Bolsa de Iniciativas PRR

 

AgriFlex – Flexibilidade do consumo de energia na agricultura para a transição energética (ID: 393 )
Coordenador: IPC/ESAC - Instituto Politécnico de Coimbra - Escola Superior Agrária de Coimbra
Iniciativa emblemática: 11. Transição agroenergética
Data de Aprovação: 2022-10-04 Duração da iniciativa: 2025-12-31
NUTS II: Centro NUTS III: Região de Coimbra
 
Identificação do problema ou oportunidade

A transição energética implica a implementação em larga escala de produção renovável ​​descentralizada, exigindo uma maior flexibilidade da rede elétrica (capacidade de ajustar a produção e o consumo em tempo real). Até agora têm sido considerados, quase exclusivamente, recursos do lado da produção para conferir essa flexibilidade ao sistema elétrico, mas, cada vez mais, são procuradas fontes de flexibilidade do lado do consumo. Em Portugal, a oferta de serviços de flexibilidade foi testada apenas em consumidores intensivos de energia (indústria). A nível internacional (Califórnia), os agricultores são remunerados por serviços de flexibilidade que oferecem à rede elétrica ao deslocarem operações como a rega ou a ventilação de estufas para períodos de menor consumo. Para além de contribuir para uma gestão mais eficiente da rede elétrica, estas operações de gestão de consumos constituem para as suas empresas uma fonte alternativa de rendimento e de redução dos custos com a energia, sem afetar a produtividade. É expectável que também no nosso país venha a ocorrer, a curto prazo, a regulação do mercado de flexibilidade, à semelhança do que já ocorre em vários países europeus (ex. Espanha). Para além de se criarem oportunidades de rendimento adicional à atividade, as explorações agrícolas que ajustem o seu consumo de energia elétrica para períodos mais baratos do tarifário e/ou para períodos de produção fotovoltaica, conseguirão reduzir a sua fatura energética. Contudo, há que ultrapassar várias barreiras: falta de informação; formação dos vários agentes do setor sobre eficiência energética e mercados de flexibilidade; identificação de oportunidades nas atividades e processos produtivos agrícolas; desenvolvimento de tecnologias que respondam às especificidades da atividade; questões regulatórias.

No setor agrícola nacional, são as explorações de horticultura intensiva e de fruticultura as que têm um maior encargo médio com eletricidade. Algumas têm vindo a instalar sistemas de produção descentralizada de energia para autoconsumo (ex. painéis fotovoltaicos), respondendo a incentivos como o Programa Next Generation, mas vêem-se confrontadas com o desalinhamento entre os períodos de produção de energia e o de consumo. A opção por tecnologias de armazenamento (ex. baterias) pode contribuir para resolver essa questão, mas são necessários dispositivos de controlo automatizados que otimizem a utilização dos equipamentos elétricos, considerando a produção fotovoltaica, os preços variáveis da eletricidade e as restrições dos processos produtivos. Face à forte dependência da atividade agrícola das condições edafoclimáticas, as tecnologias existentes carecem de desenvolvimento e adaptação ao setor agrícola, respeitando as limitações e otimizando a utilização dos fatores de produção.

Com o crescimento da produção de energia renovável descentralizada, verifica-se um aumento da competição pelo uso do solo entre a atividade agrícola e a produção fotovoltaica, preocupação já sentida em vários países europeus. A solução tecnológica para o problema, usualmente designada por ‘agrivoltaics’, implica conjugar os dois usos na mesma parcela agrícola, integrando painéis fotovoltaicos em estruturas que não impedem a utilização do solo, ou a mecanização de todas as operações. Esta solução tem ainda o benefício adicional do sombreamento, aspeto crucial para reduzir eventuais perdas de rendimento motivadas pelos picos de calor, situação cada vez mais comum face às alterações climáticas a que os produtores agrícolas são vulneráveis. Exemplificando, os produtores de pequenos frutos têm necessidade do sombreamento nas suas culturas para viabilizar variedades de ciclo mais tardio, resolvendo não só a perda de rentabilidade causada pelos picos de calor, como até promovendo a sua competitividade ao colocarem no mercado produto fora da época usual. Embora tenham sido já realizados estudos da aplicabilidade dos ‘agrivoltaics’ em alguns países europeus, as aplicações em Portugal são escassas, em particular em culturas de pequenos frutos e na horticultura.
 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa AgriFlex tem como principal objetivo contribuir para a transição energética na agricultura, promovendo uma atividade agrícola mais competitiva, resiliente e sustentável. Em particular, visa: Promover as energias renováveis, a produção descentralizada de eletricidade e a descarbonização, utilizando a tecnologia ‘agrivoltaics’; Incrementar a eficiência energética e reduzir custos com energia, recorrendo às melhores tecnologias e estratégias de gestão e controlo de equipamentos elétricos, de forma a alinhar o consumo de eletricidade com períodos mais baratos do tarifário ou de maior produção de energia renovável descentralizada; Contribuir para uma melhor gestão da rede elétrica através de serviços de flexibilidade oferecidos pelo setor agrícola, aumentando a rentabilidade das explorações agrícolas.

Serão desenvolvidas atividades de IDI, incluindo a transferência de tecnologia e demonstração de:

- soluções fotovoltaicas ‘agrivoltaics’ com recurso a painéis flexíveis/rígidos integrados em estufas e em estruturas sobrelevadas fixas/móveis, desenhadas à medida dos processos produtivos de culturas hortícolas e de pequenos frutos em condições reais de produção, suportadas por ensaios de produtividade agrícola face ao sombreamento gerado e por análises económicas que integram as componentes agrícola e energética;

- soluções de gestão e controlo de equipamentos elétricos em explorações de hortícolas e de pequenos frutos que minimizem a fatura energética tendo por base técnicas de inteligência artificial e abordagens de otimização multiobjetivo com recurso a modelos de previsão, restrições técnicas associadas às condições de produção e especificidades dos equipamentos, recursos energéticos (produção fotovoltaica, armazenamento), preços variáveis de aquisição/venda de eletricidade e remuneração por serviços de flexibilidade. As funcionalidades atuais da tecnologia Kisenseâ serão adaptadas para o setor agrícola, incluindo a gestão e controlo remotos de equipamentos, monitorização e visualização em tempo real de indicadores de desempenho, alarmes, produção de relatórios e interface amigáveis.

- serviços de flexibilidade prestados pela atividade agrícola, em particular pelos setores hortícola e de pequenos frutos, sendo o seu potencial económico e energético quantificado com base na avaliação técnica dos processos produtivos, caracterização de usos/equipamentos, identificação de oportunidades de eficiência energética, incluindo reduzir/aumentar/deslocar consumos, condições regulatórias/mercados de flexibilidade, bem como de preferências dos produtores e outros agentes.

A iniciativa desenvolverá ainda: atividades de capacitação técnica e sensibilização dos agentes do setor agrícola sobre tecnologias ‘agrivoltaics’, serviços e mercados de flexibilidade, eficiência energética e gestão flexível do consumo de eletricidade, através de ações de formação, dias abertos nos locais dos ensaios de campo e testes experimentais, publicações técnicas e manuais de boas práticas; atividades de sensibilização dos agentes do setor energético para o potencial de flexibilidade do setor agrícola e especificidades regulatórias a acautelar para potenciar estes serviços; e atividades de comunicação e disseminação dos resultados pelos demais atores chave, comunidade científica e público em geral.

O consórcio é constituído por 14 entidades com competências em todas as vertentes da iniciativa: 2 instituições do ensino superior com valências na área agrícola e em metodologias de apoio à decisão em contexto energético; 1 instituto de investigação na área agronómica; uma Direção Regional de Agricultura gestora de cinco Polos de Inovação; 1 centro de competências; 1 associação de produtores; 2 PMEs tecnológicas, uma especializada em ferramentas digitais e de apoio à transição energética e outra em tecnologias de produção agrícola; e 6 PMEs agrícolas: 3 produtoras de pequenos frutos e 3 produtoras de hortícolas, incluindo jovens agricultores inseridos em territórios desfavorecidos.

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

O consórcio foi formado de modo a integrar as competências necessárias à prossecução dos objetivos da iniciativa, quer ao nível da IDI com elevado potencial de introdução no mercado, quer da demonstração e transferência de conhecimento para os agentes dos setores agrícola e energético, disseminação junto da comunidade científica, demais atores chave incluindo futuros profissionais, e público em geral.

A entidade proponente e coordenadora (IPC-ESAC) é uma instituição de ensino superior com valências em várias áreas, incluindo a agricultura e as tecnologias ambientais, que terá a seu cargo assegurar o sucesso do plano de ação, envolvendo a coordenação da equipa e a operacionalização das tarefas, a gestão administrativa, legal e financeira, a articulação com a entidade financiadora e entre os vários parceiros, a gestão de dados e a prevenção e minimização de riscos que possam comprometer o plano estabelecido. A DRAPC colaborará na facilitação do desenvolvimento das atividades e na articulação com os vários parceiros, agricultores e demais agentes do setor. Nos polos de inovação da DRAPC (Coimbra e Viseu) e no IPC-ESAC serão realizados ensaios, em culturas hortícolas e de pequenos frutos, recorrendo a soluções ‘agrivoltaics’ e de gestão e controlo de equipamentos, com o objetivo de maximizar a eficiência energética e minimizar os custos com eletricidade nas atividades agrícolas. Para o efeito, os parceiros tecnológicos (Prilux e Cleanwatts) desenvolverão, adaptarão e instalarão as tecnologias nas áreas das culturas agrícolas alvo, incluindo dispositivos de sensorização e de monitorização ambiental, realizando também a recolha, processamento e análise de dados. A UC desenvolverá algoritmos customizados de previsão e otimização com técnicas de inteligência artificial a incorporar nas tecnologias de gestão/controlo, produzindo simulações que suportem as decisões em ambiente real. O INIAV, para além de contribuir com conhecimento técnico e científico, promoverá a transmissão de conhecimentos para entidades relevantes. As explorações agrícolas parceiras incluem jovens agricultores de territórios desfavorecidos e com modos de produção sustentáveis dedicadas à produção de pequenos frutos (Nutrix, Alendão, Boca do Lobo) e hortícolas (Ecoseiva, Quinta do Celão, Detalhe Campestre). Os seus processos produtivos serão caracterizados, testes de gestão/controlo de equipamentos realizados e o potencial de flexibilidade aferido, em particular aproveitando as sinergias criadas por investimentos em autoconsumo e/ou armazenamento cofinanciados por outros programas de financiamento. O COTHN-CC e a AGIM serão responsáveis pela disseminação de resultados, respetivamente, junto dos produtores de hortícolas e de pequenos frutos, através do desenvolvimento de ações como dias abertos, ações de formação, publicações técnicas e elaboração de manuais de boas práticas. O IPC-ESAC é ainda responsável por realizar entrevistas semiestruturadas e ‘focus groups’ com os agricultores e técnicos do setor para identificar os desafios do autoconsumo e as barreiras à adoção de medidas de eficiência energética que os agricultores enfrentam, bem como a flexibilidade no consumo de energia das atividades agrícolas, conforme as especificidades dos respetivos processos produtivos.

De um modo geral, todos os parceiros do projeto partilharão conhecimento entre si, nomeadamente, do saber-fazer na área agrícola para os parceiros tecnológicos e da área de eficiência energética para os parceiros que desenvolvem a atividade agrícola.
 
Interlocutor: Marta Lopes   Email interlocutor: mlopes@esac.pt   Email entidade: presidencia@esac.pt