Bolsa de Iniciativas PRR

 

ReViTA - Requalificar e revitalizar a agricultura familiar como sistema multifuncional em territórios de montanha e semi-áridos (ID: 373 )
Coordenador: MORE - Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação - Associação
Iniciativa emblemática: 7. Revitalização das zonas rurais
Data de Aprovação: 2022-10-13 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Beiras e Serra da Estrela
 
Identificação do problema ou oportunidade
A atual fraca atratividade da agricultura para os jovens conjugada da diminuição da fertilidade dos solos, do esgotamento dos recursos, das alterações climáticas e perda de biodiversidade, reflete-se, especificamente no território em estudo, no abandono dos terrenos montanhosos e pouco férteis levando à fragilidade e mesmo extinção de espécies autóctones. Este projeto permite revitalizar a cultura dos cereais e das leguminosas de grão e por sua vez introduzir uma cultura arbórea como a avelaneira, culturas promotoras de equilíbrio ecológico e de uma ligação harmoniosa com o pastoreio e manutenção de raças autóctones. A Churra Mondegueira (CM) que encontra neste território o seu solar, apresenta uma grande fragilidade antevendo-se a sua extinção devido ao reduzido número de efetivos. Neste contexto, há uma oportunidade de revitalizar e diversificar a agricultura com estas culturas, articulando com práticas pastoris e turísticas.

O grão de centeio é cada vez mais valorizado pelos mercados regionais, a colza é uma oleaginosa de elevado valor e produtividade nas condições ecológicas do norte e centro de Portugal, o trigo espelta é muito procurado por toda a Europa no mercado dos alimentos saudáveis, e as leguminosas de grão são determinantes no equilíbrio ecológico à rotação, tendo uma longa tradição de consumo na região. Em conjunto, estas culturas fornecem restolho que pode servir de pasto estival para ovinos e facilitar o maneio dos animais. Os resíduos derivados são importantes para manter estáveis os níveis de matéria orgânica no solo. Estas quatro culturas assim integradas na rotação dispensam a aplicação de produtos fitossanitários e funcionam com a aplicação de quantidades mínimas de fertilizantes. Na escolha de sementes será dada preferência às melhoradas ou testadas no território nacional pelo INIAV. Todas as culturas são mecanizáveis e usam equipamentos disponíveis na região. A nova rotação aumentará muito o equilíbrio ecológico do agro-sistema com ganhos de produtividade, custos reduzidos, acréscimo de valor produtivo de mercado, e com potencial de produção em regiões desfavorecidas. 

O interesse e procura crescente pelos frutos secos, em particular, pela Avelã, representa em Portugal um volume de importações de 2,312 M€, aquém dos 0,052 M€ de exportações, resultando num balanço comercial negativo de 2,259 M€; nesta conjuntura, é importante divulgar os seus pontos fortes e incentivar a sua produção. Face aos reduzidos custos de instalação e de produção e tratando de um fruto pouco perecível e de fácil conservação e transporte, é estratégico reforçar a inovação e transferência de conhecimento aos produtores. Assim, propõe-se a avaliação de variedades de avelã em ambiente de AF, que criem valor a esta fileira e com mecanismos de suporte à decisão e colheita.

A CM é uma ovelha rústica muito bem-adaptada às condições que se fazem sentir na região centro interior, em zonas de serrania relativamente áridas, onde o pasto natural é sazonal e as reservas de água, escassas. Atualmente não se praticam rotas de transumância, mas os animais ainda pastoreiam à busca de mais alimento. Este esforço é recompensado pelos produtos de excelente qualidade como o leite, rico em proteína e gordura e utilizado na produção de queijo e requeijão e, na região demarcada, queijo e requeijão Serra da Estrela. O borrego Mondegueiro, de sabor característico e produção ecológica, tem uma carne de baixo teor em gordura e colesterol, cujo consumo abona a economia e aumenta a rentabilidade de explorações tradicionais.

Para a preservação destes ativos agroalimentares, a valorização turística de todo este património é essencial. Um levantamento sistemático destes produtos gastronómicos e receituário tradicional, contribuirá para propostas de desenvolvimento sustentável. Propomo-nos criar um produto turístico de descoberta das dimensões da agricultura pastoril, através da paisagem, gastronomia, artesanato, música tradicional portuguesa, património pastoril, e do saber fazer do ciclo da lã e tecelagem tradicional, com formação e capacitação com designers e artesãos em inovação e design.
 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A revitalização das zonas rurais em Portugal exige uma abordagem multidisciplinar e integrada de modo a potenciar e maximizar a sua execução. Atrair e fixar novas gerações nos meios rurais são desafios indissociáveis das principais atividades económicas destas zonas, como sejam a agricultura, o agroalimentar e todas as atividades conexas, às quais se acrescenta o sector tecnológico. Neste contexto, a agricultura familiar (AF) continua a representar o principal alicerce de manutenção das pessoas nos territórios. O envelhecimento da população portuguesa, em geral, e nas zonas rurais em particular, obriga a políticas públicas de incentivo à continuidade das famílias rurais, onde o empoderamento dos jovens e mulheres agricultoras potencia para a mudança e sustentabilidade.

A iniciativa que se apresenta procura concretizar o que foi referido anteriormente, centrando-se na multifuncionalidade da AF através da capacitação e da diversificação económica. Foca-se nas zonas rurais de montanha, semiáridas e de baixa densidade populacional da região centro interior de Portugal, onde historicamente a AF tem sido um pilar da economia regional, e em setores que a representam, como os cereais, as herbáceas, os frutos secos e a pecuária, todos componentes de uma AF e de um só sistema. Assim, planeja-se um conjunto de atividades que atestem e promovam a diversidade económica que a AF pode representar, recorrendo, nomeadamente, a agricultores que disponibilizam campos agrícolas para experimentação agrónoma e, a produtores da raça autóctone Churra Mondegueira (CM) que apoiarão as atividades para a inovação turística respeitadora da herança cultural que esta raça representa. Revitalizar os territórios rurais, revitalizando o uso de produtos tradicionais e bem-adaptados ao clima.

A cultura de cereais na AF esteve sempre presente, tendo sido remetida para plano secundário com a falta de rentabilidade perante mercados internacionais. O quase completo desaparecimento do setor dos cereais da região centro deve-se às baixíssimas produtividades associadas a uma rotação cereal/pousio, desequilibrada do ponto de vista ecológico (basicamente uma monocultura em solos pobres), e ao seu baixo preço após terem sido eliminadas as barreiras alfandegárias que suportavam um preço elevado no produtor, acima dos mercados mundiais durante décadas.

Situação semelhante ocorre com a avelã, tradicionalmente plantada em modelos tradicionais no centro e norte do país, mas progressivamente abandonada devido a baixa produtividade resultante de erros de implantação e de cultivo. Assim, propõe-se avaliar novos porta-enxertos e variedades tradicionais como a Grada de Viseu e outras, principais e polinizadoras, como a Butler, Tonda de Giffoni, Segorbe e Ennis.

No que concerne à CM, aspira-se contribuir para o aumento da eficiência do sistema da sua produção, melhorando os seus recursos alimentares, em especial durante os períodos de escassez de pasto, que são cada vez mais frequentes e prolongados, direcionado para a melhoria dos encabeçamentos, a qualidade dos produtos animais, a gestão silvo-pastoril da paisagem e a preservação da biodiversidade.

A inclusão do turismo no desenvolvimento e valorização rural poderá ser feita através de serviços de ecossistema, envolvendo a cultura e o património material e imaterial, natural e paisagístico. Estes processos funcionam a nível local e regional, numa escala superior à da propriedade individual, observando a paisagem como um todo, e representando uma crescente oportunidade de revitalização económica através de ofertas turísticas. Esta ação potenciará a cadeia de valor agroalimentar, revertendo a perda dos produtos descritos e valorizando turisticamente a CM. Através da dinamização do património associado à pastorícia, bem como da promoção gastronómica dos produtos endógenos e do receituário tradicional associado, contribuir-se-á para preservar estes ativos, que progressivamente se perdem, identificando propostas de desenvolvimento para estes territórios, nomeadamente experiências de turismo criativo.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
Agrupamento De Produtores Da Raça Ovina Churra Mondegueira (AproMêda). Dinamização e transferência de conhecimento aos produtores desta raça autóctone. 

Associação Nacional De Criadores De Ovinos Da Serra da Estrela (ANCOSE), associação do setor. Acompanha os resultados obtidos e transfere conhecimento. Coordena a atividade de disseminiação.

Direção Regional Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), realização de estudos experimentais que permitem avaliar práticas e técnicas agrícolas. Ficará responsável pela avaliação e promoção da avelã na agricultura familiar.Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.  (INIAV), acompanha a instalação e acompanhamento das rotações de cereais e leguminosas, participa nas ações de formação e inovação.

Inês & Nuno Ribeiro, Lda; Secas e Boas - Produção, comercialização e Transformação de Castanha e outros frutos secos (PME). Cedência de campo experimental para instalação de rotações de cereais e leguminosas.

Instituto Politécnico de Bragança (IPB), responsável pela instalação e acompanhamento das rotações culturais nos campos experimentais de cereais e leguminosas.

Instituto Politécnico da Guarda (IPG), responsável pelas atividades relacionadas com o agroturismo e inovação cultural.

Instituto Politécnico de Viseu (IPV), representante do Centro de Competências para a Agricultura Familiar e Agroecologia (CeCAFA), agricultura familiar e agroecologia, mulheres e jovens agricultores. Contribuir para a transferência de conhecimento e capacitação dos agricultores na gestão da exploração, garantindo inovação tecnológica nas várias componentes de uma exploração agrícola.

MORE – Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação – Associação (MORE). Coordenação e gestão de projecto, participa nas actividades relacionadas com a experimentação em campos agrícolas, com o agroturismo e comunicação.

 
Interlocutor: Helena Amaral   Email interlocutor: hamaral@morecolab.pt   Email entidade: geral@morecolab.pt