidade do Minho
Iniciativa emblemática: 2. Uma Só Saúde
Data de Aprovação: 2022-09-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Cávado
Identificação do problema ou oportunidade
O fogo bacteriano,
causado pela Erwinia amylovora, é uma doença bacteriana
devastadora de muitas plantas rosáceas com grande interesse comercial (p.e. produtoras
da Pera Rocha), especialmente espécies de pomóideas. Erwinia amylovora é
nativa da América do Norte e foi introduzida no norte da Europa na década de
1950-1960. Hoje, está disseminada globalmente. O maior desafio do
fogo bacteriano é a falta de um tratamento eficiente. No geral, as medidas atuais de
controlo recorrem ainda a pesticidas (que carecem de eficácia), a medidas
trabalhosas de corte de ramos ou arvores afetadas, bem como a limitações
comerciais nas áreas geográficas afetadas. Hoje, não há uma cura oficial para
esta doença e, por isso mesmo, em 2021, foram reforçadas as medidas de controlo
em Portugal que preveem o abate de árvores com sinais de infeção no tronco. Como
consequência do efeito limitado destas medidas, tem ocorrido uma elevada
disseminação desta doença, resultando em perdas econômicas substanciais para os
produtores e ameaçando significativamente a indústria de pomóideas em todo o
mundo. Aliado ao grande
problema económico que se coloca nos produtores, esta doença impõe outros
desafios de igual dimensão relacionados com: i) as políticas comunitárias de
redução do uso de pesticidas/antimicrobianos, com metas ambiciosas de redução
em 50% até 2030 (metas alinhadas com os programas “green deal” e
“farm-to-fork”, que pretendem usar uma abordagem holística baseada no conceito
“uma-só-saúde” que minimize o impacto ambiental da produção primária e os
riscos para a saúde pública); ii) o aumento da produção alimentar, com metas de
15%; que entram em contraciclo com a emergência destes agentes, em muito
favorecidos pelas alterações climáticas. Assim, é urgente não só o apoio aos
produtores, como também o cumprimento de metas comunitárias relativas ao uso de
substâncias químicas (pesticidas/antimicrobianos), controlo de doenças
emergentes e o aumento da produção de alimentos. A grande ideia do
projeto BioFago é utilizar um inimigo natural desta bactéria, presente
na natureza - os bacteriófagos. Bacteriófagos são vírus que precisam de bactérias
para sobreviver e que se tornam ativos quando entram em contacto com a bactéria
hospedeira. Sendo partículas existentes na natureza, são seguros para a saúde
humana, tendo já aplicações comerciais no mercado clínico e de segurança
alimentar. Os bacteriófagos têm
inúmeras vantagens sobre os agentes convencionais de controlo, nomeadamente: i)
alta especificidade para a bactéria a controlar; ii) agentes naturais iii)
possibilidade de serem administrados
em diferentes aplicações (p.e. pulverizações, aplicações no solo e combinados
sinergicamente com diferentes tratamentos), iv) eficazes contra resistências,
devido à possibilidade de combinação de vários bacteriófagos no mesmo produto. Apesar do potencial dos
bacteriófagos no biocontrolo de bactérias estar amplamente difundido na comunidade
científica, ao nível empresarial existe ainda uma escassez destes produtos.
Este facto está relacionado com o advento dos antibióticos no seculo XX, que
relegou esta tecnologia para segundo plano. O interesse nos bacteriófagos
ressurgiu associado aos problemas decorrentes do uso de substâncias químicas
(ex. toxicidade e RAM). A existência de produtos comerciais confirma a
aceitabilidade e segurança de produtos à base de bacteriófagos para uso na
indústria alimentar/agrícola, bem como abre portas regulamentares para a
introdução de novos produtos no mercado.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Bacteriófagos como fitofármaco O consórcio do projeto BioFago
pretende caracterizar a
epidemiologia de E. amylovora e trazer ao mercado português o primeiro fitofármaco à base de bacteriófagos
para o controlo eficaz do fogo bacteriano em espécies de pomóideas. BioFago é
um fitofármaco concebido para aplicação direta no pomar, amigo do ambiente
(livre de produtos químicos), fiável, seguro e económico, que pretende ajudar
os produtores a controlar as perdas de produção pelo fogo bacteriano, contribuindo simultaneamente para redução
de resistências desenvolvidas aos antibacterianos aplicados. O desenho e desempenho
do produto depende em muito da diversidade de estirpes circulantes no país,
pelo que o projeto irá caracterizar a diversidade genómica de estripes
existente em Portugal, conhecimento este imprescindível também às autoridades
públicas na definição das suas estratégias de vigilância/monitorização. A coleção de estirpes obtida será usada para
o isolamento de bacteriófagos a partir de amostras de pomares infetados. Os bacteriófagos
serão depois sequenciados e avaliados quanto ao seu espectro de ação,
estabilidade e especificidade. Essa informação será usada para definir um
cocktail fágico da formulação do fitofármaco. De forma a garantir a
transferência do conhecimento gerado, iniciaremos os caminhos regulatórios
necessários (permissão de testes de campo; aprovações de uso excecional nos
termos do artigo 53 do Regulamento da UE 1107/2009), bem como produziremos a
formulação BioFago em ambiente industrial ao abrigo de um sistema de Boas
Práticas de Fabrico. Desta forma, os testes em pomar serão o reflexo real do
desempenho do produto. Este projeto prevê também a sensibilização dos
produtores para a importância da testagem para a doença; bem como para a
relevância do uso responsável de pesticidas e as alternativas existentes no
mercado. Objetivos e Tarefas O foco será do projeto será
dado à Maçã e Pera, pois representam a fonte de receita mais importante para tecido
hortofrutícola português, bem como as culturas mais afetadas
por E. amylovora. O BioFago assenta em 6 tarefas: Tarefa 1. Gestão e coordenação Tarefa 2. Caracterização do contexto
epidemiológico nacional do fogo bacteriano Tarefa 3. Desenvolvimento de fitofármaco com
potencial biotecnológico Tarefa 4. Produção das formulações em grande
escala Tarefa 5. Teste dos fitofármacos em pomar Tarefa 6. Avaliação sensorial dos frutícolas controlados por fitofármacos Tarefa 7. Disseminação e exploração Estas
tarefas pretendem dar resposta a objetivos concretos, enquadrados nas diferentes linhas de ação
(LA) e nos objetivos operacionais (OP) da iniciativa emblemática Uma Só Saúde.
Mais concretamente: 1. Conhecer e caracterizar
o contexto epidemiológico nacional do fogo bacteriano (LA 2.1; OP1); 2. Promover o acesso a plataformas
de depósito de bactérias fitopatogénicas (com dados de isolamento, origem
geográfica, dados genómicos, etc); bem como desenvolver indicadores de
fitossanidades para auxílio aos produtores/autoridades públicas (LA 2.1, 2.2;
OP2, OP4); 3. Desenvolver estratégias
de controlo à base de bacteriófagos para E. amylovora, bem como criar
banco nacional de bacteriófagos para E. amylovora (LA 2.1, 2.2, 2.3;
OP1, OP2, OP4); 4. Implementar metodologias
rápidas harmonizadas baseadas em biologia molecular (LA 2.1, 2.2; OP2); 5. Formar e sensibilizar os
produtores para o uso responsável de pesticidas e para as alternativas existentes;
bem como capacitar para o uso correto destas moléculas/alternativas (LA 2.3;
OP3).
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
O BioFago é
formado por uma equipa multidisciplinar que combina o know-how
científico e a perícia tecnológica necessária em 6 parceiros (2 instituições de
ensino superior e ou tecnológico, 1 Centro de competências, 1 Associação do
setor, 1 PMEs e 1 Laboratório Colaborativo), de forma a garantir o cumprimento
dos seus objetivos. Poder-se-á considerar a inclusão de outros parceiros que
possam adicionar conhecimento complementar à candidatura. A
UM, em particular o Bacteriophage Biotechnology Group (BBiG) do Centro
de Engenharia biológica da Universidade do Minho em Braga, é a referencia
nacional na área da aplicação biotecnológica dos bacteriófagos, constituído por
um grupo de investigadores experts no isolamento e caracterização dos
bacteriófagos obtido através de diversos projetos financiados por fundos
nacionais (e.g. PhageSTEC - POCI-01-0145-FEDER-029628) e europeus (p.e. PHAGEVET-P
- STReP FP6-2003-Food-2-A:007224), através de técnicas de microbiologia e
sequenciação de genomas. A UM será responsável pela Tarefa 1 e Tarefa
3. O
INIAV é constituído por sete Polos de Atividade, dos quais 3 estão
envolvidos nesta iniciática. O Pólo de Inovação de Vairão (PIV), que desenvolve
atividades de investigação na área da segurança alimentar, cujas competências
integram-se na Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Tecnologia e
Segurança Alimentar (UEIS-TSA). O Polo de Oeiras que integra a Unidade de Sanidade
Vegetal e que assegura a componente técnica/laboratorial do plano de vigilância
do Fogo Bacteriano coordenado pela DGAV. O Polo de Inovação de Alcobaça (Estação
Nacional de Fruticultura) especializado na produção de frutícolas, que dispõe
de pomares próprios. INIAV já trabalhou com a UM anteriormente para a
caracterização de bactérias patogénicas alimentares a nível nacional no projeto
PhageSTEC. O INIAV será responsável pela Tarefa 2 e Tarefa 5. A
VectorB2B é uma Associação/Laboratório Colaborativo na área do
desenvolvimento e produção de agentes terapêuticos biológicos. Tem experiência comprovada
na produção de bacteriófagos em birreatores (de 8 a 50 L) em condições GMP e
não GMP. A VectorB2B será responsável pela Tarefa 4. A
ANP representa cerca de 86% da produção de Pera Rocha em Portugal. Reúne
os principais intervenientes do setor: fruticultores, associações de
fruticultura, centrais fruteiras, exportadores e outras entidades interessadas
no desenvolvimento da Pera Rocha, como autarquias e instituições de crédito. A
ANP coordena e incentiva uma política de qualidade para este fruto único e é a
entidade gestora da Denominação de Origem Protegida (DOP) “Pera Rocha do
Oeste”. ANP será responsável pela Tarefa 6 e ajudará na Tarefa 7. A
COTHN promove o desenvolvimento da fileira hortofrutícola nacional,
especialmente através da investigação aplicada, melhoria do nível de
conhecimentos no sector, aprofundamento da cooperação e parcerias nas áreas da
tecnologia e da organização. A COTHN será responsável pela Tarefa 7 e ajudará
na Tarefa 6. A FRUTUS desenvolve
a sua atividade principal no âmbito de Fruta e produtos hortícolas. FRUTUS tem como
objetivos aa comercialização de fruta, bem como otimizar custos de produção e a
rentabilidade dos investimentos realizados em resposta às normas ambientais. FRUTUS
ajudará na Tarefas 6 e Tarefa 7. Lista dos parceiros
(Identificar por extenso e separadas por; todas as entidades que constituem a
parceria) Universidade do Minho (UM); Instituto Nacional de
Investigação Agrária e Veterinária I.P. (INIAV); Centro Operativo e Tecnológico
Hortofrutícola Nacional (COTHN); Associação Nacional de Produtores de Pera
Rocha (ANP); VectorB2B; Estação Fruteira do Montejunto Crl (Frutosus)
|
|
|