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CRI-CRI – CRIação de insetos para a Circularidade, Recuperação e Inovação na cadeia agroalimentar (ID: 387 )
Coordenador: ISA - Instituto Superior de Agronomia
Iniciativa emblemática: 5. Agricultura circular
Data de Aprovação: 2022-10-06 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Centro NUTS III: Região de Leiria
Identificação do problema ou oportunidade
Segundo a ONU, ao atual ritmo de
crescimento, a população mundial atingirá 9,7 mil milhões de habitantes em
2050, mais 2 mil milhões que em 2020. Prevê-se que 68% da população viva em
grandes centros urbanos em 2050. Aumentará o êxodo rural e, por consequência,
diminuirá a produção agrícola, em contraciclo com o aumento da população, por
inexistência de mão-de-obra nas zonas rurais, podendo diminuir a produção
interna e escassearem alguns alimentos em algumas regiões.
A escassez de alimentos e de
outros bens de primeira necessidade já era problema em muitos países pouco desenvolvidos e em
desenvolvimento. A situação pandémica provocada pela COVID-19 e,
posteriormente, confrontos geopolíticos alastrou esta escassez a países
desenvolvidos. Um estudo da FAO indica que o número de pessoas afetadas pela
fome ou falta de alimentos atingiu cerca de 10% da população mundial em 2020.
Em 2022, com a guerra Ucrânia - Rússia verificou-se, além da escassez, uma
escalada de preços em todos os produtos primários e transformados, com maior
impacto nos cereais.
Estes acontecimentos vieram
realçar a fragilidade do mercado global, de cadeias de valor longas sujeitas a
maior disrupção, que conduziram à reorganização das políticas de
importação/exportação de cada país, conduzindo à falta de bens de primeira
necessidade noutros países e ao aumento extraordinário dos preços.
Em sentido contrário, e de forma
positiva, como consequência da falta de alimentos e outros produtos
alimentares, tem sido visível uma redução do desperdício alimentar no
consumidor final. No entanto, ainda se verifica um elevado desperdício no
sector primário (desde a colheita) devido à falta de qualidade (estética,
forma, etc.) do produto e que não é aceite pela indústria/distribuição, além
dos subprodutos (ex. “rama” de plantas em que é comercializado o fruto). Numa
ótica de economia circular é muito importante aproveitar qualquer “desperdício”
como matéria prima. Dada a tendência crescente da população mundial e as
necessidades das indústrias alimentares e não alimentares, existe uma grande
procura de fontes alternativas de proteína e gordura (ex. óleos alimentares;
lubrificantes) escassas a nível mundial.
A indústria de produção de
insetos apresenta-se como alternativa capaz de suprimir tais necessidades pois
é capaz de produzir proteína e gordura em quantidade e qualidade suficiente
para suprimir muitas das necessidades da indústria transformadora. Por outro
lado, é capaz de minimizar desperdícios do setor primário pois pode usar
subprodutos quer diretamente da produção quer da indústria transformadora.
A indústria de produção de
insetos apresenta-se como uma indústria complementar à indústria agroalimentar.
Alguns dos fatores que suportam a importância da indústria de produção de
insetos são: i) elevada capacidade de bio-conversão alimentar dos insetos; b)
reduzida área necessária para a produção de insetos; c) reduzida necessidade em
fatores de produção (água, alimento, espaço).
Por outro lado, a integração de
insetos como componente na indústria alimentar poderá ser: i) a chave para o
desenvolvimento e inovação deste sector, permitindo a criação de novos produtos
alimentares saudáveis e nutricionalmente equilibrados; ii) criação e
desenvolvimento de uma cadeia de produção sustentável, circular, de
“desperdício zero”; e iii) complementarmente, os subprodutos da produção de
insetos podem ser utilizados como matéria prima noutras indústrias de valor
acrescentado (ex. farmacêutica; fertilizantes),
valorizando todos os subprodutos desta produção em todas as fases da
cadeia, reduzindo desta forma substancialmente o desperdício).
Neste projeto pretende-se
desenvolver a produção de insetos como mecanismo de inovação para valorização
dos subprodutos da cadeia agroalimentar, desperdiçados desde a produção ao
retalho, permitindo: a) o desenvolvimento de produtos novos e inovadores e
subprodutos resultantes da utilização e transformação de - e - pelos insetos
com “impacto ambiental zero”; b) melhoramento e maximização da indústria de
produção de insetos; e c) estabelecimento de uma cadeia circular de baixo
impacto ambiental e geradora de emprego.
Breve resumo da iniciativa a desenvolver
Este projeto pretende abordar, por diversas vias, algumas
das maiores e significativas prioridades da indústria da produção de insetos
autorizados para consumo humano e animal em Portugal. Serão aplicadas novas
abordagens com vista a maximizar a quantidade e qualidade da produção mantendo
simultaneamente a sua estabilidade e equilíbrio nutricional, valorizando, em
cascata, subprodutos provenientes de diferentes indústrias agro-alimentares.
Linhas de ação a
desenvolver nesta proposta:
1- ”Não
ao desperdício”
O principal elemento neste projeto é o combate ao
desperdício alimentar. Este ocorre ao longo de toda a cadeia alimentar, mas
aqui focado nos processos entre a produção e o retalho que corresponde, a nível
Europeu, a cerca de 35% do total de desperdício alimentar. É fundamental evitar
que acabem em aterros sanitários, sem que haja qualquer tipo de recuperação.
Pretende-se maximizar a capacidade biotransformadora dos
insetos, utilizando subprodutos ou desperdício alimentar de alto conteúdo
energético (ex. dreche da indústria cervejeira) e incorporá-lo na dieta de
insetos que podem ser utilizados em consumo humano e animal, com vista à
obtenção de um produto final inovador (ex. farinha de grilo ou de tenébrio) com
perfil nutricional equilibrado.
2- Novos fertilizantes orgânicos e o ecossistema agrícola
Pretende-se estimar a quantidade e a qualidade dos
subprodutos da indústria de produção de insetos (ex. frass), avaliando a
possibilidade estes serem utilizados
como novos fertilizantes orgânicos ou como componente na formulação de
novos fertilizantes orgânicos, estudando, por exemplo, o seu enriquecimento com
subprodutos de produção de cogumelos (quantificação, composição e avaliação em
culturas), devolvendo à terra, o que é da terra!
Numa segunda etapa, ir-se-á avaliar o efeito destes novos
fertilizantes orgânicos na produção de diferentes culturas agrícolas, no estado
nutricional dessas culturas e na fertilidade e na estrutura do solo, em
detrimento da utilização dos atuais fertilizantes de origem mineral.
Paralelamente será avaliada a eficiência da assimilação de
nutrientes pela planta quando na presença destes novos fertilizantes orgânicos.
3- Inovação alimentar! Novos paladares!
Avaliação das propriedades dos grilos (inteiros ou
farinados), adequados ao destino final (consumo humano ou animal). Nesta fase
serão avaliadas algumas características e propriedades alimentares, tais como:
i) o perfil
nutricional; ii) desenvolvimento de novos produtos; iii) tipos de processamento
e controlo de qualidade; iv) presença de contaminantes
4- Biopolímeros
Pretende-se extrair e quantificar a fração quitina dos
exoesqueletos libertados durante o ciclo de vida dos insetos. A quitina, e o
quitosano produzido por desacetilação da quitina, apresentam interesse
económico, encontrando aplicação em várias áreas, designadamente na indústria
alimentar, cosmética, biomedicina, agricultura e tratamento de águas
residuais. Pretende-se avaliar a qualidade
destes dois biopolímeros e comparar com as opções atualmente presentes no
mercado.
5- (In)Dependência energética
A abordagem de
valorização de resíduos em cascata incluirá, após a obtenção de produtos de
valor acrescentado, a recuperação energética. Assim, far-se-á a avaliação do
potencial energético dos excrementos resultantes da indústria de produção de
insetos, como fonte complementar às fontes de energia atualmente usadas na
unidade industrial. Para tal os excrementos serão caracterizados em termos
físico-químicos e do seu poder calorífico. A informação obtida permitirá
estimar a energia que a unidade industrial poderá obter a partir dos seus
resíduos, bem como fazer a análise comparativa com outras biomassas disponíveis
no mercado, avaliando de forma preliminar a viabilidade de comercialização para
combustão.
6 - Complemento
alimentar na avicultura
Pretendemos avaliar o efeito da incorporação de farinha de
insetos na alimentação e performance zootécnica na produção de frangos de carne
através da sua incorporação em dietas isoenergéticas e isoproteicas. Serão
também avaliados os efeitos fisiológicos dessa incorporação utilizando
tecnologias Ómicas. Permitindo aferir do ponto de vista técnico a eficiência da
utilização desta matéria-prima mais sustentável na alimentação dos frangos,
resultados que podem ser extrapolados para o setor da produção animal.
7- Transferência
de conhecimentos
O projeto integra uma equipa/consórcio inter- e
transdisciplinar em combinação com empresas, entidades estatais, produtores e
unidades de investigação. Daqui, serão desenvolvidos diferentes canais para a
transferência do conhecimento a técnicos, produtores, investigadores e
comunidade em geral.
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro
A coordenação do projeto será liderada pelo Instituto
Superior de Agronomia (ISA), Universidade de Lisboa, que garantirá a
harmonização entre os vários parceiros na execução do projeto. Todos os
parceiros estarão envolvidos na definição e acompanhamento das atividades. As responsabilidades de cada parceiro e respetivas áreas de
trabalho estão divididas da seguinte forma: 1. ”Não ao
desperdício” O coordenador será o Instituto Superior de Agronomia (ISA).
Em conjunto com o Polo de inovação do INIAV - da Fonte Boa, avaliarão a
qualidade das matérias-primas e definirão as formulações de dietas a fornecer.
Trabalharam em colaboração com os fornecedores destas matérias-primas, tais
como a Campotec, a cervejeira Xarlie, a Nutrix, a Associação de Regantes e
Beneficiários do Vale do Lis e a Sociedade Agrícola do Vale do Lis e com as
empresas de produção de insectos, Ana Sofia Rocha Costa (Aki-à-bixo), The
Cricket Farming Co. e Thunder Foods. Haverá, também, cooperação com Escuela
Técnica Superior de Ingeniería Agronómica y Biociencias, Universidade Publica
de Navarra, Espanha, em colaboração cientifica para maximização do processo de
produção. 2. Novos
fertilizantes orgânicos e o ecossistema
agrícola A liderança deste ponto será tomada pelo ISA. O ISA receberá
dos diferentes produtores de insectos (Ana Sofia Rocha Costa (Aki-à-bixo), The
Cricket Farming Co. e Thunder Foods) os excrementos resultantes da sua
alimentação, que serão caracterizados do ponto de vista físico-químico e será
feita a avaliação da sua utilização enquanto fertilizantes com ou sem
tratamento prévio de estabilização da matéria orgânica através da compostagem.
A empresa Shimejito fornecerá o substrato para mistura e avaliação de efeitos.
A Germiplanta, a Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis e a
Sociedade Agrícola do Vale do Lis fornecerão locais e culturas para realização
de ensaios piloto. 3. Inovação
alimentar! Novos paladares! Liderada pelo ISA, e em parceria com os diferentes
produtores de insectos (Ana Sofia Rocha Costa (Aki-à-bixo), The Cricket Farming
Co. e Thunder Foods) do consórcio, para preparação/desenvolvimento de produtos
alimentares. 4. Biopolímeros Coordenação assumida pelo ISA e em colaboração com os
diferentes produtores de insectos (Ana Sofia Rocha Costa (Aki-à-bixo), a The
Cricket Farming Co. e a Thunder Foods) que fornecerão subprodutos da produção
de insetos para avaliação e extração de biopolímeros no ISA 5. (In)Dependência
energética Coordenada pelo ISA e em colaboração com a empresa The
Cricket Farming Co., para recolha de
dados de gastos energéticos por forma a melhorar a eficiência energética deste
novo tipo de produção pecuária. 6. Complemento
alimentar na avicultura Liderado pelo ISA, para formular novas dietas para produção
de frangos de campo, e em colaboração com os diferentes produtores de insectos
(Ana Sofia Rocha Costa (Aki-à-bixo), The Cricket Farming Co. e Thunder Foods)
que atuarão como fornecedores de matérias-primas. 7. Transferência
de conhecimentos Liderada pelo COTHN em parceria com o ISA e a Direção
Regional de Agricultura e Pescas do Centro, para divulgação das atividades do
consórcio para diferentes públicos alvo (ex. consumidor final; indústria
agro-alimentar). A transferência direta de conhecimento entre os associados
deste consórcio será da efetuada via COTHN e DRAPC. Contaremos ainda com a colaboração, sem RHs atribuídos, da
Campotec e da cervejeira Xarlie.
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