|
CIRCULAR – Aplicações Inovadoras de Subprodutos Agroindustriais e seus Compostos Bioativos (ID: 357 )
Coordenador: CEBAL - Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo
Iniciativa emblemática: 5. Agricultura circular
Data de Aprovação: 2022-10-06 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III: Baixo Alentejo
Identificação do problema ou oportunidade
Em
Portugal produzem-se anualmente elevadas quantidades de subprodutos decorrentes
das atividades agroindustriais que, se não
forem bem geridos, podem ser altamente poluentes, com um forte impacto negativo
a nível ambiental pelo que as empresas geradoras são responsáveis pela
sua eliminação à qual estão associados custos elevados. No entanto estes
subprodutos, pela sua disponibilidade e composição química, devem ser encarados
como uma oportunidade para outros setores de atividade, como a produção animal
e as indústrias farmacêutica e alimentar. Muitos dos subprodutos agroindustriais
são importantes fontes de nutrientes primários (proteína, fibra, energia), mas
também de compostos bioativos (ex. polifenóis, carotenoides e vitaminas). Portugal é deficitário em matérias-primas para alimentação animal, sendo
altamente dependente da importação, o que por si agrega à alimentação animal
uma elevada pegada ecológica. A esta situação acresce a escalada de preços das
matérias-primas utilizadas na alimentação animal a que assistimos nos últimos
meses o que torna ainda mais premente a procura por alternativas que permitam
uma produção animal menos suscetível às oscilações dos preços das
matérias-primas nos mercados internacionais. A substituição das matérias-primas
convencionais importadas por recursos alimentares alternativos de produção
local como por exemplo, subprodutos da agroindústria tem sido apontada como uma
estratégia para reduzir a dependência externa e aumentar a sustentabilidade dos
sistemas de produção animal. Mas para que em Portugal a utilização destes
subprodutos na alimentação animal de forma sistemática e em larga escala seja
uma realidade é ainda necessário otimizar diversos aspetos como os processos de
manuseamento e de conservação e definir níveis e formas de utilização que
permitam elevados níveis de produtividade/rentabilidade, e garantir a segurança
e a qualidade do produto final. Para
além de fornecerem nutrientes primários utilizáveis pelos animais, de uma forma
geral os subprodutos da agroindústria são ricos em compostos bioativos com efeitos
benéficos reconhecidos na saúde humana e animal. Os polifenóis são um desses
grupos de compostos bioativos que têm despertado especial interesse da comunidade
científica pelo importante papel que podem desempenhar na saúde humana e como
auxiliares na conservação de alimentos, devido à sua forte atividade
antioxidante (50 vezes mais forte que a vitamina E e 20 vezes mais do que a
vitamina C) e antimicrobiana. Na alimentação animal estes compostos têm sido também
estudados pela capacidade que têm de melhorar a eficiência alimentar (ex. utilização
da proteína), de reduzir o impacto ambiental dos sistemas pecuários por redução
das emissões de metano e perdas de azoto, de melhorar a saúde animal pela sua atividade
antioxidante, antibiótica e anti-helmíntica, e de melhorar a qualidade dos
produtos finais (ex. perfil lipídico, estabilidade oxidativa e aspetos
sensoriais da carne, leite e derivados e ovos). Os
subprodutos da vinificação, da produção de azeite, de amêndoa e da seleção e
processamento dos frutos, são exemplos de subprodutos abundantes em Portugal com
uma composição química que os torna muito interessantes para aplicação na
alimentação animal e como fontes de polifenóis. Assim,
nesta proposta pretende-se desenvolver e otimizar soluções de utilização
integrada destes subprodutos, e numa lógica de resíduo zero, através da sua aplicação em estratégias
alimentares para animais e no desenvolvimento de produtos inovadores para utilização
alimentar, farmacêutica e veterinária.
O desenvolvimento de soluções eficientes para
a utilização de subprodutos agroindustriais valorizando a sua riqueza
nutricional e atividade biológica tem, sem dúvida, interesse relevante numa
visão de economia circular, promovendo o aproveitamento e valorização destes subprodutos
através do desenvolvimento e otimização de aplicações inovadoras com benefícios ambientais, económicos e para a saúde animal e humana.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Esta
iniciativa assenta em dois eixos que se complementam e interagem entre si,
permitindo uma utilização integrada e completa dos subprodutos. Os subprodutos agroindustriais a trabalhar serão:
bagaço de uva, bagaço de azeitona, capota de amêndoa, repiso de tomate e outros
subprodutos da seleção e processamento de frutos. O
1º eixo consiste na utilização de subprodutos em natureza na alimentação
animal, quer como fontes de nutrientes primários como de compostos bioativos.
Em paralelo, no 2º eixo os subprodutos serão utilizados para a produção de
extratos bioativos para aplicação alimentar, farmacêutica, veterinária e como
aditivos zootécnicos. Os subprodutos obtidos no decurso dos processos
extrativos para a obtenção dos extratos serão avaliados como fontes de nutrientes
primários com vista à sua utilização na alimentação animal (Atividade 7), sendo
assim ao longo de todo o processo valorizadas as diferentes frações que vão
sendo geradas, promovendo-se a utilização completa dos subprodutos, com resíduo
zero. Os
subprodutos agroindustriais apresentam problemas de conservação pelo seu
elevado teor em humidade, o que limita a sua utilização. O desenvolvimento de
soluções acessíveis e de baixo custo que permitam estabilizar os subprodutos,
permitindo múltiplas utilizações e por longos períodos é essencial para uma
valorização económica efetiva destes recursos. Assim, na Atividade 1, que é
comum aos dois eixos do projeto, pretende-se otimizar o processo de
desidratação dos subprodutos com recurso a desidratadores alimentados através
de energia solar. As
equipas do INIAV-Fonte Boa, FMV e CEBAL possuem vasta experiência sobre a
utilização de subprodutos agroindustriais na alimentação animal, principalmente
em ruminantes que são as espécies que maior partido tiram deste tipo de
matérias-primas. Assim, enquadrado no 1º eixo, na Atividade 2 serão otimizadas
as condições de utilização de subprodutos desidratados na alimentação de
ruminantes tendo como objetivos atingir elevados níveis produtivos, garantir a segurança
e qualidade do produto final, melhorar o estado de saúde do animal (estado
antioxidante e parasitário), reduzir os custos com a alimentação animal e
avaliar o impacto destas estratégias alimentares nas emissões de metano. Quanto ao 2º eixo, serão otimizados os processos de separação
e isolamento de compostos polifenólicos a partir dos subprodutos (Atividade 3).
Para preparação dos extratos ricos em polifenóis serão utilizadas
tecnologias de extração que têm vindo a ser desenvolvidas pelo INIAV (Dois
Portos e Vairão) com “solventes verdes” e que permitem elevados rendimentos de
extração. Os extratos obtidos serão avaliados quanto à sua ação antioxidante, antimetanogénica,
antimicrobiana, anti-helmíntica e capacidade de modulação da bioidrogenação
ruminal em ruminantes através de ensaios in vitro (Atividades 4, 5 e 6).
Os extratos que apresentem melhores resultados quanto a estas atividades serão
posteriormente validados, para utilização como aditivos zootécnicos ou de uso
veterinário, em ensaios in vivo com pequenos ruminantes (Atividade 4).
Numa ótica de desenvolvimento de produtos farmacêuticos para aplicação em
humanos, os extratos com maior potencial serão testados em ratos
para validação das atividades biológicas
(Atividade 5). Os extratos com melhores resultados quanto à ação
antioxidante e antimicrobiana serão também testados com vista à sua utilização
em aplicações alimentares, especificamente para produção
de embalagens alimentares ativas biodegradáveis que permitam assegurar a
segurança e qualidade de alimentos embalados (Atividade 6). É objetivo desta proposta uma ampla transferência do conhecimento científico
e tecnológico através de publicações em revistas técnico-científicas,
organização e participação em eventos técnico-científicos, criação da página
web do projeto, e publicações nas várias plataformas de comunicação das
entidades participantes (Atividade 8).
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
Atividade 1. Desidratação dos
subprodutos agroindustriais. O desenvolvimento e otimização do processo de
desidratação dos subprodutos, que é comum aos dois eixos desta proposta, será
realizado pela empresa BBKW, com o apoio do INIAV e CEBAL na realização de
determinação analíticas para monitorização do processo. Atividade 2. Utilização de subprodutos agroindustriais
na alimentação animal. Nesta atividade serão otimizadas as condições de
utilização dos subprodutos na alimentação animal, sendo avaliado o impacto no
desempenho produtivo e qualidade dos produtos. Esta atividade será realizada
pelo CEBAL (coordenador da atividade), INIAV, FMV, e Carlos e Helder Alves Sociedade
Agropecuária Lda. Atividade 3. Extração de compostos
bioativos de subprodutos agroindustriais. O desenvolvimento e otimização dos processos
extrativos para obtenção de extratos polifenólicos será realizado pelo INIAV (coordenador
da atividade). O INIAV-Dois Portos focar-se-á na otimização dos processos
extrativo com vista à produção de extratos brutos para aplicação na alimentação
animal e de extratos purificados para aplicações farmacêuticas. O INIAV-Vairão desenvolverá processos extrativos para
obtenção de extratos ricos em polifenóis
bioativos com grau alimentar e para
incorporação em embalagens bioativas. Atividade
4. Aplicação dos extratos bioativos na alimentação animal. Os extratos para aplicação na alimentação animal
serão caracterizados, através de ensaios in vitro. O CEBAL avaliará
a atividade antioxidante. A ação antimetanogénica será avaliada pelo
INIAV-Fonte Boa. A FMV será responsável pela avaliação da capacidade de
modulação da bioidrogenação ruminal e avaliação da atividade anti-helmíntica. Os
extratos brutos que apresentem os melhores resultados serão utilizados em
ensaios in vivo com pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) para validação do impacto na produtividade, produção
de metano, qualidade dos produtos, e estado de saúde dos animais. Participam nesta atividade INIAV-Fonte
Boa (coordenador da atividade), CEBAL e FMV. Atividades 5 e 6. Aplicação
de extratos bioativos nas indústrias farmacêutica (Atividade 5) e alimentar (Atividade
6). Os extratos purificados serão caracterizados em termos químicos e quanto às
atividades antimicrobiana e antioxidante através de métodos químicos e
celulares. Estas caracterizações serão realizadas pelo INIAV (Dois Portos e
INIAV-Vairão). Para aplicação farmacêutica (Atividade 5), os resultados das
atividades biológicas obtidos em ensaios in vitro serão validados em
ensaios com ratos. Estes ensaios serão da responsabilidade do INIAV-Dois Portos,
que os realizará em colaboração com a School of Functional Food and Wine –
Shenyang Pharaceutical University, China. O INIAV-Vairão, a Universidade do
Minho e a empresa Vizelpas – Flexible Films (a aguardar inscrição na RRN) dedicar-se-ão
a aplicação dos extratos em embalagens alimentares bioativas (Atividade 6),
para desenvolvimento e avaliação a eficácia das novas embalagens alimentares contendo estes extratos na
inibição do desenvolvimento microbiano e da oxidação lipídica em alimentos
típicos da dieta Mediterrânica. Atividade 7. Caracterização das
biomassas resultantes dos processos de extração para utilização na alimentação animal.
Na perspetiva de uma utilização completa dos subprodutos, as biomassas que vão
sendo produzidas ao longo dos processos de obtenção dos extratos polifenólicos
serão caracterizados química e nutritivamente com vista à sua aplicação na
alimentação animal. Sempre que se revele viável do ponto de vista nutricional e
tecnológico, essas biomassas serão integradas na formulação de dietas a testar
nos ensaios com os animais (atividades 2 e 4). Esta atividade será realizada
pelo INIAV-Fonte Boa (coordenador da atividade), CEBAL e FMV.
Atividade
8. Transferência do conhecimento científico e tecnológico. Esta atividade será
da responsabilidade da IACA e do Centro de Competências de Caprinicultura
(representado pela CM Vila Nova de Poiares), e na qual participarão todas as
outras entidades envolvidas no projeto.
|
|
|