Bolsa de Iniciativas PRR

 

QuantifiCAF – Quanto Vale a Agricultura Familiar (ID: 386 )
Coordenador: DRAPC - Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro
Iniciativa emblemática: 7. Revitalização das zonas rurais
Data de Aprovação: 2022-10-04 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Viseu Dão Lafões
 
Identificação do problema ou oportunidade

Na Europa, a população agrícola está a envelhecer, apenas 7,5% dos agricultores europeus têm menos de 36 anos e um em cada três tem mais de 65 anos de idade Eurostat (2020). Em Portugal, 50,1% dos agricultores familiares tinham, à data, 65 anos de idade ou mais um valor significativamente mais elevado do que a média da UE (31,9%). Consequentemente, o sector agrícola, tem sofrido uma diminuição contínua do número de pequenas explorações e uma maior concentração de terras. Em 2016, as pequenas explorações agrícolas (<5 hectares) representavam 73% do número total de explorações em Portugal, valor muito superior à percentagem média da UE (66%), mas ocupavam menos de 10% da Superfície Agrícola Utilizada (SAU). A população das explorações agrícolas familiares, nos 28 estados membros da União Europeia, totalizava 18,4 milhões de indivíduos, dos quais 575 000 residiam em Portugal, o que corresponde a 5,6% da população nacional (INE 2021).

É de esperar que o desaparecimento e a diminuição do número de explorações agrícolas familiares tenha consequências diretas na organização da produção agrícola e, por sua vez, na paisagem agrícola e no desenvolvimento rural, entre outros aspetos como, por exemplo, o acentuar dos incêndios rurais. A contribuição das pequenas explorações agrícolas em relação à fixação da população e ao desenvolvimento económico local é muito relevante. Em particular, as explorações agrícolas familiares desempenham um papel muito importante na economia familiar e no funcionamento/dinamização das economias rurais. Além da sua contribuição para a segurança alimentar, geram rendimentos e emprego e têm um efeito positivo na vitalidade social dos territórios rurais, na manutenção das paisagens rurais e na preservação da biodiversidade (Dinis, 2019).

Paralelamente a sustentabilidade da agricultura e da produção alimentar depende igualmente da permanência dos jovens nas zonas rurais e da existência de explorações agrícolas económica, social e ambientalmente viáveis. Na UE, os jovens agricultores / jovens empresários agrícolas (com menos de 40 anos) representam apenas 10% das explorações agrícolas familiares. No caso de Portugal, esta faixa etária não excede os 3,3%. De acordo com Zmija et al. (2020), os fatores de atracão para a instalação de jovens agricultores são, à escala da UE: a perceção da agricultura como tradição familiar, mas também como uma nova oportunidade de negócio ou uma oportunidade de mudança de estilo de vida; a implementação de políticas públicas de apoio a unidades produtivas familiares/jovens agricultores/inovadores na agricultura; a criação de soluções que reforcem os laços entre os agricultores e o mercado (apoio à cooperação, criação de circuitos curtos agroalimentares, inovações tecnológicas e marketing, entre outros ); e, ainda, uma mudança gradual no sistema de apoio e aconselhamento técnico centrados nas necessidades da agricultura familiar.

No Continente, em 2019, as unidades produtivas familiares representavam 93% do número total de explorações agrícolas e cultivavam mais de metade (52%) do total da SAU. Embora na última década (2019-2009) o número de produtores familiares tenha registado um decréscimo de 7,4%, em termos de SAU registou-se um ligeiro aumento de 1,7% (INE, 2019). Apesar da relevância destes valores, sucede o ainda reduzido conhecimento dos reais contributos, ou externalidades positivas (ambientais, económicas, sociais, culturais) da agricultura familiar. Neste âmbito, o conhecimento aprofundado e territorializado daquelas externalidades afigura-se fundamental para a definição correta de políticas públicas quer de âmbito nacional, quer de âmbito local. Com efeito, a ausência de informação fiável que possibilite a construção de indicadores com um grau de confiança minimamente aceitável é ainda mais notória quando se pretende intervir ao nível local, abordagem que é essencial dada a diversidade dos sistemas produtivos e condições edafoclimáticas, que diferem, em muito, de região para região, para além da própria orografia que por si só também influencia os sistemas produtivos.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A agricultura familiar (AF), foi reconhecida e consagrada em Portugal através do Decreto-Lei n.º 64/2018 que criou o Estatuto de Agricultura Familiar.

Este projeto visa caracterizar a AF em Portugal e avaliar o seu contributo para a sociedade, nas suas diversas funções, económica, social, cultural e ambiental e, em termos de segurança alimentar através da quantificação dos benefícios da AF para o País e territórios rurais uma vez que as explorações familiares induzem importantes serviços. Estas externalidades positivas carecem, todavia, de uma avaliação fiável que permita orientar a política pública e adequar o nível de atividade deste importante setor produtivo para níveis mais em linha com o ótimo social e inverter um ciclo recessivo que tem levado ao esvaziamento social e económico dos territórios rurais, e ao empolamento dos riscos de acidentes ambientais, entre os quais, emergem os incêndios rurais.

O projeto encontra-se dividido em quatro grandes tarefas: 1) revisão bibliográfica; 2) caracterização da AF em Portugal e do seu caráter multifuncional; 3) elaboração de propostas políticas de apoio à agricultura familiar e 4) disseminação e comunicação.

Na revisão bibliográfica, serão reunidos os principais estudos nacionais, europeus e mundiais sobre a caracterização da AF ao nível dos diversos países. Serão compilados os principais modelos de avaliação do impacto social, económico e ambiental da agricultura familiar, com o propósito de orientar o trabalho de investigação nas tarefas seguintes, com particular relevo para a medição de externalidades positivas, serviços ambientais e serviços ecossistémicos e para os fatores associados à capacidade da AF em contribuir para a resiliência dos territórios, através da diversificação da economia e da criação de postos de trabalho. 

Para a caracterização da AF em Portugal e do seu caráter multifuncional serão realizados estudos agregados a partir das bases de dados existentes no INE, IFAP entre outras. Estes estudos serão combinados com estudos de campo ao nível de cada região com base numa amostragem de explorações agrícolas familiares. O trabalho de caracterização irá cobrir duas áreas fundamentais: uma primeira orientada para a performance social e económica na qual, com recurso à técnica dos modelos input-output, estudar-se-á a inserção da AF no tecido social e económico dos territórios. Com este modelo será possível avaliar o potencial da AF para o desenvolvimento económico local, para fazer a ligação com os atores locais de formação e emprego que estimulem a criação de postos de trabalho e de atividades relacionadas ao setor agroalimentar. Serão, também, utilizados modelos demográficos por forma a estimar a capacidade da agricultura para gerar dinâmicas de fixação de população, invertendo assim os saldos demográficos negativos que afetam as regiões do interior; uma segunda área, orientada para a performance ambiental associada à AF com medição das externalidades positivas na gestão da paisagem e na mitigação das alterações climáticas (ex.: ao nível do solo, da água, da biodiversidade e da redução, na prevenção dos fogos, e da pegada ecológica alimentar). Finalmente, será realizado um amplo estudo de campo com levantamento de dados e entrevistas com o objetivo de caracterizar a inserção da AF numa economia local que permita ressaltar a sua vital relevância na reprodução sociocultural das zonas rurais de Portugal.

Para a elaboração de propostas políticas de apoio à agricultura familiar, destinadas a corrigir as externalidades identificadas por forma a aproximar a prevalência de explorações familiares num nível mais próximo do ótimo social, serão realizados estudos de impacto que demonstrem o seu retorno social em termos ambientais, mas também em termos sociais e económicos, com territórios mais resilientes, com mais empresas e postos de trabalho e economicamente mais diversificados.

Por fim, ao longo de todo o projeto, serão divulgadas todas as ações e resultados obtidos através de artigos em revistas, participação em colóquios e conferências, site na internet do projeto e redes sociais.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

O projeto QuantifiCAF agrega diferentes áreas de trabalho que, em conjunto, irão contribuir para o desenvolvimento da linha de ação L7.6. Da parceria fazem parte a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPCentro), entidade gestora dos cinco Polos de Inovação da Região Centro; será responsável pela coordenação do projeto e colaborará, em simultâneo, nas restantes tarefas;

- a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) que contribuirá para elaboração de propostas políticas de apoio à agricultura familiar e para a disseminação e comunicação;

- cinco instituições de ensino superior: Instituto Superior de Agronomia - ISA (que assume a representação do Centro de Competências da Agricultura Familiar e Agroecologia – CeCAFA), Instituto Politécnico de Viseu (IPV), Universidade de Aveiro (UA), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e Universidade de Évora (UE); estas instituições trazem ao projeto valências de investigação que permitirão: 1) efetuar a revisão bibliográfica (todas); 2) caraterizar a AF em Portugal e o seu caráter multifuncional: a) performances social e económica - (UA, UTAD); b) performance ambiental com medição das externalidades positivas - no solo: (UE); na água: (ISA); na biodiversidade: (UTAD e IPV); c) na redução da pegada ecológica alimentar (UA);

- a Associação para a Cooperação e o Desenvolvimento (ACTUAR) e a Federação Nacional dos Baldios (BALADI) que darão o seu contributo na realização dos estudos de campo e na elaboração de propostas políticas de apoio à agricultura familiar;

- PME - servirão de base aos diferentes estudos de campo que o projeto pretende realizar.

Todos os parceiros contribuirão para a disseminação e comunicação quer das ações a desenvolver quer dos resultados obtidos ao longo e no final do projeto.

O projeto QuantifiCAF conta com o apoio da Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e com a cooperação de peritos e equipas de trabalho internacionais que apoiarão nas metodologias a implementar.

 
Interlocutor: Vanda Batista   Email interlocutor: vanda.batista@drapc.gov.pt   Email entidade: direcao@drapc.gov.pt