Bolsa de Iniciativas PRR

 

CircularFeed.PT (ID: 367 )
Coordenador: DGAV - Direção Geral de Alimentação e Veterinária
Iniciativa emblemática: 5. Agricultura circular
Data de Aprovação: 2022-10-06 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III:  
 
Identificação do problema ou oportunidade

Nos últimos anos tem havido uma crescente consciencialização e educação sobre a temática ambiental. De facto, tem aumentado a preocupação da sociedade e dos governos relativamente às questões relacionadas com o meio ambiente, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade do planeta Terra, que representa, atualmente, um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade. A economia circular apresenta-se como um ponto central para dar resposta a este desafio.

Uma economia baseada nestes princípios coloca a eficiência de recursos no centro da tomada de decisão económica, garantindo valor acrescentado e assegurando que os recursos sejam mantidos por mais tempo possível, de modo a serem reutilizados várias vezes. Neste pressuposto a produção de resíduos é limitada, a procura de recursos é minimizada, a eficiência é aumentada e os custos reduzidos. Isto significa que é necessário converter os resíduos e matérias residuais num “recurso”, combatendo o desperdício e ligando o final de um processo ao início do outro, criando um circuito de retorno.

A produção pecuária, nomeadamente no que diz respeito à alimentação, está identificada como sendo uma área de elevado potencial para a economia circular e que deverá contribuir para a mitigação de um cenário onde se verifica uma maior escassez de recursos hídricos, agrícolas ou florestais, consequência das alterações climáticas ou constrangimentos na disponibilidade de alimentos.

A alimentação animal é um dos principais fatores de custo nos sistemas de produção pecuária, sendo reconhecida a elevada dependência externa da União Europeia (UE) em matérias-primas para o setor, bem como a falta de desenvolvimento de estratégias alternativas para o abastecimento de fontes nutricionais adequadas que minimizem a dependência das importações e que promovam a implementação de uma economia circular, tendo este problema um forte impacto económico e ambiental.

A dependência do país e da própria UE tornou-se recentemente bem clara com a atual guerra na Ucrânia. Tratando-se de um dos países mais importantes enquanto produtores e exportadores de cereais, nomeadamente de milho (utilizado para transformação de farinhas de ração para animais), com a situação atual do país esta matéria-prima tornou-se mais escassa e cara, criando um problema grave para os produtores de animais na Europa.

Perante o panorama atual, torna-se urgente a procura e recurso a matéria-prima alternativas para a produção de alimentos para animais.

Por outro lado, a produção de alimentos gera perdas ao longo da sua cadeia produtiva e de distribuição, que se transformam muitas vezes em resíduos e/ou subprodutos. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, cerca de 30% da produção alimentar a nível mundial é enviada para aterro/ compostagem, desperdiçando o teor nutritivo de subprodutos que poderiam ter outro valor. Na UE, perdem-se ou desperdiçam-se cerca de 87,6 milhões de toneladas de alimentos todos os anos.

Estes subprodutos ou derivados da indústria agroalimentar têm um enorme potencial de utilização na alimentação animal, podendo ser misturados com algumas matérias-primas de melhor qualidade, uma vez estudadas as suas propriedades nutricionais e químicas e a sua eficácia e segurança na alimentação das várias espécies pecuárias, melhorando a qualidade da alimentação animal.

Assim, a elevada dependência externa da EU em matérias-primas para alimentação animal, aos elevados níveis de desperdício alimentar e a necessidade urgente de medidas de mitigação às alterações climáticas visando um planeta mais sustentável, criam a necessidade/oportunidade de aproveitamento de subprodutos para alimentação animal, contribuindo para:

·       Redução da dependência externa

·       Disponibilização de fontes nutricionais alternativas

·       Aumentar a circularidade e sustentabilidade dos sistemas

·       Produção animal mais sustentável apoiada numa economia circular

·       Diminuição de desperdícios alimentares

·       Reduzir o impacto ambiental global

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

O projeto Circul@rFeed.PT visa promover a transição para uma agricultura circular, baseado em atividades de IDT e Inovação, com elevado valor acrescentado e incorporação de conhecimento e tecnologia, possibilitando uma resposta adequada aos desafios atuais e futuros do setor, como os constrangimentos na disponibilidade de matérias-primas para alimentação animal, as alterações climáticas ou o desperdício alimentar, potenciando uma cascata de valor e contribuindo para uma agricultura económica e ambientalmente mais sustentável.

Pretende-se avaliar o potencial benéfico da inclusão na alimentação animal (suínos, aves e bovinos) de subprodutos e/ou derivados da agropecuária e da indústria agroalimentar, como capota de amêndoa, farinha de bolachas, fosfato tricálcico de origem animal, sêmea de cereais e insetos (larvas de mosca soldado negro Hermetia illucens, BSF e a larva da farinha Tenebrio molitor). O projeto consistirá no desenvolvimento e testagem de novas dietas alimentares para animais, tendo por base coprodutos, pretendendo-se que estas venham a apresentar um elevado valor nutricional, respeitando todas normas de segurança alimentar ao longo da cadeia de valor.

Será desenvolvida uma plataforma eletrónica inovadora que irá agregar a caracterização, avaliação e qualificação destas alternativas alimentares, disponibilizada aos produtores agropecuários e aos operadores do setor dos alimentos para animais, tornando-se numa mais-valia para a sua promoção e utilização, apresentando-se como uma alternativa ao abastecimento dos operadores destes mercados.

Objetivos:

Promoção da economia circular mediante a reutilização de nutrientes contidos nos subprodutos e derivados da agropecuária, agroindústria ou outros, com desenvolvimento de um mercado alternativo de novas matérias-primas de qualidade comerciável e seguras para alimentação animal 

Criação de manuais de boas práticas para efeito de recolha, armazenamento, transporte e processamento dos subprodutos e derivados da agropecuária, agroindústria ou outros

Disponibilização de uma plataforma eletrónica que inclua, caracterize, certifique e promova fontes nutricionais de origem nacional, e que se constituam como fontes nutricionais para animais de criação

- Estudos para caracterização, certificação e valorização de algum coprodutor/produtos derivados da agropecuária e da indústria agroalimentar como fontes nutricionais alternativas em alimentação animal, cem conceito de circularidade dos sistemas de produção animal:

 o   Subprodutos do amendoal intensivo em alimentação de bovinos, com avaliação da sua inclusão como alimento grosseiro e respetiva parametrização;

o   Recurso a insetos como possível fonte proteica alternativa para o aumento da sustentabilidade da alimentação de aves criadas em regime ao ar livre/controlo da “feather pecking” no solo;

o   Utilização de fosfato tricálcico de origem animal na alimentação de galinhas poedeiras como valorização de subprodutos;

o   Recuperação dos derivados da panificação/pastelaria para a produção de farinha de bolacha para alimentação de suínos;

o   Utilização de sêmeas de cereais provenientes da indústria da moagem na alimentação de suínos.

 O projeto contribuirá para:

·       A criação de melhores condições para o aumento do rendimento dos produtores, tornando a atividade agropecuária e a agroindústria mais rentável, atrativa e competitiva;

·       Uma agricultura mais resiliente, que protege o ambiente, assegura a sustentabilidade dos recursos e contribui para a transição climática, alicerçada numa “Rede de Inovação” com uma cobertura territorial significativa, que permite estimular o desenvolvimento de um ecossistema suportado em inovação resultante da incorporação de conhecimento e tecnologia.

O projeto visa um esforço crescente na reutilização de recursos, com o desenvolvimento de um mercado secundário de novos ingredientes para inclusão nas dietas dos animais, contribuindo para uma economia circular, mitigando a problemática do desperdício alimentar e das alterações climáticas.

 


 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

·    - Definição e caracterização de subprodutos para o desenvolvimento de novas fontes de matérias-primas para a alimentação animal

Serão identificados os parâmetros adequados à caraterização de reconhecidas e novas fontes alimentares, nomeadamente, no que diz respeito aos níveis de incorporação dos subprodutos e à formulação das dietas apropriadas em função das espécies animais visadas. Estas novas fontes alimentares serão caracterizadas em termos nutricionais e de fatores de risco, por forma a garantir que todos os requisitos de segurança alimentar sejam cumpridos ao longo da cadeia de valor.


Serão caracterizadas mais detalhadamente algumas matérias-primas/subprodutos de exclusiva produção nacional para potencialização da sua utilização em alimentos compostos/diretamente na dieta dos animais designadamente:
 

o   Larvas de mosca soldado negro - BSF Hermetia illucens: Ingredient Odyssey

o   Larvas da farinha - TM Tenebrio molitor: Thunder Foods

o   Farinha de bolachas: TUERO

o   Capota de amêndoa: PME produtora de amêndoa (a definir)

o   Sêmeas de cereais: PME da indústria da moagem (a definir)

o   Fosfato Tricálcico: ETSA (não financiado)

Nesta primeira área de trabalho, para além da participação dos parceiros acima mencionados enquanto produtores e fornecedores da matéria-prima/subproduto, menciona-se:

o   DGAV: com o seu polo de inovação será responsável pela caracterização e enquadramento legal das novas dietas alimentares

o   INIAV: responsável pela análise laboratorial referente à formalização de dietas para suínos com incorporação de farinha de bolachas e das sêmeas de cereais

o   Egas Moniz: responsável pela caracterização química, microbiológica e avaliação nutricional das dietas com utilização de insetos na alimentação de aves

o   FeedInov: responsável pela caracterização e segurança alimentar para as dietas com utilização de capota de amêndoa e fosfato tricálcico

·       - Ensaios e testagem das novas dietas de alimentação animal

Serão efetuados ensaios e testes relativos às novas dietas, e realizada uma avaliação e relatório técnico no final de cada ensaio, que permitirão a criação de fichas técnicas para cada nova fonte alimentar. Os testes/ensaios a desenvolver serão nos seguintes domínios:

o   Ensaio/testagem das novas dietas em bovinos, utilizando capota de amêndoa diretamente na sua alimentação: SABP

o   Ensaio/testagem em suínos, com incorporação do subproduto farinha de bolacha e das sêmeas de cereais: INIAV

o   Ensaio/testagem em aves criadas em regime ao ar livre ou no solo (frango do campo), utilizando larvas vivas de inseto, incluindo avaliação do efeito “feather pecking”: UNIOVO

o   Ensaio/testagem em galinhas poedeiras, com utilização de subproduto Fosfato Tricálcico de origem animal na dieta: UNIOVO

·      - Desenvolvimento de plataforma eletrónica com caracterização, certificação e promoção de fontes nutricionais de origem nacional

Esta atividade será da responsabilidade do líder (DGAV) e pretende-se com a mesma o desenvolvimento de uma plataforma que agregue a caracterização, avaliação e qualificação destas fontes inovadoras e alternativas para alimentação animal, e que será disponibilizada aos produtores agropecuários e aos industriais do setor dos alimentos para animais. A plataforma irá integrar com as principais bases de dados do setor, como o SIPACE e o SUBPROMAIS. A PME Ambidata será responsável pela especificação tecnológica da plataforma eletrónica, pelo seu desenvolvimento técnico/tecnológico, testes e publicação da plataforma Circul@rFeed.PT e pela integração com bases de dados do setor.

Para além das áreas de trabalho acima mencionadas, referem-se ainda atividades com divulgação de resultados do projeto e capacitação, incluindo elaboração de manuais de boas práticas, que, tendo o contributo de todos os parceiros, serão lideradas pelo parceiro IACA e uma participação fundamental do CNCACSA, um centro de competências, que não possuindo personalidade jurídica própria designou o INIAV como entidade gestora para assumir a sua representação.

A coordenação e gestão do projeto ficará da responsabilidade do líder do projeto.

 
Interlocutor: José Costa (DGAV)   Email interlocutor: josecosta@dgav.pt   Email entidade: josecosta@dgav.pt