AGRICICLING apresenta uma abordagem capaz de resolver alguns problemas conflituantes no que respeita à gestão de resíduos no País, e em especial na Região Centro de Portugal: O baixo teor de matéria orgânica dos solos, e logo a reduzida capacidade de servir como armazenamento de carbono, e a eventual perda de capacidade produtiva e de degradação da estrutura do solo a longo prazo. Por outro lado, possuímos o problema do destino a dar aos efluentes pecuários e outros resíduos orgânicos, cujo manuseamento e destino final inadequado é um problema sério que coloca uma pressão enorme sobre o ambiente e mesmo a saúde pública.

O problema inicial prende-se com a classificação da tipologia e quantidades de resíduos produzidos nos territórios e que possam ser usados como sub-produtos e valorizados das várias formas (compostagem, extração de compostos para valorização em produtos de elevado valor acrescentado, biorefinarias, centrais de biomassa para valorização energética, etc).

Neste sentido, será colocado um esforço para identificar ligações de circularidade já existentes, e que foram identificados no âmbito do Projeto ECODEEP, que decorreu sob coordenação de António Dinis Ferreira entre 2011 e 2015, e constitui um primeiro ponto de apoio para a compreensão da circularidade e complementaridade entre vários sectores das diversas fileiras agroindustriais. No aspeto da valorização dos sub-produtos, o AGRICICLING pretende identificar ligações entre sectores agroindustriais que entretanto tenham sido estabelecidas, e a partir da caracterização dos sub-produtos, perspetivar outras soluções, preferencialmente que possam agregar maiores mais valias.

O consórcio tem uma elevada experiência em análises de LCA e LCCA, e a equipa líder do projeto pertenceu à equipa que desenvolveu a SQAPP no âmbito de um projeto Horizonte 2020, e como tal está ciente da utilização de novas tecnologias na resolução de problemas, neste caso de circularidade, já que procura desenvolver soluções integradas para dois problemas prementes que condicionam de forma indelével o nosso futuro: por um lado a fraca conteúdo de matéria orgânica dos nossos solos, que condiciona a sua saúde e desempenho a longo prazo, a capacidade de se assumir como sumidouro de carbono, a capacidade de desenvolver uma estrutura que consiga reter mais água, disponível para as plantas, e a manutenção da fertilidade num contexto em que o acesso a fertilizantes inorgânicos é cada vez mais problemático. Por outro lado, temos uma cada vez maior quantidade de resíduos orgânicos, de origem variada, incluído pecuária, aos quais é necessário dar uma solução adequada, mas cuja utilização em excesso pode contaminar os aquíferos e cursos de água, o que pode causar problemas para a saúde pública e para o desempenho dos ecossistemas. Face aos riscos, esta interação tem que ser gerida, e a criação de uma plataforma que auxilie a gestão, baseada no SQAPP constitui uma ferramenta promissora. Pretendemos associar a SQAPP com as análises de LCA e LCCA, as características climáticas e meteorológicas e os preceitos da legislação para constituir uma ferramenta que possa ser usada como uma aplicação, que estabeleça para cada local a capacidade de carga do solo e permita registar a aplicação de resíduos orgânicos.

O AGRICICLING parte do registo de resíduos existente na DRAPC, e, mantendo a anonimidade dos produtores, agregará os resultados por município. De forma a complementar esta informação, serão usadas as estatísticas de produção agrícola, associadas a uma análise dos resíduos que as principais culturas produzem, para quantificar territorialmente a tipologia e quantidade de resíduos, desagregados ao nível do município. Este exercício permitir-nos-á percecionar a distribuição dos resíduos pelo território, o que é fundamental para escolher as melhores soluções de processamento e o dimensionamento das infraestruturas e dos equipamentos necessários. Neste exercício, além da georreferenciação, serão usadas técnicas de LCA e LCCA para encontrar as melhores soluções.

Uma atenção particular será dada à aplicação de matéria orgânica aos solos, nomeadamente a aplicação de resíduos de origem pecuária, com diferentes níveis de processamento. Constituindo uma área de conflito, e possuindo os solos portugueses baixíssimos níveis de matéria orgânica, a aplicação e efluentes de origem pecuária e de fontes menos ortodoxas (por exemplo lamas de ETAR), é motivo de tensões e conflitos, dado o potencial para que os lixiviados contaminem os aquíferos e possam desencadear problemas de saúde pública e degradação dos ecossistemas. Neste sentido, o AGROCICLING procura resolver esse diferendo através da incorporação de conhecimento.

Pretende-se com esta abordagem usar o conhecimento para melhorar a gestão de soluções que embora necessárias, podem desencadear problemas ambientais e de saúde pública bastante nefastos, se os riscos não forem acautelados.

O projeto desenvolverá as seguintes tarefas:

T1 – Inventário e definição das soluções que já se encontram no terreno (aplicação direta, compostagem, centrais de biomassa, sistemas de recuperação de biogás, biorefinarias).

T2 – Georreferenciação dos resíduos e das estruturas e equipamentos de processamento existentes na Região Centro. Simulações em SIG do dimensionamento e dispersão das estruturas e equipamentos de processamento de resíduos, e estimativa de custo de equipamento e operação de diferentes opções em termos de dimensão e dispersão territorial.

T3 – Avaliação de LCA e de LCCA das diferentes soluções propostas, de forma a encontrar as práticas mais sustentáveis em termos económicos e ambientais.

T4 – Identificação de resíduos passíveis de serem valorizados através de processos que lhes agreguem um elevado valor acrescentado, nomeadamente no processamento de sub-produtos de origem agrícola para alimentação animal,

T5 – Desenvolvimento de uma aplicação baseada na SQAPP para gerir a adição de matéria orgânica de origem agropecuária aos solos, de forma a evitar lixiviações perniciosas para a saúde pública e dos ecossistemas.

T6 – Em associação com o desenvolvimento da APP, é necessário definir as condições de aplicação a vários tipos de solos, em diferentes contextos pedo-climáticos Desenvolvimento de um sistema de regras com base na legislação e no conhecimento científico que permita identificar a capacidade de carga de cada parcela de terreno e permita fazer o historial da aplicação de resíduos., de forma a evitar os efeitos perniciosos para o ambiente e a saúde pública.

T7 – Criação de um Laboratório colaborativo que sirva de brookage de conhecimento entre os vários atores chave.

T8 – Disseminação dos resultados pelos diferentes públicos alvo: agricultores e suas associações, técnicos superiores dos ministérios relevantes, comunidade científica.

AGRICICLING parte do inventário dos resíduos agrícolas na região centro, para a criação de uma plataforma que permita em termos espaciais, desenvolver as melhores estratégias e soluções de valorização e uso, bem como estudar o dimensionamento e a localização dos equipamentos e infraestruturas, providenciando a otimização das soluções e dos custos de transporte e processamento.

O projeto assenta num esforço colaborativo que se reflete no modelo de governança, em que existem dois tipos de órgãos de gestão, onde as principais decisões são tomadas e onde é feita a avaliação do desempenho e evolução do projeto:

O plenário dos investigadores, que reunirá com uma periodicidade semestral, que assumirá a forma de um pequeno evento científico e de divulgação, em que os parceiros apresentarão as suas atividades.

A Comissão Executiva, que reúne os responsáveis das tarefas com o coordenador do projeto, numa base mensal, para preparar as ações futuras, monitorizar o desempenho e preparar estratégias de recuperação caso seja necessário.

A equipa do IPC esteve envolvida no desenvolvimento da SQAPP, que será usada como ponto de partida para o desenvolvimento de uma versão mais avançada que permita fazer o registo das aplicações de resíduos e estabelecer para cada situação o máximo de aplicação admissível durante um determinado período de tempo, dadas as condições pedológicas e climáticas/meteorológicas.

Além do esforço colaborativo, as equipas estabelecerão ligações

1 - IPC/ESAC/CERNAS, assegurará a coordenação do projeto, será o principal responsável pela Identificação dos resíduos passíveis de serem valorizados através de processos com elevado valor acrescentado (T4), e o desenvolvimento de uma aplicação baseada no SQAPP (T5) e coordenará a T6, que procura definir um conjunto de regras para a aplicação. Participará ainda na T7 e na T8. Colaborará ainda com o IPC na T3, onde contribuirá para a fase de inventário.

2 – O IPCB coordenará a georreferenciação dos resíduos e sub-produtos (T2), estará envolvido na T4 da valorização dos resíduos, na T6 onde contribuirá para definir a capacidade de carga dos solos e na T8 da disseminação

3 – O IPV coordenará a T3, sendo o principal responsável pela LCA e LCCA e estará envolvido na T6, ao contribuir para a definição da capacidade de carga, usando para o efeito os resultados das análises de LCA e LCCA, e contribuirá para a disseminação (T8).

4 - A Coimbra+Futuro Coordenará a T7, ao estabelecer um laboratório colaborativo para servir de brookage de conhecimento, e estará envolvida na T8 disseminação.

5 –A DRAP-C desempenha um papel de facilitador no contacto com as associações de agricultores e com os agricultores, coordenará a T1, ao proceder ao tratamento dos dados de resíduos agroindustriais, participará na T2 relativa à georreferenciação dos resíduos, na T6 relativa à definição da capacidade de carga dos diferentes solos nas condições meteorológicas e climáticas prevalentes na Região Centro, contribuirá para brookage de informação (T7) e para a disseminação pelos vários públicos alvo (T8).

6 – A CNA estará envolvida na definição da capacidade de carga (T6), no brookage de conhecimento (T7) e na disseminação da informação (T8)

7 – CCAF estará envolvida na definição da capacidade de carga (T6), no brookage de conhecimento (T7) e na disseminação da informação (T8)

8 – A BioSmart estará envolvida na T3 ao facilitar dados para as análises de LCA e LCCA, na valorização de resíduos e sub-produtos (T4), no estabelecimento da capacidade de carga (T6), na brookage de informação (T7) e na disseminação de informação pelos diferentes públicos alvo (T8).

9 – ADERSOUSA, estará envolvida na Tarefa 6 (capacidade de carga), no estabelecimento do laboratório colaborativo para servir de brookage de conhecimento (T7) e na disseminação dos resultados (T8)

10 – Os agricultores Hermínio Feteira – Floricultura Lda, Olivais Vila Forte Lda e Ricardo Cordeiro Mateus Modesto Rosa colaborarão na T3, ao facilitar dados para as análises de LCA e LCCA, bem como no brookage de informação (T7) e na disseminação da informação (T8).