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OLIVIA: Aplicação de princípios de agricultura circular na fileira do olival e do azeite para combater a Xylella fastidiosa (ID: 374 )
Coordenador: Success Gadget, Nanotecnologia e Novos Materiais, Lda.
Iniciativa emblemática: 5. Agricultura circular
Data de Aprovação: 2022-10-17 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Douro
Identificação do problema ou oportunidade
Em 2021, a União Europeia produziu mais de 2,2 milhões de toneladas de azeite, tendo Portugal contribuído com cerca de 2 289 549 hL. Aliado ao consumo crescente de azeite, fomentado pelas suas propriedades organoléticas e medicinais, tem-se verificado não só um aumento da produção de azeite, mas também de resíduos. Na Europa estima-se que, anualmente, sejam produzidos em média 9,6 milhões de toneladas de resíduos de azeitona nos lagares e 11,8 milhões de toneladas de resíduos da poda da oliveira. Para além do impacte ambiental, estes resíduos traduzem-se num problema económico associado ao custo da sua gestão e eliminação. Impulsionado pela escassez de recursos naturais e pela legislação, o sector do olival e do azeite está empenhado em aplicar os princípios de economia circular na criação de produtos sustentáveis de valor acrescentado tirando partido dos resíduos e subprodutos desta fileira. Em linha com a Missão Saúde dos Solos e Alimentação do Horizonte Europa, OLIVIA pretende contribuir para a prossecução da política de desenvolvimento sustentável da União Europeia através do desenvolvimento de estratégias que contribuem para cimentar o sector agrícola como pilar fulcral na implementação dos princípios de economia circular a longo prazo, encerrando ciclos de energia. O projeto OLIVIA foca-se em 3 problemas fundamentais relacionados com o setor agrícola: (1) crescente pressão sobre a produção agrícola devido ao aumento das necessidades alimentares de uma população mundial em expansão; (2) acumulação de resíduos e efluentes da olivicultura e produção de azeite que sem uma eliminação eficiente acarreta um elevado custo ambiental; e (3) escassez de fatores de produção derivados do petróleo (fertilizantes sintéticos, pesticidas) como consequência da carência de matéria-prima, tornando imperativo o desenvolvimento de novas soluções que assegurem uma produção rentável e sustentável. Assim, OLIVIA debruçar-se-á sobre soluções inovadoras utilizando resíduos da fileira do olival e do azeite para a produção de produtos de valor acrescentado, nomeadamente fibras têxteis biodegradáveis com propriedades de repelência e antimicrobianas. As fibras têxteis serão desenvolvidas a partir dos resíduos da poda das oliveiras e utilizadas na produção de telas de proteção. A incorporação de compostos ativos repelentes de insetos e compostos antimicrobianos extraídos do bagaço da azeitona, irá dotar as telas de propriedades bioativas capazes de prevenir e controlar a propagação de fitopatogénicos, entre os quais Xillela fastidiosa. Esta bactéria provoca sintomas de declínio em vários hospedeiros e é transmitida por insetos que se alimentam do xilema das plantas. A presença da X. fastidiosa em território português constitui um risco para as explorações agrícolas, existindo um elevado número de espécies vegetais suscetíveis a esta bactéria, incluindo a oliveira e a videira. Estima-se que se a X. fastidiosa infetar 35% das oliveiras existentes em território português, os danos causados serão superiores a 100 M€. Atualmente existem 3 zonas demarcadas em Portugal (Zona Metropolitana do Porto, de Lisboa e de Tavira). Estas têm vindo a ser alargadas à medida que se detetam novos focos de infeção. Até ao momento, não existe nenhuma medida de controlo deste microrganismo de uma planta doente em condições de campo. No entanto, a minimização da presença do vetor transmissor da doença, pela utilização de telas de proteção da árvore será um mecanismo facilmente acessível ao produtor, com ganhos evidentes na produtividade e qualidade do produto final. O conceito de economia circular cria-se, neste contexto, como uma valorização de resíduos e subprodutos da fileira do olival e do azeite para, em si mesmo, solucionar problemáticas intrínsecas à própria fileira. Garantindo, assim, a jusante da cadeia a proteção das plantas, o aumento de produtividade e qualidade dos seus produtos; e a montante o escoamento de componentes de elevado impacte ambiental.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Identificada com uma das 20 pragas de quarentena prioritárias da União Europeia (Regulamento Delegado (UE2019/1702), a bactéria X. fastidiosa apresenta um cenário de controlo/ prevenção difícil. Por um lado, a sua a propagação em pequena escala entre as plantas locais é facilitada por múltiplos insetos maioritariamente pertencentes a quatro famílias dentro da Hemiptera: Cicadellidae, Cercopidae (vetor dominante na Europa), Machaerotidae e Cicadidae. Por outro lado, a dispersão em grande escala de X. fastidiosa depende apenas movimento de plantas contaminadas. Até ao momento, foram identificadas 595 espécies de plantas hospedeiras desta bactéria sendo que muitas delas não apresentam indícios de infeção, o que dificulta a sua deteção precoce. OLIVIA apresenta uma estratégia alinhada com a visão de futuro da União Europeia e da Agenda de Inovação para a Agricultura 2020 -2030 na prossecução de uma agricultura mais resiliente e sustentável, assente em princípios de economia circular. A investigação, desenvolvimento e demonstração/ transferência dos resultados do projeto pretende contribuir para o aumento da rentabilidade e competitividade da fileira do olival e do azeite. Este aspira, ainda, contribuir para uma atividade agrícola mais resiliente assegurando a sustentabilidade dos recursos naturais. Assim, OLIVIA propõe uma abordagem de valorização do sector do olival e do azeite ao explorar alternativas sustentáveis para a valorização de subprodutos produzidos pelo setor e em linha com o Pilar II da Agenda de Inovação para a Agricultura 2020 -2030, nomeadamente: 1. Reutilização, enquanto subprodutos, dos resíduos da olivicultura e produção de azeite para a produção de fibras têxteis biodegradáveis com propriedades de repelência e antimicrobianas, reduzindo os custos de eliminação dos mesmos. 2. Desenvolvimento de um novo produto de maior valor acrescentado numa abordagem holística de cascata de valor e respeitando os princípios da economia sustentável, tirando partido de compostos repelentes e antimicrobianos presentes nos subprodutos da produção do azeite para prevenir/ controlar a propagação de fitopatogénicos, entre os quais X. fastidiosa, sem interferir com o crescimento da planta ou recorrer a fertilizantes sintéticos. OLIVA tem como ponto de partida os produtos com base tecnológica similar a proposta, desenvolvidos e comercializados por membros do consorcio. Concretamente, a empresa Success Gadget, nanotecnologia e novos materiais, Lda (SG) é detentora de tecnologia patenteada (EP3030077), na Europa e Brasil, relativa a funcionalização de materiais capacidade de repelência de insetos. Foi, também, a primeira empresa a conseguir o /autorização para a comercialização de um spray repelente de insetos para aplicação têxtil, na ECHA ao abrigo do regulamento BPR. O produto resultante do projeto apresenta-se como solução disruptiva para o combate de fitopatogénicos da oliveira, entre os quais X. fastidiosa. Esta tecnologia poderá ser facilmente adaptada a outros produtos têxteis presentes nas diversas cadeias de valor do sector agrícola, de modo a promover um aumento de produtividade e redução de desperdício noutras fileiras agrícolas. Para além do desenvolvimento da fibra biodegradável, OLIVIA terá uma forte componente de transferência de conhecimento envolvendo ações de divulgação e de formação. OLIVIA pretende capacitar os produtores da fileira da oliveira e do azeite de tecnologias emergentes resultantes da aplicação de conceitos de agricultura circular e difundir ferramentas e metodologias disponíveis para a prevenção e combate dos fitopatogénicos da oliveira. Estas ações serão suportadas quer pelo conhecimento já existente entre os diferentes membros do consórcio quer por novas competências e resultados adquiridos ao longo do projeto. Com a criação das soluções “circulares” inerentes ao sucesso deste projeto, pretende-se com fim último, contribuir para a constituição de massa crítica jovem em regiões desfavorecidas através da capacitação e qualificação de jovens agricultores com recurso a novas tecnologias.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
OLIVIA reúne uma equipa multidisciplinar com um modelo de gestão
assente em dois órgãos de gestão: (1) Plenário Científico: evento científico semestral
de divulgação onde os parceiros apresentaram as suas atividades e resultados;
(2) Comissão Executiva: constituída pelo coordenador de projeto e pelos
responsáveis de cada tarefa; reunirá mensalmente para monitorizar a execução
das tarefas, definir ações futuras e preparar estratégias de mitigação se
necessário.
A coordenação do projeto será da responsabilidade da empresa Success
Gadget, nanotecnologia e novos materiais, Lda (SG), que será incluída em todas
as tarefas. SG será a principal responsável pelo desenvolvimento e
caracterização da fibra têxtil, incluindo a funcionalização com compostos
bioativos, o design e desenvolvimento
da matriz têxtil. A SG será ainda responsável pela avaliação da viabilidade do
protótipo através da económica e de ciclo de vida, de forma a identificar
riscos e ineficiências do mesmo. A SG, reconhecida em 2019 por parte da ANI
como idónea em matéria de investigação e desenvolvimento, foi criada no final
de 2010 com o principal objetivo de realizar atividades de Investigação &
Desenvolvimento em torno de novas soluções de nanotecnologia aplicadas à
funcionalização de produtos têxteis, mas também a um conjunto diversificado de
outras aplicações em diversas indústrias.
A caracterização química e biológica dos compostos extraídos dos
subprodutos da produção do azeite e posterior avaliação da atividade de
repelência e antimicrobiana da fibra têxtil será da responsabilidade do INIAV
em colaboração com CEB/UM. O INIAV, para além do seu papel de coordenação da
iniciativa Agricultura Circular, é o Laboratório do Estado responsável por desenvolver
atividades de investigação na área para a Segurança Alimentar, Saúde Animal e
Vegetal. Sendo tutelado pelo Ministério da Agricultura, apoia os operadores de
vários setores desde a indústria agroalimentar, produção animal, produção agroflorestal,
entre outros. Compete-lhe, ainda, a assessoria ao governo e as Autoridades
Nacionais nestas áreas sempre que necessário. As competências técnicas estão
distribuídas por Polos, focados estrategicamente em setores específicos. No
caso do Polo de Vairão- Vila do Conde, há um foco na área da segurança
alimentar e no desenvolvimento de produtos de valor acrescentado. A equipa
alocada ao projeto OLIVIA agrega colaboradores com competências transversais nas
áreas de química e microbiologia, com especial foco na procura por alternativas
a antibióticos de origem natural. Assim, o INIAV será responsável por caracterizar
os princípios bioativos presentes nos subprodutos da produção de azeite,
permitindo a identificação e isolamento de compostos-chave que potenciem as
propriedades de repelência e antimicrobiana nos produtos finais, e,
consequentemente, garantindo a máxima eficácia e qualidade aos seus
consumidores finais. Assumirá, igualmente, o estabelecimento de protocolos e avaliação
da capacidade antimicrobiana dos mesmos, incluindo a manutenção da sua
atividade após inclusão nas fibras, comprovando a potestade da solução
inovadora e desafiadora que este consórcio pretende criar num contexto de
agricultura circular.
Os produtores JPCJP e FJCS terão um papel consultivo crucial na definição das características do produto a desenvolver bem como na validação do mesmo. Serão responsáveis pela implementação dos ensaios de campo e colaboração na divulgação dos resultados do projeto. A CAOM, juntamente com o COTHN-CC, desempenha um papel facilitador no contacto com associações do sector e agricultores. A CAOM será, ainda, responsável pela coordenação dos ensaios de campo que decorrerá nas plantações dos agricultores associados a este projeto. Colaborará na recolha de dados e apoiará o COTHN-CC na transferência de conhecimento para os agricultores. O COTHN-CC coordenará o plano de disseminação dos resultados junto dos agricultores, a organização de dias abertos de divulgação, a criação de grupos operacionais com agricultores e técnico e a elaboração de publicações técnicas.
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