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BEM COMUM — INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO NA GESTÃO DOS BALDIOS, PARA POTENCIAR A BIOECONOMIA, SUSTENTABILIDADE E RESILIÊNCIA DAS COMUNIDADES RURAIS E DA AGRO-SILVO-PASTORÍCIA (ID: 384 )
Coordenador: IPVC - Instituto Politécnico de Viana do Castelo
Iniciativa emblemática: 7. Revitalização das zonas rurais
Data de Aprovação: 2022-10-04 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Alto Minho
Identificação do problema ou oportunidade
Os
territórios de altitude do Minho (NUTIII Alto Minho, Cávado e Ave) têm uma
matriz humana com fragilidades sociais e económicas, despovoamento,
envelhecimento e um forte declínio da agricultura familiar. São territórios vulneráveis,
de zonas desfavorecidas e com processos de risco (1) do património natural e
serviços de ecossistema de interesse público (por incêndios e outros processos
de degradação dos ecossistemas ligados ao abandono) e (2) do bem-estar e
segurança das pessoas das comunidades locais. As atividades agropecuárias estruturam
os sistemas socio-ecológicos. É fundamental torná-las mais atrativas, valorizando
a sua multifuncionalidade e ampliando o valor acrescentado retido pelos
produtores e territórios locais. É igualmente fundamental tornar as aldeias mais
atrativas para agricultores e para famílias e negócios não agrícolas, alcançando
matrizes sociais diversificadas e resilientes. A transição para multifuncionalidade
é estratégica para o desenvolvimento rural. No entanto, as oportunidades
económicas ligadas à agricultura e ao património cultural e natural dos
territórios serranos não têm sido suficientes para contrariar o despovoamento. Nas
cadeias de valor com dinâmicas mais positivas (carne de raças autóctones; turismo
de natureza; captação e venda de água, energia eólica) uma parte substancial do
emprego, inovação e retenção de valor ocorre fora dos territórios.
À
escala microterritorial (aldeias) importa potenciar/otimizar a
multifuncionalidade, construindo soluções de integração mais sinérgicas,
qualificadas e de maior valor acrescentado entre as atividades agropecuária e
florestal, o turismo rural e de natureza, a produção energética e a prestação
de serviços ambientais. Um dos aspetos críticos para estas dinâmicas é garantir
uma efetiva participação dos agricultores e das comunidades locais no planeamento,
gestão e dinamização territorial, desenvolvendo iniciativas integradoras de várias
formas de conhecimento (do tradicional ao científico), e inovações progressivas,
adaptadas às necessidades locais e às condições biofísicas. Para tal preconizam-se
intervenções à escala microterritorial (aldeias), que integrem o conhecimento
de contexto e a capacidade de ação dos agricultores/criadores de animais, comunidades
e empresas locais, potenciando-os com o apoio colaborativo de uma rede alargada
de atores, multidisciplinar e multissetorial, comprometidos com a equidade
territorial e sustentabilidade.
A
dimensão comunitária dos problemas, e das soluções, tem particular relevância nos
territórios com baldio. No Minho existem 259 unidades de baldio com atividade
agrícola e 118 842 hectares de superfície, correspondendo a 23,3% da área territorial
(INE, 2019). A maioria tem Planos de Utilização de Baldio, mas também debilidades
na implementação. A efetividade e qualidade da gestão comunitária dos baldios,
numa lógica multifuncional, responsável e sustentável constitui um foco privilegiado
para apostar na inovação social. Entenda-se por inovação social a capacitação
das comunidades, empresas de diferentes setores, órgãos gestores dos baldios,
agentes institucionais e de I&D para se mobilizarem em conjunto, adaptando
os modelos de gestão e utilização dos baldios às necessidades atuais e futuras
dos territórios. Estas incluem compatibilizar os usos tradicionais com os novos
usos, alcançar e demonstrar níveis de responsabilidade social e ambiental
reconhecidos pelo público e por atores institucionais de governança, e atrair e
integrar novos residentes e empreendedores.
Urge
potenciar um papel mais ativo e qualificado dos agricultores e das comunidades
locais para a gestão multifuncional, sustentável e responsável dos baldios e
dos territórios, potenciar inovações e desenvolver ferramentas de gestão e de
comunicação adaptadas a estes bens comunitários, facilitadoras de uma
governança mais participada e efetiva, e que promovam um maior (re)conhecimento
da agro-silvo-pastorícia, das comunidades, dos territórios e das suas
potencialidades por entidades e públicos mais urbanos.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
A iniciativa foca-se nos baldios, uma arena onde convergem
interesses fundamentais de agricultores dedicados à pecuária extensiva e dos residentes
não agricultores, na qualidade de compartes (que se sobrepõe à categoria
socioprofissional e às diferenças geracionais). Os agricultores dependem dos
baldios para pastoreio e, ainda, recolha de matos. Atualmente a pecuária
extensiva reorganiza-se, ganhando escala e rentabilidade, mas depende
excessivamente de apoios públicos, tem fraca geração de valor por via do
turismo e/ou por serviços ambientais e fraca capacidade de rejuvenescimento. Por
outro lado, crescem em importância novos usos do baldio (turístico e
recreativo, produção energética, captação de água), aos quais acresce a
prestação de serviços de ecossistema com características de bens públicos. A valorização
das áreas de baldio passa por manter e revitalizar a pastorícia, ampliando o
seu valor e funções, e por integrar na gestão dos baldios uma multifuncionalidade
e responsabilidade mais alargada, incluindo os interesses de compartes não
agricultores, bem como interesses e preocupações de um público mais amplo (cidadãos
e entidades preocupados com o ambiente, segurança alimentar e a transição
energética). Nem sempre as práticas instituídas e os modelos de gestão estabelecidos
garantem essa integração e conciliação.
Identifica-se um débil reconhecimento social do papel dos
agricultores, dos baldios e das comunidades rurais, sobretudo pelas populações
mais urbanas, que dificulta a perceção do potencial que estes territórios podem
representar para jovens qualificados e empreendedores, acentuando-se a sua
vulnerabilidade. Num mundo cada vez mais conectado e digitalizado, a visibilidade,
as oportunidades de cooperação e os processos de tomada de decisão implicam uma
presença constante e qualificada nos meios digitais e sistemas de informação, e
a capacidade de tirar partido das potencialidades das suas ferramentas
comunicando os valores locais. Para superar estes obstáculos a iniciativa
propõe dois eixos de aproximação ao problema:
(1) Criação e dinamização de plataforma e rede colaborativa
digital dedicada aos baldios e suas atividades, abrangendo o universo dos
baldios do Minho, em 18 municípios classificados como zonas desfavorecidas do
Alto Minho, Cávado e Ave. Esta plataforma permitirá concentrar e tornar
acessível informação relevante sobre os baldios (a) facilitando a ação dos
diversos atores e decisores do sistema de governança, (b) acelerando a partilha
de inovações e boas práticas entre baldios/comunidades e (c) promovendo os
baldios e territórios de montanha junto do público em geral.
(2)
Dinamizar um processo intensivo de capacitação e
inovação in loco, em comunidades locais com baldios, com as comunidades
e com produtores de pecuária extensiva, por
via da lógica de cocriação e ação colaborativa da rede de parceiros institucionais
e empresariais de diferentes setores (agrícola, florestal, turístico,
ambiental, de educação e serviços às empresas). Articular e potenciar o alcance
destes processos com a mobilização e partilha de conhecimentos de/com outros
projetos e iniciativas recentes articuladas com baldios da região Norte, que
potenciem a dinâmica de capacitação das comunidades, dos órgãos gestores dos
baldios e dos produtores pecuários, para melhor desempenho económico, social e
ambiental e maior atratividade para jovens e mulheres (Life Maronesa,
Forestwise, APTRAN, incluindo a iniciativa internacional Ganaderas en Red -
Fundación Entretantos).
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
O IPVC coordena e representa a parceria, é corresponsável nas ações
e pela avaliação e disseminação dos resultados. Articula com o Pólo de
Competências de Mirandela (DRAP-Norte) a realização conjunta de atividades de
capacitação, mobilizando outros projetos de nível nacional e internacional, e
promovendo a disseminação de resultados. Articula com o ICNF as ações de dinamização
comunitária e dos baldios face a objetivos e políticas de conservação da
natureza, nomeadamente no atual modelo de Cogestão do PNPG.
Plano de ação/responsabilidades:
Eixo 1
- Criação e dinamização de plataforma e rede colaborativa dos baldios
(1) reunir, completar
e sistematizar informação biofísica, socioeconómica e organizativa dos baldios
do Minho, integrando-a numa plataforma digital;
(2)
identificar, analisar e publicar conteúdos sobre boas práticas e inovação na
gestão multifuncional de baldios;
(3)
dinamizar a plataforma para uma governança multinível, a transferibilidade de
boas práticas entre comunidades e para dar visibilidade social dos baldios.
Eixo
2 – Cocriação de inovação na gestão
de baldios e dinamização comunitária, para a
multifuncionalidade e sustentabilidade. Trabalho colaborativo de todos os
parceiros institucionais e empresariais, produtores pecuários e gestores dos
baldios das serras da Peneda/Soajo e da Amarela/Gerês. Visa desenvolver e
avaliar in loco a exequibilidade e o impacto de processos de cocriação
de inovações focando:
(1) Os sistemas e práticas de gestão
dos baldios, em aspetos ligados à participação, responsabilidade social,
integração de diferentes usos, responsabilidade ambiental e estratégias de
comunicação.
(2) A potenciação, avaliação e
demonstração de resultados (desempenho) em serviços de ecossistema gerados pelo
baldio e pela agro-silvo-pastorícia na regulação de incêndios, sequestro de
carbono e conservação do solo e da biodiversidade.
(3) A conceção, desenvolvimento ou
melhoria de soluções comunitárias de bioeconomia circular valorizando biomassa
do baldio para fertilização de solos e produção energética.
(4) À cocriação de experiências
(eco)turísticas, por agricultores/criadores de gado, baldios e empresas de
animação turística, com interpretação dos agroecossistemas e baldio;
(5) A criação de atividades educativas
e de sensibilização ambiental focando os baldios, atividades tradicionais e
novas atividades, para jovens de escolas profissionais (EPRALIMA, EPPL) e
público (“Escolas de Montanha”, Centro Ciência Viva A. Valdevez).
(6) À avaliação das condições e
fatores para potenciar a atração de jovens empreendedores e a promover a sua
boa integração nas comunidades, dando relevo ao empreendedorismo feminino na
pecuária extensiva e a serviços de apoio à gestão de baldios e animação
comunitária.
A CIM Alto Minho assegura a articulação do plano com as políticas
e instrumentos regionais e com as CIMs do Cávado e Ave, para envolver os baldios
destas NUTIII nas ações do eixo 1.
A BALADI é corresponsável nas ações do eixo 1 e 2, e na
articulação com o Agrupamento de Baldios do Gerês nas ações do eixo 2. Avalia a
importância dos baldios para a pequena agricultura familiar de montanha, e colabora
na avaliação do impacto das inovações na gestão comunitária na sua atratividade
e viabilidade, no âmbito do Centro de Competências da Agricultura Familiar.
A ARDAL articula as ações do projeto com as comunidades locais e
atores regionais; e é corresponsável na programação e implementação das
atividades do eixo 2, e pela avaliação do seu impacto ao nível do
desenvolvimento integrado e revitalização dos territórios.
A CERNA colabora no eixo 1 e ações 1, 2 e 3 do eixo 2, valorizando
a sua experiência, em Portugal e na Galiza,
em processos de certificação de cadeia de custódia, gestão florestal e serviços
de ecossistema em baldios.
A CAAVPB e Associação Atlântica colaboram nos processos cocriação do
eixo 2.
A Explore Iberia, Keen Tours e Folk&Wild desenvolvem as ações
4 e 5 do eixo 2.
A Dinamo10 desenvolve ação
6 do eixo 2, e colabora na ação 5.
Os produtores pecuários (2 na Peneda/Soajo e 2 do Agrupamento
Baldios do Gerês), participam nas ações do eixo 2.
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