Bolsa de Iniciativas PRR

 

PAGE - Paisagens Agrícolas e Alimentares com GErações de mulheres inovadoras (ID: 380 )
Coordenador: IPV - Instituto Politécnico de Viseu
Iniciativa emblemática: 7. Revitalização das zonas rurais
Data de Aprovação: 2022-10-04 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Centro NUTS III: Beiras e Serra da Estrela
 
Identificação do problema ou oportunidade

A produção de alimentos, a alimentação e as atividades conexas são determinantes da paisagem e desenvolvimento territorial. Aqui se incluem atividades económicas associadas como artesanato, turismo e gastronomia. Desde 2000, em decisão de Conselho de Ministros chefiado pelo atual Secretário-Geral da ONU, António Guterres, procura-se proteger e salvaguardar a gastronomia portuguesa enquanto “bem imaterial do património cultural de Portugal”.  Em 2017, diversos chefs criaram o “Manifesto pelo futuro da cozinha portuguesa” onde referem que “A nossa identidade gastronómica é a nossa origem … é o reflexo do nosso território, mas também dos povos e culturas que a influenciam…contribuindo para a sua riqueza e diversidade”.

Mas, se estes sistemas tradicionais, seus produtos e serviços são importantes nas escolhas dos consumidores, tal peso não corresponde aos benefícios económicos para as regiões do interior do país, em particular para as mulheres agricultoras, verdadeiras “guardiãs” do património agrícola e alimentar tradicional e popular do país. Património em risco de extinção já que a transmissão desse conhecimento entre gerações se tem perdido. Ao mesmo tempo, estas regiões são marginais ao desenvolvimento de cadeias alimentares globalizadas, registam menor capacidade de criação de redes de comercialização rurais – urbanas, menor número de visitantes, maiores taxas de emigração, maior envelhecimento populacional e menor desenvolvimento socioeconómico.

São, contudo, territórios cujas “paisagens agrícolas e alimentares” possuem maior potencial de valorização face aos critérios de qualidade que os seus produtos e serviços encerram e que só podem ser valorizadas através da identificação do conhecimento tradicional, promoção da inovação associada ao mesmo, sua transmissão inter-geracional e construção de capital social para a sua promoção e comercialização.

Nestes sistemas, as mulheres surgem com potencial de inovação diferenciado. É mais provável que as mulheres estabeleçam negócios mais pequenos, mais familiares, reflectindo histórias de vida em vez de modelos de crescimento empresarial. São também as mulheres as principais guardiãs e transmissoras do conhecimento associado a tais paisagens e tradições. Parece, assim, essencial associar estas inovações sociais e a existência de redes de suporte a processos de inovação liderados por mulheres. A construção da confiança e de capital social são criticamente importantes para o empreendedorismo das mulheres e realização do seu potencial.

Três abordagens são particularmente úteis para este projeto: ecossistémicas; sociais e culturais, evidenciando que paisagens agrícolas e alimentares são socialmente construídas; e sistémicas promovendo redes locais. O desafio será o de (re)conectar estas paisagens com mercados diferenciados de modo a valorizar e escoar os seus produtos e serviços, a nível nacional e internacional, incluindo o turismo e promovendo sistemas inteligentes e inovadores através de gerações de mulheres e jovens.

Estudos recentes indicam três prioridades para uma estratégia de gestão destes sistemas: (1) enfatizar alimentos produzidos localmente; (2) focar os sistemas na paisagem e vida quotidiana; e (3) criar experiências que imprimam memórias.  Isto pode criar novas oportunidades de negócios baseados em produtos e serviços inovadores e singulares que traduzem o autêntico, único, local, saboroso, saudável e sustentável.

Em Portugal, algumas paisagens agrícolas e alimentares singulares foram identificadas - região do Barroso e Serra da Estrela. Os roteiros sistematizados contam histórias sobre os territórios, influenciadas pela ocupação humana e revelam a relação entre a essência da ecogastronomia, paisagem e sistema agrícola e cultural (incluindo o religioso) e envolvem sempre as suas guardiãs e guardiões. Os produtos e serviços associados ganham assim coerência e vínculo com a evolução dos sistemas agrícolas e conhecimentos tradicionais associados, e abrem um amplo leque de oportunidades para novos negócios e segmentos de mercado. 

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Produtos agro-pecuários sustentáveis, dietas e gastronomia de qualidade diferenciada estão na base de novos mercados nacionais e internacionais mais preocupados com a saúde, autenticidade e natureza. Portugal ainda possui um expressivo património nestas matérias. O projeto PAGE visa, por isso, contribuir para a revitalização das zonas rurais com sistemas agrícolas singulares em Portugal. Por sistemas agrícolas singulares entende-se sistemas de evolução lenta, com evidente integração da produção de alimentos, natureza e cultura, que resultam em expressiva agrobiodiversidade,  onde o conhecimento e as práticas tradicionais locais associadas à gestão de recursos naturais são essenciais  para as atividades agro-pecuárias e florestais, contribuem para a segurança alimentar e nutricional das comunidades locais, para a sua identidade cultural e para a conformação de “paisagens alimentares” únicas em Portugal.

Reconhecendo a necessidade urgente de, por um lado, recolher, valorizar e empreender a partir do conhecimento tradicional detido por agricultores familiares, em particular pelas mulheres, e por outro, de fixar e atrair novos agentes, principalmente jovens, para os meios rurais para desenvolverem atividades agrícolas e conexas, o projeto PAGE propõe uma abordagem de revitalização centrada na valorização do conhecimento tradicional, produtos e serviços de qualidade e valor simbólico diferenciados destes sistemas singulares, em particular os que resultam de cenários de empreendedorismo transmitido ao longo de gerações.

Impulsionar a inovação liderada pelas mulheres é importante para a preservação dinâmica deste património em Portugal, mas também para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável (p.e., o ODS5, estratégia da UE em matéria de igualdade de género e Pilar Europeu dos direitos sociais), assim como para a implementação do Acordo Verde Europeu e da estratégia da UE "Do prado ao prato".  Espera-se, a nível europeu, que a inovação liderada por mulheres tenha fortes benefícios ambientais, e ajude a preparar a agricultura e as comunidades rurais para alcançar a neutralidade climática até 2050 e adaptar-se às alterações climáticas.

Para o efeito, o projeto irá sistematizar e partilhar inter-geracionalmente o conhecimento tradicional acumulado, em particular por mulheres, sistematizar mecanismos promotores de inovação associados a mulheres e jovens e desenvolver uma ação integrada que inclui uma rede de inovação, e suporte à criação de novos negócios e empresas, de melhoria contínua da qualidade e promoção e comercialização digital dos produtos agro-pecuários e serviços conexos nomeadamente na área do turismo (hotelaria, restauração, animação turística nas vertentes natureza, cultural e gastronómica) a nível nacional e internacional através da rede “FoodZcapes”.  A parceria estratégica garantirá uma resposta aos objetivos da Agenda de Investigação e Inovação e Sustentabilidade da Agricultura, Alimentação e Agroindústria, nomeadamente:

i) uma população mais saudável, através da promoção de um sistema alimentar mais sustentável;

ii) uma agricultura mais inclusiva, igualitária e integrada, que potencie a atração de mais jovens para os territórios rurais e para a atividade agrícola;

iii) a criação de melhores condições para o aumento do rendimento dos produtores;

iv) uma agricultura mais resiliente, que proteja o ambiente, assegure a sustentabilidade dos recursos, água, solo e biodiversidade e contribua para a transição climática.

O projeto incidirá em sistemas produtivos tradicionais localizados em Montalegre (Norte), Serpa (Alentejo), Seia e Idanha-a-Nova (Centro), territórios cujos sistemas agrícolas já são ou estão em vias de ser classificados como Sistemas Importantes de Património Agrícola Mundial (FAO).

Serão desenvolvidas atividades reunidas em três blocos centrais: (1) Conhecimento (Diagnósticos territoriais e sobre conservação dinâmica e valorização de paisagens alimentares tradicionais e singulares; matriz de fatores promotores de inovação e conservação de conhecimento); (2) Territórios rurais inteligentes (Plataforma e ‘caixa de ferramentas’ para criação de novos negócios | empresas,  Coletivos I2 - Inteligence & inovation com mulheres e jovens inovadores); (3) Diversificação económica: (desenvolvimento e implementação de programa de mentoria e rede FoodZcapes;  Comunicação, capacitação técnica, valorização e difusão do conhecimento) 

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

A Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viseu (ESAV) atuará como promotor do projeto, com a responsabilidade de coordenação e gestão de projeto [coordenação dos trabalhos e a articulação das atividades entre os diversos parceiros e conselho técnico-científico]. A parceria conta com diversas PMEs ligadas ao setor (Virtudes Outonais, Unipessoal Lda, Sandra Filipa Machado Amaral, Vagari Lda), uma Associação do setor (Associação de Jovens Agricultores de Portugal), um centro de competências (CeCAFA | Centro de Competências de Agricultura Familiar e Agroecologia, representado pela ACTUAR) e com uma escola profissional situada num dos territórios com paisagens singulares, a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro, que colaboram em todas as atividades, em particular as PMEs. Diversas atividades serão desenvolvidas nos Polos de Inovação da DRAPC (Coimbra e Viseu). As áreas de trabalho e responsabilidade da coordenação de cada uma delas são as seguintes:

AT1 Conhecimento:

- Diagnósticos territoriais (ACTUAR | CeCAFA)

- Pesquisa sobre conservação dinâmica e valorização de paisagens alimentares tradicionais e singulares incluindo modelos de garantia participativa da qualidade (DRAPC)

- Matriz de fatores promotores de inovação e conservação de conhecimento - a nível individual, coletivo e institucional (IPV)

AT2 Territórios rurais inteligentes:

- Plataforma e ‘caixa de ferramentas’ para criação de novos negócios | empresas, produtos e plataformas de comercialização de bens e serviços, incluindo serviços turísticos (Vagari e EHLamego)

- Coletivos I2 (Inteligence & inovation) - Mulheres e jovens inovadores - Análise participativa de cenários e promoção de experiências de inovação lideradas por mulheres e jovens (DRAPC | Polos de Inovação e AJAP)

AT3 Diversificação económica:

- Desenvolvimento e implementação de programa (diretrizes e programa de mentoria) para criação de novos negócios | empresas, produtos e plataformas de comercialização de bens e serviços, incluindo serviços turísticos – rede FoodZcapes (IPV e Vagari)

- Comunicação, capacitação técnica, valorização e difusão do conhecimento (ACTUAR | CeCAFA)

A partilha de experiências com entidades internacionais é um dos pilares da iniciativa, que contará com o Secretariado GIAHS – FAO, em Roma, Hutton Institute, da Escócia e a Ruralis, da Noruega.

 
Interlocutor: Cristina Amaro da Costa   Email interlocutor: amarocosta@esav.ipv.pt   Email entidade: ipv@sc.ipv.pt