Bolsa de Iniciativas PRR

 

Agro4New – Valorização de subprodutos da indústria do azeite e dos óleos essenciais para o desenvolvimento de novos produtos de valor acrescentado (ID: 388 )
Coordenador: COFAC- Cooperativa de Formação e Animação Cultural, C.R.L.
Iniciativa emblemática: 5. Agricultura circular
Data de Aprovação: 2022-10-07 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III:  
 
Identificação do problema ou oportunidade

A indústria do azeite produz uma grande quantidade de resíduos e subprodutos com um impacto ambiental negativo significativo. Estima-se que da extração do azeite por cada 100 kg de azeitona sejam gerados 35 kg de resíduos sólidos e dependendo do processo utilizado poderão resultar entre 55 a 200 litros de águas ruças. De facto, da produção de azeite decorrem o bagaço de azeitona, os caroços, as folhas e as águas ruças que se constituem como um “problema ambiental muito complexo”, pois apresenta uma carga poluente 200 a 400 vezes superior ao registado em águas residuais domésticas. Isto significa que em média, a campanha de azeitona em Portugal produz águas ruças com cargas poluentes equivalentes a águas residuais domésticas de 2,5 milhões de pessoas. Os processos de tratamento são extremamente caros como os de tratamento biológico, térmico e físico-químico. Neste momento, a maior parte dos resíduos dos lagares de azeite estão a ser encaminhados para a indústria da refinaria, que retira o azeite remanescente dos bagaços húmidos para a produção de óleo de bagaço e o restante é usado para queima. Contudo, estudos recentes têm analisado os subprodutos sólidos (pasta e bagaço de azeitona) e líquidos (águas residuais de lagares) do processamento do azeite, destacando a presença de compostos bioativos e reconhecendo as suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, e agentes anticancerígenos. No entanto, este potencial de valorização carece de maior proximidade com o mercado e da incorporação do racional de viabilidade económica, de acordo com as formulações utilizadas pela indústria e da capacidade de obter rendimentos de extração elevados, recorrendo a diferentes métodos (convencionais ou emergentes).

Os óleos essenciais são obtidos por destilação a vapor de flores, raízes, folhas e cascas de frutas de plantas medicinais e aromáticas. Devido às suas atividades e propriedades bioativas, os óleos essenciais são utilizados em diversas áreas industriais, designadamente pela farmacêutica. Estudos recentes destacam que o mercado global de óleos essenciais está a crescer devido à maior atenção dos consumidores aos produtos “verdes”, onde compostos ativos sintéticos usados na cosmética, alimentação ou farmacêutica são substituídos por compostos naturais. No processo de destilação de plantas aromáticas, para obter 1 kg de óleo essencial são produzidos cerca de 100 kg de resíduos sólidos de biomassa. Este valor médio varia muito, consoante a constituição folhosa ou lenhosa do material.  Contudo o rendimento da extração não é 100%, pelo que uma quantidade considerável de polifenóis orgânicos hidrofílicos chega aos efluentes, constituindo um poluente ambiental.

Da indústria dos óleos essenciais resultam 3 tipos de extratos (o óleo essencial propriamente dito, o subproduto hidrolato, e, dependendo do tipo de destilação, os subprodutos, água de condensação ou água de cozimento), todos de valor comercial e, adicionalmente, matéria-prima extraída. Ainda relativamente aos subprodutos, o hidrolato pode ser utilizado na indústria alimentar e cosmética, e alguns estudos indicam valor medicinal (per si ou em misturas). Para além disso, considerando que o hidrolato é, em regra, obtido em grande quantidade, torna-se muito relevante desenvolver investigação aplicada que concretize diferentes aplicações para este subproduto, assegurando uma grande proximidade com as forças de mercado. Em síntese, apesar dos estudos evidenciarem o potencial relacionado com as propriedades bioativas dos subprodutos resultantes da extração de óleos essenciais, o interesse dessas aplicações depende de um conjunto complexo de fatores, desde a identificação dos bioativos, as técnicas e a eficiência da sua extração, até às espécies de onde se obtém o óleo essencial e as características edafoclimáticas do local de produção. Todos estes fatores têm ainda de ser alinhados com as reais necessidades das indústrias cosméticas, nutracêutica e farmacêutica nacionais.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Considerando a elevada quantidade de subprodutos gerada pelas indústrias do azeite e dos óleos essenciais que, na sua maioria continuam sem solução implementada, ou com soluções onerosas (pela impossibilidade de valorização isolada de um subproduto ou por limitada exploração dos produtos resultantes quando dirigidos a um sector específico) é crucial implementar e operacionalizar uma abordagem integrada de valorização, interligando fileiras cujo trabalho conjunto resulta em novos ingredientes e formulações com interesse comercial renovado e assim capaz de beneficiar todos os interlocutores.

O projeto Agro4New assume como principal objetivo a valorização dos subprodutos das indústrias do azeite e dos óleos essenciais a partir de plantas aromáticas e medicinais, envolvendo a transformação da azeitona e extração de óleos essenciais para obtenção de produtos de valor acrescentado com diferentes aplicações. Assim, pretende-se valorizar os subprodutos destas indústrias avaliando a sua composição química e pesquisar a correspondente atividade biológica. Serão preparados extratos/frações /compostos isolados para identificar e quantificar os seus bioativos. Selecionados os bioativos, serão levados a cabo os trabalhos necessários para otimizar a sua obtenção (extração, fracionamento ou isolamento) e proceder à sua incorporação em bases já comercializadas das empresas envolvidas (dermocosmética, suplementos alimentares e medicamentos), para assim produzir novos produtos de valor acrescentado, ou alterar as formulações de produtos existentes.

Posteriormente será realizado um estudo do consumidor (análise sensorial e estudo de mercado) de modo a lançar os novos produtos no mercado.

O projeto ambiciona promover o desenvolvimento de novos produtos e processos inovadores, de maior valor acrescentado numa abordagem holística, tendo um impacto positivo a nível económico, mas também na saúde e bem-estar humano e ambiental. Prevê-se também a redução dos custos de eliminação dos resíduos agrícolas identificados, transformando subprodutos em benefícios com geração de rendimento adicional para as PMEs do setor primário, geradores de biomassa e resultantes da transformação. Para a concretização deste objetivo principal, foi definido o seguinte conjunto de objetivos específicos:

·       - Obtenção e caracterização de bioativos (extratos/frações /compostos isolados) a partir dos subprodutos, avaliando a sua composição química e atividade biológica (ensaios enzimáticos e/ou modelos celulares);

·       - Conversão de bioresíduos com elevada toxicidade ambiental em ingredientes bioativos de elevado valor económico;

·         - Seleção dos ingredientes bioativos com maior potencial em termos de valor económico;

·       - Otimização e desenvolvimento de técnicas de extração e de isolamento para obtenção dos bioativos;

·       - Incorporação de bioativos em bases já comercializadas pelas empresas envolvidas produzindo assim novas formulações (novos produtos de valor acrescentado);

·        - Avaliação e comparação da toxicidade e bioatividade dos bioativos obtidos e formulados usando ensaios pré-clínicos (químicos, enzimáticos, modelos celulares);

·     - Testes e validação em ambiente real: Avaliação da capacidade em autonomizar os produtores na transformação in loco da biomassa em bioativos, de forma adaptada às suas condições de trabalho, garantindo a qualidade dos bioativos e minimizando o transporte de materiais, tempo de conversão e entidades envolvidas / intermediários.

O projeto Agro4New tem o mérito de poder implementar e demonstrar investigação de forma integrada, partindo de estudos e evidências sólidas, mas que se apresenta dispersa, fragmentada e sobretudo descontextualizada da realidade dos produtores e das necessidades da indústria nacional. O projeto reúne uma equipa, e um conjunto de valências, que de forma sistemática exploram este tipo de subprodutos e subprodutos, concretizando as mais-valias que podem fornecer a todos os agentes da cadeia de valor, assegurando a sustentabilidade ambiental na gestão e valorização de fluxos de subprodutos.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

O carácter demonstrativo desta iniciativa pretende uma linha de investigação articulada, começando pelas entidades de I&D (cada uma com vasta experiência numa das fileiras aqui considerada) até à cooperação entre produtores, que têm aqui uma oportunidade de gerarem um rendimento adicional por via de um fluxo que atualmente penaliza a circularidade dos seus negócios e tem encargos significativos de gestão de resíduos resultantes da sua atividade.

Lista dos parceiros

Valorização de Subprodutos de 2 fileiras: Olivicultura (OL) e Plantas Aromáticas e Medicinais (PAM).

OL– ULusófona (I&D), ARR (Assoc), Penazeites (PME), 2 PMEs jovem agricutor (a identificar)

PAM- FCUL (I&D), CCPAM (Centro Competências), Ervas Cativas (PME), Scents from Nature (PME), Ervital (PME) e INIAV Polo de Inovação de Braga (e Elvas)

Parceiros Valorização Comercial: Tecnocosmética (PME), Lecifarma (PME), MedInfar (PME), PME nutriceutica (a identificar),

Atividades inseridas no plano de Ação: Pólo de inovação INIAV Pólo Braga (PAM) e Pólo Elvas (OL)

Parceiros Envolvidos: Valências e Responsabilidades:

- Univ. Lusófona: preparação, avaliação química e biológica de bioativos – olivicultura. Estudo do consumidor (análise sensorial e teste de aceitabilidade). Formação.

- Faculdade Ciências/ ULisboa – óleos essenciais: avaliação química de óleos essenciais

- CCPAM: Centro de Competências das Plantas Aromáticas, Medicinais e Condimentares: facilitador e agente de ligação para a colaboração dos produtores de biomassa com a entidade de I&D. Promoção da fileira e aumento da sua competitividade. Será representado pela ADC Moura, atual membro que preside ao Conselho Executivo do Centro de Competências.

- AAR: Associação dos Agricultores do Ribatejo. Forte presença e experiência na fileira da olivicultura. Agregador das PMEs do setor. Disseminação.

- Pólo de Inovação: INIAV Pólo Braga e Pólo Elvas: Consultores especialistas para seleção da biomassa e plano de investigação (INIAV Braga com valências na fileira das Plantas Medicinais e Aromáticas & INIAV Elvas na olivicultura)

- PMEs produtores PAM e Olivicultura

- PMEs farmacêutica, cosmética e nutriceutica

 

Para atingir os objetivos propostos, o projeto Agro4New está dividido em diferentes áreas de trabalho e investigação sendo que cada parceiro focaliza a sua intervenção de acordo com as suas valências, experiência acumulada, capacidades técnicas e benefícios que o projeto gera. São elas:

I) Fonte de subprodutos: sistemas de produção-biomassa: Conhecer e Medir.

Conhecer a realidade dos produtores cuja atividade resulta na geração de fluxos de Subprodutos Caracterização dos sectores, quantificação dos fluxos

II) Desenvolvimento de Conhecimento I&D: Preparação e análise de bioativos: Investigar e Selecionar.

Valorização de Subprodutos numa lógica de cascata de valor: Desenho experimental de novas técnicas de extração. Extração de uma gama de compostos bioativos, e produtos de base química. Otimização de diferentes técnicas de extração, fracionamento e isolamento de bioativos. Estudos de atividade biológica.

III) Desenvolvimento de Conhecimento I&D: Incorporação dos bioativos: Investigar e Incorporar.

Incorporar os bioativos Agro4New em bases de formulação já existentes no mercado. Aplicação na saúde, cosmética, farmacêutica e nutricêutica, indústria alimentar e suplementos.

Estudar e demonstrar novas formulações Agro4New resultantes dos processos de extração testados, consoante as necessidades das diferentes indústrias e forças de mercado.

IV) Desenvolvimento de Análises Sensoriais para Validação de Mercado: Testar e Validar

Encontradas as possibilidades, torna-se essencial aproximar as novas formulações e produtos ao mercado, aferindo as percepções e a disponibilidade dos consumidores para as soluções resultantes.

V) Testes e validação em ambiente real: formação dos produtores para a transformação da biomassa em bioativos de forma adaptada às suas condições de trabalho.

Trabalho de campo com participação ativa dos produtores. Formação e disseminação.

 
Interlocutor: Patrícia Rijo   Email interlocutor: p1609@ulusofona.pt   Email entidade: administracao@ulusofona.pt